Silêncio escrita por KeykoSakura


Capítulo 10
Futuro




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Era bem assim. Ela preenchia tudo. Preenchia todo o vazio, solidão que ele já tinha sentido. Continuava sendo mal visto socialmente, ainda havia quem o desprezasse, ser surdo não é fácil. Mas ele a tinha. E com ela, tanto fazia o resto. Era difícil não sentir falta dela, depois de mais de seis meses a vendo todos os dias. O computador ajudava, agradecia pela invenção da internet todos os dias, mas não era a mesma coisa. Mensagens de celular iam e vinham o tempo todo, às vezes com Sakura respondendo com um "?", o fazendo rir. E lá ele tinha que tentar explicar o que queria dizer. Benditas palavras... Ele não era bom com elas. Nem mesmo se expressando com sinais funcionava excepcionalmente bem, com palavras escritas a coisa piorava. Mas Sakura não parecia se importar. Ela não se importava com nada. Ele poderia ser carrancudo, mal-humorado, um tanto rude, surdo, tendo que se expressar com as mãos, precisava de ajuda pra poder ler melhor, muitas vezes ela tinha que interpretá-lo por não haver uma única pessoa por perto que soubesse falar LJS e isso em lugares como: todas as lojas que iam, cinema, farmácias, restaurantes... Em nenhum desses lugares havia quem soubesse falar com ele. E Sakura tinha que bancar a intérprete. Um tanto desajeitada, mas uma intérprete, sem dúvidas. E ela não se importava. Ele poderia ser mais feliz que isso? Poderia, se seu irmão mais velho deixasse de incomodá-lo o tempo todo justamente por causa de sua namorada. Como naquele maravilhoso jantar em família. Maravilhoso...

-Eu ouvi dizer que ela tem cabelo rosa... -Itachi dizia em sinais e em voz alta, já que Mikoto estava de costas para a mesa terminando mais uma travessa de sushis. Travessa essa que quase se espatifou no chão, quando a assustada senhora Uchiha ouviu aquela frase.

-Rosa?!

Sasuke revirou os olhos respirando fundo pra não socar a cara de pau de seu irmão que abafava, a muito custo, uma risada. O senhor Fugaku Uchiha apenas ergueu uma sobrancelha e então interrompeu a leitura de seu jornal com cara de interrogação.

-Eu jurar ser natural. Sakura não rebelde. Itachi idiota!

-Como alguém pode ter um cabelo naturalmente dessa cor? -disse Mikoto já recomposta, enquanto servia a família.

-Nhya... Devem ser os genes."-Itachi respondeu dando de ombros. Não era sua intenção prejudicar o namoro do irmãozinho. Itachi sabia que seus pais, principalmente o senhor Uchiha, eram um tanto conservadores e uma garota de cabelos cor-de-rosa não era lá muito convencional. Mas o irmão mais velho não pôde deixar de ser orgulhar ao ver o irmãozinho defendendo a namorada. Se houvesse uma explicação para a tal cor bizarra, os senhores Uchiha provavelmente não ligariam.

-Mas o Sasu-chan adora uma minazinha meio estranha, não é Sasu-chan?

Sasuke apertou os olhos na direção de Itachi e discretamente lhe mostrou o dedo do meio. Para que os pais não percebessem, Itachi suprimiu sua vontade de rir.

-Itachi... -disse uma doce voz ao lado deste. -Deixa seu irmão em paz. Não vê como ele está feliz com a namorada? -Konan havia acabado de se sentar-se à mesa ao lado de seu noivo; o mais velho dos irmãos Uchiha.

-Obrigado. -Sasuke sinalizou para a cunhada.

-Você teria alguma foto dela pra nós vermos? -perguntou Konan.

Sasuke emburrou a cara. Não queria dar mais motivos pra sua família pirar com essa história de ele estar namorando. O que é que tinha de tão interessante nisso, afinal de contas? Era só uma namorada. Tá certo que era a melhor garota do mundo, a mais linda, a mais cheirosa, a mais compreensiva, a mais... Ops. Chega né? Era só uma namorada... Que talvez nunca fosse embora... Mas ainda era só namorada. Mesmo assim, o garoto tirou seu celular do bolso e se aproximou de Konan pra mostrar algumas fotos. Ele não se arriscaria a deixar o celular na mão dela pra Itachi tirar e fazer a festa. Escolheu uma que mais gostava e mostrou à cunhada.

