Laura e Edgar- Um romance desde o Início escrita por Nanda


Capítulo 121
O Sanatório




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/344922/chapter/121

Com a névoa densa daquela madrugada, o automóvel trazendo Constância volta a adentrar o local onde horas antes deixara sua filha... Sem sucesso fora para casa e tentara repousar... A lembrança de que sua menina fora internada em um sanatório não lhe sai do pensamento... Apesar da conversa com o Dr. Amorim, sente-se inquieta... Sente a necessidade de verificar que Laura está apenas sedada, mas bem... Após identificar-se, anda pelo largo corredor, tão silencioso àquelas horas, que o som de seus passos parece muito maior do que de fato é... Tenta abrir a porta do quarto de Laura e percebe que fora trancado... Força a maçaneta e como não consegue abri-la vai até a sala do médico responsável...
Constância: Dr. Amorim! O que está acontecendo? Por que o quarto de minha filha está trancado?
Dr. Amorim: D. Constância! Pensei que a senhora já tivesse ido!
Constância: Resolvi dar uma olhada em Laura... Precisava ver se ela está mais calma...
Dr. Amorim: Certamente... Sei que a senhora deve estar preocupada... A porta trancada é um procedimento que adotamos aqui...
Constância: Ah sim... Dr. Amorim... Não tente enganar-me!... Houve algo aqui?
Dr. Amorim: Nada que não pudesse ser controlado... D. Laura acordou um tanto inquieta... mas já está mais calma...
Constância: Eu quero vê-la...
Dr. Amorim: Claro... Acompanhe-me...
Constância segue o médico e pede para entrar sozinha no quarto onde Laura se encontra, não recebendo objeção por parte daquele senhor... Entra e surpreende-se ao ver que a filha está acordada e andando de um lado a outro daquele comodo...
Laura: Mãe! Como pôde? A senhora me trouxe para um sanatório!
Constância: Fiz o que devia ser feito! Depois do que você fez...
Laura: Do que eu fiz?
Constância: Você precisava descansar... pensar... refletir... Você tem noção do que você fez?
Laura: Como a senhora me trouxe até aqui?
Constância: Isso não importa!
Laura: A senhora vai me tirar daqui agora!
Constância: Você está escrevendo para um jornal! E ainda tem a capacidade de acusar teu próprio sogro! O que diabos passa pela sua cabeça, menina? Eu não te criei para isso!
Laura: Eu escrevi a verdade! E preciso falar mais sobre este senhor, que de mim perdeu completamente a consideração! Confesse... foi ele quem lhe convenceu a me trazer para cá, não é? Logo todos saberão quem é Bonifácio Vieira... É só eu sair daqui!
Constância: Você não vai sair daqui tão cedo!... Pelo seu próprio bem...
Laura: A senhora é louca!
Constância: Você é louca! Tanto quanto qualquer mulher internada aqui! O médico me explicou... Todas elas foram internadas por terem comportamento como o seu... Fizeram algo contra a família... contra os costumes... Abandonaram o marido... Insistiram em não ter filhos... Quiseram manter-se pelas próprias pernas... Como eu não percebi antes? Aquele seu agarramento com os livros... Sua mania de independência a qualquer custo... Não era só rebeldia... Era loucura!
Laura: O que a senhora fez para ser convencida a me internar eu não sei... Mas sei o que ele fez... Algo muito pior que loucura... Uma monstruosidade!
Constância: Basta! Você vai ficar aqui e pensar no que fez!
Laura: O Bonifácio é pai da Melissa!
Constância: Você está delirando!
Laura: Não... não estou! E tenho testemunhas do que estou dizendo! Catarina foi amante de Bonifácio Vieira enquanto estava no país em 1903... Esse homem sempre soube que Melissa é sua filha... E por isso sempre evitou a menina!.. É chantageado por Catarina para que ela não fale a verdade... A senhora, que diz que o único que lhe importa é a sua família, está ajudando um homem que não se importou com o divórcio do filho e nem com o tão temido escândalo que isso provocaria para os Vieira e os Assunção, baronesa!... preferiu ver o Edgar criar aquela menina pensando que era sua filha quando é na verdade sua irmã!... Viu o Fernando envolver-se com sua ex-amante e não tomou uma atitude sequer!... E agora me mantém aqui para que eu me cale! Mas quem mais sabe não vai calar! Esse homem é um monstro e vai pagar pelo que fez!
