O som de sua respiração era a única coisa que se ouvia em todo aquele salão. Seus braços estavam posicionados como fosse se preparar para lutar, mas não. Tudo que devia fazer era manter seu temperamento interior baixo, calmo como sua respiração. Não era um trabalho difícil, mas com o tempo ficava.

Sente algo pousar sobre seu ombro. Abre os olhos, incomodada.

– Está tensa. - Menciona Lass. - Relaxe.

Elesis perde totalmente a pose que tanto concentrava. Tinha ouvido aquilo fazia várias vezes.

– Estou calma.

Lass aperta o músculo em seu ombro. Uma dor aguda a atinge, então solta um grito e se contorce. O ninja se afasta enquanto falava:

– Não está. Não vai conseguir controlar as chamas roxas com tanto estresse. - A olha. - O que tanto te incomoda?

Continuava a segurar o ombro dolorido. Não respondeu em imediato, pensava profundamente sobre a noite passada. Ela finalmente foi capaz de dizer tudo aquilo, mas não teve resposta alguma em troca. As palavras geladas de Lass ainda a incomodam, principalmente agora. Tinha acordado cedo com o rapaz a cutucando, falando sobre o treino das chamas. Desde então, ele não disse nenhuma palavra sobre o que aconteceu, como se nada tivesse acontecido.

Elesis ajeitou a postura, tirando a mão do ombro quando parou de doer.

– Nada. - Responde. - Só queria ter um treino mais árduo, em vez de ficar meditando. Isso é muito chato.

– Você não está boa para isso. Vai tacar fogo no colégio todo. - No colégio da Lothos, pois o salão onde estavam era no colégio das garotas. Lass sabia que Elesis traria problema se fosse para seu colégio. - Precisa saber controla-las primeiro.

A ruiva revirou os olhos em negação. Deu alguns passos com seus pés descalços pelo o chão gelado e se posicionou em ataque. Lass a reprova com o olhar quando ver a mesma invocando suas chamas vermelhas.

– Posso muito bem controlar todas chamas. - Diz ela, determinada. - Veja.

Suas chamas se posicionaram em seus punhos, avançando e socando o ar em uma rápida sequência. Fingia que tinha um inimigo à sua frente, assim desviando de golpes imaginários sem dificuldade. Recolheu as mãos ao dá um giro, com as chamas douradas na ponta de seu pé ao começar o ataque. As chamas eram substituídas rapidamente, como a cor de seu cabelo, que se encontrava loiro.

Após a sequência de chutes, alguns passos para trás foram dados antes de invocar as chamas roxas. O corpo de Elesis não reagiu bem no mesmo instante, deixando uma expressão cansada na face da mesma. As chamas roxas a contornaram até que ficasse em volta de seus punhos. Ela os ergueu com dificuldade, preparada para um sequência de socos.

Soltou um ar abafada ao se apoiar nos próprios joelhos. Não conseguiu passar mais de 5 segundos com as chamas ativas sem sentir o corpo doer por isso. Toda sua energia foi consumida com aquele simples esforço.

– Eu te avisei que você não estava pronta para isso. - Ouve Lass falar. - Seu corpo precisa estar forte primeiro.

Elesis ajeita a postura, tirando seus cabelos loiros sobre sua face. Os fios douradas estavam manchados em algumas partes, em tons escuros. Seu rosto não era diferente, as marcas roxas escuras já manchavam sua pele, porém logo sumindo aos poucos.

– Então me mostre como se faz. Garanto que ficar parada não vai adiantar muita coisa! - Bota as mãos na cintura.

– Quando falo para você ficar forte, não falo fisicamente, e sim mentalmente. Grandiel me treinou desse jeito por anos, por isso que consigo manter as chamas azuis dentro de mim. - Aponta para ela. - Você tem que fazer o mesmo.

– Mas as chamas azuis são diferentes das roxas.

– No fundo, elas são as mesmas coisa.

Elesis não concordou com isso. O jeito que ela lida com a chama vermelha é diferente de como ela lida com a dourada. Cada uma tem seu jeito de ser usada, o que explica a dificuldade que ela tanto tem para se acostumar com as roxas, pois ainda não soube como lidar com elas.

– Em vez de ficar falando como eu devo fazer, por que não me mostra? - Exige a ruiva. - Isso ajudaria.

Ele olha emburrado, não afim de fazer esforço. Mas não foi contra a proposta de Elesis, isso ajudaria de alguma forma. Andou até o lado dela, se posicionando do mesmo jeito que a ruiva fazia no começo.

– Faça o mesmo. - Diz Lass.

Elesis se colocou na posição.

– Não invoque totalmente as chamas, apenas o suficiente para senti-las. - Aconselha.

Inspirou fundo antes de fazer o que foi pedido. Focou-se por completo na sua mana interior, tentando achar somente as roxas. Quando as sentiu, agarrou com força e tentou não ser consumida por elas. Seu corpo estremeceu quando sentiu sua energia se esvaziar lentamente. Não estava bem, sua respiração ofegante era a prova disso.

– Siga meus passos. - Lass a tira dos pensamentos.

Queria protesta, seu corpo estava pesada para dar um simples passo à frente. Mas não conseguiu dizer, o ninja já se movia e Elesis o seguia ao lado.

Os movimentos eram suaves e sutis, algo para qualquer um conseguir acompanhar; Com exceção de Elesis. Ao jogar as mãos para frente, seus braços se encheram de dor e queimação. A ruiva escondeu o sentimento de agonia e continuou a seguir Lass. A cada passo que dava, mais seu corpo parecia ficar pesado e cansativo por causa das chamas. Isso soava ridículo ao lembrar que não usava quase nada das chamas.

