O Desabrochar Da Primavera escrita por Sereny Kyle


Capítulo 1
one-shot




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345636/chapter/1

            Quando as notícias sobre o fim da guerra chegaram aos ouvidos de Arya em Pentos, a garota hesitou por um tempo até que essa fosse a informação que prevalecesse sobre as outras. Ela partiu no primeiro navio que conseguiu encontrar que fosse atravessar o Mar Estreito para Porto Real.

            A cidade encontrava-se ainda mais fétida do que ela se lembrava (ou talvez fosse apenas o fato de que ela tinha se acostumado com as cidades do continente que tinham o intenso perfume de sândalos e tâmaras e óleos silvestres que contrastava tanto com a capital)...

            Ela andou em meio a entulhos e aos destroços que ainda se acumulavam no meio do caminho, alguns cadáveres ainda jaziam sobre a areia e na terra molhada (ensopada como se tivesse acabado de chover)...

            Muito deveria ser feito para que a capital pudesse se recuperar da guerra... Arya não sabia nem quem estaria sentado no trono de ferro, mas sentia pena dessa pessoa...

            - Arya? – a garota ouviu alguém chamando seu nome não muito distante de onde ela se encontrava e seu coração falhou uma batida.

            A dançarina da água girou em seu próprio eixo, buscando pelo dono da voz e seus olhos encontraram os olhos claros que a encaravam cheios de espanto. Ela ficou imóvel, mas Gendry correu até ela e a segurou bem forte em seus braços.

            - Gendry? – ela disse, sem conseguir acreditar no que estava vendo. – O que está fazendo aqui?

            Ele deu uma risada sem jeito, ainda segurando a garota em seus braços.

            - Minha história não é interessante... Eu estou mais interessado em saber por onde milady andou – apesar de tentar soar divertido, o tom preocupado em sua voz não saiu tão sutil como ele tinha pretendido.

            - E por que isso é da sua conta? Da última vez que nos vimos, você estava me abandonando! – ela respondeu, furiosa com a lembrança, tentando se soltar dos braços fortes do ferreiro.

            - Eu não ia te deixar, Arya! – ele impediu-a de afastá-lo. – Eu ia te pedir pra ficar comigo! Eu a protegeria e, quando a guerra acabasse, a ajudaria a encontrar sua família! Nós estávamos correndo riscos demais, eu quase não conseguia dormir direito, preocupado com você... Mas, no dia seguinte, você tinha desaparecido... Por um momento, pensei que só estivesse brava e não quisesse me ver, mas eu faria de tudo pra que me perdoasse quando você voltasse... Pra que ficasse ali, a salvo, comigo... Mas quando percebemos que Sandor Clegane também tinha sumido, eu me desesperei! Vinte dos nossos foram atrás de vocês, mas não permitiram que eu também fosse... Eu sou um ferreiro e meu lugar é fazendo armas... – ele disse, amargurado. – Mas quando eles voltaram, só tinham encontrado Sandor moribundo e delirando, dizendo que você tinha fugido sem lhe ter dado a misericórdia da morte... Depois disso, só o que eu tive foram rumores sobre seu paradeiro e cada história nova que surgia, me deixava mais desesperado...

            Arya escutou tudo em silêncio, sem conseguir interrompê-lo... De tudo que tinha lhe acontecido, Gendry era a única pessoa que ela sentira saudades, que ela queria encontrar... E enquanto ele falava, ela percebera que o sentimento que ela nutria por ele era mais forte do que ela pensava...

            - Que tipo de histórias minhas?

            - Várias vezes que tinham te encontrado morta... Na Estrada do Rei, em Correrio, nas Gêmeas, voltando pra Porto Real, disseram que você tentou assassinar a rainha, que você foi presa nas celas negras, e isso eu era capaz de acreditar... – ela fechou a cara, fazendo-o rir. – E... Que você tinha se... Casado...

            - Com quem? – ela perguntou, horrorizada.

            - Isso não importa... Já desmascararam a fraude... Mas foi com certeza a notícia que mais me perturbou... – ele confessou, desviando os olhos dos dela e a garota sentiu suas faces ruborizarem.

            Os dois ficaram em silêncio, Gendry segurou a pequena mão de Arya na sua e entrelaçou seus dedos, com carinho.