Constância: Você realmente está precisando de ajuda, Laura... Agora tenho certeza que traze-la para cá foi a atitude mais acertada...
Laura: Mãe... eu não sou louca! Acredite! Estou falando a verdade...
Constância: Chega Laura! Já ouvi o bastante!
Enfermeira (entrando): Algum problema aqui?
Laura: Sim... Quero sair daqui! Chamem meu marido!
Constância (puxando a funcionária para um lado): Ela continua transtornada.... por favor... tentem acalma-la... (olhando para Laura) Filha... melhor eu ir... você precisa de repouso... (saindo sem olhar para trás)
Laura : Eu preciso que me tirem daqui!
Enfermeira: D. Laura, acalme-se... Tome... Isto vai lhe fazer bem...
Laura resolve não impor resistência e aceita o comprimido sendo após algum tempo conduzida ao leito... A enfermeira, imaginando que o medicamento já começara a surtir seu efeito, encaminha-se para a porta, que mantém destrancada visto que agora a paciente não oferecerá perigo... Enquanto isso, no automóvel, Constância segue pensativa... Laura obviamente estava falando a verdade!... Bonifácio é mais vil do que imaginara... Pai da bastardinha! Se sua família teve a reputação abalada por conta do divórcio da filha, muito se deve logicamente ao gênio irascível de Laura, mas nada teria acontecido se ele, o verdadeiro pai, tivesse arcado com a responsabilidade... Deveria ter dado um sumiço em Catarina e Melissa e nada disso teria acontecido!...Perto do que fizera, sua traição era pouca coisa!... A baronesa pensa como pode usar isso a seu favor... Precisa ter uma conversa com o Sr. Vieira... Mas no momento... o melhor que tem a fazer é ir para casa... E pensar em como exatamente usar essa informação...
Já no sanatório, após alguns segundos da saída da enfermeira, a professora, que aparentava estar sedada, expele o fármaco que mantinha na boca e levanta-se... A enfermeira caíra em sua atuação... Mantem-se algum tempo próxima a porta verificando se há alguém pelo corredor... Como não há nenhum sinal de movimentação abre com cuidado e anda tentando não fazer ruído... Não sabe ao certo o caminho, mas acaba por encontrar a saída... Analisa... Há um guarda dormindo... Isso é providencial!... Sem que o homem perceba, gira a chave e abre a fechadura... Mais alguns passos e estará livre... Mas... não contava com a presença de mais um vigia com um cão... Mede a distância entre o local onde está e a estrada... Tenta correr... O peso do ventre não ajuda... O guarda percebera sua presença... Corre até onde está... Ela tenta sem sucesso fugir... É inútil!... Logo é detida... Debate-se... Grita por socorro e afirma que não é louca... Com a movimentação, os enfermeiros correm para o pátio... Laura inala novamente éter... Completamente sedada é carregada para o interior do sanatório novamente... O médico, que assistira a cena, não vê outra alternativa... A professora deve ficar isolada...
Mais algumas horas passam... Os primeiros raios de sol despontam no horizonte, quando Alberto Assunção Filho entra na sala da casa de seus pais... Cansado após uma noite toda de vigília no quartel, anda devagar, com a intenção de não despertar o resto da residência que supostamente dorme, em direção às escadas... O único que precisa é de um bom banho e de sua cama... Está prestes a atingir o andar superior quando batidas rápidas e fortes na porta o fazem voltar...
Albertinho: Edgar? Entre... O que te traz aqui tão cedo?
Edgar: A Laura está aqui?
Albertinho: Que eu saiba não... Acabei de chegar... Edgar.... O que aconteceu?
Edgar: Ela não voltou para casa...
Constância (descendo as escadas e entrando na sala): Edgar... o que está dizendo? Como assim, Laura não voltou?
Edgar: Não voltou... Já falei com todos os amigos... fui a todos os hospitais!.. D. Constância... por favor... se ela está aqui...
Constância: Ela não está aqui!... Não vejo a Laura tem alguns dias... Vocês brigaram de novo? Não precisa me poupar...
Edgar: D. Constância a última coisa que quero é poupar a senhora... Eu quero encontrar a Laura!...
Albertinho: Na escola? Mesmo sendo à noite...
Constância: Isso me deixa mais preocupada... Será que ela subiu o morro? Com um bando de bandidos a solta... Eu bem disse que aquela escola não era lugar para ela...
