Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 96
Memórias falhas


Notas iniciais do capítulo

Ohohoh! (Não, eu não tô imitando o papai noel, só para deixar claro. Referências de mangá, só isso) Então, oi! Tudo bem? Espero que sim :3 Vamos que 2016 tem que ser um ano bom, principalmente por ser o final dessa linda fic aqui, né mesmo? É!
Capítulo tisti hoje, acho que todos serão a partir de agora kekeke Ai, por que eu ri?
Então, aviso importante para os próximos capítulos nas notas finais, então leiam, pliz?
Capa: Três Lass, (Um mais fofo que o outro :D)
Boa Leitura!



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Passava a ponta de seus dedos em seu pulso, sentindo-se ainda dolorido pelas cordas que o amarraram. Sua pele estava vermelha, mas logo voltava ao tom natural. Parou de ficar pensando na leve dor que sentia e começou a se despir. Quando foi solto, recebeu seu uniforme por Ortina, que veio saltitante até ele.

Ficou só com sua roupa de baixo, não se importando muito estando daquele jeito. Trocava-se em uma sala escura, pouco iluminada. Aquele lugar não o trazia boas memórias, as caixas jogadas pelos cantos o deixava nauseado. A qualquer momento, Lass se jogaria no chão e pretenderia não levantar mais.

Não faria aquilo, é claro, ele sabia muito bem as consequências que receberia se fizesse isso. Pegou seu "novo" uniforme e o encarou. Era o mesmo macacão preto com listras vermelhas que ele usava quando mais novo, sendo maior do que se lembrava. Percebe que era do seu tamanho, como se tivessem feito justamente para ele agora. Iria vesti-lo, mas algo o impediu disso. Sentia alguém olha-lo escondido, o que incomodava o mesmo. Vira o rosto rapidamente para trás, vendo ninguém.

– Devo está ficando maluco. - Pensa o ninja.

Enfiou as pernas na vestimenta, cabendo perfeitamente, como imaginava. Quando vestiria os braços, o sentimento de ser observado volta, em seguida um barulho vindo do lado de fora. Já bastava de ser incomodado, foi em direção à porta e a abriu.

– Ortina, quer... - Para de falar quando vê que não era ela.

As correntes presas em seus tornozelos fizeram o barulho que chamou a atenção do ninja. A jovem garota olhou assustada para Lass, então recuou, fazendo mais barulho com as correntes. Ela devia ter a mesma idade que ele, ou talvez mais nova como Elesis. Seu cabelo era partido ao meio por duas longas tranças, tendo uma coloração azul claro. Seus olhos eram da mesma cor, porém frios após o susto que tomou.

– Quem é você? - Lass pergunta, confuso por nunca ter visto aquela garota.

Ela o encara por um tempo, então saiu correndo. Lass tentou a impedir, mas ela foi mais rápida. O ninja ficou parado na porta a olhando sumir ao se virar para outro corredor.

Não aparentava estar perdida no circo, ela usava roupas parecidas que Lass usava. Devia ser nova ali ou alguma ajudante antiga que ele nunca tinha visto antes, não se importava, só se fosse alguma ameaça para ele.

***

Terminou de vestir seu uniforme e voltou para o centro do circo, onde todos estavam reunidos. Se tivesse tempo, daria uma volta nos fundos para ver se achava algo de importante, alguma saída, por exemplo. Mas não poderia sair do mesmo jeito, então só seria perda de tempo.

A roupa coube nele, voltando a se sentir estranho como da última vez que vestiu isto. As listras pretas e vermelhas eram dolorosas para seus olhos, por isso evitava olhar como estava naquele uniforme.

– Ficou perfeito em você, Lass. - Ortina o recebe com palmas. Como sempre, ela age tão animada e fofa que o irrita. - Eu pedi para que o Halter desse um jeito no uniforme para caber em você. Como se sente?

– Condenado. - É seco e direto.

– Não lembrava que você era tão rabugento assim, Lass. - Bota o dedo na bochecha, pensativa. - Deve ser a puberdade agindo.

Rosna em irritação para Ortina. Ele também não se lembrava que ela falava tanto assim. Fez a melhor coisa, ignorou ela e deixou sua atenção no leão ao lado da garota. Nunca soube o nome dele, mas sempre o temeu quando criança. Talvez agora não tivesse tanto medo, mas preferia continuar distante daquele animal feroz.

– A roupa ficou bem em você, meu caro Lass. - A voz de Zidler o desperta. - Achei que fosse um problema porque você tinha crescido e a roupa não poderia caber, mas eu estava errado.

– É mesmo necessário eu usar isto? - Joga as mãos de lado, em volta do uniforme que usava.

– Mas é claro! Como eu, Ortina e Halter temos nossos uniformes, você deve usar o seu. O que seria um show sem estar bem apresentável?

Então ele não ficaria ali só preso, faria parte das apresentações também. Precisava respirar devagar para não entrar em desespero com tudo que estava acontecendo. Por fora sua expressão era neutra, mas por dentro ele tremia em medo.

– Seja direto, Zidler, o que você quer que eu faça? - Sua voz sai mais pesada que antes.

– O mesmo de sempre. Espero que lembre de seus truques, caro Lass.

Como ele poderia esquecer de algo tão doloroso. Jogou o olhar para o lado, tentando evitar as memórias que vinham em sua mente. Então nota outra pessoa ali reunida no centro do circo; A garota de antes.

– Quem é ela? - Vira para Zidler e pergunta.

Olha para a mesma direção que Lass olhava, vendo a jovem. Ele não fica surpreso como o ninja pensava.

– Ah, esqueci de te apresentar! Venha aqui. - Diz para a garota.

Ela parece estremecer quando é chamada por Zidler. O obedeceu, vindo de forma insegura até eles.

– Caro Lass, esta aqui é Gwen. - Apoia a mão no ombro da mesma, que se encolhe com o toque. - Ela foi sua substituta por esses anos que você esteve ausente.

A olha em pena, quase como culpado. A palavra "substituta" fez sua consciência pesar mais que o normal. Pelo o que entendeu, Gwen estava ali por sua causa, porque o circo precisou de outra pessoa para ficar em seu lugar, e por causa disso, ela foi a escolhida. Precisava nem pergunta à jovem se ela passou pela a mesma coisa que ele.

