A Volta da Garota Sobrenatural escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 4
Capítulo 4 - Testada


Notas iniciais do capítulo

Divirtam-se, amores!



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Mia sentou na cama ofegante. Seu coração batia num ritmo acelerado. Viu que Castiel estava sentado na sua frente. Muito perto dela. Deduziu que foi ele que a acordou ao ouvir os seus gritos. Ela devia ter se debatido enquanto dormia também. Sem perceber, Mia o puxou para si e o abraçou forte. Ela estava tremendo. O abraçou mais forte e sentiu ele retribuir o gesto e passar a mão em seu cabelos tentando acalmá-la. Mia repetia mentalmente que precisava se acalmar. Tinha sido só um pesadelo. Não, não tinha sido só um pesadelo. Tinha sido real. Mia podia jurar que ainda sentia os estilhaços de vidro perfurando suas costas. E ainda sentia que estava caindo. Fechou os olhos. Abraçou Castiel mais forte. Ele não disse nada. Será que ela estava sufocando ele? Não passava pela sua cabeça que ele podia estar constrangido. Será que ele estava? Não parecia. Mia não se importava com nada. Só estava feliz por ele estar ali quando ela acordou para poder abraçá-lo. E então se deu conta de que aquilo a acalmava. Ele a acalmava. Embora estivesse apavorada com o pesadelo que havia tido, com ele ali a abraçando tinha certeza de que tudo ficaria bem. Sua respiração e seus batimentos foram voltando ao normal... Dean tossiu mostrando que ele e Sam tinham acabado de chegar no quarto.

– Ei! Nós temos regras nesta casa, sabiam? - brincou Dean.

Mia se deu conta de como aquilo era inapropriado e se afastou de Castiel constrangida. Sentiu seu rosto corar e mal conseguia olhá-lo. Por que tinha feito aquilo? Como era estúpida... Graças a Deus, Sam a salvou dizendo:

– Nós ouvimos gritos. Está tudo bem?

Mia ia responder, quando ouviu um barulho em outro quarto. Reconhecia aquele barulho... Tinha o ouvido há pouco no pesadelo... Não tinha sido um pesadelo. Todos a olhavam esperando que ela dissesse alguma coisa, mas ao invés disso, ela levantou e saiu depressa do quarto.

– Ei, Mia! O que foi? - quis saber Dean a seguindo com Sam e Castiel.

– Não foi um pesadelo... Não foi um pesadelo... - repetia para si mesma enquanto seguia pelo corredor.

Chegou no quarto e acendeu a luz. Caminhou até a janela que batia com a entrada do vento. A fechou. Sentia toda a tensão do pesadelo, mas agora estava acordada. Era como se estivesse o vivendo de novo. Dessa vez, de verdade.

– Mia... Você teve um pesadelo. Só isso. Está tudo bem. - tentou tranquiliza-lá Sam.

– Eu sabia que não era uma boa ideia deixar você ler aquele diário. - emendou Castiel.

– Você deve ter ficado impressionada. - completou Dean.

– Calados! - mandou Mia tentando se concentrar em um ruído que ouviu ao longe.

– Mia, foi só um sonho... - tentou Sam.

– Não... Foi real... Era o Ric... - respondeu ela enquanto ouvia o fantasma sussurrar seu nome como tinha ouvido no pesadelo. - Vocês ouviram isso?

Antes que alguém respondesse, o quarto ficou gelado e a luz começou a piscar. Antes que qualquer um pudesse pensar em fazer alguma coisa, Sam e Dean foram empurrados para longe, assim como Castiel. Por que aquilo estava acontecendo? Por que tinha sonhado com aquilo e agora tudo se repetia? Ric apareceu, se aproximou depressa e Mia sentiu a força dele a empurrar contra a janela. Sam pegou a arma e atirou no fantasma. Mia ouviu o vidro começar a trincar, mas algo a protegeu e a segurou nos braços. Era Castiel. De novo.

Sam e Dean se levantaram enquanto Mia se recuperava do susto.

– O que diabos era aquilo? - indagou Dean.