Edgar: D. Constância... ela não foi ao morro... Ela saiu da tecelagem para ir para nossa casa... e simplesmente não chegou!... Eu vou procurar... Nem sei mais onde ir...
Albertinho: Espere!.. Eu vou com você...
Edgar: Não Albertinho... você saiu de seu turno no quartel agora... Precisa descansar...
Albertinho: Como descansar com minha irmã sumida?
Constância: Albertinho... Edgar tem razão... Cansado você só iria atrapalhar...
Edgar: Ademais... Albertinho... tem algo que preciso te contar...
Albertinho: Diga
Edgar: Além de Laura ter sumido... Ao sair da tecelagem, Filipa, Manoela e Joaquim sofreram um atentado
Constância: Um atentado?
Edgar: Sim... alguém começou a dar tiros em direção a eles... Acertaram Joaquim...
Albertinho: Deus! Como eles estão?
Edgar: Pelo que Manoela me falou... Foi um susto... O Joaquim está internado na Santa Casa mas fora de perigo...
Albertinho: Eu vou ver como eles estão...
Edgar: E eu vou continuar com minha busca...
Constância: Edgar... mantenha-me informada...
Edgar: A senhora também... Com licença...
Constância: Albertinho... descanse um pouco... Depois vá ao hospital... Sua noiva deve estar precisando de você
Albertinho: Claro... Sabe o que me impressiona mais? A senhora acaba de saber que sua filha está desaparecida e parece não estar nem um pouco preocupada com o que aconteceu com ela!...
Constância: Não diga besteiras! Estou aflita.... morta de preocupação!
A baronesa sobe as escadas... Já em seu quarto senta-se em frente à penteadeira e olha para a imagem refletida a sua frente... Constância vê-se acuada... atormentada... Tudo que sempre fez foi pensando em proteger sua família... Bonifácio é um homem perigoso... Que não mede as consequências para conseguir o que quer... Certamente foi o mandante do atentado contra as moças na saída da tecelagem... Tem medo do que o político tem em mente para Laura... Precisa fazer algo.... Antes que o pior aconteça...
Com estes pensamentos vai ao cabideiro pegando um chapéu e sua bolsa... Desce as escadas e percebe que o filho está ao telefone...
Albertinho: Tem certeza que não quer que vá até aí?
Manoela: Não há necessidade... Assim que a médica chegar, provavelmente dará alta ao Joaquim... E vocês tem algo bem maior para se preocupar... Ajude Edgar... Tememos pelo que pode acontecer com Laura...
Albertinho: O que você sabe, Manoela?
Manoela: Quando puder te conto... Estão me chamando aqui... Até logo
Albertinho: Até logo ( colocando o bocal do telefone no aparelho e dirigindo-se a Constância) Vejo que vai sair... Onde a senhora vai?
Constância: Como está o rapaz? Estavas falando com Manoela, suponho
Albertinho: Fora de perigo... Pretendo fazer uma visita a ele assim que as coisas estiverem mais calmas... Assim que minha irmã aparecer... Isso tudo é muito estranho! Onde ela estará?
Constância: Ela vai aparecer... O Edgar não quis dizer... Mas ainda creio que andaram se desentendendo... Sua irmã é voluntariosa... Ainda mais com o orgulho ferido... Assim que colocar os pensamentos no lugar deve voltar para casa...
Albertinho: A senhora não me disse onde vai...
Constância: À igreja... Nestas horas a oração sempre ajuda... Vou rezar para que Laura recupere o juízo e volte para casa...(fechando a porta)
Albertinho espera a mãe sair... Tem a impressão de que algo não está certo... Anda até a rua e pega o primeiro coche que vê...
Albertinho: Siga aquele automóvel... Mas mantenha alguma distância!...
Enquanto o militar segue a mãe, na casa dos pais de Edgar, Margarida prepara-se para sair... Não sem antes notar o marido sentado em sua poltrona favorita lendo tranquilamente o jornal...
Margarida: Bonifácio! Como pode se manter tão calmo diante de tudo o que está acontecendo?
Bonifácio: Querida! Já tomei as medidas cabíveis... Logo todos saberão que as informações noticiadas ontem naquele pasquim não passam de calúnias!
Margarida: Mas é incrível! Sua nora desapareceu.... A administradora da tecelagem sofre um atentado... E você só pensa em sua imagem como político!
