A Filha Do Sol escrita por Let B Aguiar, Taty B


Capítulo 20
Tiramos leite de vacas cor-de-cereja


Notas iniciais do capítulo

Leitores lindos! Aqui está o capítulo 20! E caramba... Nós estamos muito felizes com a primeira recomendação da fic!
Só um gif personifica o que a gente sentiu ao ler a recomendação:
http://bit.ly/18x7mOE
HAHAHA! É muita emoção!
Um super obrigado à lindíssima que recomendou a nossa história!
Agora, deixa eu parar com o blábláblá, whiskas sachê... Nos vemos lá embaixo.



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Paramos exatamente na frente de um homem sentado em uma cadeira de praia de alumínio e estampa listrada. Ele estava lendo uma revista de economia, que consequentemente escondia seu rosto. Ninguém na praia parecia perceber que três adolescentes surgiram repentinamente no meio da areia. O lugar era muito quente, e eu não fazia a mínima ideia de onde estávamos. De primeira, pensei que algum dos meninos não tinha feito o desejo corretamente, mas Ryler e Leo pareciam tão confusos e pasmos quanto eu.
O homem sentado na cadeira de praia baixou a revista e nos olhou por cima das lentes do Ray Ban aviador. Isso pode soar estranho, mas eu senti que ele era quem nós procurávamos, por mais ridículo que seja ver um deus nesses trajes, especialmente quando se trata do conhecidíssimo deus dos ladrões e viajantes. O cara que parecia ser Hermes tinha os cabelos grisalhos e era magro; não um magro esquelético, mas um magro atlético. Pensei que nunca veria alguém vestido como um personagem de desenho. Tinha que me acostumar a nunca dizer nunca. O deus vestia uma camisa de botões azul, bermudas floridas e chinelo de dedo. Vestido desse jeito e segurando uma bebida colorida na mão, ele estava parecidíssimo com Charlie Sheen. Porém, seu rosto se contorcia numa expressão tão amarga quanto a de Sylvester Stallone em Os Mercenários.
– Vocês estão encobrindo o sol.
Nós demos licença e ele continuou nos olhando mal humorado. Notei que algo parecido com uma bengala, com duas cobras se enrolando em seu ápice, estava fincado na areia ao seu lado. Aquele só poderia ser o famoso caduceu.
– Hermes? – eu perguntei, um tanto receosa.
Ele soltou um muxoxo.
– Sim, sou eu. O deus dos viajantes e dos ladrões, mas neste exato momento estou tentando me passar por um mero mortal de férias nas Bahamas e não vou prestar ajuda a ninguém.
– Você nem sabe por que viemos até aqui! – Leo gesticulou. Pensei que Hermes converteria Leo em pó, mas o deus apenas deu risada.
– Ora ora, se não é Leo Valdez. – o deboche na voz de Hermes foi similar ao do próprio Leo – Garoto, você já esteve em outras missões e me conhece muito bem para saber que semideuses me procuram por puro interesse. Isso é um absurdo! Eu sou o deus dos viajantes e não paro um segundo para viajar em paz! E quando consigo fazer algo que não seja entregas, três semideuses perdidos aparecem em meu caminho. Vocês sabem há quanto tempo que eu não descanso, crianças? Há eras! E tenho apenas dois dias de férias! Dois míseros dias!
Assustei-me com o pequeno surto de Hermes. Não esperava que um deus fosse tão estressado assim, mas não era por menos. Ele deveria enlouquecer com todas as mensagens e entregas que precisava realizar.
Uau, Hermes” ouvi uma voz masculina em minha mente “ Tem certeza que veio até aqui para relaxar?”
George, em boca calada não entra mosca! “ outra voz, dessa vez feminina, replicou.
De certo, querida. Mas bem que poderiam entrar alguns ratos.
– Fiquem quietos. – Hermes revirou os olhos e concluí que ele só poderia estar falando com as mesmas vozes que ouvi.
Quase fui para trás quando notei que as cobras no caduceu ganharam vida. E aparentemente, eram suas vozes que invadiram meus pensamentos. E vamos dizer que eu tenho um pequeno probleminha com cobras. Apenas permaneci estática para não parecer tão idiota na frente de um deus.
– Essas cobras... elas estão vivas? E falando? – Ryler demonstrou tanta incredulidade quanto eu.
– Sim, jovem. São minhas secretárias. George e Martha. – Hermes continuava a nos tratar com indiferença.
