16 de Julho, St. Canard, Califórnia.

Casa dos Chase, Quarto da Annabeth.

4:55 p. m.

Annabeth virou a página do livro que estava lendo deitada na sua cama e foi interrompida do seu momento de leitura por Thalia, sentada na poltrona ao lado da sua cama com os pés apoiados na mesma.

– Eu ainda não entendo por que você fica lendo nas férias. – a morena disse.

– Porque eu gosto de ler. – Annabeth respondeu simplesmente.

– E eu também não entendo isso. – Thalia insistiu e Annabeth deu uma pequenina risada, rolando os olhos.

– Você realmente devia ler mais. É legal, sabia?

– Um dia eu começo a ler. – Thalia respondeu se encostando ao encosto da poltrona.

As duas haviam passado a tarde de quinta-feira assim, de bobeira, conversando sobre coisas diversas e sem muita importância. Faziam três semanas desde que as meninas não tinham notícia da amiga Piper, que continuava desaparecida. Toda semana, o Canard Daily publicava uma pequena foto de Piper com os telefones dos pais e informações como a roupa em que ela estava vestida naquela noite, mas nunca tiveram uma resposta sobre.

Essas três semanas foram agonizantes para as meninas, que se mantinham unidas para conseguir forças para andar nas ruas e ouvir os mesmos e irritantes questionamentos sobre Piper, ou então sofrer sobre os piedosos olhares dos moradores.

Mas esta tarde estava uma tarde tranquila, Thalia e Annabeth esperavam Silena na casa da loira para juntas passarem a noite assistindo filmes, comendo pipoca e doces até altas horas, esquecendo por alguns instantes os problemas lá fora. Foi então que o celular de Annabeth vibrou em cima da cama com uma nova mensagem de Silena. Rapidamente a loira pegou o celular a e leu a mensagem.

– Então, o que diz? – Thalia perguntou para a amiga, que ainda encarava a tela do celular.

– “SOS, Casa da Pips - Si.” – a loira leu e olhou para a amiga por alguns segundos, então as duas se levantaram e saíram depressa até o carro, dirigindo rapidamente até a casa da McLean.

Assim que chegaram Annabeth teve um mal pressentimento ao ver policiais em volta da casa. Assim que localizou Silena de costas para a rua, virada para a fachada da casa, no meio de uma pequena multidão que havia se formado, a loira correu até a amiga e perguntou antes mesmo da morena se virar.

– O que foi? Você mandou um SOS?

Então Silena se virou e mostrou seu rosto manchando de lágrimas, chorava desesperadamente e quase não consegui falar a frase que saiu da sua boca aos soluços.

– Eles... Eles acharam o corpo dela. – então Annabeth abraçou Silena ainda chocada demais enquanto Thalia, que estava logo atrás, a abraçava também.

Os médicos legistas passaram com uma maca fechada por uma coberta de lona e as amigas choraram ainda mais.

Estava então comprovado que Piper dera, finalmente, seu último adeus.

17 de Julho, St. Canard, Califórnia.

Capela St. Nicholas,

2:43 p. m.

Silena passou mais uma vez as mãos pela saia do vestido preto. Respirou fundo novamente antes de entrar na capela na qual Piper McLean teria seu velório dentro de alguns minutos. Assim que a morena adentrou pelas grandes portas de carvalho todos os olhares se voltaram para ela e sua mãe, alguns olhares com pena da pobre menina que perdera sua melhor amiga.

– Sra. McLean. – Silena cumprimentou a mulher com olhos lacrimosos a sua frente. Ela tinha os cabelos longos e castanhos presos em um coque e enxugava as lágrimas em um pequeno lenço branco.

– Silena, - ela disse um meio-sorriso afetivo abraçando a garota. – fico feliz que tenha vindo.

– Piper gostava muito de você. – o pai de Piper, Tristan McLean, completou a fala da mulher dando um abraço paternal em Silena.

