Laura e Edgar- Um romance desde o Início escrita por Nanda


Capítulo 117
Quem será Felipe Machado?




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Com os primeiros pingos de chuva a molhar as pedras assimetricamente colocadas formando mosaicos no jardim de sua residência, Bonifácio Vieira entra em seu automóvel... Relembra mentalmente cada palavra escrita no pasquim de Carlos Guerra enquanto diz seu destino ao chofer... Pergunta-se como?... Quem terá falado?...Como tivera acesso àquilo tudo!.. E afinal... quem era esse sujeitinho? Felipe Machado?... Nunca ouvira falar!
Já na delegacia, Praxedes toma um café intragável passado por um dos guardas e verifica algumas fichas criminais dos últimos meliantes que prendera... Subitamente ouve algumas batidas na porta de sua sala...
Edgar: Bom dia delegado
Praxedes: Bom dia Dr. Vieira... Entre!
Edgar: Com licença... Soube que Fernando foi preso...
Praxedes: Se veio a procura de seu irmão perdeu seu tempo... Ele já não está mais aqui... O juiz concedeu Habeas Corpus...
Edgar (indignado): Como é? Ele participa de um incêndio com intenção de matar e o juiz o deixa responder em liberdade?
Praxedes: O juiz entendeu assim, Dr. Vieira!... O senhor, melhor do que eu, sabe como essas coisas funcionam...
Edgar (engolindo em seco): Claro... Imagino que pelo menos o magistrado teve o bom senso de proibir a saída dele da cidade... Sabe para onde foi?
Praxedes: Não... Tem uma meia hora que ele e o Dr. Humberto saíram daqui... Tenho o endereço de onde está residindo, e sei que mesmo que não o forneça o senhor tem meios para consegui-lo, mas sinceramente, não o aconselho a procura-lo... Dr. Edgar, o melhor que tem a fazer é deixar que os tramites transcorram... Não tente resolver com suas mãos o que a justiça mais cedo ou mais tarde vai solucionar!...
Edgar: Desculpe, mas o que lhe faz pensar que vou fazer isso? Eu vim conversar com meu irmão... E é isto que pretendo fazer quando encontra-lo...
Praxedes: O senhor pode não crer, mas sei quais suas intenções ao vir ao distrito... Aqui dentro, realmente, iriam conversar... Mas... fora dele... com os ânimos exaltados como estão...
Edgar: Bem... já que não está aqui... nada tenho a fazer!... E de Catarina? Alguma pista?
Praxedes: Estamos trabalhando... Creio que logo teremos notícias...
Edgar: É o que espero delegado... tenha um bom dia...
Praxedes: Bom dia
Enquanto o advogado sai da delegacia e parte rumo a residência paterna, onde a estas alturas D. Margarida já lera e afligira-se diante da manchete do Correio da República, o pai de Edgar chega à tecelagem. Com sua arrogância e prepotência peculiares, passa pelos corredores da fábrica sem dirigir palavra a ninguém, indo em direção à sala que outrora fora sua... Abre a porta com a chave reserva que ainda possui, observando como aquele ambiente permanece igual apesar de sua ausência.. Anda até a mesa da presidência, onde repousam os livros administrativos que Manoela e Filipa pretendem verificar durante o dia e senta-se...
Bonifácio: Administradoras enxeridas!... Não sabem com quem estão lidando!...
Bonifácio afasta a cadeira e abre a última gaveta da secretária... Retira o conteúdo.... Finalmente, retira o fundo...ali está o que lhe interessa... Sob aquele fundo falso, há vários papéis... Bonifácio detém-se em uma pasta verde água... Abre e examina o teor...
Bonifácio: Mas está tudo aqui!... Como é que esses documentos vazaram para aquele pasquim nojento? Não deve ter saído daqui... Se essas duas tivessem encontrado esses papéis já teria tido problemas bem maiores que este... De qualquer forma... melhor guardar isso em outro lugar... Ninguém pode imaginar que eu estou por trás disto!... Talvez seja melhor mesmo não deixar mais nada nessa sala (nisto ouve passos) Preciso sair daqui... Logo as moças certamente estarão aqui...