Pigarreei e juntei coragem para tentar iniciar uma conversa amigável com o deus.
– Desculpe estar lhe incomodando, Lorde Hermes. Mas nós realmente precisamos de sua ajuda. Não estaríamos aqui perturbando seu descanso se não fosse necessário. – eu tentei ser a mais cordial possível. Minha mãe sempre me educou muito bem e esperava ter tratado um olimpiano corretamente.
Hermes me examinou e estreitou os olhos.
– Muito educada você, filha de Apolo. Se não estivesse segurando um arco e flecha, arriscaria dizer que é uma filha de Afrodite, tanto pela beleza quanto pela educação. Se não me engano você é a Patricia, certo? Seu nome está sendo muito comentado no Olimpo.
– Espero que seja de uma forma boa. – eu continuei – Você mencionou Afrodite, e o que temos a lhe falar a envolve.
Hermes fez um sinal com a mão.
– Sim, mas antes eu quero conhecer seus companheiros. – ele virou-se para os garotos. – Eu nunca esqueceria essa sua cara de malandro, Valdez. Muito menos o seu poder. E você... pela pose de marrento, só pode ser filho de Ares. Tenho a impressão que já o vi em algum lugar, mas não estou lembrado. Qual é o seu nome mesmo?
– Ryler Langdon.
– Oh sim. – Hermes exclamou – Ares comenta muito de você. Diz que é um de seus filhos favoritos, depois de Clarisse La Rue. Nós já nos encontramos alguma vez?
– Não, senhor.
– Eu devo estar ficando louco. – o deus resmungou.
Leo pigarreou e sorriu.
– Que bom que você lembra de mim, Hermes. Isso era o mínimo depois de eu ter salvado o mundo, não?
Hermes fez uma cara desgostosa devido ao sarcasmo empregado por Leo, e eu optei por interrompê-los.
– O senhor está disposto a ouvir o que nós temos a dizer?
– Sim, é claro. Pode começar. – Hermes deu de ombros, pegou a bebida azul berrante e começou a tomar pelo canudinho. Nós contamos a ele o motivo que nos levara até ali e porque a sua ajuda era tão necessária.
Agora que terminaram, será que alguém tem um rato sobrando por aí? Estou faminto.“ a voz de George, a cobra, voltou a ecoar em minha mente. “Menina bonita com um arco e flecha, você não poderia caçar um rato para o pobre George?
Você precisava mencionar o bonita, George? Depravado! E esfomeado!” a cobra Martha demonstrou irritação e eu dei um passo para trás.
– Não, eu não vou caçar um rato! Não existem ratos em praias paradisíacas nas Bahamas! – falei, e Leo e Ryler olharam para mim, segurando um riso. Talvez houvessem percebido o medo que eu sentia daquelas cobras.
Hermes deixou o coquetel de lado e cruzou as pernas.
– Ignore meus assistentes. Eu já estava a par do desaparecimento de Eros, mas não sabia de todos esses detalhes. Se interessa a vocês, Afrodite está surtando lá no Olimpo e está inconsolável. Zeus e os outros deuses estão até temendo que Afrodite entre em depressão e pare de cumprir seu papel.
– E você não está preocupado com isso? – Leo perguntou.
– Eu? Ah, não mesmo. Já estou acostumado com esses surtos repentinos e dramáticos de Afrodite. Tenho problemas o suficiente para me preocupar. Porém, desta vez seu surto é plausível. Afinal, Eros é o seu filho preferido. Psiquê deve ter lhes dito que os dois trabalham quase que em conjunto, sim?
– Ela mencionou isso. – eu assenti – Hermes, você é a nossa última esperança para completarmos essa missão. O meio de transporte que usávamos caiu num lago e afundou. Não há outro jeito de chegar até a Paris a tempo de salvar Eros sem sua ajuda.
Hermes pareceu avaliar o que eu dissera enquanto coçava a barba rala.
– O que você disse, Patricia, é um fato. Mas a questão é: por que eu os ajudaria? Sinto lhe informar, mas não tenho nada a ver com o desaparecimento de Eros.
– Porque você é um deus. – Ryler falou o óbvio – Você, tipo, precisa ajudar semideuses quando eles recorrem a você.
– Não exatamente, filho de Ares. Como você mencionou, eu sou um deus. Eu faço o que bem entender, não há nenhuma lei dizendo que os deuses são obrigados a ajudar semideuses em missões. Os deuses geralmente interferem numa missão quando acham realmente necessário.
