Ilusão escrita por Mara S


Capítulo 4
Apenas um Humano




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Várias correntes amarravam seu pescoço, como um animal preso. Vergil estava cercado por diversos demônios de feições feias que sorriam maliciosamente para ele. Não conseguia imaginar como havia sido derrotado daquela forma. Mesmo que tentasse se libertar das correntes não conseguiria passar pelos demônios que o observavam calmamente no nível superior daquele tipo de arena. De longe pôde observar que eram seis, mas talvez existissem mais. Além, é claro, do ar pesado que mostrava que ele estava presente. Seria suicídio tentar sair, mas isso não o impedia de lutar e tornar o trabalho daqueles serviçais o mais duro possível, mesmo com o pescoço ardendo e a ameaça de morte.

Os demônios que estavam observando tudo aquilo sorriam ao ver Vergil lutar contra a prisão. Parecia um animal pego na floresta lutando antes de ser abatido.

- Ele ainda é o mesmo que quando o pegamos? – um dos demônios alto e de pele negra com profundos olhos avermelhados, com voz baixa e ar aristocrático perguntou para a mulher ao seu lado.

- O mesmo. Ainda possui os poderes que todos os mestiços acabam recebendo de seus pais. – os olhos da mulher brilharam de forma intensa.

- É impressão minha ou Livia está atraída pelo nosso mais novo animal?

- Argos, bom que você entendeu que Vergil vai ser o meu presente. Mundus deixou isso bem claro. Encontre outro pra ser seu escravo. – Livia disse com tom autoritário para o homem de ar aristocrático. Ele apenas a fitou demoradamente.

Caminhou até mais perto da beirada onde pôde observar com maiores detalhes Vergil e falou para os demônios reunidos embaixo:

- Leve-o para a sala de preparação.

Vergil saiu depois de grande resistência. Antes de desaparecer pelos fundos encarou Livia mais uma última vez.

“Você não vai se lembrar de muita coisa, meu querido.” Livia pensou sorrindo.

Uma voz ecoou por toda a arena e todos os demônios, menos Livia, se mostram nervosos com a presença de Mundus.

- Fico feliz com a eficiência de todos aqui. Livia, você em especial.

Livia apenas acenou positivamente com a cabeça.

- A reunião está dispensada. Não precisarei mais de ninguém daqui pra frente.

Logo que as palavras de Mundus acabaram de soar pelo aposento Livia caminhou para a saída sem olhar para as pessoas ao seu lado. Dois dos demônios se curvaram ao vê-la passar. Argos disse quando ela chegava à saída:

- Eu pensei que iríamos nos encontrar hoje?

Livia parou e disse virando-se lentamente:

- Isso foi antes da reunião convocada por Mundus.

- Entendo. Bem, então não vou mais discutir isso por hoje com você;

Argus fez um movimento cortês em direção à Livia que apenas virou-se e continuou a caminhar. Ele a observou até que desaparecesse de vista. Seus cabelos negros eram longos e alcançavam a cintura, mas o que mais o atraía era seu olhar de superioridade. Enquanto isso pensava em sua situação: apesar de ser também membro de grande poder dentro do inferno, ela continuava o tratando como seu objeto de prazer. Bem, isso pelo menos o havia feito conhecer um lado de Livia que muitos ansiavam por conhecer. Ela já havia sido sua, como se fosse fácil afirmar que um demônio pudesse pertencer a alguém. Mas ele até poderia suportar sua arrogância ao se lembrava de sua volúpia.