Bonifácio: Oras... e o que quer que eu faça a respeito? Não é a primeira vez que Laura abandona nosso filho...
Margarida: Bonifácio! Como ousa insinuar isso? Eles estão bem... tem um filho... estão esperando...
Bonifácio: E por acaso isso a impediu antes de divorciar-se? Que me lembre... ela também estava grávida..
Margarida: Não vou ficar discutindo com você... Vou até a casa de Edgar... Ele precisa de meu apoio... (indo em direção a porta)
Bonifácio: Faça isso...
Quando vê-se sozinho, Bonifácio cofia seu cavanhaque pensando no próximo passo a ser dado... Laura está neutralizada por enquanto... Espera que esse período no sanatório lhe sirva para pensar e ficar calada... Apesar de tudo, a moça espera um filho legítimo de seu filho... É sua linhagem... Seria uma lástima ter de proceder de outra maneira com ela...
O político volta a ler seu jornal... Enquanto isto, na casa do Bairro Laranjeiras, as crianças despertam e começam a preparar-se para o dia... Tomam o desjejum, não com a algazarra costumeira... Estranham a ausência de Laura e a presença da tia Celinha...
Melissa: Que bom que a senhora está aqui! Mas... por que a tia Laura não está em casa?
Daniel: A mamãe já foi para a escola?
Celinha: Não meus amores... A Laura foi ajudar uma amiga com um problema... Assim que ela puder ela volta...
Gertrudes (próxima a mesa): Crianças... terminem o café... Melissa.... nós temos que ir para a escola
Melissa: Você vai me levar, Tude?
Celinha: Sim, Melissa... A Gertrudes vai contigo... E o Daniel e eu vamos brincar... Com que quer brincar meu anjo? Castelo?
Daniel: Pode ser... Eu sou o cavaleiro que salva a princesa... Você pode ser o dragão...Mas quem vai fazer a princesa? Sempre é a mamãe...
Celinha: Bem... acho melhor brincarmos com teus carrinhos então...
As crianças terminam com sua refeição e sobem para seus quartos a fim de terminarem com a toilette matinal. Já longe dali, Laura com esforço abre os olhos... Sente suas pálpebras pesadas... Não consegue distinguir onde está... Apesar da penumbra do lugar, aos poucos percebe que tudo ao seu redor é branco... Estranha... Não está em uma cama... Mas está em algo macio... A medida que sua visão ganha nitidez, o terror lhe percorre a alma... Não consegue mover os braços... Está amarrada... Enjaulada como um animal... Chora... Lembra tudo o que se passara nas últimas horas... Pensa em como sua mãe teve coragem de coloca-la ali... E se algum dia conseguirá sair daquele lugar...
Enquanto isto, em frente a casa do advogado, escondida entre as árvores do outro lado da rua, Catarina há algum tempo observa a movimentação estranha daquela residência...Vira Edgar sair de casa ainda madrugada... A chegada de D. Margarida... A saída de sua filha acompanhada por uma das empregadas e não por Laura como o costume... A presença da tia da professora quando Daniel fora se despedir da irmã na varanda... Há algo errado ali... Precisa descobrir o que está acontecendo... Melhor seguir a filha e a empregada... Certamente irão até a escola... No morro deve descobrir o que está se passando...
Enquanto a cantora segue Melissa e Gertrudes até a escola, longe dali, Albertinho não crê quando o automóvel onde sua mãe está para em frente ao sanatório da capital. Vê a baronesa desembarcar e com passos rápidos entrar naquele local... Algo lhe passa pela cabeça... Mas não acredita que Constância seria capaz de tal coisa... Já dentro daquela instituição, a baronesa vai até o quarto destinado a sua filha... Abre a porta e depara-se com uma enfermeira arrumando o leito vazio
Constância: Bom dia...
Enfermeira: Bom dia
Constância: Onde está minha filha? Não me diga que está no pátio junto às outras internas! Eu disse que ela não era uma paciente como as outras...
Enfermeira: Não... eu vou encaminha-la até o médico...(levando Constância até a direção do hospital)
Dr. Franklin: Bom dia
Constância: Bom dia... Onde está o Dr. Amorim?