O político recoloca o tampo falso na gaveta... Com a pressa não retira os outros documentos que guardara ali e não verifica se está fechando o fundo falso da forma correta... Repõe rapidamente os papeis que retirara e, procurando passar despercebido, sai do local apenas com os documentos da pasta que examinara...
Já na rua do Ouvidor, Laura caminha entre os transeuntes... Na rua não se fala de outra coisa além da denúncia feita por Felipe Machado... Sorri satisfeita!... Procura ouvir os comentários a respeito do artigo, quando ouve alguém lhe chamar....
Isabel: Laura...
Laura (sorrindo):Olá Isabel! Que bom te ver!..
Isabel: Eu digo o mesmo!.. Como está a nossa escola?
Laura: Está bem...Por falar em escola... tem algo que preciso conversar com você e a Sandra... Será que pode ir ao Morro hoje antes do início da aula?
Isabel: Claro... Estarei lá!... E agora... onde vai?
Laura: Até o Correio da República...Preciso conversar com o Guerra...
Isabel: Deve estar uma confusão lá na frente... Você viu a matéria que publicaram sobre desvio de dinheiro público?
Laura (tentando demonstrar desinteresse): Vi... claro que vi... O que achou?
Isabel: Nossa... uma denúncia fortíssima contra a oposição!... Por falar nisso... e o Edgar... como está com tudo isso.? A acusação envolve o partido do pai dele... o Sr. Bonifácio Vieira deve estar metido nisso até o pescoço
Laura: Edgar... me disse que já está acostumado... mas que isso não faz diminuir a vergonha que sente a cada nova denúncia sobre corrupção envolvendo o pai dele...Ele está consternado... Mas a verdade precisava ser dita...
Isabel: E muito bem, por sinal... O tal jornalista, Felipe Machado, escreveu com tanta propriedade sobre o assunto... A matéria está excelente!...
Laura ( já próxima ao prédio do jornal): E pelo jeito está tendo repercussão!... Olha quanta gente tem ali...
Isabel: Sim.. e não é para menos...
Laura: Bem... vou indo... nos vemos mais tarde...
A professora despede-se de sua sócia e atravessa a rua, indo em direção ao noticioso de Carlos Guerra.... Enquanto isto, Edgar chega a casa de seus pais... Sem necessidade de anúncios entra naquela que um dia fora sua residência, encontrando a mãe sentada à sala de estar, tentando sem sucesso coser uma fina toalha de linho...
Edgar: Minha mãe...
Margarida: Filho... que bom que veio!... Estava me sentindo tão sozinha!... E me sinto tão impotente diante de tudo!... Quando pensei que não podia ficar pior... eis que surge mais algo...
Edgar: Imagino que esteja falando da denúncia...
Margarida: Sim... Teu pai assim que leu a manchete do jornal saiu sem nem ao menos me dizer para onde... Teu irmão preso como cúmplice num incêndio que quase mata minha nora e meus netos...
Edgar: Fernando vai responder o processo em liberdade... O delegado me informou... Estive no distrito de polícia antes de vir para cá...
Margarida: Isso não diminui minha preocupação, ao contrário!... Edgar... eu sei que ele errou... que deve pagar pelo que fez... Ele pôs em risco a vida de pessoas que amo muito... Por pouco esse incêndio não se transformou em uma tragédia ainda maior... Mas ele é meu filho!.....
Edgar: Eu sei minha mãe... Só não me pede para tentar perdoar ou entender...
Margarida: Eu não poderia te pedir isso!... Edgar...Sabe o que mais me dói?... Eu fiz tudo por aquele menino!... Nunca fiz distinção entre vocês... Como isso aconteceu?
Edgar: A senhora fez seu melhor por ele... Mas meu pai sempre fez questão de distinguir... Ele humilhava o Fernando.... Meu pai (suspirando profundamente) ele fez tantas coisas...E agora mais isto!.. Já não me surpreendo mais!... Ele não se importa com ninguém... não ouve nem mesmo a senhora!...
