Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 115
Os óculos que nos difere


Notas iniciais do capítulo

Oiieeeeee!!!Como vão? Tudo bão? Espero que sim! Então, capítulo de hoje está ó, uma delícia. Agora começarão os treinos da Elesis com Depas, que podem parecer fáceis, mas logo piorarão. Vocês podem odiar ele, por seu jeito sério, mas garanto que Depas é uma ótima pessoa... Ou não muahahah
Capa: Suzume (Hirunaka no Ryuusei. Feita, especialmente pelo o Paarthurnax. Brigada :3)
Boa Leitura!



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Pressionou o pano molhado contra o corte em sua barriga. No começo, a dor era maior, teve até que trocar o pano por ter sujado de sangue. Agora que estava mais calmo, sentia a ferida se cicatrizar, lentamente.

— Aqui. – Diz Elesis ao sair do banheiro. Com outro pano molhado em mãos, a ruiva coloca sobre seu olho roxo. Lass se encolhe com o toque. – Posso usar as chamas brancas.

— Você sabe que eu não gosto de te ver usando as chamas, muito menos em mim. – Falava Lass. – Eu vou ficar bem.

— Eu só achei que poderia aprender a usar as chamas.

— Por que ainda insisti em usar todas as chamas? – Olha preocupado. – Se Cazeaje te descobrir, sabe o que vai acontecer.

Ela temia que fosse descoberta pela a líder, que passasse pela a mesma situação de Lass. Mas não poderia pensar assim, nunca deixaria Cazeaje descobrir quem ela verdadeiramente era.

— Eu vou ficar bem. – Sorri. – Não deixarei que ela me descubra tão facilmente assim.

Lass não responde, abaixa o olhar para sua ferida. Tira o pano e fica aliviado em ver uma cicatriz se formando no lugar. Por estar fraco, as chamas não seriam capazes de curar o machucado por completo, deixaria uma cicatriz como todas nas costas do ninja, que não sarariam nunca.

— Você precisa dormir. – Diz Elesis ao notar a ferida já fechada. – Está cansado.

— É, amanhã terei o Astaroth para ter que aturar. – Suspira. – Mas vou tomar um banho antes.

Quando fica de pé, quase volta para a cama com a dor sentida. Não era mais a ferida, e sim seu corpo totalmente exausto. Com passos cuidadosos, entrou no banheiro e deixou a ruiva com preocupação.

Elesis faria o mesmo, amanhã começaria seus treinos com Depas e precisava estar disposta para fazê-los. Ficava feliz toda vez que lembrava do mesmo, sentia uma certa esperança para sair daquele tormento.

Trocou de roupa para ir dormir. Ao tirar sua camisa, a larga cicatriz em suas costas, queima. Toda vez que a percebia, ela se aquecia para lembra-la de como conseguiu. Não culpava Lass, nunca fez, mas isso não a impedia de ter um certo rancor das chamas. E era isso que odiava, não gostava das chamas, mas precisaria delas no futuro.

Terminou de se vestir e deitou na cama, desligando a luz, apenas o abajur iluminando o cômodo. Como Lass, precisava de descanso, fechando os olhos e deixando seu corpo pesado, relaxar. Suas pernas quando imóveis, costumavam doer até um certo momento, logo não sendo sentidas mais. Já havia se acostumado com todas essas sensações quando deitava.

Ouve a porta do banheiro abrir. Continua com os olhos fechados, sentindo Lass andar pelo o quarto. Era engraçado ouvir seus passos, pois havia momentos em que o rapaz era tão silencioso que nem ao menos o sentia chegar. Agora que estava em seu quarto, ele não via necessidade para esconder sua presença.

Elesis se move e abre os olhos em sua direção. O rapaz estava de costas, procurando alguma camisa para vestir na cômoda. Outra vez, as cicatrizes de Lass a incomodam, principalmente aquela, um pouco mais acima.

ll/ll/ll. O que isso significava? Para Elesis, existia apenas um significado, e era doloroso.

— Achei que já estivesse dormindo. – Diz Lass, sem olha-la.

— Ainda pensa sobre essa cicatriz nas suas costas? – Pergunta Elesis.

Olha a ruiva, então coloca a camisa. Não tinha se esquecido do significado da cicatriz para ela, preferiria não tocar no assunto.

— Tento não pensar. – Responde. – Já pesquisei sobre tudo, mas não achei nada que ajudasse.

— Tem medo de descobrir?

Essa pergunta não deveria ser direcionada a ele. Chega ao lado da cama e se senta, pensativo. Gerard tinha feito isso há um bom tempo, se ainda tinha um valor, não gostaria de descobrir tão cedo. A verdade, que tinha certeza que existia, não só o afetaria, e sim a Elesis, principalmente.

Não gostaria de ver a ruiva quebrada por isso.

— Eu não sei. Ultimamente, nada mais me afeta, verdade ou mentira. – Dizia, olhando para as próprias mãos. – Sinto que cada vez mais que uso as chamas, mais perco as emoções. Tenho medo que um dia, não possa mais sentir nada.

Olha para a ruiva, que tinha virado de lado para ele. Ela parecia um pouco assustada pelo o que disse.

— Mas toda vez que estou com você, esqueço disso. – Continua, sorrindo para acalma-la. – Me sinto vivo novamente.

Segura a mão de Elesis, os dedos da mesma entrelaçando no seus. Gostava de sentir seu toque, assim saberia se era real ou não.

Antes de se deitar, cobre-se com o coberto. Deixa Elesis se aproximar, apoiando sua cabeça contra seu peito. Abraça a ruiva pelas as costas, encostando em seus cabelos pelas as pontas.

— E o que aconteceria se eu morresse? – Pergunta Elesis.

— Eu não sei o que faria. Acho que primeiro, eu mataria o seu assassino, depois tentaria te trazer de volta.

— Nossa, sem piedade. – Brinca.

— Sendo você, ninguém me impediria. – Fala sério.

— Nem o Jin? Vocês parecem se amarem tanto. – Ri.

Lass passa a mão no rosto, aquela imagem voltando para atormenta-lo. Sua expressão de nojo era um prazer para Elesis.

— Foi um acidente. – Diz Lass, querendo achar uma desculpa pelo o que aconteceu.

— Claro, claro.

— Mas foi.

— Viu fingir que sim.

O corpo da ruiva gira quando Lass se coloca sobre ela. O ninja a encarava com seriedade, não sendo o bastante para impedir o sorriso de deboche da mesma.

— Quer que eu te mostre quando eu faço de propósito? – Pergunta Lass.

— Nem mesmo se você tentasse.

Acerta um leve tapa na barriga do ninja, que se encolhe em dor. Tinha sido atingido no machucado, o que explicava sua expressão fechada.