– Gwen é uma garota muito forte e elegante, caro Lass. - Continua Zidler. - O shows que ela apresenta são sempre os mais vistos, como os seus eram. Vocês dois irão se tornar uma boa dupla.

– Não precisa mais dela, Zidler. - Lass retruca. - Já tem a mim. Solte-a.

Gwen ergue o olhar de surpresa para o ninja. Ela achava que ele era algum louco para querer se colocar no lugar dela. Mas não discutiu, ficou em silêncio.

– Você acha mesmo que é assim que funciona as coisas aqui, caro Lass? Você negocia algo e eu aceito? - Nega com o dedo. - É ao contrário, eu faço minhas propostas e você faz sem discutir. Simples.

– Ela só está aqui por minha causa, não há mais necessidade para isso! - Começava a se irritar, perdendo a noção do perigo em sua volta.

Zidler tira a mão do ombro de Gwen, dando alguns passos para frente de Lass. O rapaz desejou recuar para evita-lo, mas não conseguia mover um músculo em tensão. Mesmo sendo alto, Zidler era mais e isso o intimidava.

– Ela ficará como você também vai. - Zidler fala, sem perde o tom brincalhão. - Tem certeza que quer me desobedecer? Lembra que as consequências não pegarão só em você.

Desvia o olhar por um segundo, temendo à consequência. Ele sabia disso, não tinha esquecido, só estava sendo teimoso como sempre foi.

– Que bom que entendeu! - Diz o palhaço animado. - Como hoje é seu primeiro dia, você ficará encarregado de levar as caixas para o depósito, junto com a Gwen. Mais tarde, Ortina te dará mais algumas ordens para fazer.

– Certo. - Sussurra.

– Ótimo! Gwen, guie nosso caro Lass para o trabalho dele. - Afastava-se enquanto falava. - Espero que consigam se entender.

O ninja consegue se sentir mais aliviado com a ida de Zidler. É difícil para ele olhar Gwen novamente, que possuía uma expressão séria no momento. É claro, ela não estava nada contente de vê-lo.

– Olha, eu... - Lass não consegue completar o que queria dizer.

– Vamos, é por aqui. - A garota sai na frente.

O ninja tenta continuar o que dizia, mas acaba não falando nada. Ele segue a garota, evitando olha-la. Ela devia odia-lo com todas forças que possuía, a qualquer momento ela poderia se virar e tentar mata-lo. Perguntava-se se ela sabia que ele era o culpado de ela estar ali.

Entram em uma grande sala, com mais caixas para todos os lados. Pelo o que Zidler disse, teriam que arrumar aquela bagunça. Foi preciso nem ter falado pra o ninja o trabalho dele ali, já tinha feito isso antes mesmo, não teria problema dessa vez.

– É Gwen, certo? - Decidi falar.

Ela assente, distante de onde ele estava.

– Você é nova aqui, pelo o que Zidler disse. Quando foi que você chegou? - Depois da sua ida, ele sabia disso.

– Não me lembro, faz muito tempo. - Sua voz era tão sem vida que chegava a assustar o próprio Lass.

– Como veio parar aqui?

O barulho do caixote sendo jogado no chão o estremece. Só estando ali para Lass se sentir um medroso com tudo que ouvia e via.

Gwen se virou para ele, zangada desta vez. Deu alguns passos pesados até o ninja, o encarando de perto.

– Eu sei quem é você, Lass. - Ela fala. - Não tem como não saber neste circo. Desde que cheguei aqui, todos falam só de você, de como você fazia saudade para todos aqui. Não ache que tornarei sua amiguinha aqui, muito menos sua parceira.

– Eu sei que você me odeia, só que...

– Só que o quê?! - Dá mais um passo à frente, Lass recua. - Minha vida é um pesadelo e é por sua causa. Não quero ouvir desculpas suas, nem mesmo a sua voz. Então vamos fazer um acordo, você não fala comigo e eu também não com você. Fácil, não?

A última coisa que queria naquele lugar era arranjar outro inimigo contra ele, mas parecia que não seria fácil. Podia conhecer Zidler, Halter e Ortina, do que eles são capazes de fazer com ele, mas Gwen é um mistério, é a primeira vez que a vê, portanto, não sabe do que ela é capaz.

– Não me importo se você é o queridinho do Zidler, só fique longe de mim. Mesmo longe durante esses anos já me trouxe problema, imagina agora. - Volta a se afastar, continuando seu trabalho.

Lass concordou com tudo, não se aproximaria da garota pelo o bem dela. Ele mesmo gostaria de ficar longe dele. O tempo no circo seria muito longo, muito mais com outro inimigo na sua cola. Tudo que podia fazer era evitar qualquer problema para seu lado; E de Elesis.

***

Jin não acordou muito disposto hoje de manhã. Antes de dormir, sentiu uma dor de cabeça que ainda parecia incomoda-lo. Teria aula daqui a pouco, por isso teve que fazer um esforço e se arrumar para ir. Ao sair do quarto, é surpreendido ao ver alguém que não ver logo de manhã.

– Elesis, o que faz aqui? - Pergunta quando a ver andando pelo o corredor.

– Oi, Jin! Quanto tempo. - A ruiva diz em animação, mas parecendo bem cansada pela viagem.

– Achei que estivesse em uma missão, ou algo parecido.

– Eu tava, acabei de voltar. - Vê o olhar de explicação que o ruivo tinha. Suspira ao falar: - Foi mais para um castigo do que uma missão. - Rir forçadamente.

– O que você fez? - Já olha decepcionado.

– Descobri que Cazeaje tinha um plano para prender o Gerard, então eu tentei entrar escondida, mas não deu certo. Resumindo, eu fui mandada para outro continente como castigo.

Nega com a cabeça pelo o que ouve. Jin já estava acostumado ao ouvir Elesis se metendo em confusões, só que não conseguia esconder as decepções que sentia. Ela era assim, não tinha como negar.

Ele solta uma risada no final, acertando um pequeno tapa na cabeça dela.

– Podia ao menos ter me chamado para ir junto. Só você mesmo para fazer isso sozinha. - Fala o ruivo.

– Eu não estava sozinha, eu tinha... - Para de falar. Olha pensativa para o nada, deixando até mesmo Jin confuso. - É, eu não tinha ninguém.