-Nossa! -Konan exclamou. -Ela é linda! Tão fofa com esse cabelo cor-de-rosa! Sasuke você tem que se casar com ela. Iria combinar comigo uma cunhada de cabelos róseos.

O engraçado era que Konan tinha seus fios arroxeados. Será que os irmãos Uchiha tinham uma queda por cabelos coloridos? Konan já namorava Itachi há cinco anos, desde o colégio, e eles iriam se casar dali a alguns meses. Pelo convívio, ela aprendeu LJS e gostava muito de seu cunhado.

Mikoto Uchiha se aproximou por cima do ombro de Sasuke pra espiar a nova nora. Suspirou de alívio ao vê-la.

-Ah, como ele é linda... Olha Fugaku. Parece ser uma boa garota!

O chefe da casa tentava fazer pouco caso da história, mas se inclinou em sua cadeira de qualquer forma pra poder olhar a foto da nora. Até que ela não era tão estranha quanto eles pensaram que ela deveria ser. Se bem que depois de Konan, qualquer coisa mais poderia acontecer naquela família. Mesmo assim o patriarca Uchiha estava satisfeito com seus filhos e sua primeira nora; Konan era uma moça gentil, agradável, responsável e cuidadosa, com certeza seria uma ótima esposa pra Itachi e carregaria bem o sobrenome. Agora faltava conhecer essa nova garota de seu filho mais novo, a... A... Como era mesmo o nome dela?

-Sakuras são flores de cerejeira não é? -Mikoto perguntou. -Combina até.

Ah sim. Sakura era o nome da garota. Será que Sakura seria uma boa nora, ainda mais pra seu filho que teve a infelicidade de ser surdo? Não dava pra negar que Sasuke era um tanto mimado naquela casa. Além de ser caçula, ele era o único membro surdo da família. Mikoto já era mãe coruja por natureza, com Sasuke ela piorou muito, sempre se preocupando em saber se o filho está bem, se está sendo respeitado, se tem conseguido se manter direitinho. Quando o garoto decidiu fazer faculdade longe da família, a senhora Uchiha só faltou enfartar. Fugaku até se surpreendeu por ela não ter achado ruim essa história de namorada, e ele esperava que continuasse assim. Sasuke não era um bebê, já tinha 21 anos e era tão responsável e capaz quanto Itachi. Apesar de ter sido difícil no começo aceitar um filho surdo, Fugaku eventualmente engoliu e agora considerava os filhos como iguais, afinal, onde houvesse sangue Uchiha, haveria honra independente das circunstâncias. Ele só esperava que essa... Ah, como é mesmo o nome? Sakura! Sim, Sakura! Fugaku esperava que a... Sakura... Entendesse o peso do sobrenome Uchiha.

Natal e Ano Novo vieram e passaram e agora era se armar de coragem para um novo ano letivo. Logo quando desceu do trem na plataforma, Sasuke quase foi derrubado por sua namorada que simplesmente pulara em cima dele, o beijando. O garoto não teve alternativa a não ser deixar a mala cair no chão pra abraçá-la de volta e ambos se equilibrassem, antes que uma queda fosse inevitável. Ah... A saudade. Como a mãe de Sakura havia dito durante as férias, um pouco de falta, um pouco de saudade faria bem aos dois. Ela estava certa. Ambos ficaram ainda um bom tempo abraçados na estação e passaram mais um tempo juntos antes de pegarem o ônibus para o campus da faculdade. Sakura estava muito feliz por tê-lo de volta. Sasuke também, por mais que não demonstrasse tanto quanto ela.

Não demorou muito pra que todos voltassem à antiga rotina. Segundo ano pra alguns, terceiro pra outros, não havia muitas novidades. Uma nova recepção aos calouros, recomeço das monitorias, novos professores e novas matérias. E novas confusões... A começar por um novo colega de turma de Sakura e Ino, que foi transferido de outra faculdade. Seu nome era Sai. Logo na primeira semana dele, as meninas notaram que o rapaz era muito talentoso. Desenhava muito bem e não demorou pra muitas meninas quererem enturmá-lo pra ter seus desenhos e projetos em seus grupos.