Volta sua atenção para a ruiva quando suas mãos encostam no seu rosto. Ela sorria.

— Mas falando sério. – Diz Elesis. – Quando eu me encontrar com Gerard, talvez eu não saia inteira.

Lass não consegue ficar calmo como a espadachim estava, falando aquilo. Não era uma brincadeira, mas queria que fosse uma.

As mãos de Elesis puxam seu rosto, seu beijo fazendo esquecer o que ela tinha dito alguns segundos atrás. Se existia alguém que poderia manipula-lo do jeito que quisesse, era ela. Seria muito difícil ir contra algo que a ruiva dissesse.

Sente seu corpo começar a esquentar. Ninguém chegaria para atrapalhar ou interromper, então não precisava manter um controle. Aproxima o corpo com o de Elesis, as mãos da espadachim passando de seu rosto para suas costas.

Ela se move e seu joelho bate contra sua barriga. Lass se retraí pela a dor, afastando seu rosto no mesmo instante. Seu corpo esfria rapidamente, sua consciência voltando.

— Desculpa. – Pede Elesis, segurando-se para não rir. – Esqueci que você estava machucado.

Lass deita de lado, esperando a dor passar. A ruiva se aproxima, ainda rindo de seu sofrimento.

— Estou bem. – Murmura o ninja.

No fundo, ele não estava.

***

Observava em silêncio enquanto via Depas pegar uma fita adesiva e cola-la no chão. Ao terminar, estava dentro de um quadrado desenhado por ele. Tentava entender qual era o sentido daquilo, esperava alguma explicação vim.

— Esse é o meu treino, ficar dentro de um quadrado de fita? – Questiona Elesis.

— Iremos começar com algo básico. – Diz Depas. – Não quero te forçar a fazer muito.

— E o que o quadrado tem a ver? Por acaso, fez a mesma coisa para treinar Gerard?

— Certo, vamos estabelecer algumas regras! – Fala num tom alto. Olha com seriedade para a ruiva. – Não fale ou mencione Gerard, não importa o que seja. Não quero ouvir o nome desse cara, entendeu?

— Por quê?

Recebe mais um tapa na cabeça, com mais força.

— Sim, senhor. – Resmunga.

— Só poderá descansar quando eu mandar que pode. – Continua a ditar as regras. – Se fizer algo de errado, terá consequências. Tudo isso é o básico que deverá seguir, entendido?

— Sim, senhor.

— Ótimo, agora vamos começar.

Fica afastado de onde a ruiva estava, dentro do quadrado. Com uma espada de madeira em mãos, joga para ela, que pega na surpresa. Elesis olha para a estrutura da arma, sentindo uma grande fragilidade no material comparado à uma espada de verdade.

— O quadrado é todo o limite em que pode se movimentar. Não ultrapasse. – Explica Depas. – Você tem a espada e os próprios punhos para se defender, então use-os.

— Defender? Limite? O que você vai fazer?! – Pergunta assustada.

As chamas vermelhas contornam os punhos do homem. Elesis segura com firmeza o cabo da espada, entendendo o que precisaria fazer em seguida. Depas não anuncia quando começa os ataques, tão rápido que a ruiva se atrasa para se defender. Move seu corpo de lado, desviando por pouco de ser atingida.

— Espera, eu não estava preparada! – Grita Elesis.

Outros ataques continuam a vim. Desvia, porém não conseguindo evitar de ser atingida no ombro. A dor não é grande, mas é um incomodo.

— Revide, Elesis. – Pensa para si.

Segura com força o cabo da espada e se prepara para rebater. Apoia com firmeza os pés no chão e avança com ataque.

A espada explode em milhares de pedaços de madeira quando rebatido. A ruiva arregala os olhos com a intensidade do poder. As chamas vermelhas eram fortes, mas não o suficiente para destruir uma arma daquelas.

Outra chama vem e a ruiva se joga para o lado. Sua perna dói com o apoio, escorregando e caindo de joelhos no chão. Os ataques cessam, mas Depas avança. Naquela posição, não é preciso fazer muito esforço para o joelho do rapaz atingir seu nariz e joga-la para trás.

— Seu pé escorregou para fora do quadrado. – Explica Depas. – Não era para ter passado do limite.

— Eu sei! – Grita Elesis, caída no chão. – Mas minha perna doeu e eu não consegui evitar.

— Ainda tem problema com essa perna? – Ela assente. Ambas as pernas estavam enfaixadas, mas uma em específico, tinha mais curativos. – Fique de pé.

Elesis toma um pouco de ar antes de levantar. Expressa a dor que sente para isso, mas logo consegue.

— Você depende muito das suas pernas. – Aponta enquanto falava. – E usa força demais do que devia.

— E como quer que eu lute sem usar as pernas? – Cruza os braços, julgando com o olhar.

— Não estou dizendo isso. Sua perna direita é a mais ferida, e você a usa como apoio. Deveria ser ao contrário. O mesmo para suas mãos, usa mais a direito do que a esquerda para manusear a espada.

Elesis se encolhe quando percebe que é verdade.

— Você é destra, não é?

— Sou.

Depas para um momento para pensar sobre a situação da mesma.

— Como que você consegue manusear dois sabres, sendo que não consegue fazer muita coisa com a mão esquerda? – Questiona.

— Quando eu uso os sabres, não percebo isso, apenas deixo me levar pelo o momento. É como se fizesse parte de mim. – Diz sorridente. Repetiu as mesmas palavras de Lass.

— Certo. – Assente, afastando-se. – Vamos ver se você é boa mesmo como diz.

Pega os sabres pretos da ruiva e entrega a ela. Para ele, usa uma simples espada que encontra no salão. Não precisou olhar para a lâmina para saber se era boa ou não, qualquer uma serviria, pensava.

— A mesma regra, fique no quadrado e se defenda, mas usando seus sabres, dessa vez. – Diz Depas.

— Ok, pode vim. – Fala confiante, colocando as espadas de lado.

Quando as chamas começam a ser disparadas, Elesis não se esquiva, fica no lugar e espera o momento certo. Seu corpo se move como numa dança, embora estivesse limitada naquele pequeno quadrado. Os sabres brilham quando atingidos contra as chamas, que sumiam ao encostar na lâmina.

Por estar parada, não usou tanto sua perna e conseguiu se manter de pé por mais tempo. Felizmente, os ataques acabam, podendo respirar com mais calma.

— Agora, largue um sabre e use apenas a mão esquerda para se defender. – Manda Depas.

 Olha com receio para os sabres. Sabia o que aconteceria se fizesse isso, mas não poderia ir contra, tinha que seguir o que era mandado. Joga o sabre de lado, com a mão livre, coloca para trás para usar apenas a esquerda.