 

Livia chegara a seu quarto afastado do movimento da torre central. Observava, enquanto retirava sua grande capa negra, de longe o grande rio que separava o mundo dos grandes demônios do resto. Lembrou-se de sua missão cotidiana de vagar pelo outro lado infernal para averiguar a ordem das coisas. Era para lá também o caminho para a saída do inferno. Poucos podiam fazer isso, a elite, como diziam, e não deixava de ser algo complexo e que necessitava de extrema força mental. Assim que saiam, somente os mais treinados podiam voltar e mesmo assim eram testados por Mundus para saber se o mundo exterior não havia causado mal a sua força. Livia riu disso. Não que era contra os métodos rígidos do Príncipe do Submundo, mas ria em pensar como deveria ser difícil conviver com humanos de forma pacífica, para coletar informações e não para iniciar uma guerra. Isso estava fora de cogitação, depois de Sparda, obviamente. Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida em sua porta.

Caminhou entediada e deparou-se com o serviçal humano de Mundus, um escravo que havia vendido sua alma.

- Mundus deseja vê-la. – disse abafando um sorriso. Ele sempre se comportava de forma estranha perto de Livia.

- Ele só pode estar brincando comigo. Voltar? – Livia encarou o teto por alguns segundos e concluiu a conversa antes de fechar sua porta:

- Diga que estarei lá em alguns minutos.

O caminho foi mais rápido e agradeceu por não encontrar Argos em seu caminho. Não queria procurar alguma desculpa para sua volta à torre principal. Assim que Livia pisou no grande castelo arruinado de Mundus foi recebida por um guarda que apenas sussurrou:

- Na sala preparatória.

Livia pensou apenas em uma coisa: “Porque Mundus quer falar comigo exatamente agora que ele está preocupado com Vergil?”

Abriu um par de pesadas portas de metal e deparou-se com uma sala vazia. Já sabia que seria ali que conversaria com seu mestre.

- Você deve estar pensando porque dispensei você para depois convocá-la novamente? – a já conhecida voz ecoou pelo local. - Ninguém precisa saber além do necessário. Daqui poucos minutos você vai assistir há algo bem interessante. Só estou me preparando.

Livia apenas fitou o vazio e esperou que ele tomasse forma física de alguma coisa inanimada para pelo menos poder conversar com algo material.

- Hoje eu vou retirar toda a força demoníaca de Vergil e torná-lo um simples mortal. Fraco e assim sem forças para nos atrapalhar.

- Mas isso anularia qualquer chance de utilizá-lo... A não ser que...

- Exatamente. A não ser que seu corpo humano fosse todo reconstruído e no lugar surgisse um demônio completo. Assim ele estaria em nossas mãos.

- Esse processo é doloroso e demorado. Pretende fazê-lo agora?

- Não! Meus planos para Vergil são maiores e prefiro preparar sua alma mortal para isso. Enchê-lo de ódio e rancor enquanto permanece aqui. Por isso retirarei todo seu poder, desse modo ele ficará vulnerável e um pouco, digamos, perdido.

- Ele saberá que não é mais o mesmo.

- Ele perderá sua consciência e duvido que se lembre do que se passou depois que chegou aqui. Outra coisa: depois de todo o processo eu quero que somente você se encarregue de Vergil. Você será a responsável por tudo, estou confirmando que ele será seu. Faça seu melhor.

Livia apenas esboçou um leve sorriso. Sua posição era invejada por muitos, mas aquele lugar fora conquistado por direito e muita atuação.

- Abrirei as portas quando quiser que você veja Vergil.

Enquanto esperava no silêncio da sala Livia sentou em uma bela poltrona de veludo apreciando sua vitória. Era claro que ela havia conquistado o direito de possuir um filho do grande Sparda, mas agora ela também tinha a responsabilidade de criar todo o cenário ideal para a construção de outro Vergil, aquele que seria útil para Mundus.

Depois de longos minutos a porta que levava à câmara preparatória de fato foi aberta e Livia caminhou até lá um pouco ansiosa para ver não só o poder de Mundus aplicado em Vergil, mas também ele em uma forma física. Poucas vezes fazia esse ritual, pois era desnecessário dentro do inferno e impossível de se realizar no mundo exterior. Ele o utilizava apenas quando era necessária uma maior presença. No caso, intimidar Vergil.