-Humpf... –Ino reclamava. –Todos querem o novato agora.

-Claro... –Sakura respondeu enquanto virava um corredor em direção à cantina; já era hora de almoço. –Ele é muito talentoso. Você viu os esboços dele? Nem são arte final e já estão daquele jeito! Fabuloso. Queria que ele me ensinasse...

-Até você, testuda? Ele tem talento, mas o acho tão estranho. É como se ele não tivesse o menor senso social... Cara esquisito. Por falar nisso e o Gaara? Parou de te incomodar?

Sakura fez uma cara que Ino até tentou, mas não conseguiu decifrar.

-Não exatamente...

-Como assim?

-Bem... Desde aquela última briga dele com Sasuke no final do ano, ele não vem diretamente até mim, mas sempre o vejo olhando na minha direção quando o Sasuke está distraído. Tenho medo que ele cause mais encrencas...

-Aquela última foi feia mesmo. Não achei que Sasuke fosse sair na mão de novo, depois daquela briga com o Lee.

-Eu também não. Até que achei bem feito pro Gaara. Assim... Eu gosto do Gaara, ele é legal e simpático, mas ele não parece entender que eu já tenho um namorado e o amo muito. Eu até pensei que aquela briga fosse fazê-lo parar, mas não foi bem o que aconteceu... Ele só ficou mais discreto que o normal.

-Às vezes ele acha que pode servir de step... –Ino comentou.

-Como assim?

-Bom... Ele fica por perto de qualquer forma, se um dia você terminar com o Sasuke...

-Eu posso correr pra ele... Entendi. Isso é ruim.

-Nada... É só não deixar o Sasuke perceber.

-Esse é o problema. Eu não sei como, mas Sasuke parece ter um sexto sentido pra essas coisas. Não sei se é o ciúme dele, a neura, ou o quê, mas parece que ele sente quando tem algo errado.

-Tipo agora?

-Como assim?

Ino apontou discretamente em duas direções. A primeira, logo à frente, era onde Sasuke estava sentado à mesa com Naruto, Hinata e Shino. Porém ele não olhava pra ela, então Sakura seguiu a direção do olhar dele, que era o segundo ponto que Ino tinha apontado e viu... O aluno novo, Sai. Esse sim olhava na direção das duas com uma expressão um tanto estranha. Até que um flash de reconhecimento passou pelo rosto dele e com um sorriso tão estranho quanto sua personalidade o garoto se aproximou das duas garotas. Alerta vermelho! O olhar de Sasuke agora se apertava em direção ao garoto novo. Sakura já conseguia prever o embaraço que aquilo causaria.

-Olá. –ele disse quando finalmente se aproximou das duas, logo na entrada do refeitório. –Vocês são da minha turma, não são?

Ambas travaram uma batalha interna pra saber se era melhor dizer sim ou não.

-É... –disse Ino um tanto sem graça. –Somos sim.

-Ah... Achava que eram. Cabelo rosa é difícil de esquecer.

Sakura deu um sorriso amarelo. Ás vezes odiava seu cabelo tão chamativo.

-Posso acompanhar vocês?

Sakura ia responder alguma coisa, quando percebeu Sasuke se aproximar. Inventou algo de última hora:

-A Ino pode levar você pra conversar com os nossos amigos, no momento eu combinei de almoçar a sós com meu namorado. –E sem mais demoras, Sakura agarrou o braço de Sasuke e o arrastou pra longe dos dois. Já conseguia prever a fúria de Ino mais tarde por ter sido deixada com a bomba em mãos e sozinha. Porém, seu namoro precisava ser mantido em paz. Ino entenderia.

Ao chegarem ao lado externo do refeitório, Sasuke olhou para sua namorada com cara de interrogação. A garota arrumou uma desculpa de última hora.

-Eu só queria passar um tempo com você.

Sasuke a olhou nos olhos, sentindo o cheiro da desculpa. Ergueu uma sobrancelha.

-Quem ser aquele cara?

Sakura perdeu seu sorriso. Jura que ele não ia deixar passar essa?