Suas pernas balançaram e Elesis caiu de joelhos no chão. Usou as mãos como apoio, impedindo que metesse o rosto contra o piso. Ficou desse jeito por um bom tempo, esperando que suas energias voltassem magicamente.

– Tudo bem? - Lass pergunta.

Ergue o rosto irritada pela a pergunta. Era óbvio que não estava.

– Eu não estou. Esse treinamento está adiantando de nada!

– Claro que está. A dor que você sente é o seu corpo se acostumando às chamas. Isso é bom.

– Não é! Eu tenho que aprender a usa-las, não a me acostumar.

– Está exigindo demais para quem não pode usa-las. - Mostra um olhar de aviso. - Se esqueceu?

Elesis solta um rugido e revira os olhos. Com um bom esforço ficou de pé, de frente a Lass, perto o suficiente para encara-lo.

– Olha, se essas chamas estão comigo não é para serem usada como enfeites. Eu preciso usa-las! - Bate no próprio peito. - Se isso vai me fazer forte, ótimo, então seguirei esse caminho.

– Essa caminho te levará a Cazeaje e te matará.

– Achei que estivesse pronto para ir contra ela?

– Estou. - Quase gritou em desabafo. Ele mesmo não aguentava dizer aquelas coisas. - Mas até lá, se você ficar agindo desse jeito só irá atrapalhar. - Afasta da ruiva. - Agora volte ao treino.

Lass continua a agir de forma estranha. Ele está quieto demais, até mesmo para ele. A forma que ele fala é direta, como se não quisesse prolongar muito a conversa. Tudo isso deixava Elesis desconfortável.

– Cazeaje está quase pondo seu plano em ação. - Diz a ruiva. - Não quero deixa-la prender Gerard sozinha. Temos que fazer algo logo!

– Tudo tem seu tempo. - Responde de costas, enquanto mexia em sua mochila.

– E quando iremos impedi-la? Não tem muito tempo sobrando.

O silêncio ficou como resposta. Elesis quis gritar com ele, perguntar o que tanto estava o incomodando. Era claro que era sobre a noite passada, mas ela achava que ao dizer aquilo não o afetaria. Bem, via agora como ele estava após tudo aquilo.

No entanto, não disse, permaneceu calada. Lass volta até ela, esticando uma adaga para ela enquanto segurava outra. Sem questionar, pegou a arma com o olhar baixo.

– Vamos voltar ao treino. - Lass diz, se afastando.

***

Bateu na porta antes que ouvisse o chamado do outro lado o mandando entrar. Ronan teve tempo de soltar um bocejo antes de entrar na sala de sua tia e vê-la em sua mesa trabalhando. O rapaz se aproximou e pôs alguns papeis sobre a mesa, logo, sem notar, passando a mão em seu cabelo bagunçado. Passou a noite inteira acordado trabalhando no Conselho, era de se esperar sua aparência estar horrível.

– Fiz o trabalho que pediu, Dona Cazeaje. - Fala Ronan, deixando seu tom de voz claramente cansado. - Desculpa se demorei muito para entregar.

Sem nem ao menos olhar o estado do rapaz, Cazeaje pega as folhas sobre a mesa e dá uma rápida analisada. Abriu um pequeno sorriso em satisfação, mas não sendo o suficiente para Ronan se sentir aliviado.

– Agradeço em ter dado uma parte do exercito do Realeza para meu plano. - Fala alegre, bem agradecida. - Isso ajudará muito, querido.

– Acha mesmo que isso será o suficiente para pegar o Gerard? - Pergunta desconfiado. Lembra de que Cazeaje o contou sobre seu plano, sem receio algum. Como qualquer outra pessoa, ele achou um absurdo, mas não foi contra. - Digo, ele é forte e nosso exercito pode não ser capaz de aguenta sua força. Devia priorizar seu plano, Dona Cazeaje.

– Não precisa se preocupar, tenho tudo sob controle. - Arrumava os papeis em fileiras. - Do mesmo jeito que você tem, não é?

Ronan fica sem o que responder quando Cazeaje o olha e sorri. Não entende a intenção da pergunta, muito menos daquela cara. Tinha até esquecido de com quem conversava, a pessoa mais terrível que conhecia. Só agora que percebia a má intenção em sua voz.

Fica sério imediatamente.

– O que quer dizer com isso?

– Bem, foi uma bela jogada em ter ficado com a minha ruivinha. Deixa-la presa dessa forma é brilhante.

E lá estava a crueldade em suas palavras. Ronan tentou disfarçar a expressão de raiva, embora ficasse um pouco perceptível. Fechou os punhos.

– Bela jogada? - Força uma risada. - Não estou com a Elesis por sua vontade, estou porque a amo.

– Ama? - Fingi a surpresa, logo pondo a cabeça de lado e sorriso em malícia. - Do que adianta você amar alguém se ele não sente o mesmo? Não seja tolo, Ronan.

– Não estou sendo. E não me importo com o que você diz, continuarei com a Elesis sem segundas intenções. - Mostra sua expressão zangada. - Então tire esse sorrisinho da cara, Karina.

Nunca a chamou pelo o primeiro nome, nunca nem mesmo pôde a chamar de tia, mas agora era diferente, não tinha mais paciência para manter a compostura. Cazeaje sempre o manipulou e Ronan não demonstrava ir contra, mesmo sabendo. Porém, no momento em que mexe algo precioso dele é pedido de guerra.

– Me escute. - Cazeaje fala suavemente, sem parecer abalada pelo o que ouviu. - O que você sente é ilusão, e quando perceber... - Riu, tendo que se segurar. - Você estará machucada de uma forma que nem amor pode curar. Sabe por quê? Porque o próprio amor fez isso com você.