Engole seco quando as chamas voltam contra ela. Era como esperava, é atrapalhada para revidar, sendo obrigada a desviar para não ser atingida. Quando Depas nota a fraqueza da ruiva, para os ataques.

— Certo, agora vamos começar de verdade nosso treino. – Anuncia Depas, chegando perto. Elesis olha confusa. – Como eu disse, pelo o básico.

— E o que é então?

— Aprenderá a usar os sabres de uma maneira melhor. Você sabe usa-los, mas por não ter costume com a mão esquerda, acaba se atrapalhando.

Elesis olha para a própria mão, logo confuso para Depas.

— Só isso? Aprender usar a outra mão? – Não achava que começaria por isso.

— São essas pequenas coisas que fazem diferenças em uma luta de verdade. – Diz sério. – O treinos serão assim no começo, para conserta alguns erros que você comete.

— Erros?

— Então, só depois disso, irei te ensinar a lutar de verdade. Por causa das suas pernas, não irei pegar tão pesado, mas isso não quer dize que fará nada. – Falava tudo rapidamente, a ruiva sendo lenta para acompanhar. Suspira e explica num tom mais calmo. – Fará aquecimentos como treinos, corridas, levantamento de peso e muito mais. Fácil, não?

— É, eu posso fazer isso.

— Sobre as suas chamas. – Olha pensativo. – Não irá usa-las, irá primeiro aprender a lutar, depois poderá usar as chamas.

— Mas eu vou ficar fraca se não usar!

— Isso inclui o berserk. Nenhuma magia até lá. Entendido?

Olha irritada. Sem as chamas, Elesis era nada além de uma guerreira qualquer. Como isso ajudaria a controlar as chamas azuis? Fortalecer seu corpo não era o suficiente, pensava.

— Agora, fará o que eu fizer. – Fala Depas, erguendo a lâmina da espada e ficando em uma posição de combate, porém elegante. – Faça.

Colocou a mão direita para trás e com a esquerda, ergue a lâmina. Demora até ficar na mesma posição que ele, como Edel ficava com seu florete.

— Sua posição de combate é previsível demais. – Comenta Depas. – É tão atrapalhada que não sei como conseguiu ficar viva até agora.

— Precisa mesmo ofender? – Segurava sua raiva.

— Ofender torna seus sentimentos mais fortes. Então, sim.

Pelo visto, não seria apenas dor física que a ruiva sentiria.

***

Jin se esforçava para entender o que Elesis tentava fazer. Ela estava com a expressão fechada, concentrada em sua mão esquerda. Gostaria de perguntar o que estava acontecendo, porém temia por uma resposta rude vindo dela.

— Eu não vou conseguir! – Diz ela, finalmente

Tinha terminado seu treino com Depas, decidindo ir descansar no quarto de Jin, ou seu antigo quarto. Esperava ver o ruivo em aula, mas ele estava por lá para fazer companhia.

— O que você não consegue fazer? – Pergunta o rapaz.

— Eu preciso aprender a usar a mão esquerda. Só que, parece impossível. É muito estranho.

— É algum tipo de treino, isso aí?

— É, para aprender a usar meus sabres melhores. – Joga sua cabeça de lado, cansada. – Depas pegou os meus e disse que eu não usarei até aprender usar a mão esquerda. – Olha curiosa para o lutador. – Você sabe, Jin?

— Eu sou canhoto, se é isso que quer saber. É costume de todo lutador usar o punho esquerdo para lutar, e o direito para magia. – Dá de ombros. – O mesmo vale para o Azin.

Olha impressionada. O estilo de luta não era tão simples quanto esperava, tinha todo um jeito para ser lidado. Nunca tinha reparado, mas agora que pensa, Jin sempre usava o punho e perna direita para as chamas, poucas vezes o lado esquerdo.

— E você, Sieghart? – Olha para o rapaz, deitado em sua cama enquanto lia uma revista.

— Que mão eu uso? – Olha para a dupla. – Direita.

— Mas como consegue usar a soluna, se é preciso usar ambas as mãos?

— Treino. Posso não usar a esquerda para tudo, mas sei usar muito bem quando seguro uma espada. – Sorri, convencido. – Quando a pessoa é um prodígio, sabe fazer tudo.

Enquanto Jin olhava irritado pelo o convencimento do rapaz, Elesis assentia, impressionada pela a habilidade do mesmo. Ela se impressionava tão facilmente quanto uma criança.

— Por que não tenta escrever com a mão esquerda? – Pergunta Jin. – Seria um bom começo.

— É uma boa ideia.

Elesis pega seu caderno e um lápis, que teve dificuldade quando o segurou. Não sabia como fazer, era uma sensação estranha. Leva tempo até segurar com firmeza e começar a escrever o próprio nome.

— A letra de uma criança é melhor. – Diz Jin ao seu lado.

— Calado! – Fala nervosa. Era complicado. – Eu vou conseguir.

Ela não conseguiu. Seu nome era irreconhecível, como Jin tinha falado, uma criança faria melhor.

Na terceira tentativa, Elesis joga o lápis para longe em raiva. Sua letra piorava usando aquela mão, parecia uma deficiente, pensava.

— Que tal tentar outra coisa? – Olha para Sieghart com sua sugestão. – Tenho algo bem melhor que isso.

O sorriso animado que o rapaz abre, deixa Jin com um mau pressentimento.

***

O mundo parecia girar mais rápido quando visto de outro ângulo. Nunca tinha percebido isso, agora que tudo estava em completo silêncio, sentia o mundo girar em sua volta. Seu corpo estava mais pesado, atraído pela a gravidade que o puxava contra o chão tão distante.

Abre seus olhos com o barulho da porta se abrindo. Lá embaixo, viu Depas entrar no salão, e logo o notar.

Não fica surpreso com o ninja no teto, de cabeça para baixo, e sim pelas as chamas ao seu lado, o contornando. Mesmo naquela situação, conseguia deixa-las baixa em controle.

— Que tipo de treinamento é esse, Bardinar? – Pergunta Depas.

O professor observava Lass fazer o que era pedido, em silêncio. Olha para Depas, sem fazer muitas piadas com a presença do rapaz ali.

— Tentando mantê-las sobre controle, não importa como. – Responde, sem muita animação. – O mais importante agora é deixa-las quietas, já que você não ajuda muito nisso.

— Ainda está irritado por isso, Bardinar? – Fala num tom de deboche. – Você é um covarde mesmo.

— Sou realista, e você sabe o porquê. – Olha sério. – Esteve lá, viu o que eu vi.

— Sabe que a situação é diferente, o resultado também será.

Não importava se o caminho traçado era outro, Astaroth não conseguia ver algo de bom vindo disso. Poderia treinar Lass quanto quisesse, mas ele nunca seria o bastante para trancar seus sentimentos, que eram as chaves para liberar as chamas.

