Sr. Homero sai e deixa Laura e Edgar sozinhos. Eles se olham mas não sabem exatamente o que dizer.... Laura resolve falar para quebrar o gelo...

Laura: E então? No que posso te ajudar?

Edgar (irritado): Talvez a eu entender o  que você está fazendo aqui...

Laura: Você não está vendo? Estou trabalhando...

Edgar: Não me refiro a isso... como você está aqui?... quando voltou?

Laura: Edgar... isso já não lhe diz  mais respeito... eu estou no meu ambiente de trabalho... não vou discutir contigo aqui... 

Edgar (olhando ao redor e vendo que há pessoas pelos corredores): Tudo bem... mas precisamos conversar...

Laura: Não temos nada para conversar... e se não precisa de ajuda... com licença... tem outras pessoas que precisam de auxilio...

Edgar: Pode ir... eu peço para outra pessoa me auxiliar...

Laura: Edgar... por favor... eu preciso desse emprego... se você fizer isso pode me prejudicar... sei que não se importa... mas...

Edgar: Quem disse que não me importo? (suspira) Eu preciso encontrar o registro de imigração de um senhor português... Eugênio Almeida do Carmo... deve ter vindo ao Brasil por volta de 1802...

Laura: Vou procurar nos arquivos... precisa desse  registro para logo?

Edgar: Se conseguir até amanhã... preciso desse dado para um processo.... 

Laura: Está bem... procuro e deixo na recepção... mais alguma coisa?

Edgar: Não... com licença...

Edgar sai... no caminho encontra novamente com Sr. Homero

Sr. Homero: Encontrou tudo o que procurava?

Edgar: Na verdade sua funcionária vai precisar pesquisar o arquivo... é um documento muito antigo...mas foi muito prestativa...

Sr. Homero: Sim... a Sra. Vieira realmente tem se mostrado uma ótima funcionária...

Edgar: E... como veio trabalhar aqui?.. que eu saiba ela é professora... 

Sr. Homero: Sim... mas se encaixa no perfil....  na verdade... fiquei com pena dela... resolvi dar-lhe uma oportunidade... e não me arrependo...

Edgar: Pena?

Sr. Homero: Sim... pobre moça... viúva tão cedo...arcando com as responsabilidades da família sozinha....

Edgar: Viúva?

Sr. Homero: Sim... me parece que seu marido era advogado...

Edgar (tentando disfarçar a raiva): É... realmente é uma pena... Sr. Homero... até que horas o Arquivo Nacional fica aberto? Não sei se conseguirei buscar o documento que preciso a tempo amanhã...

Sr. Homero: Ficamos até às 17:30hs

Edgar: Certo... até mais ver...

São 17:00hs. Edgar está revoltado... não vai sair dali sem que Laura lhe dê explicações... fica perto a um pilar da saída do prédio e espera o expediente terminar. Os minutos não passam...Edgar está cada vez mais nervoso... Enfim chega o horário de fechamento da instituição.  Ele vê Laura se aproximando e barra sua passagem...

Edgar: Eu disse que precisamos conversar...

Laura: E eu disse que não temos nada a dizer... agora com licença....

Edgar: Como não tem nada a me dizer...depois de quatro anos sem dar notícias você resolve voltar... e não tem a capacidade de me avisar... você se divorciou de mim.. mas eu continuei casado com você... morando na mesma casa... sustentando uma mentira criada pela sua mãe...  só para proteger você... 

Laura: Eu não pedi para fazer isso...

Edgar: Eu fiz por me preocupar contigo... mas agora isso não importa mais...  você seguiu sua vida como se nada tivesse acontecido... enquanto eu fiquei aqui... nesse inferno

Laura:  É o que fiz  e é o que vou fazer... e você proporcionando esse espetáculo em frente ao meu trabalho está me atrapalhando muito... 

Edgar: Não tenho a intenção de atrapalhar... deve ter dado muito trabalho conseguir essa vaga... até me matar você matou...

Laura: Como?

Edgar: Você mentiu para o Sr. Homero... ele me disse que você é viúva...  

Laura: Eu não disse ao Sr. Homero que sou viúva... disse que meu marido era advogado... menti por acaso?

Edgar: Não... mas omitiu o divórcio...

Laura: Ele entendeu errado... 