– Pare de falar bobagens.

– Elesis não o ama. Aquela garota não te olha da mesma forma que olha para o Lass.

Uma forte batida contra a mesa e o barulho dos papeis caindo. Ronan passou o braço rapidamente sobre a mesa e derrubou que tinha tudo sobre ela, no final se apoiando. Ficou de rosto abaixado, escondendo sua possível expressão de arrependimento.

– E não se esqueça que ela é uma Cavalheira Vermelha. - Continua Cazeaje, como se nada tivesse acontecido. - Eles são fardados a viver em tragédia por volta; Qualquer um pode ser afetado, aliás.

Não houve resposta desta vez. Ronan permaneceu de rosto abaixado, ainda apoiada na mesa com as mãos levemente trêmulas. Ele parecia não estar ouvindo, infelizmente estava.

Cazeaje se levanta de sua cadeira e prepara para ir, porém ficando ao olhar para seu sobrinho. Sorri novamente.

– Continue com a Elesis, faça ela o te amar de verdade. Em um momento ou outro, uma pequena guerra será feita entre ela e meu querido Isolet. - Ronan se move, como um susto. - Será adorável vê-lo quebrado e despedaçado, frágil para qualquer ataque. De qualquer jeito, faça o favor de fazer isso.- Anda, parando ao lado do rapaz. Apoiou sua mão no ombro do mesmo, se inclinando levemente perto dele. Então sua voz saiu fria: - É uma ordem.

Antes que saísse, Cazeaje o manda arrumar a sala como estava antes, e que não demorasse. Ela partiu e Ronan continuou do mesmo modo, apoiada à mesa com o rosto abaixado. Suas mãos começaram a deslizar até que o rapaz estivesse ajoelhado no chão, escondendo seu rosto sobre seus braços. Aquele sentimento de solidão volta a atormenta-lo, pesando seu peito. Apertou suas unhas contra a pele, uma tentativa falha de diminuir a doer que sentia.

Não conseguiu evitar de soluçar.

***

Puxou o coberto até que ficasse completamente coberta. Encolheu suas pernas que começavam a ficar doloridas. Faziam dias desde que eles tinham se curado por completo, porém continuava a sentir frequentes dores nelas, tendo que se sentar em certos momentos. Lothos permitiu que ela tomasse poções para aliviar, mas eram apenas temporárias.

A luz da manhã passa pela janela e ilumina a face da ruiva. Elesis se incomodou no mesmo instante, tendo que cobrir sua face mais ainda. Ouve um barulho vindo da porta. Ignorou.

Algo é jogado ao seu lado, fazendo a cama tremer. Quis achar que era sua imaginação, mas não era. Abriu os olhos vagarosamente até que visse uma muda de roupa do lado do travesseiro. Remexeu-se na cama até que ficasse sentada e notasse Lass de pé na sua frente.

– Veste isso. - Diz ele. - Estarei esperando do lado de fora até que se vista.

– Hã? O quê? - Lass sai do quarto, sem mais. - Ei.

Ainda com os olhos caídos do sono, Elesis olhou para as roupas. As pegou e logo percebe que era um uniforme.

– Já me vesti!

Após um tempo, Elesis vestiu o uniforme e pediu para que Lass entrasse. O rapaz entra e parece ficar satisfeito com a vestimenta na ruiva. No entanto, Elesis não achava o mesmo, parecia muito séria naquela roupa.

– É, ficou do seu tamanho. - Comenta Lass.

– Pra que isso? - Estica os braços. - É algum tipo de treinamento surpresa que eu ainda não entendi?

– Não, isso é parte do nosso plano para impedir Cazeaje. - Então sua expressão séria some para um sorriso. - Descobri o dia em que ela executará o plano.

– Quando será? - O sono some de repente e empolgação toma conta de seu corpo.

– No final da semana. Temos tempo suficiente até lá. - Fecha o punho e estica para Elesis. - Pronta para estragar o plano da Cazeaje?

Olha para o punho do ninja então para ele. Solta uma risada e bate seu punho contra o do ninja.

O segue até o salão em que treinavam no dia anterior. Era estranho passar pelos corredores vazios, sem as garotas olharem sem jeito para Lass. Ele continuava a chamar muita atenção quanto antigamente. O que mais a incomodava era o fato de continuar com o uniforme que Lass a deu. Ele disse que usariam essa roupa para entrar escondido no esquadrão de Cazeaje. Não deu muitos detalhes de como faria isso, ainda tinha algumas coisas para pensar.

Chega no salão e Lass já a arremessa uma arma; A mesma adaga de antes.

– Achei que íamos falar mais sobre o plano de impedir Cazeaje. - Diz Elesis, confusa. - E não treinar.

– Você precisa controlar as chamas roxas antes. - Afastava-se, preparando para o combate. - Se você não conseguir até lá, estragará o disfarce e Cazeaje ainda saberá do seu segredo.

– Então por que eu estou vestindo isso ainda?

– Achei que você fosse tirar.

– Eu não tirei porque você não falou nada. - Fala irritada.

Lass não retruca, o argumento de Elesis o deixa sem palavras. A ruiva bufa e tira o casaco do uniforme, o dobrando com cuidado para não amassar e o pondo em um canto. De um jeito ou de outro teria que treinar as chamas, embora continuasse um processo doloroso.

– Mas antes, quero falar... - Elesis não consegue terminar seu aviso sobre as dores em suas pernas.

É obrigada a usar uma das pernas como apoio quando se defende do ataque de Lass. Só com uma mão a faz quase cair para trás, imagina se o ninja usasse as duas. Fez uma careta quando sente uma forte dor em sua perna de apoio, mas não pede para a lutar parar, continua a evitar que a lâmina da adaga a atinja no rosto.

