- Pare! – Berrou a garota – Eu não aguento mais! Não vou mais tentar ser gentil com você...

- Você estava tentando? – O sarcasmo dele falou mais alto – Quanta consideração!

- Você é um idiota Diego! Te conheço o bastante para saber que não vai mudar.

- Igualmente Camila!

 Ela lhe deu as costas e andou em direção à porta, sua explosão só acalmou após a terceira virada inútil da maçaneta.

- O que foi agora? – Perguntou o garoto sem olhar para ela.

 Mais algumas forçadas na porta e então ela respondeu:

- Estamos trancados!

- O que? – Ele passou a frente da garota e também forçou a porta sem ter resultado – Não dá pra acreditar!

- A culpa é sua! – Camila deu um soco no braço do rapaz.

- Minha? – Diego segurou o pulso da garota.

- Sim. Se você não fosse do contra e sumido bem quando o ônibus chegou, a professora não teria me mandado te procurar.

- Então a culpa é dela que sugeriu essa palhaçada de duplas para a excursão. Como se o ensino médio se perdesse no museu.

- Foi ordem da diretora, e teria dado muito certo se o meu parceiro não fosse um filhinho de papai mimado! – Ela puxou o braço se libertando.

- Eu sei que você preferia fazer dupla com o Gustavo. Não é novidade que a miss santinha está afim dele.

- Cale a boca, você não sabe de nada. Se bem que o repetente preguiçoso pelo representante de turma não é uma troca tão ruim.

Ela ignorou a bufada de Diego e andou até o outro lado da sala, onde olhou pela janela apreensiva.

- Não tem ninguém no pátio. Acho que o ônibus já saiu.

- Então não podemos fazer mais nada.

 O rapaz se sentou na cadeira da professora e com um lápis passou a desenhar na mesa.

- Como você consegue? Não está nem um pouco preocupado? Podemos ficar aqui por horas.

- E o que você quer que eu faça? Banque o magneto e traga o ônibus de volta? Não dá nerd! Senta aí e sossega o facho.

 Extremamente contrariada, Camila se sentou em uma das carteiras. Durante uma hora tudo o que se ouviu na sala foi o barulho do ventilador, mas o som de folhas de papel fez a garota olhar para Diego.

- O que você está fazendo?

- Achei os testes vocacionais da nossa turma – Respondeu ele com um sorriso malicioso – Sabia que o que combina com a Débora é Educação Física? E pelo jeito o seu precioso Gustavo vai dar um bom jornalista.

- Você não devia estar fazendo isso! – Ela se pôs de pé.

- Por que? Tem medo que eu veja o seu teste?

- Isso é ridículo!

- Camila... Camila... – Ele passava as folhas rindo.

- Nem se atreva!

 A garota correu na direção dele, mas o rapaz foi mais rápido e se levantou da cadeira dando a volta na mesa.

- Qual é o problema Mila? O que pode ser tão ruim... – Sua voz falhou de repente – O seu teste está em branco!

 Diego sentiu uma pressão incomum sobre a sua garganta, seguida pelo baque de suas costas na mesa. Ele deixou as folhas caírem no chão com o susto do corpo de Camila sobre o seu, as mãos da garota apertando o seu pescoço.

- Não era pra ninguém ver isso! – Ela chorava – Eu me esforço tanto... E não consigo... Não é justo!

 Camila soltou as mãos do pescoço dele e afundou seu rosto no peito do rapaz para sufocar seu pranto.

- Que dramática! – Suspirou Diego.

- Dramática?! – Ela se afastou num susto – Você é mesmo um idiota!

 A garota caminhou até a janela secando suas lágrimas.

- Hei! – Diego virou-a de frente para ele e lhe mostrou outro papel.

- Seu teste? – Surpreendeu-se Camila – Também está em branco!

- Pois é, né?

- Mas você não parece preocupado.

- E por que estaria? Se nem a garota mais incrível desse mundo sabe o que quer, quem sou eu pra esquentar a cabeça?

- V-Você me acha incrível? – Gaguejou surpresa.

- Sim, eu acho. Sei que se esforça bastante para tirar boas notas. Eu te admiro por isso.

 Diego baixou os olhos e depois deu as costas para a garota caminhando até a mesa.

- Eu acho – O garoto sorriu dolorosamente – Que o Gustavo nunca te disse algo do tipo, né?

- Outra vez essa história?! O que te faz pensar que eu gosto do Gustavo? – Ela cruzou os braços.

- Ah – Ele revirou os olhos – Eu vi vocês de conversinha várias vezes. Sem mencionar a porção de vezes que você já disse o quanto ele é inteligente.

- O que? Bem... Acho que me deixei levar – Camila riu – A verdade é que ele está me ensinando matemática. Mas nunca daria certo entre a gente porque... – Suas bochechas coraram – Eu gosto de você.

 Diego congelou sem saber o que fazer, suas bochechas estavam queimando quando ele gaguejou:

- G-Gosta de mim?

- Sim...

Alguém abriu a porta.

- Ah, então vocês estão aqui! – Falou o zelador – A professora acabou de ligar preocupada com os dois. Andem, saiam da sala!

 Os dois se espremeram para passarem juntos pela porta e depois seguiram lado a lado pelo corredor. Quando o homem não podia mais vê-los, Diego segurou o braço de Camila a fazendo girar e prendendo-a com as costas nos armários. O rapaz sorriu maliciosamente, e  ao ser correspondido os dois se beijaram.