Quando Jin ia falar, outra voz o impede. Olham para a mesma direção que Astaroth vinha, por causa de Elesis, era óbvio pelo o seu olhar sério. A ruiva segurou o lutador pelos os ombros e o colocou na sua frente, como um escudo.

– Eu não fiz nada, Astaroth. Nem vem. - Dizia a espadachim antes mesmo dele chegar perto.

– Não estou zangado como a Lothos está, que por sinal, deve está te procurando nesse exato momento.

– Diga para ela que eu me mudei para Elyos, lá eu estou mais segura que aqui com ela. - Solta uma risada nervosa.

– Você encara o cara mais procurado de Ernas mas não a Lothos. - Astaroth não segura a gargalhada. Ele não estava zangada, só parecia cansado, o que deixava ele sério. - É melhor ir ver logo ela antes que ela mesma venha atrás de você.

– Você não entende. - Sussurra.

– Estou falando isso para a sua segurança. Agora, - Fica mais sério. Mete a mão no rosto de Jin e o empurra para o lado, tirando a defesa da ruiva. - que ideia foi essa de você querer se intrometer no plano de Cazeaje?

– Por favor, você também não. - Diz exausta. - Eu já aprendi a minha lição, não preciso ouvir mais sermões.

– Precisa, sim. Mas deixarei isso para Lothos, ela sabe como lidar com você.

A ruiva apoiou as mãos em sua testa para massagea-las, sentia tanta dor de cabeça quanto suas pernas ainda feridas. A viagem que teve que fazer não fez seu estado melhorar, só piorar. Mal via a hora de poder toma um bom banho e deitar em sua cama confortável, mas tendo que encarar a fúria de Lothos primeiro.

– Mas devo falar algo antes de você ir ver a Lothos. - Astaroth continua. - O soldados de Cazeaje já voltaram, Ronan está no meio deles.

Elesis tira as mãos da cabeça ao ouvir o nome do rapaz. Pelo o tom de voz do professor, parecia ser sério.

– Ele está no hospital desde que chegou. Acho que você deveria ir vê-lo.

Precisou nem ter sugerido, Elesis já saía correndo antes mesmo de ele terminar. Jin tentou a chamar, mas a ruiva passou direto por ele como se não tivesse o visto. A preocupação estava estampado em seu rosto, enquanto por dentro ela temia o pior. Culpava-se por ter deixado Ronan ir nessa missão, devia ter ao menos o impedido, mas estava tão cega em querer enfrentar Gerard que não notou isso.

Saiu do colégio e continuou seu percurso à pé, embora suas pernas não aguentassem mais nenhum passo que ela dava. O hospital era um pouco longe dali, mas ela continuaria mesmo assim, chegaria lá sem energia alguma e conseguiria ver Ronan.

Não soube quanto tempo levou seu caminho até lá, só estava contente em ter entrado no prédio. Não parou na recepção para perguntar onde era o quarto do rapaz, subiu as escadas e seguiu seus sentidos. Passava pelas portas dos quartos e dava uma rápida olhada, então continuava a correr. Foi assim até reconhecer Ronan por seus cabelos azulados.

– Ronan!

O rapaz estava deitado em sua cama, acordado, porém despertando mais ainda ao ouvir o grito de Elesis. A ruiva veio correndo em sua direção, se jogando ao seu lado e o tocando no rosto.

– Elesis? - Estranha, confuso pelo o que via.

– Você tá vivo! Você não está morto. - Ela falava com a voz trêmula. Continuou a toca-lo até que encostasse em alguma ferida em seu peito que o fez rugir. Ela deslizou da cama até ficar sentada no chão, olhando preocupada.

– Geralmente quando estamos vivos, não estamos mortos. - Ele fala, ainda com a mão no peito. Olha pra ela e sorri. - Como você pode ver agora.

Ela não consegue rir, mesmo vendo ele bem.

– Achei que tivesse se machucado muito. Fui uma idiota em ter deixado você ir atrás do Gerard.

– Esse é o problema da situação, você não ter me impedido? Elesis, você se esqueceu do que fez?

– E não me arrependo, se fosse para estar lá para te proteger, melhor ainda. - Fala emburrada.

– Por favor, para de agir como se fosse o homem da relação. - Sussurra.

– Hã?

Levaria tempo até que explicasse para ela, então apenas sacudiu com a mão para que ela ignorasse.

– O que aconteceu lá? - Pergunta Elesis, aproximando-se da cama como apoio. - Seja honesto, não esconda nada de mim. - Diz séria.

– Enfrentamos o Gerard, só isso que aconteceu. O plano não deu certo, nós falhamos. Satisfeita?

Aquilo não a satisfazia por completo, precisava de mais informação. Mas via na expressão cansada de Ronan que ele não sabia muito, só estava lá para comandar o exercito e tentar derrubar Gerard, o que não funcionou.

Pretendia fazer mais perguntas, porém uma leve batida na porta a impediu. Olharam para o homem vestido com o uniforme do Conselho parado na porta.

– Senhorita Elesis, poderia nos acompanhar até o Conselho, por favor? - O rapaz pediu.

A ruiva não entende o motivo de ser chamada para o Conselho, então olha para Ronan à procura de alguma resposta. Pela a face confusa do rapaz, ele também não fazia ideia do que se tratava.

– Algum motivo em especial? - Ronan pergunta.

– Dona Cazeaje quer ter uma conversa em particular com a senhorita. - Estica a mão para a saída. - Por favor, me acompanhe.

Olha apreensiva para o homem, querendo se encolher em seus ombros para se proteger. Não via outra opção além de ir com ele, mesmo que não visse nenhuma ameaça para ir contra. Levantou-se do chão e acompanhou o homem até a porta, parando para se despedir de Ronan.

– Eu volto depois que resolver isso.

***

Foi tratada com muita educação durante o caminho até o Conselho, que mudou quando entrou no lugar. Os guardas a seguraram pelos os braços e a arrastaram pelos os corredores, com a ruiva tentando se soltar de forma inútil. Não entendia por que não conseguia se soltar deles, sentia-se fraca ao entrar no Conselho e suas pernas doíam mais. Foi assim até ser jogada na sala de Cazeaje e deixada sozinha com a mesma.