Como tinha feito no treino anterior, puxou um pequeno fio das chamas roxas para ajuda-la naquela situação. Um péssimo erro quando se estava com a perna ainda doendo, que piorou quando as invocou. Teve que ignorar aquilo e revidar um ataque rápido. Quebrou o ataque de Lass ao empurrar a lâmina para o alto, assim se soltando e recuando antes que fosse atacada novamente.

– Que tal me contar um pouco mais sobre o plano. - Pede Elesis, já ficando sem fôlego por causa das chamas. - Não quero saber de última hora.

– Já disse, vamos nos infiltrar no esquadrão e seremos levados até Gerard.

Lass volta a avançar. Desta vez Elesis não é pega de surpresa, consegue se preparar à tempo para pode se defender. As adagas fizeram um fino estridente som quando se batiam em alta velocidade. Não precisava nem dizer que o ninja se segurava para Elesis poder seguir seu ritmo. Se não fosse por sua perna poderia o vencer, mas como não estava.

– E isso impedirá o plano da Cazeaje? Apenas estaremos sendo levados de bandeja para o Gerard.

– Não iremos exatamente lutar com ele. - Esquiva-se rapidamente de um ataque e atingi um chute na lateral em Elesis. A ruiva é acertada e dá alguns passos pelo o impacto. Volta a atacar. - Vamos avisa-lo que o exercito está se aproximando e o manteremos longe do esquadrão.

– O quê?! - Sem notar, executa um ataque forte que acerta um corte no braços de Lass. Avança violentamente. - Irá protegê-lo?!

– Não, só não quero que ele seja pego pela a Cazeaje.

– É quase a mesma coisa!

Fecha o punho e soca Lass quando quebra seu ataque. Sem que quisesse, as chamas roxas contornam seu braço e atingem junto com o golpe. O ninja pôs os braços na frente em defesa, sendo atingido somente naquela área e logo recuando por causa do impacto. Em segundos sentiu uma queimação no lugar atingido.

Elesis respirava como um touro pelo o nariz, deixando bem claro sua raiva. Olha para o próprio braço e ver a marca roxa em sua pele sumindo aos poucos. As chamas continuavam a feri-la quando invocadas. Como Lass, também sentia uma queimação por causa delas.

Põe a mão no rosto, tentando se acalmar pelo o momento de fúria. Suspira.

– Foi mal, eu... - Diz Elesis. - Perdi o controle a situação por um momento.

– O plano ainda não está completo, ainda estou pensando mais sobre ele. - Explica Lass. - Também não quero ajudar o Gerard, mas o principal alvo é a Cazeaje, se você se esqueceu.

– Eu sei, mas isso me tira do sério quando tem o Gerard no meio. - Abaixa a mão. - Quero atingi-lo tanto quando quero com a Cazeaje. Eles dois merecem sofrer por igual.

Lass quis discordar, quis falar que preferia estar ao lado de Gerard do que Cazeaje. Ainda se lembrava de seu encontro com ele no dia do evento, de suas palavras que o fizeram ficar pensativo sobre tudo. Gerard não era o verdadeiro vilão daquilo tudo, e ele pretendia provar com a cicatriz nas costas do ninja. Infelizmente, ainda não descobriu sobre o que se tratava.

Elesis girou a adaga em sua mão e ficou em posição de combate. Voltariam ao treino e deixariam aquela conversa de lado, como se nada tivesse acontecido. A única diferença era o sangue quente da ruiva, lutando com mais intensidade dessa vez.

***

Naquela noite, Elesis sonhou com uma parte de seu passado. Era tudo bonito em sua volta, a Guilda e todos trabalhando nela. Tinha falta disso, principalmente de seu pai que estava lá com um sorriso no rosto. O abraçava e dizia que o amava mais que tudo naquele mundo e que não queria se afastar nunca dele.

Então as coisas se tornavam pretas e brancas, feias. Elesis olhava assustada para todos os cantos, procurando seu pai em meio àquela sujeira, mas não o via. Depois que percebeu que estava sozinha, o mesmo para suas roupas marcadas por sangue. O desespero foi expressado por seus olhos.

Acordou em susto. O dia ainda amanhecia, não havia a terrível luz pela a janela a incomodando. Olhou em volta de seu quarto e viu que ainda estava escura, e que continuava na enfermaria por seu estado de suas pernas. Lembrou também que hoje era o grande dia, iria acabar com o plano de Cazeaje e, provavelmente, se encontrar com Gerard. Precisava logo se arrumar.

Antes de sair do colégio, teve que deixar um papel escrito com alguma desculpa qualquer para Lothos não desconfiar de seu sumiço. Torcia para que desse certo. Agora a caminho do Conselho a ruiva ficava nervosa, principalmente naquela roupa que chegava a ser um pouco colado nela. Para esconder seus cabelos usava um chapéu que fazia parte do uniforme, porém tendo que esconder todos os fios no mesmo para não ser visto a coloração vermelha.

Sente um leve tapa em seu peito.

– Por que não esconde isso? - Diz Lass.

Já tinha se encontrado com ele antes de sair do colégio. O rapaz usava o mesmo uniforme que Elesis, mas que fosse de seu tamanho. Ele até ficava bem naquela roupa, parecia mesmo um soldado.

A ruiva põe as mãos em seus seios, constrangida pelo o pedido.

– Qual o problema? Existe soldados garotas. - Fala ela.

– É, mas seria melhor se fosse um garoto.

– Então deveria ter vindo de Eléo, se fosso assim.

Lass ri, negando com a cabeça. Não seria uma boa ideia para este plano.