Edgar: E você se beneficiou de um erro...

Laura: Chega Edgar... isso já está indo longe demais...primeiro você vai até a fazenda... depois vai até a casa dos meus pais...  agora vem até aqui... 

Edgar:  Eu precisava vir aqui... não sabia que ia te encontrar.. Mas quanto ao resto.. fui te procurar sim... Laura... o que você queria me  dizer naquela  carta?

Laura: Interessante você só lembrar de pedir isso depois de tanto tempo...

Edgar: Eu não pude ler... ela se extraviou...

Laura: E só agora quer saber o que continha? Por favor...

Edgar: Eu achei que se fosse importante você iria escrever novamente.... como não escreveu... pensei que não tinha importância...

Laura (irônica) Realmente...  não tinha importância nenhuma.. e agora... se me dá licença... preciso ir...

Edgar: Não foi o que seu pai me deu a entender... Laura... me diz o que tinha escrito naquela carta... eu preciso saber...

Laura: Não tenho culpa de você não ter lido... e o que estava escrito não interessa...  não te interessou naquele momento... não vai interessar hoje... 

Ela sai dali sem olhar para trás... Vai para casa...Está angustiada... Olha para seu filho e tem vontade de chorar. mas controla-se... não quer que Daniel note... Gertrudes percebe... depois que o menino dorme ela conversa com Laura

Gertrudes: O que aconteceu?

Laura: Nada

Gertrudes: Menina... eu te conheço... 

Laura: Ele me encontrou Gertrudes... o Edgar me encontrou...

Gertrudes: Você sabia que era um arriscado... e como foi?

Laura: Estranho.... ele foi fazer uma pesquisa lá na instituição... e ficou me esperando do lado de fora até o final do expediente...Nós discutimos...ele me mostrou o quanto está ressentido... acho que a gente não vai conseguir se entender nunca mais...

Gertrudes: E se ele voltar ao seu trabalho?

Laura: Ele vai voltar... eu não estava preparada para esse reencontro... mas vou ter de enfrentar...

 Gertrudes: E do Daniel? Ele sabe?

Laura: Não... ainda não... e se depender de mim não vai saber... 

Gertrudes: Menina... isso não é bom... vai ser pior se ele souber por outra pessoa... 

Laura: Eu tentei contar... se ele não leu a carta...não posso fazer nada...

Gertrudes: Laura... mudando um pouco de assunto... sua amiga... Isabel... mandou um telegrama avisando que vai  chegar aqui dois dias... e pediu se a senhora pode providenciar que façam uma limpeza na casa que ela comprou... ela pediu para uma tal de Matilde... mas precisa que alguém ajude essa moça....se  você quiser posso ir lá...

Laura: Não Gertrudes... pode deixar... eu mesma faço isso...

 Edgar está na sala de jantar..  não toca na  comida...fica pensativo.. tem certeza que naquela carta havia algo importante... mas como vai saber? Fez tudo errado.. não devia ter falado daquela maneira com Laura... mas como queria que ele reagisse? Ela some e volta como se nada tivesse acontecido... ele reorganizou sua vida... e agora ela aparece  para bagunçar tudo... principalmente seus sentimentos...

Matilde observa o patrão. Está triste... amargurado... não sabe se deve pedir o que pretende... mas precisa...

Matilde: Dr. Edgar?

Edgar: Sim, Matilde...

Matilde: Desculpe... mas  preciso pedir algo

Edgar: Pois não

Matilde: A D. Isabel me mandou um telegrama pedindo se posso ir até sua casa nova para fazer uma limpeza... o senhor me permite?

Edgar: A Isabel está voltando? Que bom... Ela é uma ótima pessoa...pode ir sim... Ela comprou a casa da ex-patroa, não? Aquela casa é grande e estava fechada a bastante tempo... você vai ter bastante trabalho...

Matilde: Sim... mas a Isabel me escreveu que pediria a D. Laura para encontrar alguém para me ajudar.... Ai... desculpa seu Edgar...

Edgar: não se preocupe... Isso quer dizer que a Laura vai estar lá... Matilde... quero que me faça um favor... (ele levanta e vai ao escritório... escreve algo e volta) entregue isso a Laura... preciso pedir desculpas pelo que ocorreu hoje...diga-lhe que espero uma resposta...