Castiel colocou Mia delicadamente no chão e ela respondeu:

– O que eu estou tentando dizer. Não foi um pesadelo. Foi real. Foi uma... Premonição. Aquele era Ric.

– Ric? Seu amigo que...? - tentou sondar Sam.

– Sim, meu amigo que o Crowley matou. - disse ela terminando a frase dele.

Depois de alguns instantes em silêncio, Dean perguntou:

– Mia, isso vai soar meio... Insensível, mas nós precisamos saber. Onde o seu amigo está enterrado?

– Você não está sugerindo o que eu acho que você está sugerindo, está? - temeu ela lembrando de como conheceu os Winchesters e de tudo o que leu no diário de John. - Vocês não estão pensando em queimar o corpo do meu amigo, estão?

– Aquele não parecia ser o seu amigo. - ponderou Dean - Em algum momento ele se tornou vingativo...

– Mia, se nós não fizermos isso, ele não vai parar. - avisou Sam.

A ideia de despachar um fantasma não a incomodava. A ideia de que fosse o fantasma do seu velho amigo Ric que morreu tentando protegê-la, sim. Mia andava de um lado para o outro no quarto. Tinha que ter outro jeito de resolver aquilo? Sua consciência dizia que não...

– Para onde os fantasmas vão quando...? - arriscou a perguntar Mia.

– Nós não sabemos exatamente. Eles simplesmente vão. - respondeu Sam.

– Mia, nós precisamos ser rápidos. - lembrou Dean - Ele vai voltar a qualquer momento.

Mia não conseguia pensar direito. Aquilo estava realmente acontecendo ou era mais um pesadelo? Sabia a resposta.

– Kansas. Cemitério Central do Kansas. - respondeu a garota meio que automaticamente.

– Ótimo. Não estamos muito longe. - disse Dean se virando e saindo do quarto.

– Espera um pouco. - pediu ela olhando para Sam e Castiel depois de uns instantes - Onde nós estamos exatamente?

Só então Mia se deu conta de que não fazia ideia de onde estava. Onde ficava aquele lugar? Pra onde Castiel a tinha levado quando a resgatou na biblioteca?

– Não estamos mais em São Francisco. - esclareceu Castiel.

– Lebanon, Kansas. - completou Sam.

Depois de se recuperar do choque de estar tão longe da república, ela disse:

– Então eu vou com vocês.

– Nem pensar. - disse Dean votando pro quarto trazendo uma enorme bolsa. - Acredite em mim, você não vai querer desenterrar, salgar e queimar o seu amigo... - lembrou enquanto tirava armas e sal da bolsa.

Embora soubesse que Dean estava certo, outra coisa a incomodava. Precisa perguntar:

– Então eu vou ficar aqui e atirar na cabeça dele quando ele voltar? Parece bem melhor...

– Eu posso fazer isso por você. - ofereceu-se Castiel.

– O quê? Não! - recusou Mia - Você precisa ir com eles. Eles vão chegar lá mais rápido se você usar o lance de se teletransportar. Como o Capitão Kirk.

– Quem é Capitão Kirk? - indagou Castiel sem entender aquela referência.

– Eu tive uma ideia melhor. - anunciou Dean enquanto juntava Mia e Castiel e fazia um círculo de sal em volta deles - Vocês dois ficam aqui e aconteça o que acontecer não saem deste círculo. - entregou uma arma para Castiel - Se o fantasma se aproximar demais dela, você atira. - entregou outra arma para Mia - E essa é só por precaução. Se você precisar usar, não pense duas vezes. Eu e o Sam vamos até o tal cemitério, fazemos o que temos que fazer e voltamos mais rápido do que o Sr. Spock calcularia.

Dean começou a guardar o restante das coisas e a sair do quarto com Sam.

– Deixa eu ver se eu entendi. - disse Mia fazendo com que eles parassem na porta. - Vocês vão me deixar aqui? Com ele? - perguntou olhando para Castiel.

– Esse é o plano. – confirmou Dean.

– Vocês não podem fazer isso... – disse Mia.

– Bem, eu pediria pro Sam ficar, mas ele não gosta muito de segurar vela, não é Sammy? – brincou ele.

– O quê?! – estranhou Mia.

