Primeiro Fato.

Ela percebeu o quanto ele era dedicado.

Duas orbes cor de chocolate observavam atentamente do alto de uma árvore um garoto concentrado no doce que estava fazendo. A dona dos tais olhos não chegava nem a piscar, não que ela se interessasse por culinária, apesar de gostar de doces. Principalmente os dele.

Espera aí...

A garota balançou a cabeça várias vezes e olhou na direção oposta, mas não resistiu à tentação e voltou a encarar o jovem.

–Hm... Ele parece bem concentrado... – Pensou ao inclinar um pouco a cabeça. – Pensando bem, ele sempre parece assim quando faz algo que gosta... – Deixou-se pensar ao ver que o garoto sorria satisfeito para o doce terminado. Um bolo pequeno e bem decorado.

Então suas orbes verdes encontraram as chocolate da garota.

Kii...!

–Ah, Iris. – Chamou.

Drogaaa...

–O-oi, Dento. – Ela olhou pro lado, torcendo para que ele não tivesse percebido que ela o encarara o tempo todo. Ele estendeu o doce.

–Aceita? Adoraria ter a sua opinião. – E sorriu.

Hm...

Iris saltou da árvore pousando sem dificuldade no chão e aceitou um pedaço do doce.

–...! – Sentiu os olhos brilharem. – A-ah... Está muito bom.

Estava delicioso, na verdade.

Até que ele conzinha bem...

Ah, quem ela queria enganar? Ela adorava os pratos que ele fazia.

Segundo fato.

Ela percebeu o quanto ele era inteligente

Era tarde da noite, o céu estava preto como piche, iluminado apenas pelas milhares de estrelas que o preenchiam. Satoshi já estava dormindo profundamente com Pikachu ao seu lado, enquanto Iris e Dento ainda nem estavam com sono.

O garoto estava entretido em contar sobre os vários fatos que conhecia a respeito do espaço – e como era o Dento, eram muitos – mas Iris que não ligava muito para essa coisas, por preferir o lado “sobrenatural” da vida já que era mais interessante e divertido, dessa vez parara para ouvir.

–E ali está Vênus, também conhecida como Estrela D’Alva por que...

Ah, como ele tagarela. Iris ajeitou seu longo e volumoso cabelo roxo escuro onde seu Axew dormia e voltou a prestar atenção no que ele dizia.

Sim, ela estava interessada.

Nem pergunte por quê.

–E ali está Marte que muitos dizem...

Se alguém perguntasse, ela negaria. Mas, ela gostava desse lado dele. Ele era um garoto inteligente, não só por ser praticamente uma enciclopédia quando o assunto era ciência, mas também como quando viajavam e ele sempre parecia conhecer tudo, as cidades e etc... E por outras coisas... Afinal ele não estaria onde estaria se fosse tonto e... E...

... Você entendeu!

Por que ela estava pensando isso mesmo? Iris balançou a cabeça e resolveu se meter na conversa, ou melhor, monólogo.

–Você sabe muito sobre isso, não é?

Ele olhou para ela e sorriu.

–Bom, quando se gosta tanto de algo, é normal, não é?

–É, acho que sim...

Ele piscou um par de vezes.

–D- Desculpa. – Uma aura negra o rondou. – A- Acho que me empolguei demais...

–Ah, não! – Ela exclamou, mas logo se arrependeu depois. – Quero dizer... Eu não me importo...

–Achei que não ligasse para isso, Iris.

–E nem ligo! – Ela afirmou firmemente, esticando as pernas. – Mas... Sei lá...

Silêncio.

–Acho que... Acabei me acostumando. Você é bem inteligente, Dento. – Disse sem pensar.

Mais silêncio.

–Ah, obrigada Iris. – Sorriu ele.

Droga!

–N-Não me entenda errado! Você ainda é bem estranho, ok?!

E saiu correndo na direção de uma árvore, deixando para trás um jovem de cabelos verdes bem confuso.

Mas ela ainda sim, gostava desse lado dele.

Terceiro Fato.

Ela percebeu o quanto ele era estranho.

Não que ela se importasse, longe disso.

Bem, no começo podia até ser, mas agora não mais.

Dento tinha um jeito estranho de falar, dizendo coisas com “It’s Tasting Time!” ou “Isso tem sabor de...!” Enfim, essas coisas. Sem esquecer que, de acordo com Iris, sua personalidade era bem... Exótica.

Dramático demais, principalmente quando deprimido, ou exagerado demais, principalmente quando envolvia coisas que ele gostava. Sempre dando ênfase com as mãos e fazendo poses exageradas...

Ele era estranho, sim! E irritante. Ás vezes.

Mas... Se não fosse assim, não seria o Dento.

Esse pensamento começou a rondar a cabeça da garota conforme viajava com eles. Claro, ela ainda diria que ele é “só uma criança” pelo fato de sempre se achar mais madura que os dois, estranharia ele tirar um chapéu de condutor do nada, ou surgir com uma lupa e um chapéu a lá Sherlock Holmes e saísse por aí como se fosse o próprio detetive.

Primeiro, ela iria encara-lo com uma careta.

Depois, iria por a mão na cabeça com uma gota.

Mas por fim, acabaria rindo.

Por que se ele não fosse assim, não seria o Dento que ela conhecia. O que deixaria de ser tão divertido.