– E você não acha que precisamos de sua ajuda? – Leo questionou.
– Eu tenho certeza, Leo Valdez. Mas não costumo prestar favores sem receber alguma recompensa.
Então eu entendi onde Hermes queria chegar. Se nós quiséssemos sua ajuda, iriamos ter que aceitar seu preço e fazer o que ele nos pedisse. Psiquê tinha razão. Hermes era um deus astuto e sabia como negociar.
– Qual é o seu preço? – eu fui direta – O que quer que a gente faça para você nos ajudar?
Hermes sorriu maliciosamente.
– Você é esperta, garota. Vou contar um segredo a vocês: eu estou morrendo de vontade de tomar um milkshake.
– E...? – Leo arqueou uma sobrancelha.
– E eu quero que vocês façam esse milkshake para mim.
Ryler riu.
– Esse é seu preço? Um milkshake?
– Dê risada agora, Ryler Langdon, pois aposto que depois irá chorar. – o deus soou ameaçador. – Vocês devem saber que o milkshake é feito de leite. Mas eu não quero meu milkshake feito com qualquer leite. Eu quero um milkshake com o leite da vaca Molly, uma das vacas sagradas de Apolo.
Ryler e Leo assumiram posturas rígidas, ao contrário de mim. Eu explodi em risadas. O que ele estava dizendo? Por que diabos o deus do sol teria um rebanho de vacas? Isso não fazia sentido!
– Eu entendi direito ou você falou vacas sagradas? – eu não conseguia parar de rir.
– Sim, eu disse vacas sagradas. – Hermes confirmou – Por que seus amigos não lhe explicam o que são essas vacas?
Leo virou-se para mim. Eu pude enxergar uma ponta de medo em seus olhos.
– Pattie, seu pai tem um rebanho de vacas cor-de-cereja. Por incrível que pareça, essas vacas são valiosíssimas para Apolo, e nunca nenhum semideus arriscou fazer algo que as ameaçasse. Elas ficam num rancho chamado Triplo G, um lugar onde os deuses guardam alguns de seus pertences sagrados. Os únicos que já foram até o Rancho Triplo G e voltaram vivos são Percy, Annabeth, Grover e Nico di Angelo.
– E agora vocês. – Hermes se divertia com a nossa indignação – Vocês irão roubar o leite da vaca Molly para mim e o trarão até uma hora da tarde. Ninguém pode saber quem os mandou fazer isso, pois seria ridículo o deus dos ladrões mandar alguém roubar algo. E, é claro, vocês não podem ser vistos.
– Como nós vamos saber qual é a vaca Molly? – a pergunta de Ryler foi extremamente válida. Eu pretendia perguntar a mesma coisa, mas ele fora mais rápido.
– Não sei, isso não é problema meu. – o deus deu de ombros novamente – Se vocês querem chegar até Paris e salvar Eros, tragam-me um milkshake com o leite da vaca Molly até uma hora da tarde. Esse é meu preço. Vocês estão dispostos a pagar, semideuses?
Hermes direcionou a pergunta especialmente para mim. Eu era a líder da missão, então deveria dar o veredito final. Meu pai que me perdoasse, mas para o bem da missão eu roubaria até a vaca inteira se isso nos ajudasse a salvar Eros.
– Nós aceitamos.
– Ótimo! Não façam nada que eu não disse, se não, o trato estará desfeito. Ok?
– Espere. – eu me lembrei de uma última colocação a fazer – Se você tem um preço, nós também temos direito a um. Quero que jure pelo Rio Estige que se trouxermos o leite, você não irá faltar com sua palavra e irá cumprir sua parte.
Os olhos do deus dos ladrões se estreitaram, mas ele assentiu.
– Eu juro pelo Rio Estige que se vocês me trouxerem o leite, vou manda-los à Paris. – ele fez o juramento. Contra a sua vontade, é claro.
Sorri com orgulho da minha própria habilidade de negociação e olhei para Leo e Ryler. Os dois me fitaram, surpresos, como se eu fosse alguma doida que não tinha noção do perigo. Mas qual é! Se eu iria roubar algo valioso do meu próprio pai, por que não poderia abusar da minha condição?
– Tudo bem, então. – Hermes finalizou a conversa. Ele colocou os óculos de sol no rosto e cruzou os braços atrás da cabeça. – Boa sorte. Vejo vocês em quatro horas.