Ao levantar, deparou com a moça do outro lado de sua mesa, a olhando tão séria que parecia com raiva. Esperou que fosse dito alguma explicação do que acontecia, mas Elesis viu que teria que falar algo primeiro.

– O que eu fiz desta vez, Dona Cazeaje? - Dizia enquanto arrumava sua roupa bagunçada. - Se é por causa daquilo, não vou me desculpar. Sobre a entrega do pergaminho, já foi entregue.

– Conte-me sobre sua missão, em detalhes. - Sua voz sai séria como sua expressão.

– Em detalhes? - Ergue as sobrancelhas.

– Desde sua partida até sua ida.

Continua a olha-la sem entender a razão daquilo, mas fez do mesmo jeito. Contou que saiu sozinha do Conselho direto para pegar o trem, então chegou em Ellia após um dia e meio. A entrega do pergaminho foi simples, mas acabou inventando uma desculpa para não falar que passou o dia inteiro em um parque de diversões.

– Eu cheguei hoje de manhã e fui ver o Ronan. Acaba aí. - Termina. - Algum propósito para isso?

Cazeaje fica em silêncio por um tempo. Ela olhava Elesis como se a analisasse de qualquer coisa que ela dizia e fazia. A ruiva já começava a ficar desconfortável com toda aquela pressão que estava sendo colocada nela.

– Ninguém a acompanhou nessa viagem? - Finalmente ela fala.

– Não, eu fui sozinha.

– Algo de estranho aconteceu? Ou algum estranho apareceu no seu caminho?

– Não, tudo de normal.

– Me fale os nomes das pessoas que você conhece que comece com a letra L.

Elesis olha confusa para o pedido. O que Cazeje pretendia fazer com todas aquelas perguntas?

Iria questiona-la, mas o olhar da mesma a fez responder.

– Tem minha amiga Lire, a Lothos, o Lupus... - Contava nos dedos, bem pensativa. - Ah, a Lin.

– Só isso? - Olha irritada.

– É, só essas pessoas. Por que está fazendo essas perguntas?

Cazeaje continua a olha-la. A cada resposta que ela dava, mais nervosa ela parecia ficar.

– Dona Cazeaje, eu já posso ir? - Aponta para a porta. - Tenho muita coisa para fazer, e ficar aqui não...

A batida na mesa faz Elesis se calar no mesmo instante, até recuar um passe em ameaça. Cazeaje ficou de pé e bateu na mesa com sua mão, perdendo a pose em seguida.

– Pare de mentir! Cadê meu Lass?! - Grita ela furiosa.

– O seu o quê? - Apoia a mão no cabo da espada, caso precise se defender. Mas via que não seria preciso, já que Cazeaje não era desse tipo.

– Você foi com ele para essa missão! Onde ele está?

– Do que você tá falando?

Cazeaje continuaria as perguntas desesperadas, mas é obrigada a parar quando vê que Elesis não sabia do que ela falava. Como Gerard tinha dito, as pessoas em sua volta esqueceram do ninja como se nunca tivessem o conhecido. Isso ficou claro hoje de manhã quando perguntou para Mary e Vegas sobre Lass, que não reconheceram nem o nome do mesmo. Vendo Elesis agora, tinha certeza de tudo.

Abaixou seus ombros tensos e acalmou sua respiração.

– Esqueça. - Fala Cazeaje.

– Certo. - Estranhava o comportamento em geral da mulher, mas tentou não debater. Já se preparava para ir embora. - Então eu já vou indo. Se precisar de algo, é só chamar.

Estava quase pegando na maçaneta da porta para, enfim, ir de vez. Elesis não faz ao ouvir a voz de Cazeaje ao fundo. Vira-se e olha com tédio.

– Irei te oferecer uma proposta. - É direta. A ruiva olha interessada. - Te darei os equipamentos, armas, o exercito que quiser.

Levanta uma sobrancelha.

– Pelo o que em troca? - Pergunta Elesis.

Cazeaje nunca a olhou tão sombria quanto daquela vez.

***

Naquela tarde, Ronan recebe outra visita de Elesis. Pelo o que parecia, ela demorou um pouco com Cazeaje. Pretendia não questionar o que aconteceu lá, se ela estava inteira e bem, isso já bastava para o rapaz.

– Algum problema? - Pergunta quando a ruiva se senta ao seu lado.

Elesis solta um suspiro discreto e olha para o lado, querendo esconder sua expressão quieta. A conversa que teve com Cazeaje ainda ocupava sua mente, principalmente agora que gostaria de contar para Ronan. Sentia que ele precisava saber sobre o que aconteceu.

– Cazeaje me fez uma proposta. - Fala sem ânimo.

O rapaz a olha surpreso. Conhecia Cazeaje para saber que ela não era de propostas.

– Que tipo de proposta?

– Ela disse que me daria o que eu quisesse, armas e equipamentos. - Suspira. - Mas em troca, eu teria que ir atrás do Gerard.

Isso ele não esperava. Fica sem reação como Elesis ficou ao ouvir isso. Cazeaje estava dando de bandeja a chance de ela conseguir sua vingança.

– Elesis, você aceitou? - Temia pela a resposta.

Nega com a cabeça. Ronan solta um suspiro aliviado desta vez, porém ainda não se sentindo bem pelo o que ouviu.

– Por que ela fez essa proposta para você? - O rapaz pergunta.

– Eu não sei, ela parecia desesperada quando eu cheguei lá. Ficou fazendo um monte de perguntas sem sentido, ficando nervosa cada vez mais. No final, ela me fez essa proposta. Eu disse que iria pensar, então fui embora.

– Que tipo de perguntas?

– Bem estranhas. - Passa a mão na nuca ao se lembrar. - Mas teve um momento em que ela ficou furiosa. Ela disse que eu estava com alguém quando fui fazer a missão, e que eu não estava mais com ele na volta. - Apoia a mão no queixo, pensativa. - Não me lembro o nome no momento, acho que começava com L.

Ronan ouve tudo atentamente, sentindo-se do mesmo jeito que Elesis. Esquecido.