Quarto Fato.

Ela percebeu que ele era um dos poucos que a entendia.

Iris não era uma garota má, claro que não. Mas ela tinha um ritmo próprio, sempre seguira seus instintos e sempre teve um gênio forte.

Quando era mais nova, não conseguiu fazer muitos amigos justamente por causa disso, as crianças costumavam se afastar dela achando-a estranha. Ela nunca se adaptou a vida urbana, gostava de escalar e dormir em árvores, amava dragões, era comilona e ás vezes honesta até demais.

Poucas eram as pessoas que conseguiam acompanhá-la. Foi quando Iris se deu conta que ele era uma delas.

Tudo bem que, era irritante quando entravam em uma discussão quando ele dizia que tinha uma explicação cientifica enquanto ela afirmava com veracidade que tinha algo de sobrenatural. Ou quando ele pegou no seu pé sobre o Dragon Rage de seu Axew.

Bem, ele pediu desculpas depois, então tudo bem.

Mas ainda sim...

A jovem estava pendurada em uma árvore e tentava alcançar uma maçã vermelhinha de aparência apetitosa.

–Iris, é melhor tomar cuidado. – Avisou o garoto de cabelos verdes.

–Nah, isso é fácil! – Respondeu, sorriu quando finalmente pegou a maçã e saltou pousando sem dificuldade no chão.

Dento suspirou.

–É, acho que me preocupei a toa.

–Lógico. Esqueceu-se de quem estamos falando?

Ele riu.

–Pois é...

Silêncio. Iris olhou para ele.

–Só isso? – Perguntou. Ei, o que ela estava fazendo?

–Hm?

–Não vai falar nada? Dizer que eu não devia fazer isso e blá, blá, blá? – Ela não costumaria perguntar, Iris não ligava para o que pensavam dela... Por que será que tivera essa ideia então?

Dento piscou um par de vezes e sorriu.

–Bom, é verdade que é perigoso. E não é normal alguém subir de repente em uma árvore, mas... Estamos falando de você, não é? Esse é seu jeito de ser, então tudo bem.

Silêncio.

–Sério...?

–Claro, por que não seria?

–Ah, por nada. Nada. – E mordeu a maçã.

–Bem, vou procurar o Satoshi. Espere aqui, sim? – E saiu andando. A jovem o acompanhou com a maçã perto dos lábios que se curvaram em um pequeno sorriso.

Iris nunca pensou que ouvir tais palavras pudessem fazê-la se sentir tão bem.

Quinto Fato.

Quando ela, finalmente, percebeu que estava apaixonada por ele.

Não podia ser verdade... Certo?

Quer dizer, era o Dento! Por Arceus, o estranho, dramático e exagerado Dento, mas... Apesar disso tudo, ele também era o gentil e dedicado Dento. Assim como ela, ele dava duro pelo seu sonho. A entendia, fazia doces incríveis, era inteligente e um amigo muito fiel.

Sem que ela percebesse, deixou seu coração palpitar quando estava perto dele, que ele rondasse seus pensamentos e que suas bochechas corassem quando ele falasse com ela.

É, ela estava apaixonada.

–Urgh... – Pensou.

Não que Iris não quisesse se apaixonar, ela só não imaginou que seria assim. Bem, esse tipo de coisa nunca é como a gente imagina, certo?

Embora ela preferisse continuar quieta em relação a isso, também por achar que ele só a via com uma amiga, mas isso não era do feitio dela. De fato, não.

Por isso, em certo dia, quando viu que estava sozinha e nada iria atrapalha-la, resolveu colocar em prática a sua ideia.

–Ei, Dento. – Chamou enquanto dava um pedaço da sua Berry para seu Axew.

–Sim?

–E- Eu queria te fazer uma pergunta...

–Pergunte. – Ele sorriu.

Ótimo, não amarele agora!

–Sei que... Já tivemos uma conversa sobre isso e tudo mais... Ah, não importa! O que você acha que é amor, hein?!

Ok, isso soou um pouco rude. Ai, ai.

Dento piscou um par de vezes e encarou a jovem.

–... Por que a pergunta?

–S-Só responde! – A morena falou, sentindo as bochechas esquentarem.

–Hm... – Dent pôs a mão no queixo e caminhou para mais perto dela. – Eu diria que tem um sabor agridoce!

...hein?

Ah, mas é claro.

–Mas ás vezes tem um sabor picante, outras que é tão amargo e também tão doce... – Continuou.

Amor virou comida agora? Ela tombou a cabeça para o lado, devia ter esperado esse tipo de resposta desde o começo.

–Mas... – Ele começou e olhou para ela. Iris podia jurar que viu um brilho travesso em seus olhos verdes. E então, ele pegou a mão dela.

–Eh? – Ela pensou.

–Acho que posso dizer que é um sabor que eu sinto sempre que estou com você. – Ele sorriu e depois beijou de leve as costas da mão da garota.

...

Silêncio, nenhum dos dois se moveu, a jovem sentiu seu rosto queimar.

O QUÊ?!

No segundo seguinte, Iris saiu correndo na direção oposta sentindo seu coração bater tão forte que parecia um tambor.

O garoto de cabelos verdes a acompanhou até perdê-la de vista e abafou o riso, ele mesmo sentindo suas bochechas quentes.

E foi assim que ela, finalmente, percebeu.