-É um aluno novo na minha turma. Veio de outra faculdade... Eu nem conheço direito.

A garota ficou esperando a reação do namorado, torcendo pra ele resolver deixar a história de lado. Sasuke enlaçou a cintura dela com uma mão e com a outra sinalizou.

-Ele olhar muito você. Eu não gostar...

Sakura sorriu.

-Você nunca gosta de nada. Além do mais, acho que ele estava olhando pra Ino. Você que é muito ciumento.

-Não ser ciumento. Só cuidar do meu. –o garoto a puxou pra mais perto, enterrou seu nariz no vão do pescoço dela e pegando uma mão dela, a fez sinalizar por ele. –Minha.

Era impossível não se derreter. Às vezes eles estavam tão próximos que Sasuke usava as mãos de Sakura pra sinalizar o que ele queria dizer, pra eles não terem que se afastar. Sakura entendia sem precisar olhar, podia fechar os olhos e se perder naquele corpo maior que o dela. Mas ela queria se perder nele... E a vontade crescia. Cada vez mais.

Demorou um certo tempo. Porém, em última instância, Sasuke cedeu. O garoto agora fazia de tudo pra engolir suas crises de ciúme, embora o tal aluno novo, que já não era tão novo assim após dois meses, não o ajudasse muito. Sai parecia ter algum problema que não o deixava ver como ele criava situações embaraçosas. Como no dia que ele disse que achava que Naruto queria transar com Hinata. O loiro arregalou os olhos quando Kiba interpretou a mensagem e a pobre Hyuuga quase desmaiou. Foi sorte Neji não estar por perto... Pouco depois Sasuke e Sakura chegaram e perguntaram o que tinha acontecido. Então Naruto começou a recontar a história pra Sakura, que no fim das contas, não sabia ao certo se tinha entendido direito. Sai que tinha falado aquilo? Ao ver a cara de interrogação de Sakura, Naruto começou a explicar de novo, parando em um sinal ou outro que ele não estava muito certo se ela conhecia, um em especial era o que ele achava que a estava impedindo de entender a história. Naruto fez o sinal e Sakura ergueu uma sobrancelha tentando entender porque o loiro estava repetindo aquele sinal, já que o tal significava "sexo", esse ela conhecia sim. Naruto até soletrou pra ela: S-E-X-O. Quando Sakura ia começar a dizer que não era essa a parte que ela não tinha entendido, foi quando Naruto a interrompeu com um gesto, que não era sinal de LJS, mas que ele sabia que ela ia entender o significado daquela palavra. Nem era preciso dizer que o gesto era um tanto obsceno.

Sakura ficou extremamente vermelha com aquela e Naruto ganhou um tapa de Sasuke, enquanto Hinata não sabia o que fazia de tanta vergonha e Kiba e Ino se esborrachavam de rir. Sai também ficou um tanto por fora do assunto. Sasuke, entretanto ficou bravo com o loirinho por falar besteira em frente de sua namorada. Até que Sakura o acalmou dizendo que não tinha problema e sorriu. A garota precisou de algum esforço pra fazer Sasuke perceber que era da personalidade de Sai ser assim, que não era intenção do garoto ser tão intrusivo na vida dos outros ou de fazer seus comentários esdrúxulos.

De qualquer forma, Sasuke estava feliz naquele fim de semana. Aquele sábado era aniversário de Sakura e ele prometera a si mesmo que faria diferente do que fez no ano passado. Ele a havia ignorado quase totalmente naquela mesma data no ano anterior e agora reconhecia que tinha sido péssimo. Sasuke às vezes se perguntava o que tinha dado na cabeça da garota pra querer ficar com ele mesmo assim. Talvez fosse o que as pessoas dizem que o amor faz. Dizem que o amor é paciente, forte, cuidadoso, sem inveja, que a tudo perdoa. Sakura o amava tanto assim? E ele? A amava do mesmo modo? Bom, ele não imaginava mais viver sem ela, mas nunca tinha imaginado sua vida com ela. Vida pós-faculdade. Ambos moravam em cidades diferentes e não muito próximas. Sasuke seria psicólogo e Sakura designer... Um tanto diferente não? É fato que ainda havia mais dois anos de faculdade pra decidirem, mas perceber que até o momento ele não havia feito nenhum plano com ela, o incomodou. Tudo bem que eles ainda iam fazer um ano juntos, dali a três meses, mas se ele sabia que não queria terminar nunca com ela, o certo seria começar a pensar sobre isso, não é?