Hermes estralou os dedos e eu tive a mesma sensação de antes: a de ser jogada num liquidificador em pleno funcionamento. No segundo seguinte, eu estava parada no meio de um gramado extremamente verde, maior que cinco campos de futebol. Não se via nada além de grama, árvores e mato. Bem ao fundo, eu enxerguei uma casa grande e mais nada. O lugar era belíssimo, e eu tive vontade de rolar naquela grama verde esmeralda. Ok, admito que às vezes eu tenho umas vontades estranhas.
– Então, esse é o rancho Triplo G? Onde estão as vacas de meu pai?
– Ah, não sei... Talvez elas sejam vacas voadoras e voem até nós. Nós temos que procurar né, Pattie! – Leo rolou os olhos.
Ryler fez uma careta engraçada, como se tentasse não rir da piada de Leo.
– Temos que ser rápidos, ninguém pode nos ver. O que acham de nos dividirmos?
– Calma ai, fanfarrão. – Leo fez uma objeção – Isso daqui não é um campo de guerra. A gente tem que fazer isso juntos. Vamos pegar o leite da maldita vaca Molly e depois vazar, ok? Juntos.
Concordei com o filho do deus dos ferreiros e foi a vez do meu namorado rolar os olhos, impaciente. Nós começamos a andar sem rumo, apenas procurando o sinal de algum celeiro. Passamos por alguns estábulos com animais que eu sequer me dei o trabalho de ver. Tudo naquele lugar parecia muito estranho, até mesmo as árvores. Apague tudo o que eu disse antes. Aquele rancho era assustador, apesar de bonito. Tudo era muito calmo... o vento batia e fazia as folhas das várias árvores farfalharem, dando a sensação de que algo muito perigoso podia acontecer a qualquer momento.
– Nós estamos parecendo os Três Espiões Demais. – eu disse, tentando descontrair.
Leo riu da minha piadinha e Ryler pareceu não entender.
– Vai dizer que você nunca assistiu Cartoon Network, Ryler? – Leo perguntou sarcasticamente. – Cara, você teve infância ou já nasceu na base do exército segurando um fuzil e uma granada?
– A infância foi a pior época da minha vida. Eu não tinha vontade de assistir desenho. – Ryler respondeu mal humorado, como de costume.
Ficamos em silêncio após isso. Apesar de namorar Ryler, eu não sabia quase nada de sua vida. Por que ele não me contava? Eu me chateava com isso, mas por outro lado, entendia que seus motivos para ocultar certas informações deveriam ser realmente fortes.
Andamos mais uns vinte minutos, e eu já começava a transpirar. O sol brilhava forte lá no alto e não era fácil caminhar carregando aquela mochila pesada. Durante o caminho, Ryler tropeçou cinco vezes. Não me pergunte como ele conseguiu tropeçar em nada além de grama; isso era bizarro até para os padrões Patricianos de trapalhadas. Leo esquecia o cansaço e ria como um idiota toda vez que aquele grandão tropeçava. Até eu não conseguia me conter.
Quando chegamos numa descida, Leo soltou um suspiro cansado.
– Essa foi a maior caminhada que já fiz na minha vida. Mas pelo menos valeu a pena! Olhem lá embaixo.
Olhei para baixo e a satisfação tomou conta de mim. Era isso! As vacas cor-de-cereja estavam bem abaixo de nós. Só precisávamos descer a encosta e chegaríamos até elas. Eu estava cansada, mas tudo pareceu passar quando vi aquelas duas dúzias de vaca pastando.
– Então, como vamos descer? A gente vai sair rolando! – Ryler provavelmente não aprovava a ideia de detonar suas roupas novas ao rolar na grama.
Eu dei o meu melhor sorriso de menina travessa.
– Correndo, é claro. – eu propus. Leo sorriu com a minha ideia e Ryler me olhou num pedido mudo de piedade. – Venham seus molengas, vamos perder mais alguns quilos.
Os três desceram aquela ladeira parecendo retardados. Sério, eu podia ver a hora que algum de nós tropeçaria e rolaria até o fim da encosta. Mas, (in)felizmente, isso não aconteceu. Ao chegarmos na parte plana, Leo quase se jogou na grama de cansaço. Ryler suspirou e limpou o pouco suor que escorria em sua testa e eu expirei, exausta. As pessoas costumam pensar que os magros não se cansam; mas isso é a maior besteira já dita pelo homem. Sou magra e me canso tanto quanto alguém com uns quilinhos a mais!