– Agora que você falou, quando eu me encontrei com Gerard, ele dizia a mesma coisa. - Põe a cabeça de lado, tentando se lembrar dessa parte. Elesis o olha séria ao ouvir o nome do ruivo. - Falava de um certo alguém, não me lembro o nome, mas ele repetia diversas vezes.

– Será que a mesma pessoa que Cazeaje estava falando? - Fica surpresa. - Porque se for, faz sentido porque ela quer que eu vá atrás do Gerard.

– Talvez seja. Pela cara de espantado que o Gerard fez quando eu disse que não sabia de quem ele falava, devia ser importante. - Olha sério para a ruiva, quase a segurando pelos os ombros. - Diga que você não vai atrás do Gerard.

– Não vou, do que adiantaria eu ir se não conseguiria lutar contra ele? Não sou tão idiota assim, Ronan. - Sente-se ofendida. O rapaz ri sem jeito, logo se desculpando. - Só o que me incomoda é essa pessoa que Cazeaje falou. Eu deveria saber quem é?

Ronan não sabia a resposta, pois ele se sentia do mesmo jeito. Gerard tinha o olhado espantado naquele dia, achando que ele tivesse contado alguma piada de mau gosto para deixa-lo daquele jeito. Continuava a ter certeza que não sabia de quem o ruivo falava, mas do mesmo jeito, ele ficava como Elesis, sem saber o que fazer. É claro, a ruiva estava mais afetada que ele.

A espadachim volta a olha-lo quando sente algo quente encostar em seu rosto. Ronan apoiava sua mão na bochecha da jovem, sorrindo para a mesma para acalma-la. Ela até sorriria também, mas fica preocupada ao perceber o outro braço enfaixado do rapaz.

– O que aconteceu?

– Eu não sei exatamente, quando eu acordei estava com uma enorme dor no meu braço quebrado.

– Gerard fez isso?

– Provavelmente. - Percebe a preocupação e irritação na expressão da mesma. - Não se irrite, por favor. Ele tem os motivos dele como eu tenho os meus.

– Ele podia ter te matado.

– Mas não matou. - Sorri. - Isso que importa.

É preciso pisca para ver a gentileza nas palavras de Ronan. Mesmo naquele estado ele continuava a ser uma boa pessoa, sem querer o mal delas. Provavelmente ele estivesse irritado com Gerard no fundo, mas ele não demonstrava isso.

Elesis sente um forte aperto no peito, machucada de uma maneira que ela não conseguia compreender. Apoiou sua cabeça no peito do rapaz, escondendo sua expressão triste do mesmo. Sente a mão de Ronan sobre seus cabelos, dando uma leve batida para acalma-la.

Ficava tão feliz em vê-lo vivo, porém isso não era o bastante para ela. A proposta de Cazeaje a incomodava mais que tudo, muito mais ao saber que isso está diretamente ligado a Gerard e alguém desconhecido, para ela.

***

Quando colocou a última caixa em seu lugar, Lass soltou um longo suspiro cansado. Esteve fazendo aquilo por horas, ou minutos, não sabia ao certo. Está no circo é a mesma coisa de não ver o sol do dia, ficar sem saber se está de manhã ou de noite. A única coisa que o alertava que era de noite era quando os espetáculos estavam para começar, que sempre começavam nas mesmas horas.

Olhou para trás, vendo que Gwen ainda não tinha retornado. Ela disse que o deixaria fazendo sua parte por um momento, que foi há um bom tempo. Talvez fosse um castigo para Lass, um dos primeiros para ele.

Ouve um batida na porta. Halter chega a não entrar, justamente por seu tamanho exagerado.

– Ortina o chama. - Sua voz é grave como um rugido, complicada de se entender o que diz. Mas Lass já estava acostumado àquilo, conseguia entender o homem.

– Já estou indo.

Halter se vai. Lass não estava preparado para saber o que viria agora, preferia ficar mais um bom tempo ali arrumando caixas.

Saiu da sala e foi até o centro do circo, onde o espetáculo acontecia. Todos estavam reunidos, menos Zidler. Não se importava pela ausência dele, pelo contrário, ficava feliz por não ter que vê-lo.

– Começaremos os treinos para o show de hoje, Lass. - Ortina avisa, com muita animação. Seu chicote já estava em mão, deixando o sangue do rapaz frio. - Mas você não poderá participar hoje. Ordens do Zidler. Ele disse que pode ser arriscado te colocar sem saber como as coisas funcionarão, então você ficará só ajudando e olhando.

– Ao menos uma notícia boa.

Ficou em um canto da arena onde não pudesse ser pego pelos os truques que seriam feitos. Primeiro foi Ortina com seu rápido espetáculo com seu grande leão. Ela nunca fazia sua apresentação toda nos treinos, sempre gostava de ousar na hora do show.

Em todo momento, o barulho do chicote batendo contra o solo, fazendo a poeira subir, fazia Lass se arrepiar. Seu corpo todo estremecia com aquele som estridente.

– Relaxa! - Pensava. - Não demonstre medo.

Consegue ficar mais calmo quando Ortina sai do centro, dando a vez a Halter. O rapaz com grandes músculos sempre fazia seus mesmos truques, carregava coisas pesadas e quebrava outras com um pequeno esforço com sua força. Não era nada de surpreendente, mas deixava Lass intimidado do mesmo modo.

Olha curioso quando ver a vez de Gwen. Alguns canhões foram colocando em volta da arena, apontados diretamente para sua direção. Ela arrumava as correntes presas em seus pulsos, na quais tinham uma espécie de gelo, ou cristal, nas pontas. Lass se perguntava o que ela faria, já que nunca viu o número da mesma.

– Espero que consiga se encaixar nos novos espetáculo, caro Lass.

Quase deu um pulo quando Zidler aparece atrás dele. Tinha esquecido de ter parado em uma das entradas para os fundos, é claro que alguém poderia aparecer a qualquer momento por ali.

– O que você quer dizer? - Lass pergunta, tenso pelo o susto.

– Quero dizer que, você precisará de truques novos para os espetáculos. Você sabe muitas coisas desde a última vez aqui, quero aproveitar esse talento seu.

– Então o que você quer que eu faça?

– Eu não sei, me surpreenda. Nossa querida Gwen já mostrou que pode fazer os próprios truques sem ajuda alguma. - Faz um aceno com a cabeça para a garota.