Margarida: Olha meu filho... eu fui criada em um tempo em que as mulheres obedeciam os maridos... tão e somente isto!... Devíamos ficar caladas!... Quando me casei com seu pai, ele ainda era um caixeiro... Não sou tão ingênua para não ver que Bonifácio não foi exatamente honesto quando construiu sua fortuna... Eu vi tudo isso... calada...
Edgar: Mas isso tem de mudar!...Mãe... a senhora é sócia majoritária de uma tecelagem!..
Margarida: E de que adianta... se não tenho voz de comando?... Se sei que não tenho preparo para isso?... Filho... não adianta!... Fui criada assim... e dessa forma vou morrer!....Eu não tive escolhas... e não tenho agora!... A única coisa que posso fazer é resignar-me... Intercedi por seu irmão e seu pai não me deu ouvidos... E agora... com isto... o que me resta é ficar nesta sala... horas a fio... a costurar... bordar....

Edgar: Mãe... a senhora não deve se calar... deve falar!... Eu sempre a escutei e vou continuar a ouvir...
Margarida: Eu sei meu filho... e te agradeço... Edgar... sei que deve ter mais o que fazer... Obrigada por fazer um pouco de companhia à sua mãe...
Edgar: Não me agradeça!... Infelizmente não vou poder passar tanto tempo quanto gostaria com a senhora... Mas mesmo assim... conta sempre comigo... para o que precisar... (dando um beijo na mão de Margarida)
Margarida e o filho permanecem um tempo a conversar na sala da residência dos Vieira... Enquanto isto, no centro da cidade, Bonifácio entra apressado no banco próximo ao Correio da República... Ali, após falar com um atendente é conduzido à sala onde ficam os cofres alugados aos clientes daquela instituição para guarda de documentos e objetos de valor. Aproxima-se de um dos cofres e gira seu disco desarmando-o... Abre a porta um tanto pesada e observa o que ali contém... Algum valor em dinheiro... joias... documentos... e... junto a estes coloca a pasta que trás consigo... Volta a fechar e segregar o cofre.... Está prestes a sair quando detém-se uns minutos a conversar com um aliado político que encontra no saguão do banco... Já do outro lado da rua, na sala de Carlos Guerra, Laura e o editor acertam os últimos detalhes sobre a próxima matéria a ser escrita pela professora...
Guerra: Bem... então estamos entendidos!... Essa matéria ainda será escrita pelo Paulo Lima... e nesta mesma tiragem escreverei um editorial apresentando Laura Vieira como jornalista...
Laura: Perfeito... Assim que tiver as informações que me pediu e escreva o artigo lhe entrego..
Guerra: Certo!... Laura... mais uma vez... parabéns!... Ótima reportagem investigativa....
Laura: Obrigada
Guerra: E Edgar... como está?
Laura: Envergonhado... infelizmente toda essa sujeira envolve o pai dele...
Guerra: Por isso preferi que não escrevesse a matéria... E você a escreveu muito bem!.... Nunca esse jornal vendeu tanto!... E veja o rebuliço que está nas ruas por conta da denúncia...
Laura: Eu vi no caminho... Quase não consigui entrar aqui!...
Guerra: Soube que tentaram arrombar a sede do partido... e que um dos integrantes que resolveu fazer um discurso de defesa foi alvo de vários tomates e ovos... Sei que você não gosta muito de conselhos e vai me achar machista... mas talvez seria melhor se tivéssemos conversado outro dia... Estou preocupado... uma mulher grávida.. andando no meio dessa confusão...
Laura: Guerra... para que adiar? A rua está tumultuada sim... mas mesmo que não tivesse vindo aqui... teria saído de casa de qualquer forma... À tarde tenho minhas aulas....

Guerra: Eu te acompanho até em casa...

Laura: Não se preocupe!... E agora... até mais ver... Vou para casa e de lá sigo para a escola...