A aparição de um cabelo rosado em seu campo de visão o tirou de seus pensamentos. Ela andava sorridente, olhando pra ele. Ah... Tão linda. Ela se aproximou e o beijou docemente na boca. Antes que ele a puxasse para beijá-la novamente, ela começou a sinalizar.

-Aonde vamos hoje?

Sasuke lhe ofereceu seu famoso sorrisinho e respondeu.

-Surpresa.

Sakura ergueu uma sobrancelha, mas se decidiu por deixá-lo fazer o que ele queria. O garoto pegou sua mão, entrelaçou seus dedos com os dela e ambos saíram do campus. Sasuke havia feito uma pesquisa com a ajuda de Kiba e levara Sakura para uma das ruas mais baladas da cidade em termos de: roupas. A garota ficou de queixo caído quando chegou ao lugar. Várias e várias lojas com lindos vestidos, blusas e calças incrivelmente maravilhosas. Ela se deixou ser levada por ele até uma loja de vestidos. Então lhe ofereceu um olhar confuso. Sasuke sorriu de canto novamente e sinalizou.

-Querer comprar vestido pra você.

A garota arregalou os olhos enquanto pensava que ele tinha se superado dessa vez. Ele continuou com seu sorriso de canto, estudando a reação dela. Antes que ela começasse a protestar dizendo que um presente não era necessário ele lhe deu as costas e começou a procurar entre as araras. Uma vendedora da loja ofereceu um assento em um puf confortável para Sakura que aceitou se sentar mesmo sem deixar de observar seu namorado olhando entre os vestidos e selecionando um ou outro de vez em quando. Ainda não dava pra acreditar que ele iria mesmo fazer aquilo.

Sasuke observava os modelos com atenção. Às vezes puxava um pelo cabide pra poder ver melhor. Sua mente extremamente visual conseguia imaginar Sakura usando cada um deles. Ele queria encontrar o vestido perfeito. Alguns ele até achou que ficariam bonitos, mas ainda não eram o que ele queria; se bem que ele próprio não sabia muito bem o que queria e ainda por cima, ele esperava que ela gostasse da escolha dele. Por fim um vestido cinza lhe chamou a atenção. O modelo era de um cinza cintilante, mas o mais bonito era que por cima dele havia mais um tecido com milhares de pontinhos prateados. Sasuke o puxou o vestido pra fora da arara e o fitou por um tempo. Começou a imaginar Sakura usando aquele modelo. Pensou na cor do cabelo dela, da pele dela, dos olhos dela. Decidiu. Era aquele que ele queria.

O garoto então se voltou para Sakura e disse pra ela se dirigir ao provador. Então entregou o vestido a uma das atendentes da loja. Essa moça já tinha percebido que ele deveria ser mudo, ou surdo, ou sei lá, e tentou entender o que ele queria. Ela recebeu o vestido e ele apontou para o provador. A garota logo entendeu que ele queria que a outra garota que tinha acabado de entrar o provasse. Ela sorriu pra ele e acenou com a cabeça mostrando que tinha entendido. Sasuke ofereceu um pequeno sorriso de volta e foi se sentar no lugar que Sakura estava antes disso. Ficou nervoso. Será que ela ia gostar do vestido? Será que ficaria realmente bom? Algum tempo depois ela saiu. A garota arrancou olhares de admiração das vendedoras e de outras clientes que estavam na loja, que inclusive começaram a sussurrar sobre a rosada. Claro que Sasuke não ouviu os cochichos, mas percebeu todas as cabeças se virando em uma direção e ao acompanhar o movimento ele a viu.

E não viu nada mais.

Sakura se aproximava dele obviamente tentando sorrir, mas um tanto incerta do que fazer. Estava um pouco corada com toda aquela atenção e o fato de Sasuke a estar olhando fixamente com os lábios entreabertos, não estava ajudando muito. A garota não sabia, mas seu namorado pensava que ela estava parecendo um conjunto de joias. Os cabelos rosados e brilhantes como um quartzo rosa. Os olhos eram duas esmeraldas. E o vestido brilhante como um diamante completava o pacote. Ainda com as mãos um tanto trêmulas, ela sinalizou.

