Em Cima do Piano... escrita por Danotan Bluce


Capítulo 1
Em Cima do Piano...


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aqui estou eu com esse pequeno conto de terror ^^Inteiramente feito para a Ellie :B Minha Diamantine que me inspirou... Espero que goste!Danoninhos, eu estou receosa, mas até gostei.Boa Leitura ♥



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Em cima do Piano...

Ellie era a filha da diretora de um dos melhores colégios da cidade -se não o melhor. Estudaria nele em fevereiro, quando já teria onze anos. O nome do colégio não é de nada importante e o nome da diretora ou dos professores também pouco importam. Nessa história, só duas pessoas importam -e uma delas sequer possui ar em seus delicados pulmões.

No primeiro dia de aulas Ellie calçou seus sapatinhos e vestiu o uniforme, foi de carro com a mãe – aquele belo carrão preto e lustroso, que a menina desconhecia o nome. Balançava os pezinhos enquanto encarava a paisagem além da janela.

– Você está ansiosa? – Sua mãe lhe perguntou. A menina deu de ombros.

– Eu não vou ser popular mesmo... – Comentou com um muxoxo. A mulher deu uma risada suave, mas sabia que a filhinha estava certa. Ora, se ela com onze anos ainda era pequenina e delicada, ainda tinha olhos grandes e inocentes e um tom de voz ameno e infantil, como poderia ser popular em meio a tantas crianças-adultas?

– Ah, meu bem, você está indo lá pra estudar, lembra-se? E fará amiguinhas sim. Eu tenho certeza. Na última escola, todos te conheciam e te amavam, lembra-se? – Encorajou a mãe.

Esse pequeno comentário conseguiu animá-la, pois no fundo, Ellie não se importava em ser popular, apenas estava receosa quanto às suas amizades. As duas conversaram sobre suas expectativas durante todo o percurso.

Ellie pisou no oponente prédio, do qual seria dona no futuro, assim como sua mãe era agora. O lugar lembrava em partes uma igreja, em partes um castelo antigo. As paredes escondiam histórias, principalmente aquelas feitas de pedra, as que ainda não haviam sido derrubadas e que vinham da construção original.

Ellie conheceu os professores, conversou com eles e foi apresentada aos colegas de classe. Mas não conseguia se relacionar com os alunos. Em contrapartida, já no primeiro dia criou afinidade com seu professor de inglês. Mas de que adiantava fazer amizade com professores? Professores não podiam fazer-lhe companhia no almoço, no café da manhã ou no lanche da tarde. Tão pouco podiam chamá-la para fazer trabalhos em grupo. Ela continuava tão sozinha quanto nos anos anteriores, mas era pior, pois nessa escola não conheciam-na como “Elliezinha” e ela não possuía uma melhor amiga. Era apenas um corpo a mais, movimentando-se pelos corredores.

Agora estava sentada em uma cadeira em frente à diretoria, esperava a mãe para que fossem embora, mas a mulher parecia não abandonar a sala nunca. Ellie começava a ficar entediada. Olhou a porta branca com raiva. Por que sua mãe não saía logo dali?

Depois que a escola já estava silenciosa, sua mãe finalmente saiu, mas veio com más noticias.

– Minha lindinha, vamos ter que sair um pouquinho mais tarde. Você não quer caminhar pela escola por enquanto? É bom conhecer bem o lugar, você passará os próximos anos todos aqui.

– Mãe, eu quero ir pra casa... – Reclamou em voz baixinha, mas não se demorou na birra, não era mais criança. Apenas tinha leve recaídas quando estava perto da mãe, que ainda usava de seu tom manso para falar com ela, como se realmente tivesse uma idade menor à que tinha. – Mas, já que a senhora tem que trabalhar, eu vou ir brincar, tudo bem?

A diretora sorriu satisfeita.

– Essa é minha menina! Vá lá, Ellie. – Ela apertou os ombros dela de leve e voltou para sua sala novamente, atarefada. Tinha uns ‘pepinos’ para resolver.

Ellie andou pela escola, indo para a área do colegial, desejando estar lá. Iria ser tão legal! As crianças do sexto, sétimo, oitavo e nono ano não podiam frequentar aquela parte da escola. Só Ellie. E isso a deixava, de certo modo, feliz.