Durante o caminho, Elesis tentou diminuir o volume de seus seios sob a camisa. Não adiantou muito, então acabou deixando isso de lado. Quando percebeu, já estavam no Conselho, entrando com rostos abaixados. Não gostaria que ninguém descobrisse quem era eles.

Todo o caminho Elesis seguiu Lass, já que não sabia para onde que tinha que ir. Estava na andar de baixa, passando por vários salões de treinamento, diferente de quando ia visitar Cazeaje, que fica no andar de cima. Até ficaria desconfiada, mas a presença de Lass a relaxava. Não podia estragar aquele plano.

– E se Cazeaje nos reconhecer? - Pergunta Elesis baixinho.

– Ela nem vai aparecer para ver os soldados. - Responde Lass no mesmo tom. - E mesmo que apareça, ela não vai olhar nas nossas caras. É demais para ela.

– Espero que tenha razão. Para onde estamos indo?

– Os esquadrões estão divididos entre cavaleiros, arqueiros e magos. Iremos para o pessoal da espada.

– Entendi. Mas acho que não será tão fácil entrar assim.

– Claro que não. - Sorriu de forma positiva.

Naquele sorriso tinha nada de positivo, Elesis sentiu isso.

***

Não deixava de olhar séria para Lass. Já tinha se passado longos minutos desde que esteve ali, agachada. Suas pernas já começavam a ficarem dormentes.

– Esse é o seu brilhante plano? - Pergunta Elesis. - Ficar no banheiro?

Dentro de uma cabine de banheiro, Elesis estava sentada sobre a tampa do vaso enquanto Lass ficava de pé encostado na parede. O ninja a trouxe ali e disse que precisaria esperar. Já estava esperando por tempo demais.

– Ainda é cedo, o esquadrão está tendo seu último treino agora. Logo vai acabar. - Diz Lass.

– E o que o banheiro tem a ver com isso?

– De um jeito ou de outro, alguém virá aqui. Então aí que entramos em ação.

– Que feio, atacando pessoas enquanto elas fazem suas necessidades. - Olha em reprovação.

– Não é bem isso.

Após terminarem a conversa, o barulho da porta se abrindo chama suas atenções. Elesis se encolheu sobre o vaso, evitando qualquer barulho que poderia denuncia-los. Lass se colocou diante da porta, preparando-se para abri-la.

Eram três pessoas, percebeu pelo o barulho dos passos. Com um aviso do olhar, Lass disse para Elesis esperar ali. A ruiva não pretendia interferi mesmo, só queria sair daquele lugar que tanto a incomodava.

Lass saiu da cabine lentamente e deu alguns passos à frente. Não conseguiu o ver mais, apenas os sons de corpos caindo no chão. Elesis esperou até que a voz de Lass fosse ouvida. Finalmente pôde sair daquela cabine, assim vendo as três pessoas que tinha entrada caídas no chão. Não quis nem pergunta de como o ninja fez aquilo.

– Eles te viram? - Pergunta Elesis.

– Não, dei um ataque rápido. Não nos viram.

– E eles vão ficar bem?

– Vão ficar, irão até acordar daqui a pouco. Quando despertarem vão pensar que não foi um ataque, vão ficar confusos. - Dá uma rápida risada. - Agora vamos.

Elesis olha para os corpos caídos e sai correndo atrás do rapaz. Ao chegarem no corredor, abaixaram a aba do chapéu para esconderem o rosto. Ficaram em silêncio até chegarem no salão onde um dos esquadrões estavam. Todos estavam enfileirados, alguns ainda se arrumando na fila. Elesis aproveitou a ausência das três pessoas e acharam um lugar para ficarem.

– Que ótimo. - Sussurra Lass, sarcástico.

– O que foi?

– Vegas será a comandante deste esquadrão. - Aponta com a cabeça.

Elesis segue o olhar, reconhecendo a capitã por seus cabelos vermelhos, quase como o dela. Como sempre, vestia um uniforme para mostrar seu posto, até mesmo sua cara fechada mostrava isso.

– Ela vai ver a gente. - Fala Elesis. - Ela vai estragar tudo.

– Não vai, relaxar. Vegas nem se lembra tão bem assim da gente.

A ruiva engole seco. Torcia para que isso fosse verdade. Teria que aguentar isso só mais um pouco, só até que o esquadrão finalmente andasse para fora. Mas até lá, suaria frio e se sentiria tensa.

– Vai ficar tudo bem, não tenho com o que me preocupar. Seremos levados até um trem e pronto, poderemos colocar nosso plano em ação. - Pensava Elesis.

Prendeu a respiração quando teve que ficar em posição de sentido. Teve que ser obrigada a olhar reto, sem expressão, como todos faziam. Lass, à sua frente, fazia o mesmo, nem ao menos demonstrava o nervosismo do momento. Ele era mesmo frio.

Olhou rapidamente para os lados. Vegas agora andava de fileira em fileira, olhando para os soldados e sua formação. A espadachim ficou mais tensa, ela e Lass seriam reconhecidos no mesmo instante. Não podia fazer nada para impedir aquilo, teria que ficar parada e esperar sua vez chegar.

Vegas andava por sua fileira, parecendo mais próxima a cada momento. A cada passo que ela dava, mais Elesis queria sair correndo. Perguntava-se como Lass estava se sentindo, ou se ele tinha algum plano em mente para evitar isso. Esperava que tivesse.

– Soldado.

Esqueceu como respirar. Elesis virou o rosto vagarosamente, olhando Vegas ao seu lado a encarando. Sentia-se pequena perto dela naquele momento, tinha até esquecido de que foi ela quem derrotou a capitã uma vez.

– Onde está sua arma?

