Paradoxo Temporal escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 6
Por trás de uma bandana...


Notas iniciais do capítulo

... Fragmentos de uma guerra perdida.



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- Ginmaru-san! – Shinpachi o chamou. – Tem alguma coisa pra Kagura-chan comer? Qualquer coisa?

- Vou lá pegar! – Ginmaru disse ao mesmo tempo em que largou Gintoki, que caiu de cara no chão.

- Ei! – Gintoki reclamou enquanto passava a mão pelo nariz dolorido. – Isso não é maneira de tratar seu pai, moleque mal-educado!

No entanto, parou de reclamar quando viu que Shinpachi e Katsura continuavam a tentar colocar a alma de Kagura de volta a seu corpo.

- Ô Ginmaru! Espera aí que vou te ajudar a encontrar algo! – falou e saiu correndo para a cozinha.

- Não precisa, não, já achei... OOPS!

Ginmaru acabou trombando com Gintoki e os dois caíram no chão. O iogurte de morango – que fora a primeira coisa que o jovem albino encontrara – acabou voando e se derramando, num incrível golpe de sorte, por cima da alma de Kagura, que voltou à boca da garota. Nisso, ela voltou à vida. E a caixa com o restante do líquido rosado caiu em cima da cabeça da garota, derramando tudo por cima de seus cabelos ruivos.

- Olha só o que você fez! – Ginmaru deu bronca em Gintoki. – Eu tava racionando esse iogurte pra durar mais dois dias!

- Eu não tenho culpa se você não avisou que tinha achado! – Gintoki pegou na gola da camiseta do rapaz. – Deveria ter avisado, assim eu não teria trombado com você, e... Você tava racionando o iogurte??

- Sim. Eu daria apenas um copo para a Kagura. Agora eu vou passar o resto da semana sem nada.

- Por quê? – agora o ex-samurai ficava intrigado.

- Porque toda semana os homens do governo confiscam 90% dos alimentos e ganhos que a população consegue adquirir. Esta semana, eu comprei dez caixas de iogurte de morango, eles me confiscaram após muita briga e fiquei com apenas uma para a semana toda.

- Como é que você consegue viver com tão pouco açúcar, Ginmaru?!

- Nem eu sei. Mas é assim que são as coisas aqui, desde que eles ganharam a guerra de dez anos atrás.

- A guerra em que eu desapareci, certo?

- Sim. Foi nesse dia que ganhei esta bandana.

Ginmaru retirou de sua cabeça a bandana branca que usava e mostrou ao Sakata mais velho, que reconheceu aquela faixa dos tempos em que integrava o Joui.

- Eu fui escondido atrás de você e acabei cercado por um monte de Amantos. Eu tinha apenas oito anos e pouca habilidade para usar uma espada. Na verdade, eu estava ainda aprendendo a manejar uma. Eles me atacaram e me jogaram no chão, onde eu bati com a cabeça e me feri. Quando eu me levantei, estava prestes a levar o golpe de misericórdia.

[Flashback ON!]

O pequeno Ginmaru conseguiu se levantar com muita dificuldade, sua cabeça latejava de dor devido ao corte que sofrera e, que nesse momento, sangrava bastante. Estava encurralado, mas quando estava prestes a levar o golpe fatal, alguém apareceu à sua frente e, num giro completo, retalhou todos os Amanto ao seu redor.

O garoto abriu os olhos e viu à sua frente um homem todo de branco, embainhando novamente sua katana. Era o lendário Shiroyasha.

- Você ficou maluco, moleque? – ele disse. – Poderia ter morrido!

- Me desculpa, pai... – Ginmaru respondeu cabisbaixo. – Eu só queria ajudar.

O homem albino se agachou para olhar nos olhos do garoto:

- Se você morresse, eu não me perdoaria. Não quero perder mais ninguém.

Nisso, retirou sua bandana da cabeça e a colocou em Ginmaru.

- Se você quer me ajudar como um verdadeiro Yorozuya, proteja quem é importante pra você... E, neste momento... O que é importante pra mim também.

O garoto não respondeu nada, parecia ter entendido a profundidade das palavras de Gintoki. Os dois pares de olhos avermelhados se encararam por um bom tempo. Porém, o Sakata mais velho se levantou e deu as costas a Ginmaru.

- Ginmaru – disse sem se virar. – Vá proteger a Yorozuya! AGORA!!

O menino não hesitou e saiu correndo sem olhar para trás. Era hora de mostrar que não era apenas um moleque, mas sim que em suas veias corria o sangue do lendário Shiroyasha. Ele possuía alma de samurai, como seu pai, e continuaria assim.

Em dado momento, quando conseguiu percorrer uma boa distância, Ginmaru olhou para trás e viu Gintoki sendo atacado por dezenas de Amantos. Por mais que ele tentasse se livrar dos adversários, não conseguia se livrar dos outros que chegavam ali. A cena era desesperadora, Ginmaru queria ir lá e ajudar.

Mas alguém o segurou pelo braço. Olhou para trás, os olhos avermelhados encharcados de lágrimas de desespero. Elizabeth o segurava, impedindo-o de sair dali. Viu que seu pai sumia por entre as dezenas de Amantos.

- PAAAIII!!!

[Flashback OFF!]

- Quer dizer que foi isso... O que aconteceu...? – Gintoki disse, ainda impressionado pelo relato de Ginmaru a respeito daquela bandana branca.

- Foi. – Ginmaru respondeu. – Desde então eu não tive mais pistas do seu paradeiro. Na verdade, não surgiu nenhuma pista.