            - Então? Onde estava, milady? – a garota lhe deu um soco no ombro com força, fazendo-o rir.

            - Cala a boca! Sabe que eu não sou lady coisa nenhuma!

            - Seu pai era um lorde e sua mãe, uma lady...

            - E eu perdi ambos... Um dia, eu posso ter sido Arya Stark, mas hoje eu sou só uma órfã sem ouro, sem casa e sem nada!

            - Então você ainda não sabe? – ele perguntou, surpreso e ela franziu o cenho, sem entender. – Seu irmão Bran não está morto! E ele está bastante determinado a reerguer Winterfell! O... Novo rei... Seu primeiro ato foi oferecer a todos os protetores dos Sete Reinos toda ajuda que precisarem para reerguerem suas Casas...

            - Bran está vivo? – Gendry assentiu. – E Rickon? Tem notícias dele?

            - Ambos vivem e estão bem, milady! – ele sorriu e, apesar da felicidade, a garota tornou a esmurrar-lhe o ombro.

            - Eu vou ser uma lady quando você for rei! – ele gargalhou

            - É uma boa proposta... Mas eu tenho uma melhor: se eu for o rei, você vai ser minha rainha!

            - Você não se cansa de apanhar? – ela disse, ameaçadora e ele gargalhou ainda mais.

            - Eu não estou brincando, Arya! O que você precisa ouvir pra acreditar?

            - Eu não preciso ouvir nada... Nem acreditar em nada também... – ela tentou se soltar dos braços dele, mas não tinha força o suficiente e muito menos vontade de verdade.

            - Eu senti sua falta, milady – Gendry provocou-a, sorrindo e, antes que ela pudesse golpeá-la mais uma vez, uniu os lábios dos dois, pegando-a de surpresa.

            Aquele era o primeiro beijo que Arya recebia. Por mais longe que tivesse ido desde que deixara Winterfell com o pai e a irmã, por mais que tivesse aprendido e descoberto desde então, por mais madura que tivesse se tornado... Arya Stark ainda era inexperiente na arte de amar... E não era tão fácil como lutar com uma espada... Como ser uma dançarina da água... Para isso, havia técnica, professores... Mas Arya não tinha quem a ensinasse a amar...

            Ela sabia apenas sentir o amor... E como era bom senti-lo! Era melhor do que qualquer tipo de adrenalina que ela conhecera, cruzando os Sete Reinos e o Mar Estreito! E Gendry fora o único que a fizera sentir aquele sentimento pulsando dentro dela! Mas se sentia tão desajeitada agora que o tinha em seus braços, com os lábios dele unidos aos seus...

            Timidamente, a garota passou os braços pelo pescoço dele e ficou na ponta dos pés, pressionando seu rosto mais contra o dele. Gendry sorriu entre o beijo e apertou-a em seus braços, lentamente, aprofundando o beijo, fazendo a garota suspirar.

            Arya não estava temerosa apenas com o fato de ser seu primeiro beijo, mas também por ele ser mais velho do que ela... Mas o rapaz não parecia se importar nenhum pouco com isso enquanto a aproximava mais de si até que o ar dos dois acabasse e eles precisassem se separar.

            - Acredita em mim agora? – ele sorriu, deslizando o nariz pelo rosto dela.

            Arya sentia as faces queimando e seus pensamentos estavam em ebulição, ela conseguia pensar cada vez com menos clareza com o barulho frenético que seu coração fazia aos pulos em seu peito. Suas mãos suavam, suas pernas tremiam e ela respirava tão afobadamente que mal enchia os pulmões de ar.

            - Arya? Você está bem? – ele perguntou, se afastando minimamente para encará-la, preocupado com aquele silêncio. – Você está branca! Está passando mal?

            - Não... – ela conseguiu responder num fio de voz quase sem força e muito sufocado.

            - Precisa se deitar? Água? Alguma coisa? Por favor, peça! O que eu posso fazer? – ele disse, desesperado, mas ela sacudiu a cabeça negativamente e segurou-lhe o rosto entre as mãos para tentar tranquilizá-lo.

            - Eu estou bem – ela recuperou a firmeza e voltou a respirar normalmente. Seu coração ainda batia desesperado por mais carinhos de Gendry.

