PDV - Sam

Não me restavam dúvidas. Deixar a cidade parecia-me a melhor opção. Não sou mais uma criança, que não pode se cuidar ou cuidar de seus próprios problemas, já tenho 18 anos. Não podia simplesmente fazer algo para chamar a atenção das pessoas e conseguir o que queria, esperar que elas façam por mim e não fazer por conta própria, querer que tudo seja da maneira que eu quero e ponto final... Isso já não funcionava mais. Preciso amadurecer, ser quem eu realmente sou, ter responsabilidade e me importar comigo. Já tenho idade o suficiente para tomar minhas decisões, seguir em frente em busca de um melhor destino. Essa era a única forma de ser feliz, de fazer o melhor, sem aproveitar-me da vontade das pessoas, sem precisar de ninguém. De atingir a independência... Sim, eu iria fugir sem pensar duas vezes.

Desse modo me acalmo, esqueço todas essas fúteis discussões, vou em busca do que vai me fazer bem. Me concentrar no meu próprio mundo era tudo que eu precisava agora, refletir e cogitar sobre minha vida... Sem que ninguém me impeça de fazer o que eu acho que será melhor para mim. Esquecer o que me faz mal. Era difícil deixar o lugar onde vivi por minha vida inteira, mas era a hora. Seria "apenas mais um adeus", ou talvez um simples "até logo", não um século fora de Seattle, eu não suportaria. Estou esgotada de tantas brigas, por minha causa. Se eu sou o problema, agora quero ser a solução...

Peguei meu PeraBook e o abri, para deixar um e-mail para Carly, minha ex melhor amiga. Precisava avisá-la disso. Quanto ao Freddie, contá-lo só me traria mal... E me faria pior do que já estou.

Digitei as palavras, e elas surgiram formando um bilhete de despedida, me emocionava ao escrever... Não queria deixar de vê-la, mas era mais que necessário.

"Carly,

Eu só queria dizer-lhe que esse mundo já não pertence à mim, ou a nós duas, ou a nós três... Estou dando adeus ao iCarly sem me importar. Não tenho pressa para voltar. Estou indo pro nada, por nada e não farei nada além de sobreviver. Entre você ou ele, ficar sozinha, pareceu-me a melhor opção...

Se cuida, Sam."

...

Para minha mãe, deixei um simples recado, que talvez ela nem leia, porém pouco me importa. Haviam esperanças... E eu não podia deixar de dizê-la algo antes de partir.

...

"Mãe,

Esse mundo não tá pra mim. Adeus, até logo.

NOTA: Se me um dia sentir minha falta e me procurar, leve um balde de frango frito.

Sam..."

...

Deixei o bilhete sobre a mesa da cozinha, cliquei "enviar" para o e-mail de Carly. Senti lágrimas penetrarem em meus olhos, e escorrerem em um ritmo lento, se tornando cada vez mais dolorosas... Era uma escolha, uma escolha que eu fiz sozinha. E não voltaria atrás por nada, nem por alguém.

...

Horas depois...

Estava tudo pronto, eu já havia me decidido completamente. As lágrimas que circulavam em meu rosto secaram, e as feridas do meu coração estavam prontas para ser curadas aos poucos, nessa viagem.

Me faltara apenas coragem. Só havia um lugar, só havia um jeito. Eu deveria telefonar para Melanie e dividir seu apartamento com ela até encontrar um lugar onde morar por lá, ou dinheiro suficiente... Isso tudo dependeria do tempo que precisara, mas não sabia se iria passar de três meses. Ainda não podia largar a escola. Estudar em casa, pela internet, não vai ser igual... Porém já estava com tudo pronto... Estava indo para Nova York.

Tirei meu celular de meu bolso e o trouxe para a frente de meus olhos. Meu dedo pressionava a tecla e selecionava a cada número do telefone de minha irmã. Ouvir sua voz seria decepcionante, ter de aturá-la ainda pior, mas era o único jeito, não poderia escolher outro que fosse mais conveniente além desse. Meu coração doía, e aos poucos minha cabeça também. Deixei uma lágrima cair sobre o visor do celular, o percorrendo até atingir o chão. A ligação estava em andamento, ela atendeu. Senti meus olhos lacrimejando ainda mais.

–Olá Melanie. - Disse apreensiva.

–Sam? Você? Meu Deus! A que devo a honra da ligação? - Disse ela com seu jeito doce e irritante.

–Que saudade de você também. - Respondi irônica, imitando sua voz fina com sarcasmo.

–Ok, diga-me o que quer. - Ela engrossou a voz - pelo menos tentou - na tentativa de me desafiar.

–A mamãe vai fazer uma... Viagem! Eu precisarei passas uns dias aí. Tudo certo? - Falei com um pequeno aperto no coração, inventando qualquer mentira para fazê-la autorizar que eu divida seu apartamento com ela.

–Claro. - Suspirou ela - Mas vai ter que fazer o que eu mandar, e somente o que eu permitir... Sei como é teimosa. Esse é meu apartamento, não destrua-o.

–Tudo bem, me comportarei como uma irmã normal. - Tentei parecer sincera, era o único jeito de ganhá-la.

–Te espero então, a que horas chega?

–Durante a madrugada... Eu apareço. Beijos. - Encerrei a ligação sem paciência para ouvir uma resposta...

To Be Continued...