Esteve tão focado na conversa com Zidler que nem viu a jovem fazer seu truque. Quando virou o rosto para ela, ficou surpreso. Gelo, ou cristais, tinha sido feito em sua volta, dentro deles tendo as bolas de canhões. Não soube como aquilo aconteceu, ficou curioso pela a magia da mesma.

– Quero que você consiga criar um truque seu até o show de amanhã. - Zidler anuncia, preparando-se para ir. - Você fará participações em meus espetáculos, mas quero que você faço o seu próprio.

– Como assim? Quer que eu suba no palco e comece a contar piadas, é isso? Zidler, eu não sou esse tipo de cara.

– Seja criativo, caro Lass. Use as ferramentas que temos lá nos fundos e faça algo divertido, para divertir o público, é claro.

– Eu não vou conseguir.

Zidler o olha sem expressar reação alguma. Ele parecia pensar.

– Após o final do show de hoje podemos ter uma conversa, talvez isso te ajude a ter algumas criatividade. - Ele se despede antes de ir.

Lass o olha sumir ao voltar por onde veio. Ele não tinha um bom pressentimento sobre isso, gostaria de ter inventado outra desculpa que não deixasse Zidler nervoso, como pareceu.

– Que tipo de truque que eu posso fazer? Não sou nenhum palhaço. - Pensa.

Tinha velocidade, força, agilidade e muitos atributos que ajudariam uma pessoa em um truque de circo. Porém Lass era o cara mais sem criatividade que conhecia, só Elesis mesmo para ajudar nisso. Ele abaixa o rosto, tinha se lembrado da ruiva por um momento, que não era nada bom na situação que estava. Não estava tendo mais esperanças que ela voltaria para ajuda-lo. Precisava ser criativo sozinho, como sempre foi nos tempos do circo antigo.

***

Ajudou os demais nos treinos até que a hora de se arrumarem para o espetáculo estivesse começando. Todos foram correndo se arrumarem e o circo para o público. Lass não estava incluso nisso, ficou bem claro que ele não deveria aparecer nesse show, só nos próximos. Isso o deixava feliz por uma parte, mas pela a outra não. Ainda estava sem ideia para o próprio truque que teria que apresentar amanhã, sem atraso.

– Vamos, é só pensar como o idiota do Jin. Criatividade! - Pensava repetidas vez, mas ficando deprimido quando mencionava o ruivo em seus pensamentos. Perguntava-se se ele também tinha se esquecido dele.

Como nenhuma ideia vinha em sua mente, andava aleatoriamente antes do show se iniciar. Ouvia dali mesmo as pessoas entrando no circo, sentando-se em seus lugares e esperando ansiosamente. Não queria ver como estava cheio o lugar.

Lass já tinha visto como Zidler, Ortina e Halter estavam. Eles usavam alguma magia que faziam eles parecerem com humanos, os mesmos que os enganou naquele dia. Talvez não gostassem se serem visto daquela forma, como são de verdade. Lass até os entender, de um jeito em particular.

Para de andar ao ver Gwen vindo em direção oposta. Ela estava bem bonita com uma roupa trocada e usando uma maquiagem que escondia sua face assustadora. Suas tranças tinham sido soltas, agora batendo em sua cintura. Ela devia prender o cabelo só quando não estava fazendo seus truques.

– Faça algo de importante, em vez de ficar andando por aí. - Ela fala quando passa por ele.

Lass solta um suspiro. Ela não largaria de seu pé tão cedo. Virou-se para a jovem, que já estava bem distante, e a chamou. Ela olhou sério para ele, impaciente.

– O que é?

– Boa sorte.

Gwen revira os olhos e continua seu caminho. Lass estava mesmo tentando ser gentil, mas parece que isso não é o seu melhor. Coçou sua nuca, pensando se fez algo de errado para ela continuar daquele jeito com ele.

– Motivação, Lass. - Ouve a voz de Ortina ao fundo. - Animação para o show.

Antes que o ninja pudesse se virar para olha-la, recebe um tapa na bunda que o faz se assustar. Olha sem jeito para a moça, que já estava vestida como uma humana, e põe as mãos no local acertado.

– Fique preparado para qualquer problema que aparecer. - Ela dizia, seguindo seu caminho. - Foi o que Zidler disse.

Ainda com as mãos no local acertado, Lass solta outro suspiro. Podia não estar no palco, mas continuava a sentir nervosismo por causa do show. Tudo que esperava é que ele não fosse parar ali no meio das apresentações.

***

Era engraçado, o público ria e se divertia com o que via nas apresentações. Ortina deixava as crianças com os olhos brilhando quando fazia seu leão a obedecer a qualquer ordem que ela mandasse. Halter deixava todos com a boca aberta, em surpresa pela a força do mesmo. Zidler sempre tirava risadas de todos da plateia, sem exceção alguma. Suas mágicas eram mesmo belas;

Mas Lass não achava isso. Ele estava sentado em uma das plataformas de metal que ficava no alto do circo, onde a iluminação ficava apontada para o centro do local. O ninja sempre passava a maior parte de seu tempo ali em cima, quando criança. Zidler nunca se importou de ele estar ali, ao menos.

– Gostaria de ser iludido dessa forma, tão inocente. - Sussurra para si. - Deve ser bom.

Lembra até hoje de estar na rua com os pés descalço e sujos, andando em meio a cidade enquanto uma forte chuva caía sobre ele. Sentia fome, mas naquele dia estava insuportável, precisava de algo para se alimentar. Mas ninguém veio até ele, nenhuma ajuda parecia possível.

Então foi quando Zidler apareceu, a única pessoa que esticou a mão para ele. Estava tão desesperado que aceitou sua ajuda.

Passou a mão em sua cabeça para esquecer dessas memórias. O arrependimento o atingia como uma bala, precisava se esquecer disso. Felizmente, a apresentação que começaria lá embaixo o chamou a atenção. Gwen entrava no palco para fazer seu truque.

A garota fez uma rápida reverência antes de começar o show. Os canhões estavam de volta em torno dela, mirados para sua direção. Ela segurou firme as correntes presas em seus pulsos e se preparou para o próximo som que ouvisse. Olhou rapidamente em direção ao som de explosão quando a primeira bola é disparada contra ela. É rápida ao avançar e bater com a ponta de sua corrente no chão, criando uma parede de cristal à sua frente. A bola nem a alcançou, foi "congelado" junto com a parede.