Laura despede-se do jornalista e desce as escadas daquele prédio em direção a rua... Observa o tumulto e pedindo licença entre as pessoas consegue sair daquele local... Anda apressada... Não percebe que do outro lado da rua alguém a observa intrigado...
Bonifácio: Laura? Mas o que minha nora faz saindo do jornal daquele biltre... ainda mais num dia como hoje?... Essa moça é moderna demais!... Devia estar em sua casa... cuidado do meu neto e preparando o enxoval do próximo! Será que Edgar tem algo a ver com isto? Como meu filho pode me apunhalar assim? Preciso descobrir...(saindo dali e dirigindo-se a seu carro)
Aquela manhã nublada e com algumas pancadas esparsas de chuva passa... A tarde chega... No Morro da Providência os alunos começam a chegar na escola.. Enquanto são recebidos por tia Jurema, as professoras, juntamente com Isabel, reúnem-se na diretoria...
Sandra: Bem... estamos aqui... O que houve Laura?
Isabel: Sim... estou curiosa!... Espero não ser nada grave...
Laura: Acalmem-se... não é nada demais!... Mas é algo que pode fazer a diferença dessa escola em relação às outras... e que pode beneficiar várias mães aqui da comunidade...
Isabel: O que, Laura?
Laura: Sabem... o Daniel anda amuado com o fato de Melissa poder estudar e ele não... Sinto que está triste por querer estar aqui e não poder... Observando a vontade de vir a escola que meu filho tem... pensei que poderíamos ter uma turma com crianças menores...
Sandra: Será que daria certo? Por lei as crianças devem frequentar a escola a partir dos seis anos... Não teríamos problemas?
Laura: Acredito que não!... E pense... estaríamos prestando mais um serviço aqui no morro... Muitas mães ajudam a complementar a renda da família... são lavadeiras... faxineiras... e não tem onde deixar os filhos pequenos... Se tivéssemos uma turma com estas crianças...
Isabel: Estariam na escola protegidos e aprendendo algo bom... invés da rua... aprendendo a fazer o que não devem... Gostei da ideia!...
Sandra: Também gosto muito da ideia... e se não há problemas... podemos abrir mesmo uma turma...
Isabel: Vocês podem usar aquela sala lá perto do refeitório.. É pequena... mas acredito que sirva...
Laura: Certo... e precisamos divulgar entre as pessoas aqui que vamos ter essa classe para crianças pequenas...
Isabel: Isso deixe por minha conta!.. Aviso o Zé e a tia Jurema e eles nos ajudam!...
Sandra: E quanto às aulas? Como faremos? Por enquanto nós nos revesamos e podemos fazer isso também com aquela turma... Mas e quando você não puder mais vir?
Laura: Bem... teremos que contratar mais uma professora... Mas já tenho ideia de quem poderia trabalhar aqui... Só preciso conversar com ela... (ouvindo o sinal dado por tia Jurema indicando que está no horário da aula começar) Está na hora!... Tenho que ir para a sala...
Sandra: Também preciso...
Isabel: Então ficamos combinadas... Vou começar a providenciar tudo!... Boa aula minhas sócias...
As professoras se despedem de Isabel e, indo para sala de aula, principiam aquele turno letivo, enquanto a dançarina sai da escola e ruma para o Teatro Alheira... Já nas ruas do centro, após algum tempo perambulando com seu carro entre um ponto e outro da cidade, Bonifácio Vieira chega à sede de seu partido... Percebe o tumulto aos arredores do prédio, mas mesmo assim sai do veículo.... Ao ser visto, palavras de baixo calão e xingamentos de toda espécie lhe são proferidos... Bonifácio, usando de toda sua fleuma, sem se importar segue com passos firmes.. Anda em direção a porta do local.. Sobe alguns degraus e vira-se para a multidão que o apupa ainda mais...