— Por que escondem tanto a verdade da Elesis? – Pergunta Lass, sua voz distante. – Sei que escondem muitas coisas dela, e de mim.

— Por que acha isso, garoto? – Questiona Depas.

— Desde que eu e a Elesis nos conhecemos, vocês fazem de tudo para não ficarmos tão próximos. Sinto que as chamas não seja o único problema.

— Bem, podemos dizer que as chamas sejam o centro de todos os problemas.

— Depas. – Chama Astaroth, querendo que ele se calasse.

— O quê? O garoto vai descobrir de um jeito ou de outro.

Era como esperava, aquele homem sabia demais, porém Astaroth queria evitar de contar. Era sobre as chamas, mas algo além disso, que poderia ser considerado pessoal.

— Tudo bem! – Exclama Lass, chamando suas atenções. – Se não querem contar, não irei persistir. Só quero que saibam que o mesmo não acontecerá com a Elesis.

— Deixe Elesis fora disso. – Pede Astaroth, em seguida, encara Depas. – Se alguém vai dizer a verdade para ela, que seja outra pessoa.

Lass poderia não saber de quem ele falava, mas Depas, sim. O rapaz abre um rápido sorriso, sem se afetar pelo o que ouve. Deu breves passos até Astaroth, e o puxou pela nuca.

O professor inclina o corpo com o soco dado no estômago, o deixando sem ar. Depas se aproxima de seu ouvido, sua voz saindo baixa como um sussurro.

— Você sabe porque eu estou treinando a Elesis, creio que quando chegar a hora, ela não dará ouvidos para verdade. – Dizia o rapaz. – Se eu fosse vocês, contava logo.

— Eu fiz uma promessa. – Rosna. – Não posso contar ou deixar alguém fazer isso.

— Ah.

Sua nuca é solta, obrigando-se a ficar afastado de Depas para não receber outro soco. Aquele sorriso no rosto dele poderia ser considerado bom, mas como Gerard, o sorriso de Depas apenas mascarava sua indignação.

Lass quis poder ouvir o que eles tinham dito quando próximos, onde estava, não conseguiu ouvir nem suas respirações. Sentia uma certa rivalidade vindo de ambos, onde Astaroth demonstrava isso com a mão na barriga.

— Lass, está dispensado! – Fala o professor, sem olha-lo. – Vá descansar.

Algo não estava certo, nota o ninja. Tenta não protestar e desce do teto. Seu corpo é solto sem muito esforço, as chamas sumindo quando seus pés não estão mais encostados. Vira o corpo e aterrissa com leveza, vendo melhor a tensão entre ambos.

Não disse uma única palavra, seguiu o caminho para a saída. Quando olha uma última vez, percebe um par de sabres familiares no cinto de Depas. Aproxima com a expressão fechada.

— O que faz com os sabres da Elesis? – Pergunta.

— Ficarei um tempo com isso, para o treino dela.

Seu maior incomodo é rever os sabres nas mãos de Depas, e não de Elesis. Nunca mais tinha visto seu presente com a ruiva, agora que via, não era do jeito que esperava.

— Tome cuidado com essas coisas. – Fala Lass, com rispidez.

— Digo o mesmo para você. – Aponta com a cabeça. – Pode parecer saber usar as chamas, mas no fundo, elas estão permitindo isso.

Ele sabia disso, mas no tom que era avisado, o assustava. Gostaria de ficar para perguntar, fazer milhares de perguntas para ele.

Porém, deu meia volta e saiu do salão. Do mesmo jeito que ele tinha as verdades para serem ditas, poderia usar as mentiras no lugar.

Astaroth não tira o olhar sobre Depas, mesmo quando Lass se vai.

— Está cometendo um grande erro em aceitar isso. – Diz o professor. – Dessa vez, para piorar, tem Cazeaje por perto.

— Eu sei, eu sei. Mas estou cansado em agir na defensiva. – Olhava em volta, logo para ele. – Quando Elesis veio até mim, eu não pretendia em aceitar treina-la. Mas quando ela mencionou Cazeaje, eu fiquei bem interessado.

— Ela não é capaz de derrubar Cazeaje, muito menos matá-la!

— Eu farei possível. – Diz sem muita dificuldade.

— Depas, olhe para ela! – Fala indignado. – Elesis não consegue mais andar, e se ela persistir, não poderá nunca mais!

— Sei. – Continuava sem estar surpreso.

Astaroth não sabia mais o que dizer. A tranquilidade que ele levava aquela situação era estranha, o que faz pensar sobre.

Nega com a cabeça quando percebe o que é.

— Não está pensando em colocar as chamas azuis nela, certo?

— Não estou. Ela está, e eu só estou ajudando nisso.

Apoia a mão na testa. Aquilo iria acontecer novamente.

— Você fala mal de Gerard, mas faz o mesmo que ele. – Diz Astaroth. – Inacreditável.

— Faço mesmo?

Astaroth o que encara, fechando os punhos. Depas não gostava de ser comparado com Gerard, porém não expressava isso.

— Sabe que vai perder a Elesis se fizer isso.

— Se ela perder, é porque foi fraca demais. Agora, me dê licença que estarei indo.

Ele dá as costas, Astaroth continua a fita-lo de onde estava. Não era para ficar surpreso com a frieza do mesmo, esteve acostumado com isso há muito tempo. Do mesmo jeito que Gerard pensava, Depas fazia o mesmo.

— Então Penelope foi fraca. – Desabafa. Os passos do rapaz param. – Elscud e todos naquela guilda de merda.

Ouve a respiração funda que Depas toma para não perder o controle. O rapaz se vira, sua face sem demonstrar emoção alguma.

— Me ataque. – Fala Depas. – Use seu melhor ataque em mim, Bardinar.

Ele não faz. Depas começa a andar em sua direção, o deixando tenso.

— Use seu poder. Vamos, faça!

Astaroth tenta com a pressão que sentia. Nada sai de suas mãos quando sente aquele peso sobre seu corpo, a magia desaparecendo para longe dele. O problema não era o nervosismo que o impedia de usar magia.

Ele simplesmente não estava permitido de usa-la.

Depas para na sua frente.

— Exatamente, você não pode. – Diz com um sorriso. – Do mesmo jeito que você se sente impotente perto de mim, muitas pessoas se sentem perto de Cazeaje. Então se não quiser sentir isso novamente, pare de se intrometer, Bardinar.

Deu as costas e foi embora sem despedida. Astaroth solta sua respiração, a mana preenchendo suas veias novamente.

Odiava quando Depas anulava sua magia, como Cazeaje fazia.