            - Não posso pegá-la de guarda baixa que quase me mata do coração? – ele tentou brincar, mas ainda segurava a mão na cintura dela com firmeza.

            - Tem de concordar que era a última coisa que eu esperaria você fazer... – ela respondeu, tentando não soar ingênua.

            - Por quê? Não tinha percebido ainda meus sentimentos por você?

            - Eu não tenho experiência nenhuma nisso... Eu vi muitos rapazes se apaixonarem pela minha irmã, mas nenhum deles era como você... Talvez porque eu não seja como ela...

            - Talvez... – ele deu risada. – Eu conheci a sua irmã...

            - Ela está bem?

            - Sim – ele sorriu. – Eu finalmente entendi porque você fica tão brava ao ser chamada de lady... Vocês duas não parecem nem conviver no mesmo meio... Ainda mais terem a mesma mãe...

            - Vou tomar isso como um elogio... – ela resmungou.

            - Não sei se é um elogio... Mas eu realmente fico grato por você não ser como sua irmã... Ela mal conseguiu disfarçar o desprezo por mim quando nos conhecemos...

            - Ela foi rude com você? – Arya perguntou, revoltada.

            - Teoricamente, ela não pode... – ele deu risada e a garota não conseguiu entender o que ele queria dizer.

            - Sansa não pensa antes de ser rude com os outros... – ela conhecia bem a irmã pra saber que não passa muito por sua cabeça antes de falar alguma coisa desagradável, principalmente para alguém de uma posição social inferior.

            - Eu não me importo se sua irmã não gostar de mim... É a outra Stark que eu quero! – as faces de Arya ficaram rosadas e ele as acariciou lentamente, puxando-lhe o rosto para colar-se ao dele mais uma vez pelos lábios.

            Nesse beijo, a garota não ficou tão nervosa e retribuiu com menos preocupação ao carinho, deslizando seus dedos por entre os cabelos do rapaz.

            - E o que mais aconteceu? Muitas foram as histórias que chegaram pra lá do Mar Estreito... Mas eu aprendi a confiar pouco no que ouvia dos outros... Muitos falavam dos Targaryen e de dragões... Histórias de pescadores de sereias do continente... – ele deu risada.

            - Daenerys Targaryen atravessou o Mar Estreito acompanhada de um exército e três dragões para tentar reaver o trono do pai... – ele contou, achando graça.

            - Aconteceu mesmo?! Tinha dragões?! Ela subiu ao trono?! – Arya perguntou entusiasmada, apertando os dedos do ferreiro entre os seus.

            - Ela chegou com seus três dragões, montada em seu grande dragão negro... Aegon, o Ressurgido, montou o segundo...

            - Aegon?! – a garota o interrompeu. – O filho de Rhaegar?!

            - Ele foi escondido e não morto como todos acreditávamos... Quando descobriu que a tia ressuscitara os dragões e partia para Porto Real, se uniu a ela. Mas a Patrulha da Noite os fez ver que trono nenhum seria mantido quando os Andarilhos Brancos chegassem aos Sete Reinos trazendo o Inverno Eterno... Alguma coisa do outro lado do Mar Estreito também tinha alertado a Mãe dos Dragões sobre o inverno e ela e os dois sobrinhos montaram nos três dragões e impediram o avanço dos Andarilhos... Os meistres de Cidadela acreditam que agora eles realmente foram extintos... Em breve, eles dizem, que os ventos do inverno vão se dispersar e as estações se restabelecerão aos poucos, como os Primeiros Homens as conheceram quando chegaram a Westeros...

            - Então, o trono de ferro é de novo dos Targaryen?

            - Bom... Daenerys realmente subiu ao trono e o povo a aclamou como a Mãe dos Dragões por ter salvado a todos do Inverno Gelado do Norte... Mas seus dragões começaram a adoecer depressa por causa da cidade e o meistre lhe disse que eles morreriam da mesma maneira que seus ancestrais no passado. A Mãe dos Dragões então preferiu voltar com eles para Meereen, do outro lado do Mar Estreito, para que eles sobrevivessem, do que manter o trono.

            - Então, Aegon subiu ao trono?

            - Ele preferiu ir para a Muralha com o irmão...