– Em cima do piano... – Uma voz de menina atingiu os ouvidos dela, numa cantoria. De onde viera o som? – Havia um copo... um copo de veneno... quem bebeu, morreu... o culpado não fui eu.

– Alguém... está aí? – A voz dela saiu fraca na pergunta, ela estava estranhamente com medo, isso devia se dar ao fato de estar escuro. Ou ao fato daquela voz de criança ser tão perturbadoramente doente... não, mas Ellie não notou isso.

– Em cima do piano havia um copo de veneno... – A voz continuava, parecia vir da quadra de vôlei, à direita dela. A desconhecida cantava bem, uma voz soprano limpa e agradável. – Quem bebeu, morreu... mas o culpado não fui, não fui, eu. – A menina ia modificando algumas das silabas da conhecida música de criança. Ellie achou aquela música tão magicamente linda da forma com que estava sendo cantada! Queria conhecer a menina.

Correndo, foi até a quadra de vôlei. Lá ficava ainda mais alta a voz da outra menina, fazendo ecos nas paredes da quadra, um dos únicos lugares com todas as quatro paredes de pedra, ao invés de tijolos e cimento.

– Em cima do piano... – A voz cantava, lentamente. – Havia um copo de veneno e, quem bebeu, morreu. A culpada não fui eu...

O lugar de pé direito alto, enorme, ecoava a voz. Ellie entrou e começou a passear por ali, procurando nas arquibancadas a dona da voz. E realmente a achou lá, sentada na fileira mais alta. Uma menina loura e tão magra quanto Ellie - não, era ainda mais magra que ela - cantava e balançava os pezinhos descalços, vestindo uma espécie de vestidinho branco-azulado que mais parecia uma camisola. A jovem sorriu, foi até ela.

– Tudo bem com você? – Perguntou. Mas a menina ignorou, manteve os olhos azuis fixos em um ponto no chão da quadra, cantando aquela ladainha, balançando os pés. – Você canta muito bem. – Ao dizer isso Ellie viu os olhos da menina se moverem em sua direção, mas ela não mexeu a cabeça, só os olhos. E, seu olhar, dava medo. Ellie engoliu em seco. – Qual o seu nome? Você... quer conversar? – E então a menina virou o rosto na direção da filha da diretora, que sorria, nervosa. A desconhecida tinha um rosto pálido, o mais pálido que alguém já havia visto, mas era um rosto de traços delicados e femininos, seus olhos eram grandes e azuis, o nariz arrebitado, o formato da cabeça era fino, oval. Ela era bonita. Um sorriso contorceu seus lábios e ela deu batidinhas no cimento ao lado dela, para que Ellie sentasse. A menina sentou-se ao lado da outra.

– Lise. Eu sou a Lise. – A menina disse com um sorriso forçado. Encarou os olhos negros de Ellie. – Qual o seu nome?

– É Ellie. – Ela deu um pequeno sorriso. – O que faz aqui tão tarde? Todos já foram embora. E por que não está vestindo o uniforme?

– Porque eu não estudo aqui. – Lise respondeu. Ellie estranhava os olhos dela, iam tão fundo nos seus, com um azul tão pálido, quase branco. Mas mesmo assim, a menina parecia gentil... vai ver, tinha só algum probleminha nos olhos, como uma amiga sua que já precisou passar dois meses usando um tampão.

– Mas, se você não estuda aqui, por que não vai pra casa? – A pergunta de Ellie fez Lise pestanejar, ela pareceu confusa, virou o rosto para frente e voltou a encarar o ponto de antes, sem expressão.

– Em cima de um piano havia um copo de veneno... – Cantou a menina com a mesma voz de arrepio. Mas Ellie não se intimidou, apenas passou a mão nos cabelos, nervosa. Não devia ter perguntado de casa para ela. E se não tivesse uma casa? Mesmo assim, teria de sair, sua mãe não podia abrigar alguém na quadra do seu colégio.

– Ei, Lise, pare de cantar um pouco. – A menina pediu. Lise a olhou novamente, só os olhos virados, o rosto ainda reto.

– E por que está aqui, Ellie? Por que não está em casa? – Ela perguntou. Dava medo ser olhada tão diretamente por aqueles olhos tão claros. Ellie desviou seus orbes escuros, fitando a rede de vôlei ao meio da quadra abaixo.