Então em segundos, os canhões começaram a disparar sem parar. Gwen girava e atingia o chão em uma velocidade que até Lass era surpreendido. Ela não era atingida nenhuma vez, era tão ágil quanto uma guerreira.

– Ela é mesmo boa nisso. - Lass pensa. - Não achei que fosse tão forte assim.

Pela primeira vez, o ninja estava encantado por um truque. Gwen estava séria em meio àquele lugar, mas ela estava muito bonita quando criava os cristais e girava para criar outros. Em menos de alguns minutos ela já tinha terminado de cristalizar todas bolas de canhão.

O público aplaudiu pelo o espetáculo. Gwen não expressou felicidade com os aplausos, apenas fez uma reverência como gratidão. Como ela, Lass também não estaria feliz naquele lugar. Antes que terminasse, esticou as mãos para o lado e estalou os dedos. Os cristais explodiram em pequenos pedaços como neve, que brilhavam com a luz refletida. O púbico aplaudiu mais ainda.

Ela já se preparava para sair, até que ouve mais um barulho alto. O canhões começam a disparar outra vez, sem que ela esperasse. É rápida para criar mais cristais para se defender, porém estando mais atrasada que antes.

Isso não estava planejado, Lass nota. O cristais começam a explodir como antes, porém os pedaços se espalham em pedaços maiores, perigosos para qualquer um perto. A cada segundo que Gwen se atrasa em cristaliza-los, mais os pedaços ficam maiores ao explodirem.

Lass se levanta da plataforma, vendo que aquilo não acabaria bem. O público não percebia que ela estava correndo perigo, pensavam que aquilo era parte da apresentação. Mas o ninja não, ele sabia o que estava acontecendo, já esteve em uma situação dessas.

– Espero não sobra pra mim depois. - Resmunga antes de pula dali de cima.

Caiu no palco sem dificuldade, então correndo na direção da garota. A última bola é disparada, ela conseguindo se defender mais atrasada que antes. Os cristais em sua voltam começam a explodir outra vez, dessa vez os pedaços a cortando quando ela não conseguia desviar.

– Droga! - Pensa irritada.

Sente todos os cristais já destruídos, só faltava o último. Virou-se para olhar à tempo de ver o cristal rachar e explodir ao seu lado. Seria bastante ferida naquela aproximação com o cristal, precisava se afastar, correr.

Ela não conseguiria.

– Mova-se, mulher!

Ouve Lass gritar, virando-se para ver o ninja correndo em sua direção. Ele a empurrou com toda força para longe, fazendo a mesma cair no chão e ralar o braço na queda. O rapaz conseguiu a distância, mas não ele para fugir da explosão, que ocorreu em seguida.

Gwen abaixou os braços em proteção. Lass continuava de pé, porém com o rosto fechado, em dor. Viu pequenos cristais presos ao lado de seu rosto, o sangue escorrendo de suas pequenas feridas. De onde estava, ela não conseguia ver os cristais maiores enfiados nas costas do rapaz, o que provocava as maiores dores.

O circo ficou em completo silêncio após aquilo. Lass abriu seus olhos para ver a plateia o fitando em espanto, perguntando se ele estava bem. O ninja soltou uma respiração pesada pela boca e abriu um largo sorriso, o mais convincente que ele tinha.

– Fique calmo, todos! Isso é apenas uma maquiagem para o truque! - Lass gritava, tão animado que qualquer um que ele conhece se assustaria de vê-lo desse jeito. Apontou para os grandes cristais enfiados em suas costas. - Isso não é de verdade, apenas estou usando para fazer parte do número. Mas vejo que não consegui me encaixar bem. - Força uma risada.

O público começa a rir aos poucos, até todos estarem convencidos por Lass. O ninja conta outra coisa boba, assim voltando ao clima de antes. Aproximou-se de Gwen e esticou sua mão.

– Vamos, bote um sorriso nesse rosto. - Fala Lass entre os dentes.

Ela botou e aceitou sua ajuda para se levantar.

***

Fazia uma careta a cada cristal que retirava de suas costas. Seu rosto já estava limpo, só alguns arranhões dos cristais retirados que ainda se curavam. Ninguém o ajudava nisso, mas Lass não se importava, sempre foi assim mesmo. Levaria só mais alguns minutos até que suas costas estivessem sem nada, porém a cura não seria a mesma como em seu rosto, já que eram feridas maiores e piores.

– Só eu mesmo para ser trouxa de ajuda os outros. - Murmura para si.

Ninguém o ajudava nem agradecia pela a ajuda que ele deu. Isso não importava, só queria retirar o último cristal preso em suas costas para se sentir melhor. Fez um esforço maior e conseguiu tirar, rugindo baixo pela a dor que sente. Jogou o cristal de lado, tentando acalmar sua respiração acelerada. Queria nem imaginar como estava suas costas no momento.

Levantou-se e saiu da sala onde estava. O show já tinha acabado fazia um tempo, agora todos estavam reunidos no centro do circo. Lass foi lá sem pressa, já sabendo o que acontecia antes mesmo de chegar.

– Me desculpe, Mestre Zidler! - Gwen falava, ajoelhada à frente do rapaz. - Acabei me distraindo na manutenção dos canhões, que gerou esse pequeno problema.

Eles estavam no centro do palco, enquanto apenas Ortina estava um pouco mais afastada observando. Ela olhava séria para Gwen, mas volta a sorrir quando ver Lass. O rapaz a ignora.

– Pequeno? - Zidler pergunta. - Você comprometeu a segurança do público como a do nosso caro Lass. Você chama isso de pequeno?

– Eu sinto muito. - Ela volta a repetir.

Zidler a olhou por um tempo, até se virar para Lass. O ninja congela em seu lugar, temendo pelo o pior.

– Caro Lass, o que você acha? Qual castigo devemos dar para ela? - Pergunta Zidler.

Gwen o olha surpresa, então em medo para o ninja. Lass não gostaria de tomar aquela decisão, queria nem estar ali.

– Foi apenas um descuido, Zidler. Ela não merece ser castigada por isso. - É sincero.

– É o que você acha?