            - Que irmão? Aegon Targaryen tinha uma irmã!

            - Uma irmã legítima... Rhaegar teve um terceiro filho que foi criado como bastardo pela família da mãe, que temeu que lhe acontecesse o mesmo que houve com os outros Targaryen se descobrissem o menino... Quando ela morreu, ninguém soube que tinha sido mulher do Príncipe Dragão, a não ser seu irmão... Eddard Stark...

            Arya arregalou os olhos, de surpresa e entendimento.

            - Jon...?

            - Seu irmão bastardo, conhecido como Jon Snow, senhor Comandante da Patrulha da Noite, na verdade é Jon Targaryen.

            - Jon...? Um Targaryen? – ela inspirou com surpresa. – Ele então já retornou à Muralha?

            - Ele é agora senhor Comandante, não pode ficar por muito tempo fora da Muralha... Mas disse que voltaria em breve para conversar com... Com o rei... Dessa vez, a Patrulha da Noite terá de ser mais ouvida e mais guarnecida pelo rei... Se eles são o escudo do reino, o reino também terá de zelar por ela... Sem contar que o reino tem uma dívida com Jon... E com os Targaryen! Por todos os Sete Reinos, se ouve canções sobre os três dragões ressurgidos de Rhaegar!

            - Jon... Sempre foi meu irmão preferido... – ela confidenciou.

            - Ele está desesperado à sua procura... Desde que partiu, já me enviou três corvos, querendo saber se tive notícias suas... E ainda nem está próximo de chagar a Muralha...

            - Por que a você? – ela quis saber e ele lhe afagou a face.

            - Somos irmãos unidos nessa causa... – ele explicou, fazendo-a sorrir. – Vou ficar feliz em finalmente poder lhe dizer que encontrei sua irmãzinha... Ou melhor, sua priminha! – o rapaz deu risada. – Ele me contou que foi ele quem lhe deu Agulha!

            Arya sorriu. Jon também era uma pessoa de quem ela sentia muita falta!

            - Quem diria que Jon era filho de Rhaegar e Lyanna...

            - Muitas canções sobre eles também têm sido cantadas pelos Reinos... A história do amor proibido entre o Dragão de Fogo e a Loba de Gelo...

            - Fará Sansa chorar... – a mais nova zombou.

            - Ficaria surpresa com a quantidade de pessoas que deixou de chamar os Targaryen de loucos por causa de Jon...

            - Eu sempre soube que Jon tinha algo muito maior do que ele em seu destino!

            - Ele diz o mesmo sobre você! – Gendry sorriu. – O carinho dele por você até me enciumou, no começo...

            - Bobo! Jon sempre será meu irmão! – ela afagou os cabelos da nuca do ferreiro. – Você, no entanto, sempre foi diferente pra mim... – sua voz saiu lindamente acanhada e ele a puxou para um beijo novamente.

            - Mesmo eu sendo só um ferreiro?

            - E eu por acaso sou a Sansa pra desejar que você fosse um príncipe? Você me conhece e eu conheço você... E é o que deve importar! – ele sorriu. – Mas, espera... Com Jon e Aegon na Muralha... A família Targaryen vai morrer, não vai?

            - Acho que Aegon não pretende se unir à Patrulha da Noite... Ele só... Bom... Ele quer conhecer melhor o irmão, né?

            - Mas ele não quis o trono por que então? – Arya perguntou, confusa.

            - Ele quis... Mas ele teve alguns de seus planos frustrados quando Daenerys foi embora... Ele queria que ela fosse sua rainha, mas ela preferiu os dragões ao trono e lhe disse que não pretende se casar de novo... Ela foi casada com um Khal dos Dothrakis do outro lado do Mar Estreito e ainda jura amor pelo falecido marido...

            - Deixe-me adivinhar... Mais uma canção sobre os Targaryen? – ela deu risada.

            - Os cantores tiveram no que trabalhar com o fim da guerra... Pelo menos, os que sobraram...

            - Mas por que ele não escolheu outra rainha, então?

            - Na verdade, ele me pareceu bastante satisfeito em não ter de assumir o trono... E Jon também... Aegon parece ter planos de atravessar o Mar Estreito e passar uns tempos com a tia e seus dragões depois de uma temporada na Muralha e não poderia fazer isso se fosse o rei...