***

Lass não conseguia tirar da cabeça a conversa de Depas e Astaroth. Existia algo em incomum entre eles, diferente de Grandiel que parecia ter um certo respeito por ele. Enquanto pensava isso, não sabia como lidar com Depas, se devia ficar calado ou dizer algo.

Tinha decidido: O gatilho para tomar uma atitude seria Elesis. Ele estava a treinando, mas queria saber até onde isso levaria.

Para de andar com um barulho próximo. Foi até o refeitório, de onde vinha todas aquelas vozes e gritaria. Para na entrada, confuso em entender o que acontecia ali dentro. Deu alguns passos pelo o local, enxergando a multidão em volta de uma mesa.

Para ao enxergar os cabelos ruivos de Elesis.

— O que ela está fazendo dessa vez?! – Pensa.

Por sua estatura alta, Lass consegue enxergar o que acontecia. De um lado, a espadachim estava sentada, do outro, Jin. Eles apoiam os cotovelos sobre a mesa e seguram a mão com força. Então, começam a fazer força para derrotar na queda de braço.

— Bem a cara da Elesis, não é? – Menciona Ronan ao seu lado.

Fica surpreso em não ter sentido o rapaz se aproximar. Coloca as mãos no bolso e continua com o olhar sobre a multidão. Ronan poderia agir normalmente, mas não ele, depois do que fez.

— Por que ela está fazendo isso? – Pergunta Lass.

— Eu não sei, cheguei quase agora. Mas pelo o que vejo, Elesis só quer alimentar o próprio orgulho. – Sorria com a atitude teimosa da garota.

— É.

A conversa durou segundos, o mesmo para Elesis descer a mão de Jin contra a mesa. Os rapazes comemoram à sua volta, a ruiva erguendo os braços em animação.

— Ronan. – Chama Lass. Olha para o rapaz, que aplaudia pela a vitória da espadachim. – Sobre aquele dia, eu sinto muito. Não queria fazer isso com você, sério.

— Elesis e eu já conversamos sobre isso. Ela me contou tudo, e eu já entendi. – Falava sem tirar o sorriso do rosto, apesar de ser pequeno. – Não estou com raiva dela, nem de você, Lass.

— Mas o que eu fiz foi errado. – Passa a mão na nuca, sem jeito. – Me desculpe.

— Não se preocupe com isso. – Finalmente, o olha. – Eu meio que te entendo. Foi errado, foi. Mas tente fazer disso, um certo.

— Como assim? – Olha confuso para a gentileza do rapaz.

— Quando eu conversei com a Elesis, ela disse que gostava de você, e que gostaria de saber a resposta para isso. Ela está indecisa, mas ao mesmo tempo, feliz ao estar do seu lado. – Dá de ombros. – Isso que importa para mim, vê-la feliz.

— E ela está. – Fica envergonhado com o olhar curioso de Ronan. – Estamos juntos, se você não sabe ainda.

Ronan sorri com satisfação, uma surpresa para o ninja.

— Que bom. Sabe que tem uma grande responsabilidade agora, não é? – Acerta um leve tapa no peito do rapaz. – Proteja a Elesis, entendeu?

— É mais fácil ela me proteger. – Não tinha como discordar.

— Estou falando sério. – Olha com seriedade para Lass. – Se fizer algo com a Elesis, serei o primeiro a fazer você pagar.

Ronan falava sério com seu tom de ameaça. Lass assente, porque faria o mesmo se alguém machucasse sua ruiva. Ele a protegeria, mesmo que não pudesse.

— Nada de errado irá acontecer com ela. – Fala no mesmo tom. – Eu prometo.

— Incluindo as chamas?

Fica sem uma resposta. Já feriu Elesis com as chamas uma vez, estar próximo dela era coloca-la no mesmo perigo. Não sabia ao certo se poderia fazer isso, com os avisos de Astaroth e Grandiel, temia que isso pudesse acontecesse.

— Eu prometo. – Mesmo inseguro, afirma. – Ela está em segurança.

Ronan assente, sorrindo.

— É bom ouvir isso. Agora...

Lass não percebe quando o soco carregado de mana atingi sua barriga. Perde todo o ar e cai de joelhos no chão, tossindo, sem fôlego. Quando olha para Ronan, ele ainda sorria, porém com os olhos num tom azulado.

— Você sabe o porquê disso. – Diz, partindo. – Cumpra sua promessa, Lass.

Infelizmente, ele sabia, e merecia. Não conseguiu se despedir de Ronan, ainda recuperava o fôlego após o ataque. Sua barriga agora doía em dobro, com as feridas do dia anterior e pelo o ataque repentino de Ronan.

Enquanto isso, Elesis nem ao menos notava Lass ou o azulado, estava focada demais em vencer Sieghart. Como um treino, usava a mão esquerda, o que não tinha tanta força quanto a direita. O que dificultava, já que o moreno era um adversário bastante forte, apesar de usar a mão que não tem costume.

— Por que não usa sua magia? Assim poderá me vencer. – Debocha Sieghart.

— Mesmo que eu quisesse, não estou permitida. Mas isso não quer dizer que irei perder para você.

Após segundos, o braço de Sieghart começa a enfraquecer, Elesis seguindo em frente com o seu. A força da ruiva sempre foi uma surpresa para ele, principalmente para uma garota. Lentamente, seu braço era jogado para trás, sem conseguir revidar.

Com um rápido empurrão, Elesis afunda a mão de Sieghart na mesa. A madeira quase se racha com a força da mesma.

— Quero ver uma luta de verdade. – Diz Sieghart, checando se o braço não estava quebrado. – Aposto que não consegue.

— Isso é diferente. – Fala Elesis.

Antes que Sieghart gritasse para a multidão uma revanche, uma mão pousa sobre seu ombro. Olha, um pouco surpreso ao ver Lass.

— Posso? – Pergunta o ninja.

— Boa sorte, então. – Diz Sieghart antes de sair do lugar.

Elesis não tira o sorriso de convencida quando Lass senta à sua frente. O rapaz só queria chamar atenção, já que não gostava de participar de competição.

— O quê? Tá com medo? – Pergunta Lass, apoiando o cotovelo na mesa.

— Só não quero te machucar.

Lass mexe os dedos da mão, chamando para a disputa. Elesis dá de ombros e segura a mão do ninja. Como ela, ele usava a esquerda. Nunca parou para perceber se o ninja era canhoto ou destro, mas julgou pela segunda opção, já que o mesmo usava uma lâmina como ela e Sieghart.

Na frente de todos, Lass puxa sua mão e dá um beijo. Elesis aperta com força seu punho, irritada em vergonha.

— Para dar sorte. – Ele fala.

— É o que veremos.