Dr. Franklin: Teve um problema pessoal e pediu licença
Constância: Mas ele é o médico responsável pelo tratamento de minha filha
Dr. Franklin: A partir de agora, eu passarei a cuidar de D. Laura... E pelo que vi na ficha terei de fazer várias modificações... Claro... respeitando seu estado gestacional... Mas... assim que tiver dado a luz entraremos com terapia adequada.. O tratamento estava muito brando... Sua filha tentou fugir... Por isso mesmo ela não está aqui...
Constância: O senhor escute aqui... Minha filha não é louca... E eu quero vê-la... Agora!
Dr. Franklin: Impossível!... O tratamento agora é de total reclusão!... Ela está no quarto-forte
Constância: Isso é absurdo! Minha filha é completamente lúcida e saudável!
Dr. Franklin: Não é o que diz no prontuário
Constância: O senhor me ouça... Minha filha não tem nenhum problema mental...
Dr. Franklin: Mas foi a senhora mesma quem pediu a internação dela... Está escrito aqui... Internação pedida com urgência pela mãe
Constância: Sim... Eu me precipitei... Eu vou leva-la para casa agora!
Dr. Franklin: A mãe não tem autorização para isso... Somente o médico, pai ou o esposo... E não conte comigo, D. Constância... Sua filha precisa de tratamento
Constância: Ela vai sair daqui... O senhor escreva o que estou dizendo.... Ela vai sair daqui!
A baronesa sai do sanatório furiosa... Precisa falar com Bonifácio... Ele a convenceu a internar Laura... Ele que convença esse médico a dar-lhe alta... Entra no carro e pede ao motorista que se dirija a casa do Sr. Vieira... Albertinho observa o automóvel deixando o local... Não há outra explicação para a demora de sua mãe em sair dali... Laura está lá dentro... O rapaz pede ao cocheiro que vá ao Bairro de Laranjeiras... Precisa falar com Edgar... o quanto antes...
Enquanto o Albertinho vai até a casa do advogado, na escola do Morro da Providência, após Melissa entrar, Gertrudes fica alguns instantes a conversar com Sandra...
Gertrudes: O doutor disse para trazer a menina... Que tudo isso não deve afetar a rotina das crianças... Só iria faze-las ficarem assustadas...
Sandra: Ele tem razão... Isso deixaria o Daniel e a Melissa agitados... Só pioraria as coisas... (fazendo uma pausa) Nem um sinal dela?
Gertrudes: Nada!... Parece que dona Laura foi engolida pela terra!... Ai dona Sandra... Estou tão preocupada!... O que terá acontecido com minha menina?
Sandra: Todos estamos preocupados... Telefonei para meu pai antes de vir para cá... Ele me disse que estão realizando buscas... Espero que logo tenhamos notícias... (ouvindo o sinal tocar) Gertrudes... preciso ir... Tenho que iniciar a aula...
Gertrudes: Está certo... Vou voltar para casa... Venho buscar a menina no final da tarde..
Sandra: Certo... E mande notícias se houver novidades...
A professora entra na escola enquanto a empregada começa a descer o morro rumo a residência dos Vieira... Ambas não percebem que alguém as ouvia...
Catarina: Então a mosca morta sumiu! Mas isso é perfeito! Estão todos tão ocupados com o desaparecimento que nem vão perceber... (rindo) Agora é só esperar...
A cantora procura um lugar seguro para esconder-se enquanto a aula é ministrada e repassa mentalmente o que pretende fazer... Já na residência de Bonifácio, o político prepara-se para sair quando ouve batidas rápidas e insistentes na porta...
Bonifácio: Baronesa? A senhora perdeu o juízo? Como vem me procurar aqui?
Constância: Perdi o juízo quando lhe dei ouvidos! Preciso falar com o senhor...
Bonifácio: Por sorte Margarida está na casa de Edgar... Diga o que quer
Constância: Retire imediatamente Laura do sanatório!
Bonifácio: O que lhe faz pensar que farei isso?
Constância: Por favor... O médico que a internou afastou-se... O novo responsável a está tratando como se realmente tivesse algum transtorno... A colocaram no isolamento... Só não estão usando medicamentos mais fortes por conta da gravidez...
Bonifácio: Bem... isto não foi o combinado... Mas Laura vai permanecer no sanatório... Pelo tempo que eu achar necessário!
Constância: Ah sim? Bem... acho que os pasquins desta cidade ficarão satisfeitos com a notícia que tenho para eles... Eu sei de tudo, Bonifácio! Sei que é pai da Melissa... Retire Laura de lá ou eu mesma conto a todos...