-Você gosta?

Sasuke piscou algumas vezes antes de responder. Ele a olhou dos pés à cabeça e então sinalizou de volta.

-Gostar. Linda. Linda muito!

O garoto se levantou e se aproximou de Sakura sem se importar por ambos terem se tornado o centro das atenções de todos na loja. Algumas clientes estavam achando tudo lindo, outras olhavam com estranheza tentando entender se por acaso se tratava de um casal de surdos, ou mudos... As pessoas dificilmente sabem a diferença. Ele lhe deu um beijo leve em sua boca, apenas roçando seus lábios e ela não conseguiu deixar de sorrir. Logo, a garota já havia tirado o vestido e eles foram juntos até o balcão da loja pra que ele pudesse pagar pela peça.

-Vamos ficar com este aqui. –Sakura disse ao chegar ao balcão.

A atendente se surpreendeu ao ouvi-la falar.

-Desculpe, -ela disse. –Achei que vocês dois fossem...

-Surdos? –Sakura interrompeu antes que a mulher falasse alguma besteira. –Eu não sou, mas Sasuke é surdo. –A garota sorriu. –Ele está comprando meu presente de aniversário.

Sakura virou a cabeça para a esquerda ao ouvir alguns suspiros. Algumas vendedoras e cliente estavam prestando atenção na conversa e não conseguiram deixar de se manifestarem de algum modo. A rosada não sabia muito bem como reagir, ainda mais quando Sasuke, obviamente alheio à situação, lhe abraçou por trás e apoiou o queixo em seu ombro após beijá-lo ternamente.

-Ele parece ser bem romântico... –comentou a moça do balcão enquanto arrumava a nota fiscal. Sakura ficou vermelha.

-Ele é... Quando quer. Está assim hoje porque é meu aniversário...

-Parabéns. –respondeu a moça. Sakura estava até começando a relaxar. Parecia que ninguém ia fazer algum comentário ruim sobre Sasuke. –O valor é 467 reais.

Automaticamente as esmeraldas de Sakura se arregalaram com o valor do vestido.

-Desculpe. Pode repetir?

-467 reais.

Sasuke ergueu a cabeça e esperou que Sakura interpretasse o valor em sinais. Ela o fez meio relutante. Porém Sasuke não esboçou qualquer emoção ao ser informado do preço. Soltou Sakura pra pegar sua carteira e ofereceu seu cartão do banco para a moça, em seguida pediu a Sakura que dissesse que era pra ser no débito. Mas foi então que ela se recusou. Não que Sakura tivesse se surpreendido por ele simplesmente sacar o cartão e pronto, mas ela se sentia muito embaraçada por ele querer gastar tanto com ela. Veja bem, Sakura não tinha síndrome de princesa do tipo que só cria problemas para seu príncipe resolver, ou melhor, contas pra ele pagar. Ela segurou o cartão em mãos e sinalizou que achava cara demais. Obviamente, ninguém mais entendeu nada, já que pra disfarçar, Sakura se restringiu aos sinais. Sasuke calmamente respondeu que ele não ligava, ambos gostaram do vestido e era presente dele pra ela e que ela merecia. Sakura não queria deixá-lo comprar, mas também não queria brigar quando ele só estava fazendo isso por ela. Não era justo. Então se deu por vencida e entregou o cartão repetindo a parte do débito.

Mal sabiam os dois que mesmo depois de saírem da loja, ainda seriam comentados por horas a fio no recinto.