– Eu estou esperando minha mãe acabar o trabalho para voltarmos pra casa. Ela é a dona disso tudo, e a diretora. – Ellie olhou para Lise, os olhos dela continuavam a encarando. – Por que você canta aquela música? Se eu me lembro bem, não há só aquela parte, há uma continuação.

Ao ouvir isso a menina se voltou para Ellie alarmada, a encarou com os olhos arregalados, frenéticos, as mãos pegando uma à outra.

– Então, existe? Existe uma continuação? Por favor, me conte! O que acontece com quem deixou o veneno no piano? Quem deixou-o lá? Alguém mais bebeu o veneno?

Ellie se assustou com as perguntas, se afastou um pouco da menina, encarou as mãos sobre as próprias coxas.

– E-eu não sei, não acho que a continuação tenha a ver com o piano, já começava com outra coisa. Acho que eu pulava corda cantando isso, mas não me lembro bem. Talvez fosse outro tipo de brincadeira, que envolvia as mãos... – E então toda a energia de Lise se desfez e ela voltou-se para frente novamente.

– E o que você acha? – Perguntou Lise com a voz fininha, fraca.

– O que eu acho de quê?

– Da historinha do veneno. No final fica claro: o culpado não fui eu. Você concorda?

– E-eu não sei. Quem é esse “eu”? Não se sabe quem inventou a música.

Eu inventei a música. – A menina disse parecendo irritada, se virou para Ellie, os cabelos louros mexeram-se levemente. – Me diga o que acha. Eu sou a culpada? A culpa foi minha? Justo de quem menos queria que ele morresse?! – A menina tinha voz de choro, mas expressão de ódio. Ellie estava quase morrendo de medo, se levantou e saiu correndo, ouvindo as perguntas de Lise aos berros – Ellie, me diga! Eu morri justamente? Diga Ellie, eu devo me vingar, não devo?! Devo simplesmente continuar espalhando essa canção? Qual é a continuação? Diga-me Ellie...!

Ellie já estava fora da quadra, correndo a mil pelos corredores, quase trombando nas coisas, com medo, ainda ouvindo os berros de Lise. Quem era aquela garota? Ela estava dizendo que já estava morta?!

Ellie ainda corria com força, quando trombou em alguém mais alto que ela, olhou para cima e recebeu uma carga de alívio.

– Mamãe! – Ela gritou agarrando a cintura da mulher, chorando enquanto a abraçava. – Por que a senhora não falou da Lise, mamãe?! Por que a senhora não me mandou ficar longe da quadra?

– Ei, Ellie, o que foi? – Parecia preocupada, assustada com as palavras da filha e com seu tom choroso. – Eu não sei do que você está falando, filhinha. – Sua mãe disse a abraçando, o mais doce que conseguiu. – O que aconteceu?

– Uma menina, está lá na quadra... E-ela me assustou. – Respondeu, esquecendo-se completamente que já não tinha idade para ficar tão assustada e ver na mãe toda a segurança após um pesadelo -mesmo que não estivesse sonhando anteriormente, a situação era a mesma. Sua mãe acenou com a cabeça.

– Eu vou ir ver o que é, querida, fique aqui.

E a menina ficou. Quieta. Estática. Mirando as próprias mãos.

A mãe voltou, não depois de muito tempo, olhou a filha com um sorriso.

– Foi sua imaginação, minha linda. Agora vamos pra casa, já é bem tarde. – A mulher disse passando a mão pelos ombros de Ellie.

– A Lise não estava lá? – Perguntou a menina, confusa, franzindo o cenho.

– Lise? Meu amor você está tendo amigas imaginárias outra vez? – A mulher perguntou preocupada. Não era normal, uma criança com já onze anos não deveria ter a imaginação tão forte.

– Não. Ela não é imaginária. E eu não acho que seja minha amiga... – Disse Ellie. Fez uma pequena pausa, pensando nos olhos quase brancos da menina, fitando o chão da quadra. – Mãe, sabe aquela música de criança, sobre um piano e um copo de veneno, algo assim?

– Sei sim. O que tem ela? – Perguntou a mulher aliviada por a filha ter esquecido aquele papo de garota assustadora.

– Foi a Lise que inventou, ela disse que vêm espalhando essa música pelo mundo há muito tempo. Eu não entendi direito. É como uma das histórias que leio, não sei. – Disse a pequena. Sua mãe deu um longo e cansado suspiro.

– Vamos, Ellie, vamos logo para casa.