Sem falar, usa força para derrubar o braço do ninja. Lass é rápido para revidar, ambas as mãos paradas pela a força que cada um colocava. Elesis percebe que seria mais complicado que pensava, usando mais força que o necessário. O mesmo faz o ninja, porém, sem parecer preocupado.

— Eu ganho alguma coisa se vencer? – Pergunta Lass.

— Um soco, provavelmente. – Fala, irritada.

— Falo sério. – Abre um sorriso para provocar. – Quero um prêmio por isso.

— Se conseguir, eu posso te dar um depois. – Debocha.

Não esperava pelo o ninja levar a sério. A força contra seu braço aumenta, a ruiva não conseguindo lidar com isso. O corpo de Lass não era humano, uma parte dele, o que devia ser a explicação para sua força ser tão grande.

Sem machuca-la, afunda a mão de Elesis contra a mesa. Os rapazes gritam pela a vitória, finalmente alguém conseguiu vencê-la. A ruiva olha nervosa para sua própria mão, insatisfeita pela a derrota.

— Isso não é justo. – A voz chama a atenção de ambos.

Depas se junta a eles, tendo observado a disputa desde o início. Abana a mão para Lass, tirando o rapaz do lugar e se sentando na frente de Elesis.

— Vamos tentar mais uma vez. – Fala o rapaz, apoiando o cotovelo à mesa.

— Pode mandar. – Diz Elesis com um largo sorriso.

— Use a direita.

Ela olha sem entender. Seu treino era preciso usar a mão esquerda para tudo, porque agora ele queria que fosse a direita? Mas não discuti, coloca o cotovelo na mesa e segura a mão de Depas, que era tão áspera que assustava a mesma.

— Use toda sua força. – Ele pede.

— Vai se arrepender.

Seguram com firmeza e contam mentalmente. Fazem força ao mesmo tempo, sem nenhum se mover do lugar. Elesis estava mais à vontade usando sua mão direita, conseguia usar sua verdadeira força para vencê-lo. Sentia a mão de Depas vacilar, não conseguindo lidar com a ruiva.

Quando sentia vencer, sua mão é apertada e jogada para trás. Elesis não consegue evitar, tudo acontece tão rápido que a dor demora para vim. Depas jogou seu braço contra a mesa, porém com uma força maior do que devia. Quando tenta mover alguma parte do braço, sua face se contorce.

Elesis solta um grito breve enquanto segurava o braço quebrado. Ouve as vozes dos rapazes perguntando o que acontecia, porém não consegue responder. A dor, por um instante, a domina.

***

— Depas! – Rosna Lass. – Depas!

Ele não para, e o ninja avança. Segura pela camisa e o joga contra a parede ao lado, irritado o bastante para não saber se o machucou com isso. Depas o olha com tédio, a expressão de Lass fechada pela raiva.

— Por que fez aquilo?! – Pergunta o ninja. – Diga!

— Estou aqui para treinar a Elesis, e é isso que eu estou fazendo.

— E quebrar o braço dela estava nos seus planos? – Não conseguia compreender a crueldade do mesmo.

— Vamos dizer que sim. – Dá de ombros. – Elesis precisa dominar o braço esquerdo, e isso será uma ajuda para ela.

Lass olha incrédulo. Quebrar o braço da ruiva para que ela fosse forçada a usar o outro era loucura, insano para ser usado nela. Tinha razão de quando achou estranho a gentileza que Depas tinha com ela, porque quando treinassem, mostraria suas verdadeiras garras.

— Você é louco. – Diz Lass. – Elesis não é como Gerard!

— São parecidos.

— Não são! – Berra. Ao menos, o corredor onde estavam, não havia ninguém para notar a raiva do ninja. – Elesis é gentil, ela...

— Gerard também é gentil. – Lass continua a negar. – Acho que já sabe o motivo de eu estar aqui.

— Para matar a Elesis com seus treinos, prevejo.

— Não, estou longe disso. Eu quero ajuda-la, torna-la a mais forte possível.

— Não irá conseguir. O estado da Elesis... – Não termina, lembra dos passos atrapalhados da ruiva. – Só vai piorar.

Fica surpreso com a risada seca de Depas. Ele não se abalava com essa notícia, mesmo sabendo do estado da ruiva. Isso tira Lass do sério, empurrando com mais força o rapaz contra a parede.

— Existe uma história que é o principal motivo para Grandiel, Astaroth e Lothos não quererem ver vocês juntos. – Dizia Depas. – Eu conheço ela. Mas ao contrário deles, eu não me importo com isso, quero ver você e a Elesis juntos. Já parou para pensar o porquê?

E existia um motivo para ele permitir? Lass desconfiava, mas não achava que fosse verdade. Deveria saber desde o início, Depas não parecia ter intenções à mostra.

— As chamas, uma hora, voltarão para a verdadeira dona. – Responde Depas. – E quando isso acontecer, creio que ninguém será capaz de segurá-la.

— Acha que darei as chamas para a Elesis? Nem mesmo se ela implorasse.

— Você diz que quer matar Cazeaje, mas não quer usar as chamas para isso.

— Eu uso as chamas, a Elesis, não. – Diz sério. – Se está a treinando por isso, desista.

— Não é você quem decidi isso, garoto. – Ergue a mão até Lass, o ninja atento ao seu movimento. – Porque se conhecesse as verdadeiras habilidades de Cazeaje, ficaria nem perto.

Quando a mão de Depas cai sobre seu ombro, seu corpo estremece no mesmo instante. Algo dentro de Lass se contorce, a fraqueza o atingi com uma forte sensação de tontura. Era como aquela máquina de Mari, que atingia aos seres de outras espécies, e ele estava incluso nisso.

Não gostava disso, seu lado haro se contorcia por dentro. Num movimento em desespero, Lass se solta da mão de Depas, as chamas contornando seu corpo sem notar. Deu alguns passos para trás, distante de ser tocado outra vez.

— Oh, aí está. – Diz Depas. – Tão fácil de vê-las.

Lass percebe as chamas e as apaga. Fica sem jeito por um momento, apenas um toque tendo o feito reagir daquele jeito. Que bobagem, pensa irritado.

— O que é você? – Pergunta, fitando o mesmo irritado.

— Tudo tem seu tempo. – Depas não se altera, fala calmamente. – Mas não ache que eu sou algum tipo de monstro, que veio para tornar sua vida pior. Quero ajudar, e não importa o jeito que seja.

— Quebrar o braço da Elesis não é considerado como ajuda. Não sei o que fazia para treinar Gerard, mas não vai funcionar com ela.

— Por que todos insistem em falar desse cara? É bem chato, sabia?

— Por acaso, tem algum problema pessoal com ele? Você foi um dos poucos que Gerard não matou. – Estreita o olhar. – Qual é a razão?