Enfim foram jantar. Mas ao contrário do que Sakura esperava –um restaurante chique e caro- Sasuke a levou para uma lanchonete bem peculiar. E Sakura adorou o lugar. Era uma lanchonete estilo anos 50. Pôsteres do Elvis Presley e Marilyn Monroe eram exibidos nas paredes, além de propagandas vintages e pin-ups. Como Sasuke sabia que ela amaria um lugar como esse? Ino. Com certeza tinha dedo dela nessa história. O garoto a levou pra uma mesa em um canto mais reservado e não muito iluminado, o que não era difícil haja vista a decoração do lugar. Os alto falantes tocavam Beatles. Claro, Sasuke não ouvia, mas estando a música um tanto alta, ele conseguia sentir a vibração. E música alta não os impedia de conseguirem conversar. No entanto, naquele momento tudo o que queriam era um momento pra ficarem juntos. Sasuke a abraçou, aproveitando o pequeno sofá que compunha o ambiente, e a fez quase deitar-se no peito dele, enquanto ambos observavam o menu pra decidirem o que queriam. Ele apoiou novamente o queixo no ombro dela. Após o garçom ter anotado os pedidos, que Sakura precisou fazer por ambos, os dois se aquietaram naquela posição por um tempo. Até Sasuke resolver conversar um pouco. Ainda sem soltá-la, ele fazia os sinais na frente dela, era como se ela própria estivesse fazendo os gestos. A garota percebeu que conseguia entender desse modo também. Seu coração começou a acelerar com cada sinal que ele fazia.

-Eu querer você conhecer pais meus.

Sakura virou e ergueu um pouco o rosto pra olhá-lo.

-Sério?

Ele concordou com a cabeça.

-Você namorada minha. Precisar conhecer.

De repente a ideia pareceu fazer perfeito sentido para os dois.

-Então você também precisa conhecer os meus. E se a gente conseguisse combinar de juntar nossas famílias?

Sasuke ergueu uma sobrancelha e Sakura quase se arrependeu do que tinha dito. Fazer as duas famílias se conhecerem seria demais? De repente a garota ficou com medo de dar a impressão que ela estava forçando muito a barra, tornando as coisas sérias demais. Talvez ele fosse pensar que ela já queria casar com ele quando eles nem haviam completado o primeiro ano de namoro.

-Legal. –ele finalmente respondeu depois um tempo.

Sakura mal pôde acreditar.

-Férias. –Sasuke continuou sinalizando. –Nós viajar. Levar pais seus. Eu levar meus. O que achar?

A garota abriu um enorme sorriso.

-É perfeito Sasuke! –ela se virou para abraçá-lo, mais se lançando sobre ele do que qualquer outra coisa. Beijou-lhe a boca. –Eu te amo Sasuke.

O garoto arregalou os olhos negros por uma fração de segundo e ficou sem reação por mais uns dois. Em seguida a beijou novamente, muito, mas muito mais intensamente. Na verdade, era a primeira vez que Sakura dizia que o amava.

Na volta para o campus ambos andavam de mãos dadas pelas ruas em direção ao ponto onde pegariam o ônibus. Sakura estava quase flutuando de tanta felicidade. Sasuke tinha lhe dado um aniversário perfeito! Seu vestido novo era lindo, o jantar fora maravilhoso, mesmo eles tendo se decidido por comer hambúrgueres com fritas, e os novos planos com as famílias tinham deixado a garota achando que estava sonhando acordada.

Já quase na esquina de onde ficava a parada do ônibus, ambos decidiram apertar o passo pra não chegarem muito tarde, porém, o bendito ônibus da linha que ia para o campus passou por eles. Sem pensar duas vezes, Sasuke começou a correr puxando Sakura pela mão. A garota acompanhou a corrida dele logo atrás. Dois segundos depois ela ouviu alguém gritar atrás deles:

-Parado! Polícia!

Sasuke, claro que não ouviu e continuou correndo e ela também. Isso não tinha a ver com eles. Porém, ela ouviu a mesma pessoa gritar de novo.

-Eu disse parado! Aqui é a polícia.

Sakura teve um pressentimento ruim e puxou Sasuke para que ele parasse. Já estavam em frente ao ponto, porém o ônibus tinha acabado de sair. Sasuke parou e olhou pra ela confuso. Se ela não tivesse parado eles teriam conseguido alcançar a tempo.

A garota ia começar a explicar quando um estouro muito alto fez todas as pessoas no ponto gritarem, levarem as mãos à cabeça e se abaixarem. Quando Sakura abriu os olhos após o susto foi a tempo de conseguir segurar o corpo de Sasuke que caía inerte no chão. Uma poça escura se formava no cimento da calçada do sangue que escorria da cabeça dele.

Fim do cap. 10


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Notas finais do capítulo

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