            - Então, quem é que está sentado no maldito trono de ferro? – Arya perdeu a paciência, fazendo Gendry rir.

            - Robert teve muitos bastardos, você deve saber... De cabelos escuros, bem diferentes dos filhos da Rainha Cersei... – ele explicou.

            - Mas Joffrey mandou matar os filhos ilegítimos do rei quando subiu ao trono! Até mesmo os bebês!

            - Sim, é verdade... Mas dois desses... Filhos ilegítimos do rei conseguiram escapar da ira do Pior dos Reis Loucos, como as pessoas passaram a chamá-lo... Um deles esteve com os irmãos de Robert, primeiro com Renly, depois com Stannis... Mas morreu afogado no naufrágio do Prendos Louco... Dizem que foi a magia negra de Melisandre que causou a morte dele, assim como a derrota de Stannis... Ela está encerrada em uma das masmorras mais escuras e esquecidas de Pedra do Dragão, agora... Assim como a Rainha Cersei Lannister.

            - E o outro?

            - O Regicida?

            - Não, o outro filho bastardo do rei Robert!

            - Ah... Ele... – Gendry respondeu, coçando a parte de trás de sua cabeça, desconfortável, sentindo as orelhas queimando. – Ele foi convencido pelo seu irmão a assumir o trono... Apesar de ainda achar uma grande loucura! Mas sabe como Jon sabe ser convincente, não sabe?

            - Mas deixaram que um bastardo assumisse o trono?

            - Quando é o que precisam, todos estão dispostos a legitimar um bastardo... – ele riu, amargurado.

            - Reestruturar o reino depois dessa guerra e desse inverno não vai ser uma coisa fácil...

            - É o que me dizem – ele respondeu, pesaroso. – Mas não será um trabalho apenas do rei... Todos estão finalmente juntos por alguma causa... Pra reerguer o reino e dar início à primavera dos Novos Tempos! Estão bastante esperançosos!

            - E como é esse novo rei? Ele se parece com o rei Robert?

            - Dizem que não... – as orelhas de Gendry tornaram a se incendiar de vermelho escarlate, como o fogo dos dragões. – É um rei menino, apesar de ser mais velho do que Joffrey e bem mais velho do que Tommen... Acho que se parece mais com um bobo! – ele gargalhou, horrorizando-a. – E ainda não tem uma rainha...

            - Acredito que não faltarão candidatas para ocupar esse posto...

            - É o que me dizem... – ele encolheu os ombros. – Mas o rei sabe quem ele quer como sua rainha... Ele só tem medo que ela não aceite... Porque ela deve ser a única moça nos Sete Reinos que prefere correr perigos e lutar com espadas do que ser uma princesa...

            O olhar dos dois se encontrou e Arya pode entender a verdade por trás de todas as palavras não ditas de Gendry. Lentamente, ela boquiabriu-se e seus olhos se arregalaram de espanto.

            - Você é o rei – ela disse quase sem voz, sem precisar que ele confirmasse nada. – Por que não me contou logo? Eu quero bater em você agora e não posso mais! – ele gargalhou.

            - Exatamente por isso! Quero que seja minha mulher, Arya... Mas agora ser minha mulher significa ser minha rainha também! Eu queria que aceitasse se casar comigo, mas não seria justo sem contar as consequências disso primeiro...

            - E ficou me enrolando então! – ela disse, brava, com um toque de desespero na voz.

            - Eu não estava enrolando... Estava ganhando tempo...

            - Ganhando tempo pra quê?

            - Pra pensar em como eu poderia te fazer aceitar isso...

            - Isso?! Com isso você quer dizer “ser rainha”?! – ela bufou, fazendo-o bufar também.

            - Ser minha rainha! Isso é tão ruim assim? Ou prefere que eu me case com uma das outras candidatas que disse que não me faltarão? – ele provocou, fazendo-a morder a raiva e hesitar.

            - Todas elas serão como Sansa! – ela rebateu, enciumada.

            - Exato! Por isso, eu quero você! Podem existir milhares de “Sansas” dispostas a serem rainhas, mas só há uma Arya que seria minha Arry, minha Doninha, minha Pombinha, minha Nan... Quantos nomes mais teve? – ela riu.