– Dean! – repreenderam Sam e Castiel ao mesmo tempo.

– Dá pra você pelo menos fazer um círculo maior? – pediu ela.

Dean sorriu e finalizou:

– Se comportem e não esqueçam: não façam nada que eu não faria.

Quando ele e Sam saíram de vez do quarto, Mia perguntou sem virar-se para Castiel e tentando disfarçar o constrangimento:

– Ele disse mesmo aquilo?

– Disse. – respondeu Castiel não conseguindo disfarçar que também tinha ficado constrangido.

– Eu e você? – refletiu Mia – Nós somos como calda de chocolate e... peixe...

– Eu sou o peixe? - indagou o anjo.

– Sem ofensa. - respondeu ela.

As luzes piscaram novamente e Mia se aproximou de Castiel. Ric apareceu. Mia olhou para o fantasma do amigo e alguma coisa a impediu de atirar. Não importava se ele queria matá-la. Ainda era ele. O seu amigo da faculdade e da vida. Aquele que a ouvia contar os seus pesadelos e não a achava uma anormal. Aquele amigo em que toda garota podia confiar. Aquele amigo que morreu para protegê-la. O amigo gay engraçado e com um coração enorme. Mia se assustou com o barulho da arma sendo disparada por Castiel. O fantasma de Ric desapareceu em seguida. Mia tentou controlar aquele nó crescente em sua garganta.

– Você está bem? - quis saber ele.

– Não... - confessou ela sentando no chão. - Eu não posso fazer isso...

– Não se preocupe. Eu estou aqui. Eu posso. - garantiu Castiel.

Mia o olhou e disse:

– Mas eu não quero que você tenha que fazer isso. Eu não quero que Sam e Dean tenham que queimar o corpo do Ric... Ele era meu amigo. Você não entende?

– Eu sinto muito, mas Dean estava certo. Aquele não é mais o seu amigo. - disse ele com cuidado.

Mia não queria entrar naquela discussão. Sabia que Ric agora era um fantasma vingativo cujo único propósito era matá-la. Mas de alguma forma, ainda era ele. Como ela ia fingir que não sentia aquilo e simplesmente atirar nele?

– Podemos falar de outra coisa? - sugeriu ela tentando mudar de assunto enquanto o fantasma de Ric não aparecia. - Sei lá... Como você conheceu o Dean? - perguntou e sentiu-se patética em seguida.

– Eu não sei se eu deveria falar com você sobre isso... - esquivou-se Castiel.

– Por quê? O fantasma do meu melhor amigo quer me matar. O que pode ser pior do que isso? - questionou a garota.

– Eu o tirei do Inferno. - respondeu Castiel depois de um momento.

– Sério? - surpreendeu-se Mia - Quando?

– Há alguns anos... - respondeu o anjo.

Há alguns anos? Como assim há alguns anos? Ele não estava com os Winchesters há pouco tempo? Não era por isso que ele não estava com eles há dois meses quando eles enfrentaram os Cães do Inferno naquele cemitério?

Mia se deu conta de que a amizade de Castiel com os Winchesters parecia forte demais para quem se conheciam há tão pouco tempo. Se Castiel tinha resgatado Dean do Inferno há anos por qual razão ele não estaria com eles há dois meses. Ele estava.

Mia queria aproveitar que ele não tinha percebido a incoerência da resposta e descobrir mais.

– Sério? Do Inferno? E por que o Dean foi parar lá? - Mia deduziu o motivo e completou - Ele fez um pacto.

– Sim. – confirmou Castiel.

– Por quê? – quis entender ela.

– Para trazer Sam de volta. – esclareceu ele.

Mia percebeu que não sabia muito sobre os Winchesters. Tudo o que sabia tinha lido no diário de John ou deduzido durante algumas conversas no Impala. Tudo o que eles passaram. Por tudo o que eles ainda passariam. Aquela vida era realmente um saco.

– Tem uma coisa que eu não entendo. - recomeçou ela chamando a atenção de Castiel. - Eu sei que os meus pais fizeram um pacto desses e eu sei que eu descobri isso há dois meses, mas eu não me lembro como eu descobri. Ou... Quem me contou. - disse o olhando intrigada.

