Nossas Últimas Cartas - Anne&Peter escrita por Black Umbrella


Capítulo 1
As Minhas Últimas Cartas - Anne Frank


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu sempre amei o livro O Diário de Anne Frank, lamentando apenas o fim trágico da história, e sempre quis imaginar um final realista E feliz. Então, me veio essa ideia. É um estilo um pouco diferente do meu, mais dramático, mas é romance, então está valendo.
Bom, espero que novos leitores meus gostem, e aqueles que me conhecem, fiquem felizes com essa. A carta de Anne segue o que ela fala na sinopse!
Beijos!



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Querida Kitty,

Então, aqui estou. Ontem, comecei a escrever-lhe uma carta, mas nosso intervalo foi bruscamente interrompido, e fomos todos trancados nos apertados e nojentos dormitórios novamente.

Estava contando-lhe da minha tristeza em relação a saber que vou perder toda a minha família, que vou morrer, e o principal, que Peter vai morrer.

Entenda, você deve estar meio assustada em como estou calma em relação a esses fatos. Nos primeiros dias, eu decididamente perdi o controle. Mas, com o tempo, percebi que aquilo não adiantaria de nada. As pessoas que já estavam ali a muito tempo já haviam se acalmado também, então, decidi que eu ia entrar nos trilhos. Nada de ficar chorando sempre, embora eu chorasse às vezes, antes de dormir.

Você deve estar pensando: "Mas, Anne, os Aliados estão avançando muito rápido, pode ser que você não morra!" Eu poderia, Kitty, tentar acreditar nisso, mas sei que é impossível. Tenho a certeza, no fundo de minha alma, que Deus me abandonou, e que morrerei. As condições de higiene aqui são péssimas, e embora as câmaras de gás dificilmente são ligada, e menores de idade como nós geralmente não estão nelas nas raras vezes em que são ligadas, uma epidemia de uma doença que Margot me falou se chamar "tifo" está atacando Begen-Belsen. Eu mesma já sinto efeitos da falta de higiene. Infecções, febre, alucinações. Muita gente tem coisas assim, aqui. Eu, só tive febre.

Nossas condições são precárias demais, Kitty. Já estou aqui a quase três meses, e tive duas menstruações durante esse tempo, e não há em um tratamento diferenciado para mulheres e meninas que estão assim. Somos tratadas como qualquer pessoa, sem problema algum. Essas pobres crianças, tantas já morrendo de infecção, assim como as mulheres. Triste.

Então, sei que só vou durar mais poucos dias.

Margot ainda está pior do que eu. Acho que a morte a levará antes de mim, mas eu não queria isso, de jeito nenhum. Quando disse isso a ela, ela assentiu, sabendo que o que eu dizia era verdade.

– Mas, Anne, talvez você escape! Talvez encontre alguém de nossa família! - ela falou isso como se fosse um grande presente para ela. Ah, como pude tratá-la tão mal?

– Ah, Margot, eu não quero sair daqui sem você! Fica comigo, por favor!

Tive um acesso de choro, que custou a parar, enquanto Margot me abraçava e nada dizia.

Mas o que ela poderia dizer? "Anne, vai ficar tudo bem! Você vai ver!"

Ela não podia dizer isso. Ela sabe, eu sei, que não vamos ficar bem. Os Aliados podem tanto chegar amanhã como daqui a três meses.

Eu não sei, Kitty! Não sei porque Deus decidiu me abandonar!

Até agora venho evitando falar de Peter, porque dói demais, e provavelmente começarei a chorar e apagarei essa palavras escritas na areia.

Ah, o tempo que tenho para ficar aqui passou! Até a próxima, Kitty, virei o mais rápido possível, então falarei de Peter, mesmo que as custas de muitas lágrimas.


Sua Anne M. Frank.



Cinco dias depois,


Querida Kitty,

Oh, Kitty, nem sei como começar a explicar os últimos cinco dias!

Estou tão triste, mas tão triste, que, antes que pense direito, já estou desejando morrer. Esses dias, não tive tempo para escrever nada, e foi tão horrível, e nem consigo parar de chorar...

Tudo bem, preciso me acalmar. Preciso manter a calma para poder te contar tudo.

Depois do último dia em que te escrevi, disse que Margot estava pior do que eu, não foi? Bem, ela recaiu ainda mais três dias atrás. Comecei a temer por sua vida.

Tentei cuidar dela, Kitty, juro que tentei! Mas, ela não podia ficar descansando. Tinha de trabalhar, como todas as outras pessoas, doentes, ou não.

Dois dias atrás, ela já não conseguia se levantar, e por fim, quando foi constatado que ela morreria em breve, e já não podia trabalhar, deixaram-na ficar lá. Eu dava uma ou duas fugidas extremamente rápidas, para ver se podia fazer alguma coisa, mas a doença que estamos não é algo que eu possa curar com um pouco de água e um paninho velho e molhado.

Então, em meus intervalos, eu apenas ficava lá e segurava a sua mão. Tivemos essa última conversa ontem, quando eu estava perto de sua cama no intervalo.

– Por favor, Margot, seja forte, você não pode me deixar sozinha aqui! E você tem uma vida para viver assim que sairmos deste inferno! Que ir ser parteira em países onde eles não tem médicos, lembra?