Quando entrou no recinto de paredes altas e revestido de mármore branco ao longe percebeu a figura caída de Vergil; não havia sinal de Mundus, entretanto ela sabia que logo ele apareceria. Caminhou pacientemente pela sala, seus passos ecoando por todo o local. Aproximou-se de Vergil que estava ainda preso por diversas correntes e enfraquecido e o observou por algum tempo até que este retribuísse seu olhar:

- Você é a mulher que estava presente hoje, não é mesmo? Um demônio... – disse com a voz já enfraquecida.

Livia apenas o olhou por mais alguns segundos antes de voltar a caminhar, dessa vez com passos rápidos, até a outra extremidade da sala onde havia uma pequena mesa. Ela foi até lá porque uma figura brilhante tinha despertado sua atenção. Seria mesmo o que achava que era?

- Olhe para isso. – sussurrou ao tocar na lâmina da espada de Vergil que brilhava intensamente. Ela a segurou pelo cabo e fitou sua beleza. Seus olhos brilhavam ao refletir a espada. De longe Vergil tentava reunir forças mais uma vez para impedir que tocassem em sua espada. Era a primeira vez que a via desde sua queda.

Livia voltou segurando Yamato para o desespero de Vergil.

- Observe bem sua espada Vergil, eu garanto que você nunca mais a verá.

- Afaste-se... – Vergil conseguiu colocar-se de joelhos e com forças tentou se soltar das correntes que não eram feitas por mãos humanas.

- Você sabe que não sairá daí mesmo que tente. Essas correntes foram feitas em solo infernal, solo que você está pisando nesse momento. Eu acredito que essa espada ficará melhor em minhas mãos.

Livia observava o ódio de Vergil com um ar sarcástico.

- Quando eu sair daqui você será a primeira que matarei.

- Quando você sair daí não terá forças para isso.

O diálogo foi interrompido por um barulho de passos que surgia dos fundos da sala. Uma sombra surgiu caminhando e ao se aproximar foi possível distinguir a figura: estava coberta por uma capa preta e usando uma máscara de prata. Era alta e imponente. A voz de Mundus saiu por trás da máscara:

- Você achou que poderia me vencer, filho de Sparda?

- Por que não me solta para lutarmos? É possível que morra, mas até lá... – Vergil esboçou um sorriso.

- Eu tenho outros planos para você.

Mundus caminhou até Vergil e com ambas as mãos tocou sua face. Vergil tentou se esquivar, mas era impossível. Primeiro sentiu todo o corpo arder depois náuseas e por fim caiu no chão sem forças para nada. Parecia que haviam tirado toda sua força vital. Era impossível vencer daquele demônio.

Mundus observou a situação de Vergil por mais alguns segundos e depois disse para Livia:

- Agora ele é somente um humano. Livia, ele será levado para a prisão agora e a espada... Bem, fique com ela. Por enquanto.

Depois de ditas essas palavras, caminhou para a saída da grande sala.

Livia observou sua saída e depois disso voltou sua atenção para o corpo caído de Vergil. Seu desejo era enfiar sua própria espada naquele corpo enfraquecido, mas pensou melhor e decidiu que não sentiria prazer em ver aquela cena... Não com ele inconsciente. “Ele deve não somente sentir a dor, mas também ver qual foi o instrumento da dor”. Sorriu mais uma vez pensando na vitória dos demônios e saiu do local. 

            Enquanto caminhava pelo prédio pensava no futuro. Agora uma nova etapa seria iniciada e Mundus deveria pensar bem em suas ações a respeito do mundo dos homens. Aquele não era o único filho de Sparda, apesar de ter sido o mais ousado até então. Era necessário eliminar ambos ou usá-los a favor da legião infernal. Só assim poderiam alcançar uma vitória completa contra Sparda, que apesar de morto ainda era uma sombra presente.


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