Bonifácio: Conte... e logo todos saberão que a senhora traiu seu marido...
Constância: Não tenho medo disso... Será sua palavra contra a minha... E entre um político corrupto que já tem um filho ilegítimo e uma senhora com a reputação que tenho... sabe muito bem em quem irão acreditar...
Bonifácio: Lembre-se apenas que a senhora é mulher... e eu sou homem... O que fiz foi apenas um deslize..
Constância: Que o senhor esmerou-se em esconder... Claro... Afinal ter uma filha ilegítima talvez seja um deslize... Mas o que pensariam os eleitores se soubessem que o senhor viu seu filho criando a irmã como filha sem saber e que o casamento dele acabou por causa de um deslize do pai? Isso não seria nada bom para um político que tem por planos a presidência deste país...
Bonifácio: D. Constância... Se a senhora quer sua filha fora do sanatório... A senhora mesmo que a tire... Afinal foi quem a internou... Não eu!
Constância: O senhor é maquiavélico! Sabia desde o início que eu não poderia retira-la de lá!... Só permitem que o pai ou o marido solicite a alta...
Bonifácio: Pois então... faça isso!... Peça ao Dr. Assunção ou ao Edgar... Mas não se esqueça de dizer o por que de tê-la internado... Tenho certeza que seu esposo ficará muito feliz em saber o que a senhora anda fazendo enquanto ele está no interior...
Constância: Passar bem... Sr. Vieira...
A baronesa sai daquela residência com passos firmes e com sua altivez costumeira... Entra no automóvel da família... Não chora... Isto é para os fracos... Deve haver uma maneira de retirar sua filha daquele lugar... Precisa pensar... Resolve ir para casa... Talvez o aconchego de seu quarto a faça colocar as ideias em ordem...
No interior da casa do político, Bonifácio vai até o escritório... Senta-se em frente a secretária e colocando uma folha de papel na máquina de datilografia começa a escrever uma carta...
Bonifácio: Sei que a verdade está com dias contados para vir a tona... Mas se ela pensa que vai se safar está muito enganada...
Enquanto o pai de Edgar pensa nas palavras que irá usar, na casa do advogado, este está exasperado... Já não aguenta a angústia pela falta de notícias da esposa...
Edgar (ao telefone): Como assim não tem nenhuma notícia? Eu já fui a todos os hospitais... O que a polícia está fazendo para encontrar minha mulher? Eu preciso de informações!
O rapaz continua esbravejando por algum tempo sua indignação pelo telefone, quando batidas são ouvidas... Matilde prontamente vai atender... Albertinho nem ao menos espera ser anunciado quando entra na sala...
Albertinho: Edgar... Eu sei onde está a Laura!
Edgar (soltando o telefone): Pois me diga logo! Onde?
Albertinho: Não me pergunte o porque... mas está no sanatório...
Edgar: No sanatório?
Albertinho: Sim... Desconfiei quando minha mãe saiu de casa e a segui... Que outro motivo a faria ir até lá?
Edgar: Mas... por que?
Albertinho: Eu não sei...
Edgar: Me passe o endereço... Vou até lá...
Albertinho (passando um papel): Eu vou contigo
Edgar: Não... Vá para casa... E diga a sua mãe que ela não ouse por os pés aqui... Mas que eu exijo uma explicação para isso... Eu vou a procurar... (saindo correndo)
Edgar entra em seu automóvel e dirige-se até o local com a velocidade que aquele veículo permite... Pensa em como é possível... Como D. Constância conseguira internar sua esposa... Os únicos que poderiam ter feito isto seriam o Dr. Assunção e ele... E por que? É um mistério que terá de desvendar... Mas no momento o que lhe importa é tirar sua esposa daquele lugar...
Em cerca de meia hora está em frente a porta principal daquela instituição... Entra e anda pelos corredores.... Apavora-se com o que vê... Mulheres em sua maioria andando a esmo ou jogadas pelos cantos... Sem a menor esperança ou vontade própria... Esquecidas naquele local por sabe-se lá quanto tempo... Caminha apressado até a diretoria do sanatório... Entra e dirige-se ao diretor técnico daquele lugar lúgubre...
Edgar: Sou marido de Laura Vieira... Soube que está internada aqui sem meu consentimento...Quero falar com o médico responsável por sua internação...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!