Bonifácio: Senhores! Quem me acusa? Alguém que se diz jornalista mas que nunca ouvimos sequer falar!... Quem é Felipe Machado? Ninguém o conhece!... Agora... eu... todos aqui me conhecem!... Sabem do quanto sempre lutei por ver o progresso dessa cidade... Se há superfaturamento das obras de abertura das ruas do Rio de Janeiro... Investiguemos os culpados!... Se estão desviando o dinheiro público... é culpa deste prefeito e sua corja de assessores que se aproveitam do cargo para extorquir a nós... cidadãos de bem....
Guerra: Interessante... O contato entre a empresa que está fazendo a obra e a prefeitura foi feito através do partido da república... do qual o senhor faz parte.... na qualidade de presidente ...
Bonifácio: E o que o leva a pensar que nosso partido tenha algo a ver com esse desvio? Senhores... por favor... só não vê quem não quer!...Confiem em mim... É a minha palavra contra a de um pasquim fajuto...
Cidadão: Ladrão!
Cidadão: Sem-vergonha!

Cidadão: Fora daqui! (atirando um ovo)
O político acuado pelos apupos e afrontas dos presentes abre a porta e de lá continua a ouvir a manifestação popular contra sua pessoa... Pensa que tudo neste dia tem dado errado... Não conseguira ludibriar aqueles homens...Aquela notícia está acabando com a pouca reputação que ainda dispunha... Tudo por culpa deste tal jornalistazinho... Se Edgar estiver por trás disto, irá pagar!... Precisa tirar isso a limpo!... E com estes pensamentos... Abre um pequena porta que dá para os fundos do prédio do partido e sai... indo em direção a residência do filho...
Enquanto isto, na sede do Federal Sport Club, o clima entre os rapazes que se preparam para mais uma partida de foot-ball é dos mais descontraídos... Os moços, colocando os uniformes e já amarrando as chuteiras, procuram conversar sobre assuntos mais amenos... Apesar de tudo, Edgar por alguns momentos consegue esquecer de tudo o que acontecera nos últimos tempos..
Albertinho: Bem... espero que tenham vindo preparados para perder...
Edgar: Olha... eu não jogo há muito tempo... mas não costumo perder...
Joaquim: Nem eu!... Por sinal... Edgar... lembra na época da faculdade? Nós éramos imbatíveis!.. Dois backs de primeira!...
Humberto: É... mas pela idade... agora devem ser de terceira...
Joaquim: E lá vem o senhor engraçado!... Melhor do que ser um franguinho... Hoje vamos te depenar...
Albertinho: Gente... não liguem para o Humberto... Não percebem que mais um pouco ele volta a usar cueiros?

Todos riem e continuam com suas pilherias quando subitamente se calam... Alguém que já não era esperado acabara de entrar no vestiário...
Fernando: Senhores... Como vão?
Albertinho: Fernando!?
Fernando: Sim... meus caros... por que o espanto? Que eu saiba temos um match de foot-ball.... Ah... olhem só.. com o mundo desabando... e o filhinho querido de Bonifácio Vieira aqui... pronto para uma partida de foot-ball...
Edgar: Pois estamos empatados!.. Você é tão filho dele quanto eu...
Fernando: Ah claro!.. Nestas horas... quando aparece a verdadeira face de nosso querido pai sou lembrado... Afinal... o filho perfeito é você!.. O que não erra... O que não causa vergonha à família... Engraçado.. é você quem tem uma filha ilegítima... Você, o mais fiel dos homens!... Traiu sua noiva... e quando ela descobriu depois de casada, preferiu ser uma divorciada a ficar contigo... Veja no que transformou minha linda cunhadinha!... E quem envergonha a família sou eu!
Humberto: Fernando... pare... é melhor ir embora daqui...
Edgar: Sabe qual o seu problema? Inveja! Você sempre quis tudo o que era meu!... Meu lugar na fábrica.... Você se envolveu com Catarina para me atingir...Tentou se aproximar de Melissa... Sempre querendo provar que é melhor... Não entende que somos diferentes... Só isso...