As duas regressaram ao lar, assistiram um pouco de televisão e então se deitaram, prontas para enfrentar mais um dia quando acordassem. Naquele noite Ellie sonhou com uma brincadeira de pular corda, estava com meninas tão pequeninas quanto ela, pulando e cantando a música do copo de veneno em cima do piano de uma forma harmoniosa. O sono ia bem até que, no final, os olhos dela encontraram os de Lise, sentada em cima de um muro, a camisola e os cabelos loiros voando ao vento, os olhos brancos fitando os de Ellie e o desespero na sua voz, a melancolia em sua cantoria.

Ellie acordou assombrada.

A filha da diretora de um dos maiores colégios da cidade calçou os sapatinhos e o pequeno uniforme ajustado para o seu delicado corpo de princesinha. Foi para a escola balançando os pesinhos enquanto fitava a janela do carro. Na sua mente, olhos brancos a assombravam. Mas Ellie queria ignorar aquilo, vai ver tenha mesmo sido sua imaginação... Como se enganava a pobre menina.

A primeira aula passou maravilhosamente bem já que foi uma aula de inglês, Ellie tinha uma amizade com o professor. E a próxima aula seria de música.

– Hoje nós vamos colocar em prática a aula de ontem, tudo bem? Por isso o piano está aqui hoje. – O professor disse com um sorriso, todos exclamaram animados, menos Ellie. Só de ouvir a palavra ‘piano’, ela tremia.

O professor deu umas últimas explicações, tocando algumas notas, e foi quando Ellie o viu. Um copo com algum líquido transparente que parecia água, ali, bem no canto esquerdo do grande piano negro. Sua primeira reação foi de desespero, teve certeza de que era veneno. Mas depois se acalmou, devia ser só água, nada mais. Ela sabia que tinha o dom de imaginar, inventar histórias. Era água.

– Crianças, esse copo é de alguém? – O professor perguntou ao notá-lo ali. Ellie estremeceu. Alguns alunos brigaram por ele ter se referido à eles por “crianças” e outros simplesmente disseram que não era de ninguém. – Tudo bem, se não é de ninguém eu vou beber a água. Pra aprenderem a não largar as coisas por aí. – O professor brincou. Mas realmente pegou o copo em suas mãos e quando o aproximou da boca, quando estava prestes a sorver o liquido, a menina não se conteve.

– Não! – Ela gritou. Todos olharam curiosos, mas antes que perguntassem o porquê do grito repentino, o professor bebeu o liquido.

– Que foi isso, Ellie? – Perguntou sorrindo, deduzindo que o copo deveria ser dela e que, por ser uma das mais educadas, devia estar constrangida por isso. A menina enrubesceu.

– Não, não foi nada. Desculpe-me, não vai acontecer novamente. – Garantiu.

O professor apenas sorriu.

– E então vamos continuar a aula?

Não demorou muito. Primeiro uma pequena falta de ar e dor de cabeça e então começou a ficar pálido. Pediu para sair da sala.

E não voltou mais.

Todos estavam cochichando, uns com os outros. Alguns alunos chegaram a chorar, assustados, quando a coordenadora veio dizer o que havia ocorrido, com palavras amenas e omissões -que mesmo assim deixaram claro o que havia ocorrido. A polícia foi ao local, mas não descobriu nada. As únicas digitais no copo eram as do professor, pobre professor, que morreu.

No fim, resolveram dar continuidade as aulas, para não prejudicar os alunos. E foi o que aconteceu. Mas para Ellie estava sendo um sacrifício, ela se sentia estranha, tremia levemente, não que ninguém houvesse percebido. Na cabeça dela a voz de Lise. A voz constante de Lise...

– Professora, posso ir ao banheiro, por favor? – Ela perguntou, como sempre educada. Mesmo que por dentro achasse que ia explodir.

– Claro, Ellie. Mas vá rapidinho, tudo bem?

A menina assentiu.

Olhou-se no espelho, os cabelos cacheados estavam arrumados, o uniforme sem um único amassado. A respiração dela estava acelerada. Olhou para o balcão, respirando fundo. E uma sensação ruim tomou conta dela. Olhou para o espelho novamente.

E deu um grito de susto.

O espelho mostrava a imagem delicada de seu rosto e seu busto, mas atrás, havia também uma sombra enorme, o sorriso debochado de seu professor de música, com uma enorme faca prateada nas mãos.