Uma enorme vazio é sentido em sua cintura. Lass havia avisado para ela trazer uma espada, mas acabou esquecendo na pressa. Quanta tolice.

– Ela está no conserto, capitã. - Inventa um desculpa. - Pretendo pegar uma na hora da partida.

– E por que não falou sobre isso antes?

– Não queria incomoda-la, capitã.

Vegas a analisa de sobrancelha erguida. A ruiva se encolheu mentalmente em seus ombros, querendo evitar a capitã. Aquele silêncio entre elas pareceu durar muito, quase como infinito. Elesis parecia querer desmaiar de tanta tensão. Fechou o punho, agoniada.

– Tudo bem. Espero que não atrapalhe o esquadrão na hora que for buscar sua arma. - Fala Vegas em ordem.

– Entendido, capitã.

Quase soltou um suspiro em alívio, se Vegas não tivesse ainda a encarando. A capitã se aproximou da espadachim, a olhando de perto.

– Algum problema, capitã?

Ela demora a responder. Afasta-se e balança a cabeça em negação.

– Confundi você com alguém.

Nunca se sentiu tão tensa quanto naquele momento. Vegas voltou a olhar outras fileiras, deixando Elesis nervosa em seu canto.

Levou mais alguns minutos para a capitã terminar seu trabalho. Ficou na frente do salão, podendo encarar a todos dessa vez.

– A partir daqui, vocês irão para o lado de fora para se juntarem com os outros esquadrões. - Anunciava a capitã. - Não ficarei como sua comandante, serei trocada na hora da saída. Tudo entendido?

– Sim, capitã. - Isso devia preencher o ego de Vegas.

De fileira em fileira, saiam pelo o corredor. Elesis pode sair de sua posição rígida, tendo que aguentar suas dores nas pernas por tanto ficar de pé. Lass a olhou sobre o ombro, não dizendo nada. Volta a olhar para frente quando sua fila começa a andar. A ruiva segue, ainda sentido-se nada bem naquela situação. Se não fosse por Cazeaje ou Gerard, nem estaria ali.

– Ainda bem que trocarão a Vegas. Não aguentava mais ver ela me encarando. - Pensa Elesis.

Chegou no corredor e já percebeu a capitã logo ali na frente, olhando as pessoas que passavam por ela. Por quanto mais teria que passar por aquilo? Quanto mais nervosa ficava, mais as dores em suas pernas pareciam ficar insuportáveis. Devia estar mancando no momento e nem percebeu, torcia para que não tivesse.

Um leve toque em seu braço a chama a atenção. Lass esticou a mão para trás e deu uma pequena batida em seu braço, como se soubesse como a espadachim estava se sentindo. "Relaxa" era o que ele quis dizer com aquele toque. Elesis concordou mentalmente, deixou todo o nervosismo de lado e continuou o caminho fingindo estar com as pernas bem.

Lass passou por Vegas e logo era a vez da ruiva. A capitã a deu um último olhar e a deixou passar sem mais. Elesis continuou como se nada tivesse acontecido, como se suas pernas não estivessem perdendo forças e ela estava caindo.

– Agora não! - Pensa.

Não aguentava mais segurar as dores, conseguia nem mais continuar de pé. Quando percebeu, caía de joelhos no chão e esticava as mãos para apoio. Olhava o piso perplexa, sem acreditar no que acabou de acontecer. Seu chapéu caiu ao seu lado, o mesmo acontecendo com seus longos cabelos ruivos, que cobriram seu rosto imediatamente.

A fila parou de andar e apenas o silêncio foi ouvido. Todos a olhavam, Elesis sabia e por isso não queria levantar o rosto para ver a cena. Mas teve que engolir o que tanto a incomodava e levantar a face, vendo primeiramente Vegas surpresa ao seu lado.

Aquele não era um olhar bom.

– Elesis. - Ela disse, sem reação.

A expressão de Vegas muda para irritação, em seguida avançando contra a espadachim. Mirou um chute na face da mesma, que foi defendido a tempo de evitar um estrago maior. Elesis rolou pelo o chão, para fora da fileira, tentou ficar de pé quando teve chance, mas não conseguia achar um tempo. Vegas já estava na sua frente com o pé voando contra Elesis. Tudo que pôde fazer era esperar o chute acerta-la.

Vegas solta um grito engasgado. Um braço passa por trás dela e a agarra pelo o pescoço, puxando fortemente para fazê-la se debater com as pernas. Elesis consegue ver Lass atrás da mesma, não ligando mais para o disfarce. A capitã joga todo o corpo para frente, conseguindo se soltar do ninja.

– O que vocês estão planejando fazer? - Pergunta a mesma irritada.

Sem notarem, Vegas já tinha seu martelo em mãos. Lass avança novamente, sendo pego de surpresa pelo o ataque da capitã. O martelo cresceu até que tivesse o cobrindo, então o acertou e jogou contra a parede ao lado. Elesis era a próxima a ser atacada, até se esquivaria se não fosse por seu estado. Porém, o martelo parou próximo ao seu rosto. Aquela voz ao fundo fez Vegas parar o ataque.

– O que está acontecendo aqui?

Elesis ficou sem reação ao reconhecer aquela voz. Os passos se aproximam até pararem para ver ela caída no chão e Lass ainda tentando se levantar.

Ronan parecia elegante naquele uniforme parecido com de Vegas. Ele olha para Elesis e Lass de forma confusa, então fica em silêncio querendo uma resposta.

– Encontrei esses dois na fila. Parece que queriam fazer parte do esquadrão. - Diz Vegas, guardando seu martelo.

– Entendi. - Disse quase como um sussurro. Seus olhos não saíam de Elesis, decepcionado pelo o que via.

– Ronan, eu...