– Vacas malditas. Hermes hijo de la puta. Apolo idiota. Encosta maldita. Rancho de mierda. – Leo xingou. Ele parecia realmente bravo, mas foi tão engraçado ouvi-lo praguejando em espanhol que não resisti e ri.
Ryler alongou os braços.
– Pattie, se você não se importa, eu vou tirar a camiseta. Eu estou suando que nem um porco e está muito calor.
Assenti e Ryler tirou a camiseta. Tentei não olhar, mas foi basicamente impossível. Ryler era perfeito demais para não ser observado. Ele amarrou a camiseta branca na cabeça, como se fosse uma bandana. Eu sentia o mesmo calor que eles, mas infelizmente possuía atributos que não podiam ser mostrados.
Leo revirou os olhos quando viu Ryler sem camisa.
– Legal, nem acredito que vou tirar leite das tetas de uma vaca com o Rambo.
O brutamonte cerrou os punhos e eu fiz sinal para que ele se controlasse. Leo realmente não tinha medo de ser jogado num monte de estrume.
– Chega de conversa e vamos ao que interessa. Já perdemos muito tempo. – Ryler falou entre dentes e pegou em minha mão.
As vacas pastavam calmamente. A maioria comia a grama e umas poucas estavam paradas, sem fazer nada. Elas realmente tinham cor-de-cereja, o que as tornava peculiares. Cara, por que meu pai deu esse nome para as vacas? Só por que elas são cor-de-cereja? Quanta criatividade! Concluí que meu pai era definitivamente sem noção, porque fazia o tipo dele dar um nome tão estúpido para um rebanho de ruminantes. Ri internamente e imaginei se meus irmãos sabiam dessas vacas.
– Sério? Eu pensei que elas só se chamavam vacas cor-de-cereja! Mas elas são realmente cor-de-cereja! – Leo parecia indignado – Apolo é um gênio.
Ryler observou as vacas com cautela.
– Como nós vamos descobrir qual é a Molly?
– Tá vendo aqueles sininhos no pescoço delas? – Leo apontou – Os nomes delas estão gravados neles. Pelo menos eu acho.
Chegamos perto das vacas e eu quase morri asfixiada. O cheiro de cocô era tão insuportável que me deixou tonta. Porém, eu tinha que ser forte. Era só cocô de vaca, o que tinha de demais nisso? Nada pior do que ciclopes canibais e um crocodilo gigante poderia acontecer.
As vacas eram grandes e pareciam ser saudáveis, pois tinham bastante carne. O pelo delas era bem cuidado e bonito. Mas mesmo com todas essas qualidades, eu não gostei daqueles bichos. Na verdade, nunca gostei de vacas e muito menos de cavalos. Tudo por causa de alguns traumas de infância que prefiro não comentar.
Cada um de nós foi em direção a alguma vaca e visualizou o sininho que elas carregavam no pescoço. Não pude acreditar que tinha ido direto à vaca Molly. Tudo estava correndo perfeitamente bem, até eu trocar informações com meus companheiros.
– Sério? Engraçado, porque a minha também chama Molly! – Leo exclamou.
– A que eu vi também chama Molly. – Ryler falou, confuso.
Eu bufei. Por que meu pai tinha dado o nome Molly para todas as vacas? Será que ele era tão sem criatividade desse jeito? E Hermes! Eu não queria acreditar que o deus tinha conhecimento sobre os homônimos. Ele sabia que todas as vacas chamavam Molly, e foi por isso que nos designou tal tarefa. Hermes queria nos testar e esgotar nossas energias, enquanto observava tudo e ria da gente.
– Hermes está nos testando. – eu concluí – Ele quer ver se nós realmente somos espertos para descobrir qual é a vaca Molly que dá leite. Só uma dessas vacas deve dar leite, e nós temos que encontrá-la.
– Encontrar uma vaca no meio de vinte? – Ryler fez uma pergunta pertinente.
– Você vê outro jeito? Temos que ver qual é a única que dá leite!
Ele resmungou, fincando sua espada na grama.
– Eu não sei tirar leite de vaca! Elas vão me morder!
– Nós temos que aprender, então. – disse – Pelo menos parecia fácil nos desenhos animados. Não se apavore, ok?
– É, cara! É só puxar e apertar. Você bem deve saber fazer isso. – Leo intrometeu-se.