– A culpa foi sua, foi sua... – Ele dizia.

– D-do que está falando? V-você não esta-tava morto? – Ela perguntou gaguejando, assombrada, sentindo que o coração ia congelar e rachar.

– Você gritou, então você sabia. Eu sei que foi você. – O defunto dizia ensandecido. Ellie estremeceu.

– N-não, não fui eu quem colocou o veneno, eu só gritei porque...

– Calada! – O homem a interrompeu. Lágrimas sugiram nos olhos de Ellie.

– Não acredita em mim? – Perguntou encarando os olhos quase brancos de seu professor à sua frente. Mas, como resposta, ela recebeu um olhar de ódio. A faca de prata arrancou unha por unha, dedo por dedo, membro por membro, toda a vida da menininha. E o professor gritava cada vez mais alto, a culpava, a amaldiçoava...

Ellie, a tão amada e delicada filha da diretora, estava morta.

Demorou algum tempo até que uma faxineira percebesse. Desesperada chamou a diretora e mãe da criança. Lágrimas desceram do rosto da pobre mulher, ela foi ficando ensandecida, lembrava-se da última conversa com a menina, sobre a tal Lise. Porém, nunca soube quem era Lise.

O colégio foi fechado e a mulher se retirou da cidade, depressiva. A polícia, por sua vez, nunca descobriu o motivo do crime, nem como tudo aquilo aconteceu, quem foi o assassino... Mas naquele prédio abandonado, ainda houve uma história.

– Olá, Lise. – Ellie disse sentindo o corpo gelado e estranhamente leve. Sentou-se ao lado da menina de camisola que balançava as pernas. E sentiu uma vontade estranha, algo que tinha de fazer, um anseio tão repentino... – Em cima do piano havia um copo de veneno... quem bebeu, morreu... a culpada não fui... eu. – Ela cantou, e se sentiu aliviada. A voz da menina loira a seu lado se juntou a dela e a melancolia ficou ainda maior, no prédio abandonado.

– Ellie, quem você matou? – Lise perguntou com a voz soprano delicadamente afinada, fitava o chão da quadra. Uma lágrima negra desceu do olho esquerdo de Ellie.

– A culpada não fui eu. – Ela ficou vários segundos em silêncio. – Foi você, não foi, Lise? – Perguntou sem expressão na voz, outra lágrima negra desceu de seus olhos.

Mas Lise não respondeu, continuou cantando. E nada pôde fazer a pobre Ellie. Juntou-se à menina na cantoria e ficaram lá... Anos se passaram, as duas visitavam a mente de crianças, as faziam cantar. Era um alivio ouvir crianças de todos os lugares dizendo que as culpadas não foram elas. Até que, um dia, alguém comprou o prédio. O reformaram, as duas assistindo tudo. Virou uma empresa enorme e famosa.

As duas estavam sentadas sobre cadeiras velhas que foram colocadas onde antes era a arquibancada, quando ouviram um barulho. Uma menina vestida com roupas caras e delicadas, magrinha e pequena, de olhos verdes brilhantes e cabelo de um vermelho vivo se aproximou delas.

– Oi, tudo bem com vocês? – Perguntou a ruiva. As duas ignoraram ela, continuaram cantando. A menina não se afastou. – Vocês cantam muito bem... Estão me ouvindo?

As duas meninas encararam a ruiva. Um sorriso sorriu nos lábios das meninas mortas.

– Olá. Qual é o seu nome? – Perguntaram ao mesmo tempo. A menina estremeceu.

– Me chamo Pita. Sou a filha da dona desse lugar. Quem são vocês? – Perguntou Pita. Ellie encarou Lise, Lise sorriu.

– Vamos, é a sua vez. Tente dar continuação a música, Ellie. – Lise pediu. Ellie olhou para Pita com alegria, talvez se a tragédia se repetisse, descobriria o final da canção.

– Olá Pita, eu me chamo Ellie. Você conhece a música “em cima do piano”?


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Eu acho que é a primeira coisa mais de "terror" que postei. E é bestinha, até. kkEspero que tenham gostado!E, Ellie, eu achei a nossa cara, isso! kk Espero que tenha gostado -e se perder a preguiça, deixe um reviewzinho! kkkDeixem reviews, criticando, elogiando, sei lá... Kissus no Kokoro ♥