Depas joga os braços de lado com um sorriso em deboche. Lass volta a avançar, segurando com ambas as mãos sua camisa. Não gostava daquele jogo de adivinhação, principalmente com ele.

— Astaroth e Grandiel são seus treinadores, e você os considera como pais. – Fala Depas. – Seria capaz de mata-los? Mesmo após tudo que eles fizeram por você?

O aperto em sua camisa diminui. Consegue atingir o ninja no ponto certo.

— Gerard não teria a coragem de fazer isso, e mesmo que ele tentasse, eu não permitiria. Não teria pena dele.

Com essas palavras, Lass nota algo apontar para suas costas. Não uma, mais que isso. Sem soltar Depas, olha sobre o ombro e vê espadas flutuantes, todas as pontas em sua direção. Era uma magia, ele conhecia.

O solta, olhando incrédulo para Depas. Dominar espadas não era uma magia que você aprendia, como um mago controla o fogo, é algo herdado de família. Sieghart era uma das pessoas que conhecia que possuía essa habilidade, mais ninguém.

— Você não é um Sieghart. – Diz Lass, tomando cuidado com as palavras. – Essa habilidade...

Interrompe suas próprias palavras ao entender. Depas era o mestre de Gerard antes de ele se transformar nesse monstro, era assim que pensava. Mas e se, ele já fosse um monstro por causa disso?

Não percebe quando encosta a mão no peito, sentindo seu coração acelerado. Essa era a resposta de tudo. Gerard não aprendeu sozinho a roubar magias.

— Você o ensinou isso. – Diz Lass. – Comer coração... Roubar magia... Foi você quem o ensinou.

— Eu mostrei, se ele faz isso, não é minha culpa. Gerard é bem grandinho para saber o que é certo ou errado.

— Você fez uma das pessoas mais perigosas do mundo, e fala que não é sua culpa. – Não podia acreditar nisso. – É por isso de querer treinar a Elesis, para que ela use as chamas em Gerard, para consertar o seu problema.

A surpresa não é Depas negar, e sim o que fala. Desencosta da parede e se afasta do ninja, as lâminas ainda apontadas para ele.

— Eu quero que ela mate Cazeaje, o que vai fazer com Gerard, não é problema meu.

Quando já está distante, Lass sente as espadas sumirem. Seus ombros caem em alívio. Porém, no fundo, temia que Elesis descobrisse tudo sobre seu novo mestre.

Ele queria ajudar, então que fosse do jeito de Lass. Se ela se ferisse, estaria ao lado para cura-la. Não deixaria a ruiva passar por isso sozinha.

***

Passa o dedo sobre o gesso que cobria seu antebraço, e mão. Era um incomodo, um peso a mais para carregar. Não demoraria para se acostumar, mas até lá, seria trabalhoso.

— Não está sentindo dor? – Pergunta Lass, à sua frente.

Sentada na beira da cama, Elesis o olha, negando. Após colocarem o gesso, deram alguns remédios para anestesiar a dor.

— Já está fazendo efeito, mas a enfermeira disse que o outro que tomei, vai me deixar um pouco tonta, porque é muito forte. – Fala Elesis. – Não vai demorar muito até lá.

— Tem certeza que não quer que eu use as chamas? – Insisti. – Irá consertar seu braço.

Não forçaria a usar as chamas, tinha prometido a si mesmo que as usaria quando tivesse permissão, ou fosse uma emergência.

— Não, Depas quebrou meu braço por um motivo. – Responde enquanto fitava o gesso. – Isso será o suficiente para o meu treino.

— Está se ouvindo? Elesis, ele quebrou seu braço.

— Eu sei que parece cruel, mas eu aceitei isso. – Não queria que Lass ficasse zangado com ela. – Eu pedi por isso. Depas está apenas fazendo o trabalho dele.

Lass não concordava com isso, apesar dos treinos de Astaroth serem quase iguais, mas por uma razão maior. Elesis estava cega pela a força de Depas, não enxergaria o mal que o rapaz carregava.

— E está adiantando? – Pergunta.

No colo da ruiva, tinha um caderno e em sua mão esquerda, uma caneta. A folha estava coberta por letras tortas e ilegíveis, deixando Elesis sem jeito. Estava um bom tempo tentando escrever algo que faça sentido para ler, mas nada saía. Precisou até colocar seus óculos por sentir seu olho doer.

Estava cheia de problemas, percebe.

— Eu tô fazendo o meu melhor! – Fala sem jeito. – Faça melhor.

Lass não se importa de fazer. Pega a caneta da ruiva e escreve na mesma folha. Quando termina, Elesis fica surpresa por conseguir ler o nome do ninja.

— Você é canhoto?

Ao devolver a caneta, Lass ergue ambas as mãos.

— Ambidestro. – Responde.

— Como?!

— Eu não sei, sempre consegui usar as duas mãos. – Dá de ombros, não se importando tanto. – Mas eu prefiro a direita para usar a katana.

— Por isso que é bom com os sabres. – Percebe.

Lass perde a animação ao lembrar que os sabres de Elesis estavam com Depas. Tinha curiosidade em perguntar onde estavam guardados, mas preferiu deixar a ruiva descansar. Ela teve um dia cansativo, ficar questionando não seria bom.

Elesis apoia a mão no rosto, sentindo o efeito do remédio começar a atingi-la. Era fraco, mas sabia que logo aumentaria.

— É melhor descansar. – Sugere Lass, notando. – Passou o dia inteiro com esse caderno.

— Estou bem.

Lass tira o caderno de seu colo, e empurra a ruiva para deitar. Ela se deita de lado, sorrindo, por algum motivo.

— Deite comigo, pelo menos. – Pede Elesis, balançando a mão.

O efeito do remédio começava a surgir, nota Lass. Quando a ruiva ficava assim, nada segurava ela de fazer alguma besteira.

— Diferente de você, tenho dever a fazer. – O que era verdade. – Vá dormir, Elesis.

— Não até você sentar aqui, do meu lado. – Bate no colchão.

— O efeito é bem rápido. – Pensa Lass.

Não ficaria livre até que a ruiva dormisse, o que não demoraria tanto. Senta-se ao lado da mesma, enquanto isso não acontecia. Atrás dele, Elesis se senta, contornando seus braços no pescoço do ninja.

— É tão quentinho. – Fala a ruiva, o rosto apoiado em seu ombro.

— Elesis, não faça nada que vá se arrepender amanhã. – Pede Lass, pois sabia que seria ele quem pagaria.

O beijo que recebe na nuca o arrepia.

— Eu fico bonita de óculos? – Elesis pergunta, sua respiração contra a pele do ninja.

— É, fica. – Muito, muito bonita, gostaria de dizer. Era como um dos fetiches de Lass. – Mas é melhor tirar antes de dormir.