– Eu... cof, cof, - ela tossiu - eu sei, Anne, mas eu não posso fazer nada! Não tenho mais forças para lutar contra a morte, minha flor.

Ela nunca havia me chamando assim, e isso só me fez chorar mais.

– Olhe, tente você ficar viva! Se os Aliados vierem logo, terão como tratar você, e talvez você saia viva dessa.

– Eu também não vou conseguir, Margot! Eu não estou tão melhor do que você! Em pouco tempo irei também!

Ela pareceu tentar absorver aquilo. Aquela altura, nós duas já chorávamos, porque percebíamos que seriam nossos últimos minutos juntos.

– Então, apenas prometa que tentará, por mim. Como eu tentei por você. - ela diz, chorando.

– Eu, não posso... Tenho de ir também. Entenda, papai, mamãe, todos aqueles que conheço, já devem estar mortos! Não há mais nada para mim aqui!

Ela pareceu processar isso também. Então, suspirou, e uma expressão de resignação apareceu em seu rosto.

– Então, vamos nós duas em paz. Quando chegar sua hora, como a minha vem no horizonte, vá em paz também.

Assenti, incapaz de falar nada.

– Vamos, não chore. Nós nos veremos de novo.

A abracei, e me deitei com ela.

– Sabe, disso tudo, ainda tem o... Pe... Peter. Isso me dilacera por dentro, saber que ele morreu, ou logo morrerá.

– Eu entendo você. Nunca contei nada, mas em casa, havia um garoto do qual eu gostava. E quando ele morreu... Meu mundo ruiu e eu me tornei tão "aparência"! Me dizia todos os dias: "Vamos lá, Margot, qual vai ser a máscara de hoje? Felicidade, esperança, fé?" No fundo, Anne, eu nunca tive nada disso.

Saber daquelas coisas de Margot me dilacerava ainda mais. Como pude ser tão insensível?

– Margot... Será que pode me perdoar? Por tudo, sabe. Por sempre que te tratei mal.

Recomecei a chorar.

– Shiii, não chore, Anne. Claro que te perdoo. E você, pode fazer isso também?

– Cla... Claro que sim. - solucei.

– Então, eu vou mais em paz ainda.

Percebi, quando ela fechou os olhos, que aquele era o momento. Ela estava indo embora. Chorei como uma descontrolada.

– Logo... logo, Anne. Em verdes campos de liberdade. Eu te vejo lá.– ela diz, sua voz agora, firme, doce, como eu me lembrava de ser antes da guerra.

– Sim, Margot. Nós nos veremos lá. - chorei ainda mais, se possível. - Eu... Eu te amo, Margot.

– Eu também, Anne. Sempre. Para sempre. - Ela suspirou e seus braços, que me abraçavam, relaxaram.

Ela havia ido. Eu estava só.

Pessoas vieram, e arrancaram ela de mim, algumas horas depois.

Como uma sonâmbula, chorando e pensando em toda minha família, que para mim, já incluía Peter, eu passei a noite.

Hoje, me fizeram levantar. Fui trabalhar, extremamente fraca, e percebi uns médicos de observação sussurrarem e apontarem para mim. Só entendi uma palavra: "Morrendo".

Tudo bem, pensei. Aliás, fiquei mais alegre. Um tanto mais de esperança; Verdes campos de liberdade.

Fui, então, trabalhar. Muito fraca, quase sem conseguir, já sentindo a fria presença da morte.

Consegui chegar viva a hora do almoço. Eu só resistia porque precisava vir aqui, e te contar tudo isso.

Estou aqui agora, Kitty.

E só consigo pensar neles. Em Peter, Margot, Mamãe e Papai.

Em Peter, principalmente, porque agora eu tinha de pensar nele. Evitei, porque sabia que era um dos piores assuntos.

Agora, só conseguia sentir a intensidade de meu amor. Paixão. Carinho. Amor. Verdes campos de liberdade.

Penso, agora, na sensação de beijá-lo. Tão bom! Como eu sentia falta se ser abraçada e beijada por ele.

Lágrimas enchem meus olhos agora, e o rosto de Peter, minha mente.

De alguma forma, sorrio. Uma calma, de paz e amor, se instala em mim.

Vê-los. Verdes campos de liberdade.

Eu estou indo, Peter. Nós vamos ficar juntos.

Estou indo, Mãe, Pai, Margot.

Peter, de novo.

Para sempre.

Porque uma coisa que Hitler não pode tirar de nós, é o amor.

E cada célula de mim amava essas quatro pessoas, apesar de todos os defeitos delas.

Sorrio, agora, e fecho os olhos.

Hora de parar, Kitty. Talvez, para onde que que eu vá, eu ache cadernos ou um pouco de terra, e vou tentar te contar o que vai acontecer, mas agora, tenho de ir. 

Tenho de encontrá-los.

Eles. Mamãe, Papai, Margot, Peter.

Verdes campos de liberdade. Com vocês quatro lá.

Estou chegando.


                                                             Sua Anne M. Frank


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Notas finais do capítulo

Gente, até que ficou bom, hein? Quase chorei. Na verdade, chorei mesmo!
Bom, a fic ainda não acabou!
Mais capítulos em breve.
Recomendações, reviews? SEMPRE!
Confiram minhas outras fics: Kane - Os Artefatos Perdidos do Egito
De volta a Alagësia...
Beijos, e até o próximo!