Chovia como prelúdio de fim dos tempos,e o frio era um rei implacável a governar lá fora,porém,dentro daquela caixa azul,as coisas eram diferentes,e assim vinha sendo desde que aquela pequena criatura invadira a nave e escravizara todos ao seu redor.

As coisas haviam mudado muito rápido,mais rápido que o coração do bom e velho Time Lord podia esperar.

- Ela tem o seu sorriso,Doutor - Dizia Clara enquanto brincava com a pequena garotinha nos braços da River - Porém os olhos,não tem como confundir,são os olhos da mãe

- Ela tem os cabelos ruivos...Iguais os da avó - Completou River baixando os olhos.

Sabia que aquela lembrança trazia ao Doutor,algumas lembranças não muito agradáveis,os momentos terríveis em Manhattan, o último adeus daquela que passara doze anos da sua vida a esperar pelo seu amigo maltrapilho na caixa azul, aquela que havia dedicado toda a sua vida em função dele,e que lhe tinha dado um dos maiores presentes que ele podia ter: uma família.

- Amy... - Disse o Doutor passando a mão delicadamente pelos cabelos da menina que erguia as mãozinhas para o ar em uma tentativa de capturar a sua gravata borboleta.

- Até ela sabe que gravatas borboletas são legais! - Disse Clara dando uma gargalhada sonora

Os três riram juntos, porém a pequena senhora do tempo continuava séria,em sua tentativa de capturar a gravata do pai.

- Bem,irei deixar a família feliz à sós,já ficou tarde,e eu estou um pouco cansada! - Clara deixou o quarto onde eles se encontravam: um quarto de casal com adesivos de planetas,estrelas,galáxias e outras coisas "à moda Time Lord".

- Ela é mais do que eu mereço,ou do que eu sempre mereci...Os Deuses foram misericordiosos com esse assassino

- Olha pra mim, sweetie, se você não se lembra,o ser mais perverso da criação me implorou misericórdia... Eu também nunca mereci isso tudo... - River deu um sorriso largo olhando para o marido

- Esse é o melhor sorriso do mundo - o Doutor deixou escapar uma risadinha ao lembrar - se de quando descobriu quem era River Song

- Enfim,docinho, também estou ficando um pouco cansada,você é bom com isso, então poderia ninar ela hoje?

- Com todo prazer - respondeu pegando a pessoinha delicadamente em seus braços e se despedindo de River com um demorado beijo

 - Então,somos só nós agora não é sua menininha travessa! - Disse o Doutor rindo mais uma vez - Você tem uma carinha de anjo que conquista qualquer um,herdou isso da sua mãe também! Sabe, minha bolinha, fazia tanto tempo que eu não sentia isso...Algo que chamamos de esperança... Sempre fui alguém só, e a solidão me doía... Mas isso é passado,um passado distante,agora eu tenho você! - E uma lança atingiu - lhe o coração,lembrou - se do seu amado planeta, que havia visto morrer, que havia ajudado a matar... De todos aqueles que haviam confiado nele,e que no final o haviam deixado, porém,agora seria diferente... - Muitos passaram pela minha vida,sabe,deixando seu legado, suas impressões...Todos eram brilhantes, leais,porém...Tudo passa,é uma das lições mais duras da vida, mas, com elas eu aprendi muita coisa,e uma delas é que de nada vale o universo se você não tem com quem compartilhá - lo, e você verá tudo! Estrelas, planetas, galáxias, tudo! Ah o universo é fantástico,você não faz ideia, tantas pessoas,tanta coisa a aprender! Você com toda certeza vai amar! - Uma voz chata no subconsciente o fez lembrar mais uma vez daqueles que havia levado para conhecer o universo - E eu vou te proteger,você me achará muito chato por isso,mas é preciso...Porque você é o maior presente que eu já recebi na vida,você é a esperança para um coração cansado...  - Encostou o bebê em seu ombro e cheirou sua cabecinha vermelha - Querida,você vai me ouvir falar muito sobre os tripulantes dessa nave... Mas uma delas foi especial... Assim como você me fez sentir esperança novamente, e você tem cabelos de fogo assim como ela... Era brilhante,corajosa,inteligente,assim como você será meu anjinho... Você tem o nome dela

Era confortante ouvir a batida dos seus dois coraçõezinhos e a respiração delicada.

 - Você está quase dormindo... Ouvindo a corujice do seu velho pai não é - Disse o Doutor sussurrando e levantando delicadamente da cadeira de balanço para ir em direção ao berço - Boa noite, Doctor - Donna... Meu pedacinho de Gallifrey, - E percebeu que um sorriso iluminado havia surgido no rosto gorducho da criança.