- Nem você tem uma pista, Zura?

- Não é Zura, é Katsura – Katsura repetia seu bordão mais uma vez. – Infelizmente, eu também não tenho nenhuma pista. Quando eu cheguei para ajudar, só encontrei manchas de sangue humano. Era seu sangue, mas não havia nenhum vestígio de que você poderia estar morto, nem nada. Os Amanto daquela guerra possuíam sangue verde.

- Por que aconteceu essa guerra, Katsura-san? – Shinpachi indagou.

- Os Amanto que vieram aqui não só derrubaram o até então shogun, como começaram a propagar a ideologia de que eram superiores aos humanos e Amanto que já viviam aqui. Como vê, eles enviam cobradores de impostos para confiscar 90% de tudo o que as pessoas conseguem para viver, seja alimento, dinheiro ou qualquer outra aquisição. O Joui se opôs fortemente contra isso e declarou guerra contra eles.

- E onde eu entro nisso? – Gintoki perguntou.

- A princípio, você não queria quando te convidei. – Katsura respondeu. – Mas o que pesou para você voltar ao Joui foi o fato de ter sido humilhado publicamente pelo atual governante, ao resistir ao confisco.

- Pelo jeito não consegui chutar o traseiro dele.

- Não, não conseguiu porque desapareceu antes e nós também perdemos a guerra, eles estavam – como na primeira guerra – com armamentos mais sofisticados, enquanto nós tínhamos apenas espadas e pistolas simples.

- Quem mais esteve nessa guerra?

- O Sakamoto e o Takasugi. Claro que, anos após a morte da Kagura, você descobriu a aliança entre ele e Kamui e queria vingá-la, mas deu uma trégua. E essa vingança nunca aconteceu e nunca vai acontecer.

- Por causa do meu desaparecimento?

- Não só por isso, mas porque Takasugi morreu em combate.

- Tsc, bem que mereceu. Mas foram só o Joui e o Kiheitai que entraram na batalha?

- Não. O Shinsengumi também entrou. Houve muitas baixas e com a derrota eles ficaram sob o comando do novo governo e deixariam de ser leais ao shogun deposto. Qualquer tentativa de levante da parte deles resultará em matança de todos do Shinsengumi. E, independente de quem tentar, os primeiros a sofrer a punição serão os do alto escalão.

- Espera aí!! – Shinpachi exclamou. – Quer dizer que meu “eu” desta época corre o risco de ser condenado ao seppuku por qualquer manifestação contrária ao governo daqui?!

- Será o primeiro, por ser o Comandante. – Katsura afirmou.

Nisso, a conversa foi interrompida pelo som da porta corrediça sendo aberta violentamente. Três seres adentraram a Yorozuya sem a menor cerimônia. Um era humanoide e tinha cara e escamas de réptil. O outro tinha a mesma aparência, porém era mais alto e o terceiro era um humanoide com cara de furão, que era o líder.

- Sakata Ginmaru – o líder do trio chamou. – Queremos o tributo de hoje.

- Sem essa! – Ginmaru replicou enquanto colocava a bandana de volta à cabeça. – Esta semana vocês já me tiraram nove caixas de iogurte! Podem cair fora, não tenho mais nada pra oferecer! Voltem na semana que vem!

- Mas hoje é tributo especial, moleque! Aniversário do nosso estimado governante!

- Gyaa, gyaa, gyaa...! – Ginmaru ironizou. – Já tô de saco cheio de vocês aqui invadindo o sagrado refúgio de um trabalhador como eu! CAIAM FORA DAQUI!!

O jovem albino alcançou uma espada de madeira que estava próxima. Correu até o trio intruso e acertou os três Amanto com um golpe só, de forma que caíram no chão. Assim que conseguiram se refazer do ataque que sofreram, se levantaram, mas não exibiam nenhuma expressão de humilhação.

Muito pelo contrário. Eles estavam sorrindo de forma bastante cruel. Era a primeira vez que Ginmaru via essa expressão confiante na cara deles.

- Já vi que vamos ter que adotar uma postura mais rígida com você, moleque. – o cara de furão disse. – Vamos ter que colocar nosso “Carrasco” pra puni-lo adequadamente.

- Pode mandar seu “Carrasco” pra cá, palhaço! – o jovem desafiou. – Vou te provar que não sou apenas um moleque.

- Como quiser. – olhou para seus asseclas com cara de réptil. – Chamem o “Carrasco”. Este moleque precisa de um corretivo dado pessoalmente pelo “Demônio Branco”.

- Demônio Branco? – Ginmaru perguntou, com a sensação de que ouvira esse nome em algum lugar.

- Ei, Ginmaru – Gintoki disse. – Tenho a sensação de que podemos encontrar seu pai desaparecido...

- Como é que você...?

- Você é filho do Shiroyasha, o “Demônio Branco”. – Katsura sentenciou.

- Katsura-san – Shinpachi interveio. – Quer dizer que...

-... Encontramos o outro Gin-chan? – Kagura completou.

- Ao que parece, sim. – o líder Joui respondeu.

- Será...? – Ginmaru ainda estava incrédulo.

Nisso, surgiu diante do incrédulo rapaz um homem todo de branco portando uma katana sedenta de sangue. Seus cabelos, curtos, prateados e enrolados e seus olhos avermelhados eram inconfundíveis. Ginmaru imediatamente desviou seu olhar para o Yorozuya logo atrás de si.

- Sakata Ginmaru – o Amanto com cara de furão disse sorridente. – Eu lhe apresento o nosso “Carrasco”... O lendário Shiroyasha, o Demônio Branco!


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