            - Muitos mais, Vossa Graça – ela se curvou, numa reverência zombeteira e ele cruzou os braços e torceu o rosto numa careta.

            - Seja minha rainha e me chame só de Gendry!

            - É um pedido ou uma ordem, Vossa Graça? – ela tornou a chamá-lo para provocá-lo.

            - Um pedido, milady – ele rebateu, ajoelhando-se diante dela.

            - Gendry, levanta – Arya sentiu o rosto corado. – Se te virem ajoelhado assim... Droga, Gendry, você é o rei...

            - Eu abro mão do trono, se você quiser!

            - Você tem um dever com o reino! Levanta daí antes que alguém mais nos veja, idiota! – ela o puxou, mas ele não se moveu.

            - Só com uma resposta. Você só precisa me dizer “sim” ou “não”, Arya, e eu me levanto...

            - Sem um anel? – ela desdenhou.

            - Achei que você ia preferir escolher você mesma, uma coisa que tivesse mais a nossa cara, mas, se for assim tão importante pra você, tenho um diamante enorme que você poderia usar... – ele brincou e os olhos dela se arregalaram de horror.

            - Levanta daí, idiota! Não posso te dar sua resposta se ficar me pressionando desse jeito!

            - Não estou te pressionando... É fácil: você quer ser minha esposa ou não quer!

            - Essa não é a pergunta difícil de responder, idiota!

            - Está chamando seu rei de idiota, Arya Stark! – ele riu.

            - É claro! Ele fica ajoelhado diante de mim, sem me dar saída! E você mesmo o chamou de bobo!

            - Meu joelho está começando a doer, Arya... Pode me dar sua resposta? Por favor? – os olhos dela se encontraram com os dele e isso a fez fraquejar.

            - Eu seria uma péssima rainha! Eu não sei dar bailes, nem me portar como uma lady, não sei educar príncipes e princesas, não sei cantar ou tocar harpa...

            - Graças aos deuses! Eu odeio garotas que tocam harpa! – ele riu.

            - Eu não estou brincando, Gendry!

            - E eu muito menos! Eu também não sei ser rei! Nós vamos aprender juntos! Você é tudo que eu quero pra mim! Eu nunca desejei ser um príncipe ou um rei ou ter o reino dessa forma... Como um bastardo, eu aprendi que não tinha o direito de desejar nada, porque nada nunca seria meu... Mas, quando nos conhecemos, eu não consegui não desejar você!

            - Espero que não quando pensou que eu fosse um menino... – ela brincou, fazendo-o se contorcer novamente numa careta.

            - Você não me enganou por muito tempo... Mas quando eu descobri que você era uma lady... Eu tentei tirá-la da cabeça! Porque era pior do que você ser um menino! Só que você era toda diferente e irresistível e eu me peguei pensando em roubá-la pra mim, em fugir com você pro continente e voltar casado pra que aceitassem nossa união de qualquer jeito... Você foi o argumento que Jon usou pra me sentar no trono!

            A garota segurou o próprio rosto, tampando os olhos.

            - Não me peça em casamento desse jeito! Vai me fazer suspirar como uma garotinha romântica... – ele deu risada.

            - Por favor, Arya!

            - Ser rainha vai precisar ser muito melhor do que realmente parecer ser... – ela gargalhou, tornando a olhá-lo.

            - Isso é um “sim”?

            - É um “sim”, bobão!

            Gendry se levantou e pegou Arya pela cintura, erguendo-a do chão, girando-a bem segura em seu colo e uniu os lábios dos dois.

            - Eu te amo, minha rainha! – Arya revirou os olhos.

            - Espero que tenha certeza disso, Vossa Graça, porque amar uma Stark não é coisa fácil... – a garota deu risada. – Eu te amo também, Gendry!

            - Achei que nunca ouviria isso de você, milady! – ela lhe deu um tapa no ombro.

            - Idiota! – ela puxou-lhe o rosto e selou os lábios dos dois, tomando a iniciativa pela primeira vez e surpreendendo-o. – Meu amor por você nasceu ainda no outono, meu rei...

            - Nosso amor irá desabrochar a primavera, milady!

            - E com você, será sempre verão!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

mereço reviews?