Fernando: Eu sou melhor!... E quer saber? Seria um pai muito melhor que você para Melissa... e até para Daniel!.. Se quisesse poderia facilmente seduzir Laura... ela não deve ser tão interessante quanto Catarina.. Que consegue qualquer coisa.... Até para prisão me levou... Mas não deixa de ser estimulante ter nos braços uma bela mulher como ela...
Edgar: Desgraçado! Quem não deveria estar aqui é você! Devia estar apodrecendo atrás das grades! (desferindo um soco na face de Fernando)
Fernando: Isso Edgar! Venha... Desconte sua raiva! (mostrando a outra face)
Albertinho: Parem!
Edgar: Eu vou te matar Fernando! (pegando o irmão pelo colarinho)
Fernando livra-se do advogado e lhe fere o rosto com um murro... A troca de sopapos entre os Vieira torna-se violenta... Os rapazes que até então a tudo assistiam tentam sem sucesso apartar a briga... Edgar atira Fernando contra a parede do vestiário... Fernando volta e acerta o abdômen do irmão com um chute... A confusão está formada... Até que Rufino, atraído pelos gritos e o barulho, chega ao local...
Rufino (gritando): Mas o que está acontecendo aqui??? Nando...Edinho... parem já com isso! O que pensam que estão fazendo? Será que vão ser sempre assim? Acham estão na casa de vocês? Não quero mais confusão por aqui!
Fernando: Fino... não se meta!
Rufino (apartando os irmãos, que são então contidos por Humberto e Albertinho): Olha como fala comigo rapaz! Você está no meu local de trabalho... e está fazendo arruaça!... Posso chamar os guardas! Edgar... não creio que depois de tanto tempo Fernando ainda o provoca... e o pior... que você reage... e dessa maneira!
Edgar: Desculpa Rufino..
Rufino: Tudo bem... Agora vão...Antes que mais alguém veja isto!
Enquanto Rufino põe ordem na confusão formada, deixando espantados os amigos de Fernando e Edgar, na casa do advogado, Bonifácio chega e bate forte à porta....
Heloisa: Boa tarde
Bonifácio: Onde está meu filho?
Heloisa: Ele não se encontra Sr. Vieira... Não esteve no escritório hoje...
Bonifácio: E meu neto?
Heloisa: Foi até o parque com a D. Gertrudes...
Bonifácio: Vou esperar o Edgar... Pode se retirar...
Heloisa: Com licença...
Bonifácio anda pela sala de estar... Vai até a sala de refeições e percebe que materiais da professora estão sobre a mesa... Olha com certo desdém... uma mulher...casada... grávida... dando aulas... isso é coisa para solteironas, pensa... Pega uma das pastas... Vê alguns exercícios de ortografia... Folheia algumas pastas aleatoriamente... Até que algo lhe chama a atenção...
Bonifácio: Mas o que é isso? (olhando as folhas seguintes e ficando espantado e cada vez mais possesso com o que vê) Foi ela!... Laura!.. Mas como conseguiu tudo isto? Será que viu os documentos escondidos na minha sala? Aquelas duas... devem ter entregue uma cópia pra ela!...Tenho que dar uma lição àquelas moças!... Mas vejo isso mais tarde... Mas... Se abriram o fundo falso... como não viram os outros documentos? Não... não deve ter sido assim que Laura conseguira esses papéis... De qualquer forma... preciso tomar providências! Tenho de retornar a tecelagem... Preciso tirar o resto dos documentos de lá... antes que me denunciem!... Não devem ter visto ainda... Caso contrário... Edgar já saberia...
Bonifácio sai apressado daquela casa e vai a velocidade que pode até a fábrica... Pensa no caminho o que fazer... Vai ter de esperar... Não falta muito para o fim do expediente.. Logo sua sala estará vazia... e poderá fazer o que necessita...
Enquanto isto, no clube, após dissipar a confusão Rufino voltara a seus afazeres... Fernando saira acompanhado por Fernando; Já Edgar tomara a direção da tecelagem, onde pretende verificar os livros que Filipa pedira... Com a alteração dos ânimos a partida de futebol fora cancelada... Fernando e Joaquim pensam em tomar o rumo do centro da cidade, enquanto conversam ainda nas imediações da sociedade recreativa...
