Acordo juntamente com o nascer do sol, e sorrateiramente saio da caverna e vou até o ribeirão para me lavar. Enquanto isso meus pensamentos só se focam em como as chances de James morrer se eu não for à Cornucópia são imensas. Estou tão imersa em meus pensamentos que não percebo um paraquedas ao meu lado. Abro e vejo um remédio, o que me alivia instantaneamente, poderei salvar James. Mas antes que prossiga com tudo, abro o frasco e aspiro profundamente e quase vomito com o cheiro altamente doce e enjoativo. Para certificar-me, coloco uma gota na ponta da língua. É um sonífero, muito comum no Distrito 12, eu mesma tomava às vezes. Eu ainda guardo um pouco em casa, para casos extremos. Um frasco desse poderia deixar James fora do ar por um dia inteiro. Minha intenção nesse momento é jogar essa dádiva do Phill ribeirão abaixo até que uma ideia me ocorre. Um dia inteiro ? É mais tempo do que precisarei. Vou procurando até que acho um pouco de amoras, e provo elas. Comestíveis.

Misturo o remédio com um punhado de amoras, de modo que o sabor não fique tão acentuado a ponto de ser reconhecido, e por sorte acho umas folhas de menta que misturo junto para equilibrar, e coloco de volta no pote do xarope. E volto para a caverna.

–Carlie, onde esteve ?- James disse um pouco irritado.

–Calma, só fui me lavar e trouxe umas amoras, ou pelo menos uma espécie de geleia delas.

James hesita antes de dar o primeiro gole, engole e em seguida franze as sobrancelhas.

–Amoras ? São bem doces.

–Sim. São amoras de olmeiro.Minha mãe tem uma receita de geleia delas que é ótima. Você nunca experimentou ? - pergunto dando-lhe mais um gole da mistura.

–Não- diz ele um pouco perplexo- Mas o gosto é bem familiar. Amoras de Olmeiro ?

–Ah, não é fácil de achar nos mercados, só se você vive na floresta você encontra- explico e dou-lhe mais um gole, agora só mais um.

–O sabor é bem doce mesmo, parece xarope- diz ele tomando o último gole- Xarope- seus olhos se arregalam com a descoberta.Coloco minha mão impedindo que ele de cuspir o líquido. Ele tenta vomitar mas é tarde demais. Quando ele apaga, vejo que o que fiz é imperdoável.

Fico sentada sobre meus calcanhares olhando para ele e sentindo uma mistura de tristeza e satisfação. Um rastro de amora escorre pelo seu queixo.

–Quem é que mente mal, James ?- disse sabendo que ele não me ouviria, mas foda-se, Panem toda me ouve.

Nas próximas horas, tento colocar várias pedras para camuflar a abertura da caverna. Assim me sinto mais segura em relação a James.

Depois que termino de arrumar a caverna, pego duas facas e minha espada e vou em direção à Cornucópia. Chego lá e tem três sacos com os números dos distritos 2, 9 e 12. Aguardo por mais ou menos duas horas e a garota ruiva do 9 corre rapidamente e pega seu saco e some, literalmente. Espero por mais ou menos meia hora e nada de Cato ou de sua companheira aparecerem. Vou em direção à Cornucópia e fico parada no lado da mesma, nenhum sinal do Distrito 2. Pego o meu saco e corro de volta, ou tento. Me deparo de cara com a garota do 2 que joga uma lança contra minha cabeça, e desvio, mas que faz um corte enorme em minha testa. Largo o saco e a ataco, nós duas caímos no chão. Minhas facas caíram na corrida e minha espada está longe, a garota pega uma pedra e bate do lado da minha cabeça, o que faz com que eu caia e ela fique por cima de mim.

–Cadê o conquistador ?- perguntou ela rindo- Ah, Cato o matará, depois que eu matar você.

Mas apenas sinto ela saindo como uma almofada de cima de mim, e vejo a garota ruiva em um combate corpo a corpo com a garota do 2.

Chego junto e a seguro contra a parede da Cornucópia e a garota a acerta com uma pedra na cabeça algumas vezes.

A garota cai no chão e soa o canhão, uma a menos.

–Trégua ?- pergunto, e a garota fica pensativa.

–Trégua- disse ela pegando meu saco e corro de volta para a caverna.

Bom, coisas que tenho certeza: está doendo pra caralho onde aquela garota me acertou com a pedra e James vai me matar quando souber que o droguei para ir à Cornucópia.