Ao menos isso, ela faz. Elesis tira os óculos e coloca de lado, voltando a apoiar o rosto contra o ombro do rapaz.

— Por que está me ignorando? – Pergunta Elesis. – Olhe para mim.

— Amanhã, quando estiver bem, olharei quantas vezes quiser. Agora, você precisa dormir. – Diz Lass tenso.

— Lembra que você ganhou de mim? Bem, aqui está sua recompensa.

Outro beijo no pescoço, porém, mais demorado. Os lábios da ruiva se afastam, Lass virando o rosto para ela. É Lass quem a beija dessa vez. Esquece que não deveria fazer isso naquele momento. Elesis o puxa para mais perto, suas mãos deslizando por debaixo da camisa do rapaz.

Queria mais, a ruiva só para ele. Porém consegue reunir forças para se afastar. Coloca a mão no rosto de Elesis e a empurra contra o colchão. Fica de pé, afastando-se.

— Boa noite, Elesis. – Diz, antes de sair do quarto.

Não faria isso, não com a ruiva naquele estado.

***

Seu corpo se move, sentindo-se presa. O calor aumentava, sua garganta diminuía, o ar sendo impossível de entrar em seus pulmões. Queria acordar, aquele pesadelo estava a consumindo.

Elesis grita e se levanta num pulo. Olha assustada para os lados, o suor passando por seu rosto. Quando percebe que estava no quarto de Lass, apoia a mão no peito.

— Só um pesadelo. – Murmura para si. – Só um pesadelo.

Não entende que tipo de sonho foi esse. Havia uma mulher e as chamas azuis a contornavam. Ela parecia desesperada, mas não se queimava. Elesis sentiu toda sua agonia até despertar, seu coração batendo forte em medo.

Após ficar calma, percebe que Lass não estava no quarto. Já amanhecia, então o rapaz deveria estar dormindo ainda. Levanta da cama e vai até o banheiro. Ele não estava lá, em nenhum lugar do cômodo.

Quando abre a porta do quarto, assusta-se com Lass caindo aos seus pés. Ele também se assusta ao bater no chão, acordando. Pelo visto, esteve dormindo a noite todo ali na porta, sentado.

— O que está fazendo aí, Lass? – Pergunta Elesis.

— Eu estava dormindo. – Continua caído. Olha para a ruiva. – Você está bem?

— Por que eu não estaria? – Olha confusa.

Para ter certeza que o efeito do remédio ainda funcionava, pergunta:

— Vou ganhar alguma coisa por ter te vencido ontem? – Abre um sorriso largo.

— Não enche. – Diz seca, indo em direção ao banheiro. – E levanta desse chão!

— É bom ter você de volta, Elesis. – Fala aliviado.

***

Jin não falou nada, nem mesmo quando Lass chegou e se sentou ao seu lado no refeitório. Continuou a comer seu cereal, esperando que seu sono passasse. É claro, sua mente estava ocupada com o estado de Elesis por causa do ocorrido do dia anterior.

— Elesis está bem. – Responde Lass, sentindo a curiosidade do ruivo. – Só foi o braço.

— Que bom. Estava preocupado. – Fica mais calmo. – Aquele cara, o Depas, foi meio cruel.

— Nem me diga. Mas não tente falar isso com a Elesis, já tentei e foi perda de tempo. – A teimosia da ruiva era muito grande. – É só torce para que ela não morra com esses treinos.

— Ela está treinando agora?

Lass suspira, assentindo. Jin entende a tensão que o ninja sentia. Também não tinha confiança em deixar a ruiva nas mãos de Depas, mas não havia muito para fazer.

Olha para Lass e percebe seu olhar cansado, quase se fechando sobre a mesa. Jin iria soltar uma piada, até perceber uma mancha roxa no pescoço do ninja. Não entende o que é, até perceber e seu rosto ficar vermelho em reação.

— O que foi isso? – Pergunta, nervoso.

Lass o olha confuso. Jin aponta, mas o ninja não consegue ver.

— O que é?

— Tem uma mancha roxa no seu pescoço. – Diz baixo, com vergonha.

— Ah. – Lass parece se lembra, não reagindo em surpresa. – Eu bati na pia.

— Engraçado, Sieghart fala a mesma coisa, só que ao contrário. Ele fala que é um chupão, só que na verdade, ele tinha batido com o pescoço na pia. – Já estava cansado de ouvir essa desculpa do rapaz. – Sério, a Elesis fez isso com você?

— É, digamos que foi ela. – Mesmo após saber da marca no pescoço, Lass não tenta esconder ou se incomoda. Parecia bem calmo.

— Como assim?

Olha o ruivo para explicar, mas desisti. Seria complica falar disso para ele.

— Esquece. Viu o Astaroth? Ele está atrasado.

— Não, talvez ele esteja dormindo, como sempre. – O professor sempre se atrasava em suas aulas, mas com Lass era diferente.

O ninja assente, um pouco incomodado com isso. Poderia dizer que era por causa de Depas que Astaroth tem agido estranho durante essa semana, mas antes mesmo da chegada dele, o professor tem estado assim.

Levantou da cadeira.

— Eu vou ir ver a Elesis. Depois a gente se fala. – Fala Lass, despedindo-se rapidamente.

Jin não conseguiu dizer o mesmo, o ninja já saía do local. Andou pelos os corredores com passos largos, querendo economizar tempo. Durante o caminho, não viu Astaroth em lugar algum, como Jin tinha falado, ele deveria estar dormindo.

Para ao chegar na porta do salão. Mesmo distante, sorri em ver Elesis. Ela estava ouvindo algo que Depas falava, tão concentrada no treino. Não a chamaria, iria distraí-la, o melhor a se fazer, era deixa-la.

Não sai do local com aquela sensação. Olha para os lados, sua atenção caindo sobre um homem ao lado da porta, olhando da mesma forma que Lass olhava para Elesis. Sente a fonte de mana daquela pessoa, tão grande que era igual...

Lass congela no lugar. Aquele cabelo preto, porém, com um penteado familiar, os olhos vermelhos, acompanhados por aqueles desnecessários óculos. Logo, a atenção do homem se vira para o ninja, ficando mais tenso.

O bigode que ele usava era falso demais.

Ambos parecem assustados.

— Gerard. – Lass murmura.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Gerard com os cabelos pretos, de óculos e bigode... Alguém faça uma fanart disso, por favor!! kkkk Eu adoraria.
* Depas parece saber mais do que certas pessoas, né... Isso é bom... Ou não . A chegada dele marcará algo muito importante, o que será a partida para o final.
* Elesis doidona, querendo sentar na pokebola huhum kkkk Tá parei.
* Então, como vão as teorias sobre as chamas e a marca de Lass? Estou curiosa!



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