Albertinho: Olha Joaquim... se o Fernando tivesse falado isso para mim... eu também teria lhe dado uns sopapos!.. Só não fiz por que o Edgar estava ali... mas ele falou da minha irmã... tive vontade de mata-lo também!...
Joaquim: Albertinho... me diga uma coisa... como é que o Sr. Rufino tem tanta intimidade com os irmãos Vieira?
Albertinho: Ah.. o Rufino foi funcionário do Sr. Bonifácio por muitos anos... Conhece Edgar e Fernando desde moleques
Joaquim: Ele trabalhava diretamente para o pai deles?
Albertinho: Na verdade ele trabalhava na tecelagem... mas era o braço direito do Sr. Vieira... Sempre teve toda confiança do homem!...
Joaquim: E por que ele trabalha no clube agora? Por que o Sr. Bonifácio se desfez dele?
Albertinho: Não sei ao certo... Só sei que há alguns anos... acho que ainda no tempo em que Edgar estava em Portugal... O Rufino teve um problema na fábrica... e por recomendação do Fernando começou a trabalhar aqui...
Joaquim: Ele não trabalhou para mais ninguém? Somente para os Vieira?
Albertinho: Ao que me conste, sim... Por que tantas perguntas?
Joaquim: Curiosidade... Albertinho... Não vou poder ir ao Bar Guimarães contigo... Lembrei-me de um compromisso..
Albertinho: Está certo... Nos falamos...
Joaquim: Claro... até mais ver...
Joaquim está atordoado... Não esperava por isso... A resposta estava ali!.. Precisava falar com Filipa o quanto antes... Vai até seu automóvel... Não vai esperar até a noiva sair do trabalho... Precisa contar o que descobrira...
Neste mesmo período, após o término das aulas e de pedir à Sandra o favor de deixar Melissa em sua casa, Laura finalmente chega à tecelagem... O expediente já encerrara... Não vendo ninguém a quem pudesse pedir para ser anunciada, bate à porta do escritório, sendo recebida por Manoela... Ao fechar a porta, não percebem que mais alguém chega... e que ao notar as moças ali reunidas detém-se à porta à escutar o que dizem...
Manoela: Olá! Sente-se!... Estamos terminando de organizar alguns papéis...
Laura: Obrigada! Como foi o término da festa?
Manoela: Tranquilo... Pena terem saído tão cedo...
Laura: Edgar já esteve aqui? Me disse que precisava ver uns papéis..
Filipa: Ainda não... passei a tarde esperando por ele...
Laura: É capaz de vir ainda mais tarde... Saiu dizendo que ia ver a mãe... resolver algumas coisas e depois iria ao Federal Sport Club...
Filipa: Joaquim e Albertinho também... Devem estar juntos...
Manoela: Por sinal... Como está o Edgar? Vimos a notícia no jornal...
Laura: Na medida do possível está bem... Envergonhado com tudo o que está acontecendo com o pai... E quanto ao Fernando... percebo que ele está no limite... muito ansioso... Espero que ele não tenha ido vê-lo na delegacia...
Filipa: Laura... pelo que fiquei sabendo... Fernando vai responder ao processo em liberdade...Foi solto hoje pela manhã...
Laura (aborrecida): Mais esta agora...
Manoela: Se preferir, podemos fazer as compras outro dia...
Laura: Não... vamos hoje... Vai ajudar a espairecer!...
Filipa: Certo... Só vou guardar alguns documentos... e já podemos ir...
Filipa abre a última gaveta da secretária... Estranha... Os papéis que guardara no dia anterior estão completamente bagunçados... Retira os mesmos enquanto a professora e Manoela conversam sentadas no sofá... Percebe que o fundo da gaveta tem uma fenda...
Filipa (retirando o tampo falso): Interessante...
Manoela (erguendo a cabeça): O que foi?
Filipa (começando a ler os documentos contidos ali): Meu Deus... não pode ser!


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