Me segurei para não rir e Ryler ficou vermelho, mas eu não soube distinguir se foi de raiva ou de vergonha.
– Muito engraçado, Valdez.
– Eu juro que se vocês começarem a discutir, eu jogo os dois na merda. – eu usei um tom autoritário para acabar com as provocações desnecessárias de ambas as partes.
Leo fez sinal de rendimento com as mãos.
– Muito obrigado, Pattie. Mas eu prefiro continuar limpo.
– Ótimo. – eu falei satisfeita – Cada um pega uma vaca. Quem achar a Molly, avisa os outros.
Os garotos concordaram e nos espalhamos pelo celeiro. As vacas estavam distribuídas por todo o espaço, então ficamos afastados um dos outros. Andei em direção a uma vaca grande e gorda que pastava tranquilamente.
Quando ela me viu, parou de mastigar a grama, fez um barulho nojento e mugiu.
– Hãm...oi, garota. Eu vou ter que interromper o seu almoço, tudo bem? É rapidinho.
Me senti uma louca por conversar com uma vaca e passei a mão em sua cabeça. Ainda bem que ela não era brava ou algo do tipo, porque fiquei com medo de levar uma mordida.
Abaixei ao seu lado e quase vomitei. Acredite, não é muito agradável ver de perto as partes íntimas de uma vaca. Peguei em minha mochila uma garrafa vazia de água, caso aquela fosse a Molly que produzia leite. Eu não fazia a mínima ideia de como tirar leite daquele bicho, mas tentei, apesar de todo o nojo. Apertei uma das tetas da vaca e puxei, esperando que o leite escorresse. Ela mugiu e se moveu bruscamente, o que acabou me derrubando. Suspirei, tentando manter a calma e apertei outra teta da vaca. Dessa vez a ruminante não fez nada, e infelizmente, não expeliu nenhum leite. Esperei estar realizando o procedimento corretamente, e dei uma batidinha no traseiro do bicho.
– É, não é você.
Fui em direção a outra e fiz o mesmo procedimento. Quando eu tentava tirar leite das vacas, algumas ficavam irritadas e outras mugiam como se dissessem “Ei, tire suas mãos imundas de minhas tetas sagradas!”. Depois de passar por sete vacas e ver Ryler correndo de uma bastante brava, escutei-o nos chamando.
Corri até onde ele se encontrava e Leo veio ao meu encontro. Ryler sorriu. Ele estava agachado do lado da menor vaca de todas. Ela parecia perdida e não dava a mínima para nós.
– Achei a Molly. – ele sorria feliz.
– Como você sabe que é ela? – questionei esperançosa.
Ryler nos mostrou o seu peitoral, que estava forrado de pingos de um líquido branco.
– Está vendo isso? É leite. E aquela vaca que correu atrás de mim é a mãe da Molly. Ela ficou brava quando eu quis chegar perto da sua filha, mas eu consegui.
Sorri e dei um beijo na bochecha de Ryler.
– Muito bem, grandão. Agora eu quero ver você tirando leite de uma vaca.
Dei a garrafa para Ryler e em alguns segundos, ela já estava cheia de leite. Quando Ryler levantou-se, senti um cheiro horrível e Leo também.
– Que cheiro é esse? – Leo perguntou horrorizado – Você se cagou, Ryler?
Ryler encolheu os ombros.
– Hãm...quando eu corri da vaca, acabei pisando num monte de bosta. Desculpe, eu vou tirar meus tênis.
Ryler fez menção de tirar os tênis, mas eu disse para não fazê-lo. Fiquei com dó, pois ele não tinha culpa. O cheiro fez me ver estrelas e ter vontade de vomitar.
– Vamos pensar pelo lado positivo – Leo comentou – pelo menos conseguimos pegar o leite.
– Precisamos ir embora agora – Ryler resmungou.
Apesar de ter pegado, no mínimo, em vinte tetas, eu estava feliz porque conseguimos realizar a tarefa designada pelo deus dos ladrões em menos de uma hora.
– Não tão cedo, crianças.


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Notas finais do capítulo

E aí? Curtiram? Amaram? Odiaram? Acham que há algo para melhorar? A opinião de vocês é MUITO importante para nós!
Até a próxima!
Taty xX
P.S: Eu mudei a capa da fanfiction. Não ficou lá essas coisas, não sou boa com montagens. Vocês gostaram?



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