– É. Dê uma chance para ela, garanto que ela não falhará novamente com você.

Zidler a olha, que assente como uma promessa. Lass tinha razão por um lado, até que, seria perda de tempo castiga-la enquanto tinha coisas mais importantes para fazer.

– Espero que não cometa mais esse erro, Gwen. - Zidler fala. - Tem sorte por Lass ter decidido isso.

– Não irá mais acontecer, Mestre Zidler. Eu garanto. - A jovem fala, determinada.

Ele assentiu, então gesticulou com a mão para que ela fosse. Gwen ficou de pé e saiu do palco, com um grande alívio em seu peito. Apenas Lass, Zidler e Ortina ficaram no local.

– Espero que esteja bem para ter nossa conversa, caro Lass. - Fala Zidler. - As feridas nunca foram um problema para você, não é mesmo?

– Ficarei bem. - Fala, aproximando-se do centro. Evitou ficar perto demais do palhaço. - O que quer conversar comigo?

– Ortina, vá pegar aquilo que eu te falei. - Pede a garota, que obedece. - Caro Lass, eu gostaria de saber se você já achou alguma ideia para seu show de amanhã.

– Não, eu ainda tô pensando. - Faz de tudo para não ser tomado pelo desespero. Aquele simples pedido de Zidler o deixava apavorado pelas consequências. - Sei que arranjarei alguma ideia até amanhã.

– Espero que sim. Bem, mas indo à conversa que quero ter. Sinto que não tenho a mesma confiança sua como antigamente, temo que você possa fazer algo contra mim a qualquer momento.

Lass o encara sério, quase afirmando tudo que ele falava. Não disse nada, deixou que ele continuasse.

– Então como não quero ter esta insegurança, terei que tirar algumas coisas suas para isso.

O ninja olha assustado, recuando um passo sem saber do que ele falava. Assusta-se quando Ortina aparece, jogando algumas coisas no chão, entre eles. Lass percebe que era sua mochila e as roupas que usava na viagem até aqui, todos seus pertences estavam ali.

– O que você quer de mim, Zidler? Já estou aqui, não está satisfeito?!

– Sim, mas do que adianta você estar aqui com a cabeça em outro lugar? Não conseguirá se focar totalmente no circo, desse jeito.

Com o estalar de dedos, Ortina pega sua mochila e a revira, derrubando todas suas coisas que tinham nela no chão. Eram coisas sem valor para o ninja, roupas e alguns equipamentos em caso de luta. Nada demais, até um cachecol branco cair por último. Lass tenta esconder sua expressão de medo ao ter visto o presente de Elesis ali, jogado no chão. Sempre trazia com ele em toda viagem que fazia, essa não era diferente.

– Você não tem outro lugar além do circo, caro Lass. - Continua Zidler. - Por isso, farei questão de apagar qualquer coisa que te prenda ao lado de fora.

Outro estalar de dedos. Suas coisas pegam fogo repentinamente, deixando o ninja sem respirar.

– Não! - Berra.

Mete a mão no fogo e retira seu cachecol branco, não se importando com as queimaduras em suas mãos. Afasta-se do fogo, mas não sendo o bastante para apagar as chamas que ainda tinha no tecido.

– É disso que eu estou falando, caro Lass. - Ouve a voz de Zidler ao fundo.

O fogo no tecido aumenta, não conseguindo apaga-lo a tempo. O ninja faz de tudo para apagar, mas quando percebe, não há mais tecido em suas mãos. Suas pernas tremem e ele cai de joelhos, cansado de tanto tentar. Suas mãos feridas doíam, mas tudo que chamava sua atenção era os pequenos pedaços pretos que ainda se apagavam.

Lass não soube o que dizer, não sabia nem como reagir. Ele encarou os restos do cachecol sem emoção, totalmente o oposto de quando Elesis entregou para ele como presente.

– Não se preocupe, caro Lass. - Dizia Zidler enquanto saía do palco. - Logo, logo você se esquecerá dela também. A cada dia aqui, menos memórias desse tipo você terá.

O rapaz arregala os olhos, virando o rosto assustado para Zidler. O que aquilo significava? O que ele estava pretendendo fazer? Mas quando foi perguntar, ele já tinha ido, estava sozinho agora.

Volta a olhar para suas mãos, lembrando de quando recebeu aquilo, que foi uma emoção muito grande para ele. Lembra do sorriso dela, dos cabelos ruivos bem bonitos naquele dia. Ele lembrava cada detalhe daquele momento, se pudesse, sorria.

Foi sussurrar que sentia falta dela, que se desculpava pelo o que aconteceu. Porém, quando foi dizer seu nome...

Arregala seus olhos, suas mãos começam a tremer. Sua cabeça dói quando tenta falar o nome dela, pensar nela.

Por que Lass não sabia mais o nome da garota ruiva?


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Notas finais do capítulo

Review?
* Aviso importante: Relaxem, não é sobre nada da fic em geral... É sobre mim. Eu já me adiantei e escrevi o próximo capítulo, que irei marcar para lançar como qualquer capítulo. Só que depois desse próximo, pode haver uma demora para os lançamentos dos restantes. Bem, antes de mais tudo, eu estou bem! Só estou com um problema que estou tendo já faz meses, que são dores de cabeças constantes. Para vocês terem noção, no dia do ano novo eu tomei mais de 5 comprimidos de dores de cabeça, porque tava difícil hehe Por causa disso, terei que ir no médico e, com certeza, não é recomendável eu ficar no computador, escrevendo e me esforçando muito. De novo, estou bem, não vou morrer nem nada, só estou falando que os próximos capítulos possam demorar, kay? Okay!
* Está chegando o capítulo 100 da fic! Uhul! Então eu pretendo fazer um especial para comemorar, é claro. Não irei dizer, é segredo kekek
* Eu decidi colocar a Gwen na história, infelizmente no circo. Eu era da época que via o criador da Gwen no forum do GC falando sobre ela, antes mesmo dela virar uma mascote. Gosto muito da personagem, então a botei aqui... Só espero que o criador dela venha me bater por ter a colocado nessa confusão.
* Sim, Cazeaje está desesperada!
* É, o Lass também começará a esquecer de todos T-T
* Nao odeiem a Gwen, ela se tronará mais legal depois!