– Sam ou Dean devem ter descoberto e te contado. - mentiu ele.

– Não... - disse ela se aproximando dele - Foi outra pessoa. Eu só não consigo lembrar quem.

– Nós devíamos prestar atenção a nossa volta... Ric pode aparecer a qualquer momento... - tentou desconversar Castiel.

– Por que a minha cabeça está uma confusão desde que você restaurou o meu sistema? - insistiu Mia - Algumas coisas fazem sentido, mas outras... É como se faltasse uma parte... De mim. Por que eu sinto isso? Por que eu sinto que... Eu não deveria acreditar em você, mas de alguma forma eu acho que eu posso confiar em você?

Mia virou-se ao sentir um arrepio em suas costas. Era Ric. Mais uma vez ela não conseguiu atirar nele. Castiel o fez.

– Porque você pode confiar em mim. - respondeu ele.

Enquanto isso, Sam e Dean chegavam no cemitério e procuravam o túmulo de Ric. Ouviram um trovão. E logo a chuva começou a cair.

– Temos que fazer isso rápido, Dean. – avisou Sam.

– Cavar túmulos com chuva. Ótimo. - reclamou Dean pegando uma das pás e começando a cavar.

Mia começou a ouvir o barulho da chuva e disse:

– Espero que não falte luz.

– Por quê? Você tem medo do escuro? Por que os humanos têm medo do escuro? – questionou Castiel.

– Não, eu não tenho medo do escuro. Eu tenho medo de ficar no escuro com um fantasma querendo me matar... - explicou a garota.

Ric apareceu novamente e Castiel atirou rapidamente nele. Em seguida, um trovão fez Mia se assustar. Num gesto instintivo, ela abraçou Castiel fazendo com que a arma dele caisse fora do círculo. Ric apareceu atrás dele. Mia tinha que pensar rápido. Tinha que agir rápido. Pegou a sua arma. Mirou.

– Desculpe, Ric... - disse ela atirando em seguida.

A arma caiu de sua mão e Castiel a pegou.

– Oh meu Deus! Eu atirei nele! - culpou-se ela levando as mãos à cabeça.

– Você não teve escolha. – tranquilizou Castiel.

Ric apareceu novamente, mas Castiel não precisou atirar. Uma chama começou a envolver o fantasma enquanto ele gritava. Mia ficou apavorada e tentou se aproximar para ajudar o amigo. Castiel a segurou. Os gritos de Ric ecoaram na cabeça de Mia até o último instante em que ele queimou. Não conseguia pensar ou dizer nada. Estava em choque. Por mais que já tivesse visto aquele acontecer com um fantasma, aquele era diferente. Era Ric... Sua cabeça girava. O nó crescente em sua garganta tinha voltado. Não saberia dizer por quanto tempo ficou parada ali. Mas algo de repente a trouxe de volta. Era Castiel colocando a mão em seu ombro. Ela conteve o choro. Sem pensar virou devagar e o abraçou. Fechou os olhos e colocou a cabeça em seu peito. Depois de alguns minutos, ela se afastou devagar e o olhou.

– Obrigada. - agradeceu Mia antes de deixar aquele quarto.

Caminhou pelo corredor e logo chegou ao seu quarto. Fechou a porta e ficou apoiada nela. Aquela era a vida que ela queria? Caçar coisas? Mesmo que essa coisa fosse um amigo? Um fantasma de um amigo...

Caminhou até a cama e tirou os sapatos. A chuva continuava caindo. Trovões clareavam o seu quarto. Deitou e se encolheu. Ficou olhando a chuva cair. Não conseguiu dormir. Não queria dormir. Queria desaparecer. Queria que tudo aquilo desaparecesse. Não queria sentir aquela dor. Levantou e foi até a janela. Depois de um tempo viu o Impala chegar. O dia estava quase amanhecendo. A tempestade tinha passado.


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Notas finais do capítulo

Sim. Eu sou fã de Jornada nas Estrelas.
E sobre a piadinha da calda de chocolate e do peixe, vi uma vez em Smallville (Sim. Eu sou fã de Smallville) e resolvi aproveitar com esses dois!
Inté o próximo capítulo!