– Vegas, poderia continuar no comando até que eu volte? - Pede o rapaz. - Ficarei ocupado com isso por enquanto.

– Sem problema. Só não ocupe demais o tempo da Dona Cazeaje, ela está bem ocupada com isso tudo.

Ronan agradece com um rápido sorriso. Aproxima-se de Elesis, esticando a mão para ela levantar. Não precisa dizer muito sobre o que aconteceria, pela a expressão do rapaz dizia tudo. Ficou de pé e fez o máximo para não o olhar.

– Lass, você também. - Diz Ronan, o esperando ficar de pé.

O ninja não se moveu, o encarava como se tivesse matado alguém. O azulado entendia a raiva que ele estava sentido, mas não podia fazer nada em relação. Suspirou.

– Por favor, me acompanhe.

Lass continuou dessa forma até balançar os ombros. Ficou de pé e saiu na frente, já tomando o caminho. Logo Ronan ia atrás, com Elesis o usando como apoio.

***

Nunca tinha visto a sala de Cazeaje tão bagunçada quanto hoje. Alguns papeis ainda estavam sendo recolhidos por uma assistente dela, porém não deixava de ser uma bagunça. Até mesmo Cazeaje não parecia bem, ela estava um pouco cansada, mas isso não impediu de ela sorrir ao ver Elesis e Lass entrarem em sua sala.

– Que surpresa vê-los aqui, principalmente hoje. - Foi o que ela disse com muita animação. - O que desejam?

Seu sorriso não saiu do rosto quando Ronan começou a contar o que aconteceu. Em todo o momento, ele sentiu o olhar de Lass sobre ele, com uma aura pesada. Mas não se importava com isso, era sua obrigação falar sobre alguma falha no plano da mesma, e essa era uma.

– Agora entendo o porquê de estarem com esses uniformes. - Diz ela ao ouvir tudo. - E por estarem tão quietos. É melhor darem uma explicação satisfatória.

– Satisfatória? - Elesis diz com um sorriso sarcástico. Deu um passo à frente. - Que tal você me explicar o que está fazendo, porque eu tenho certeza que tem a ver comigo!

– Isso não tem nada a ver com você, querida.

– Claro que tem! Gerard é meu alvo, não seu.

– Você só está sendo infantil com esse desejo egoísta. - Isso faz a ruiva olhar emburrada. - Isso aqui é coisa de adulto, Elesis, não de crianças.

A espadachim quase avança em Cazeaje, mas a voz de Lass a impede. Tanto como ela, o ninja também não estava nada feliz pelo o que ela falava.

– O que você tanto esconde, Cazeaje? Deixa seus principais guerreiros fora disso é porque não quer que eles saibam disso.

– Só não quero deixar todos em alerta, aliás, é opção minha ou não contar para eles sobre isso. O plano é meu e faço o que eu quero com ele.

– Então posso falar o mesmo com a minha ficha. - Aproxima-se da mesa e apoia sua mão nela. - Não tem o direito de ter a pegado.

– Bem, você não diria as informações que eu queria, então tive que improvisar. - Olha para Elesis de relance. - Obrigada, querida.

A ruiva se encolhe nos próprios ombros. O sentimento de culpa a atormentava novamente, até mesmo da conversa que teve com Lass no dia do evento.

– Você não se cansa de manipular as pessoas? Em vez de trazer a paz para o mundo, só traz o caos. - Diz Lass.

– Não, eu não me canso. - É sincera. - Honestamente, é um sentimento muito bom de ter poder sobre as pessoas. Sou a mais forte e devo agir como uma.

– Não, você é só um monstro com um ego muito grande. - Sua mão apoiada na mesa começa a arranha-la com as unhas. Lass ficava mais nervoso a cada palavra ouvida de Cazeaje. - Um dia ainda cairá por causa disso.

Cazeaje apoia a mão também sobre a mesa, agora se levantando de sua cadeira. Encarou Lass com um simples sorriso, talvez verdadeiro ou não.

– É o que veremos. E talvez você tenha esquecido sua posição no momento, mas sou eu quem dou as ordens agora. - Seu sorriso diminui. - Então é melhor guardar essas palavras para você, Lass.

O ninja rangeu os dentes e lentamente se afastou da mesa. Não deixou de olhar feio para Cazeaje, sua raiva estava fervendo por dentro.

– O que vocês fizeram foi muito errado. - Explica ela. - Mas não valerá a pena dar um castigo por isso, só será perda de tempo. Irei aproveitar isso para entregará um trabalho a vocês dois.

– Deixe-me adivinhar: Vamos "sem querer" nos encontrar com o Gerard de novo? - Pergunta Elesis em deboche.

– Não, farei o oposto. Quero vocês longe deste plano, portanto, essa missão será o suficiente para isso. - Volta a se sentar, tirando uma carta de dentro da gaveta. Pôs sobre a mesa. - Tudo que precisam saber está aí. Antes de irem, devolvam os uniformes. Alguma dúvida? - Ficaram em silêncio. - Ótimo, já podem ir. Tenho muito o que fazer.

É claro que ela tinha, pensa Elesis. Ainda não aceitava o que Cazeaje estava fazendo, era para ser ela. Não aceitaria que ninguém posse as mãos em Gerard antes dela, mesmo que não o matasse.

– Ronan os leve daqui, depois se junte ao seu esquadrão. Não quero que as coisas se atrasem só por causa deles. - Diz Cazeaje antes que eles saíssem.

Ao saírem da sala, Elesis dirigiu um olhar sério para o rapaz, querendo que ele explicasse o que estava acontecendo. Ronan não expressou muito, nem mesmo olhou a ruiva nos olhos.