– E eu gostava muito ela também, senhor.

– As outras meninas estão ali na frente, caso queria se juntar a elas. – a mãe de Piper disse.

– Claro, com licença. – Silena disse se retirando e caminhando em direção as outras duas amigas que estavam acompanhadas dos meninos no banco da frente.

– Si! – Annabeth disse levantando-se do banco e abraçando a amiga.

– Oi meninas. – Silena cumprimentou a loira e Thalia, que se levantou em seguida.

Pelo canto do olho ela viu que, dentre os meninos que estavam junto a elas, Jason não estava.

– Cadê o Jason, ele não veio? – a menina perguntou chocada com o fato de que ele não iria ao sepultamento da namorada.

– Não. Percy falou com ele hoje mais cedo, Jason disse que os pais o obrigaram a fazer uma viagem de última hora. – Annabeth respondeu.

– Ah... – Silena disse ainda sem compreender, ou acreditar, nisso. – Bom, vou falar com os outros meninos, então. - a garota acrescentou caminhando em direção a Charles, Luke e Percy, que estavam sentados na outra extremidade do banco conversando, deixando Annabeth e Thalia sozinhas.

A loira olhou ao redor da capela e viu muitos rostos familiares, de alunos que estudavam no mesmo colégio que ela, inclusive alguns rostos que ela nem esperava ver.

– É incrível como certas pessoas conseguem ser dissimuladas até numa hora dessas. Tem pessoas aqui que eu aposto que falavam mal da Piper, ou até de nós mesmo, pelas costas.

– Acredite, Annie, o que mais vão aparecer agora são pessoas falsas querendo ser a “Quarta Fantástica”. – Thalia respondeu olhando a amiga com seus olhos azuis elétricos e depois passou um braço pelo ombro da loira. – Pelo menos nós três ainda continuamos tendo umas as outras.

– É, pelo menos isso. - Annabeth falou repetindo o ato de Thalia assim que o relógio da capela soou três badaladas, anunciando que a missa de velório iria começar.

Uma a uma as pessoas foram se sentando nos bancos, Silena sentou-se ao lado de Charles, Annabeth ao lado de Percy e Thalia ao lado de Luke, ambos os seis na fileira que dava para frente de um enorme banner que continha uma foto na qual Piper estava sorrindo. Ao lado do banner, contrastando com a foto alegre, estava o caixão da mesma, com a tampa já fechada.

17 de Julho, St. Canard, Califórnia.

Cemitério Municipal St. Nicholas,

3:15 p. m.

A missa já acabara. O corpo de Piper já havia sido velado e agora mesmo estava para ser enterrado. Lágrimas escorriam no rosto da maioria das pessoas presentes e, por incrível que pareça, não haviam muitas gotas nos rostos das Três Fantásticas.

Após passarem uma tarde toda chorando e se lamentando pela perda da amiga, naquele momento, em que deviam chorar mais, Silena, Annabeth e Thalia simplesmente não choraram. Passaram todo o tempo com os olhos apenas mareados, mas se mantiveram forte, ainda mesmo agora que o caixão de McLean estava prestes a ser enterrado de uma vez, com as três amigas em pé, uma ao lado da outra em frente a grande cova ainda aberta.

Os pais de Piper já haviam jogado, cada um, um punhado de terra e uma rosa branca, e agora era vez das melhores amigas de Piper o fazerem. Juntas, as três se abaixaram, pegaram um punhado de terra com a mão e jogaram três rosas em cima do caixão de Piper. Depois, caminharam lentamente em direção aos seus amigos enquanto outras pessoas jogavam mais rosas sobre o caixão.

Então é isso. Tudo acabou. Está tudo enterrado. As mágoas, os momentos, as horas e dias passados juntos. É claro que os bons momentos ficariam na memória, mas existiam aqueles, ah aqueles!, os segredos. Eles sim, estavam definitivamente enterrados. Quem dera que fosse para sempre.