– Estou sendo forçado a fazer isso. - Explica. - Me desculpe.

– Você não pode fazer isso, Gerard irá te matar se for. - Dizia preocupada.

– Esse não é o problema. O que você faz aqui? Perdeu a noção do perigo?

– Não deve explicações para ele. - Diz Lass ao passar por eles. Seu humor não parecia ter melhorado. - Vamos.

Ronan o fita irritado, sem paciência para conversar com o ninja. Ele tinha um motivo para ficar irritado com o azulado, mas não sabia que toda culpa estava em Cazeaje e não nele.

– Vocês achavam mesmo que isso iria funcionar? - Ronan questionar. - Chegar até Gerard e impedir dele ser preso? É, como se ele fosse obedecer a vocês.

– Ao menos estamos tentando algo, diferente de você que só sabe obedecer. - Retruca Lass. - Acha mesmo que isso que ela está fazendo é certo?

– Ela quer prender o cara mais procurado do mundo, se isso não é certo, eu não sei o que é então.

– Cazeaje planeja algo diferente. - Comenta Elesis, sem o tom sério dos rapazes. - Ela não quer só prendê-lo, ela quer outra coisa.

Estava óbvio que ela não prendia o matar, não com um exercito daqueles. Se pudesse ter feito tudo como conforme, teria descoberto ao menos suas intenções.

– Mas vocês não seriam capazes de evitar, do mesmo jeito. Por favor, não se intrometam nisso. Da próxima vez, Cazeaje não será tão caridosa como foi agora.

– Caridosa? Pff, claro. - Lass revira os olhos. Sai na frente. - Imagina se não fosse.

Parou de andar quando Ronan o chama. Ainda nervoso, se vira para encara-lo. O rapaz já não possuía mais sua expressão de tristeza.

– Eu gostaria muito de poder esquecê-lo. Para sempre. - Diz tudo de forma tão natural que chega a assustar Elesis. Ronan nunca pareceu tão sério quanto agora. - Talvez se você não existisse não teríamos tantos problemas em nossas vidas.

A ruiva fica preocupada com as palavras pesadas. Olha para Lass e percebe que ele não se afeta pelo o que ouve, pelo contrário, dá as costas e continua o caminho.

– É, gostaria de desaparecer para sempre. - Sua voz falha no final, como se não tivesse coragem de ter dito aquilo.

Como sua tia dizia, Lass era um grande mentiroso.

***

Olhava para suas pernas esticadas, o motivo de ela estar ali agora. Por causa da dor que sentiu nelas, o plano falhou. Se não tivesse naquele estado, se não tivesse ido para a missão com Sieghart e Dio e ter, possivelmente, morrido, nada disso teria acontecido.

Ela odiava suas pernas, a forma de como pensava. Odiava tudo. Ela se odiava.

– Está muito quieta. - Lass comenta.

Por um momento, tinha se esquecido que estava naquele banco na estação de trem, esperando um. Teria que ir em outro continente entregar um pergaminho antigo para uma certa pessoa. Uma missão entediante só para ocupar o tempo deles e deixar longe de Gerard, como Cazeaje disse.

– Não consigo parar de pensar no plano da Cazeaje. - Diz, ainda encarando suas pernas. - Isso pode nos afetar.

– Agora não adianta mais, deixe isso pra lá. Vamos nos focar na missão.

– Não é tão simples assim. - Sussurra.

Cazeaje estava mandando Ronan para prender Gerard, isso deixava Elesis desconfortável. Se o ruivo não se segurou quando ele encontrou com ela e Lass, o que ele faria com Ronan? Sentia-se mal cada vez mais que pensava sobre isso.

– Não sei como não está pedindo desculpa pelo o que aconteceu. - Diz Lass.

– Como assim? - Levanta o rosto, confusa.

– Você sentiu uma forte dor nas pernas e caiu, o que acabou nos revelando. Não irá se desculpar por isso?

A ruiva se encolheu quando lembra da culpa. Ouvir aquilo era como uma obrigação, foi ela quem destruiu tudo, devia fazer algo em relação àquilo.

Balançou a cabeça.

– Dessa vez, não. Acho que tenho que parar com isso. - Fala, surpreendendo Lass. - Nem tudo é minha culpa. Tá que dessa vez eu sou culpada, mas... Quero poder reagir diferente e não ficar abaixando a cabeça e pedindo desculpa.

Quando olha Lass, fica surpresa com um sorriso largo em seu rosto. Achou que ele ficaria zangado e gostaria de ouvir um desculpa vindo dela, mas a reação foi ao contrário, ele aprovou.

– É assim que se fala. - Diz ele, sorridente. - Chega de agir como uma menininha.

– Mas eu sou uma menina.

– Não leve para o sentido literal.

Elesis assentiu enquanto ria. Após alguns minutos, o trem chegava na estação. Fez um pequeno esforço para ficar de pé. O problema ainda era andar sem ter que mancar. Sorte a dela Lass ter a ajudado no caminho todo até chegar ali.

– Mas vamos pensar pelo o lado positivo. - Diz Elesis ao entrar no trem. - Eu soube que chegou algo bem legal nesse continente que a gente vai. - Sorri. - Um circo!

Lass não entra no trem. Não mostra reação, olha em silêncio para a animação de Elesis. As últimas duas palavras o deixam assim, em choque. Um frio percorre por seu corpo, um frio que ele não estava acostumado.

Um sorriso de nervosismo abre em seu rosto.

– Cir-circo? Tem certeza?

– É claro. - Estranha a reação do rapaz. - Algum problema?

Demora segundos para ele responder. Solta uma gargalhada e nega com a cabeça. Entra no trem, em seguida solta um suspiro com o sorriso falhado.

– Nenhum.