Passato e Futuro escrita por Litsemeriye


Capítulo 4
III




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/342177/chapter/4

Tsunayoshi estava na biblioteca, lendo um exemplar em japonês que achara por acidente no meio do acervo dos Vongola. O Sol estava quase sumindo no horizonte e o vento frio do outono começava a surgir conforme o verão acabava. Giotto ainda não tinha voltado da aula e ela não tinha exatamente o que fazer até ver o conteúdo do dia e então poder orientar o louro, portanto a maior parte de seus dias realmente vinha sendo passada na biblioteca.

A porta foi aberta e a morena desviou os olhos das páginas, se perguntando se tinha perdido a noção do tempo, mas, ao invés do rapaz que tutorava, encontrou uma criança que devia ter oito ou nove anos, pele morena e parecia muito surpresa em ver que já havia alguém na biblioteca.

“Olá?” Tsuna tentou, depois de alguns minutos de silêncio. A criança pareceu finalmente ter alguma reação.

“Quem é você?”

“Eu sou Tsunayoshi. Eu ajudo Giotto nos estudos.”

O menino saiu da pose defensiva e, devagar, se aproximou da poltrona onde a japonesa estava sentada, olhando-a com curiosidade. Agora que ele estava mais perto, Tsunayoshi podia vê-lo melhor, desde um cortezinho meio escondido pelos cabelos negros até os grandes olhos castanho-avermelhados.

“Eu sou o Ricardo”, ele disse, as mãos apoiadas no braço da poltrona e os olhinhos tentando espiar o livro ainda aberto no colo da garota. “O que você ‘tá lendo?”

“É um conto sobre um samurai.”

“E o que é um samurai?”

“É um como se fosse um cavaleiro do Japão.”

Ricardo cruzou os braços e franziu as sobrancelhas.

“E como você sabe disso?”

“Eu vim de lá.” Tsuna sorriu.

Os olhos do menino pareceram brilhar quando ela disse aquilo e, sem pedir licença, o moreno escalou as pernas da mais velha até se acomodar em seu colo, ainda parecendo estranhamente fascinado com a informação.

“E como é lá?”

 

X

 

Giotto havia evitado voltar para a casa o máximo de tempo que conseguiu. Antes de as aulas acabarem, ele e G pularam o muro e, desde então, vadiavam pela cidade. Inicialmente eles apenas andavam em silêncio, até o momento em que G deixou claro que sabia que havia algo acontecendo com o melhor amigo, e o louro não teve escolha senão se abrir com o ruivo.

Quando finalmente terminou de contar sobre tudo o que vinha acontecendo nas últimas semanas e como estava aborrecido por seus pais contratarem uma babá, a dupla havia chegado em uma pequena praça onde algumas crianças brincavam em volta de uma fonte modesta. Nessa altura do campeonato, G já tinha fumado todos os cigarros que tinha consigo e foi ideia dele pararem para que ele pudesse enrolar novos.

Depois de ouvir todo o falatório do amigo, o ruivo parou um tempo para pensar. Ele havia entendido – ou pelo menos assim acreditava – as reclamações de Giotto, mas não conseguia realmente entender como ele ficava irritado com o resultado final. Pela descrição do louro, a tutora parecia ser muito bonita, e em seu lugar G não reclamaria se seus pais decidissem pagar uma garota bonita para ficar ao seu lado durante boa parte do dia.

“Então você está me dizendo que seus pais pagam uma garota bonita e inteligente para morar com você e resgatar suas notas e você se incomoda com isso?” O mais velho ergueu uma das sobrancelhas, se divertindo muito quando o outro corou e engasgou.

“Não é esse o problema!”

“Não? Porque do jeito que você diz, parece que é exatamente esse o problema.”

“Eu não me sinto incomodado com a Tsunayoshi!” Giotto falou um pouco mais alto, quase como se estivesse desesperado para sair do assunto. Quando percebeu que havia se alterado, encolheu os ombros, envergonhado com a própria atitude, e voltou a falar em tom normal. “Eu só não sei, entende? Tsunayoshi é legal, explica bem e é paciente em repetir várias vezes o conteúdo até que eu entenda. Mas eu me sinto estranho perto dela. Eu sei que as vezes ela começa a falar e eu não entendo nada do que ela diz, só fico ali escutando o som da voz dela. E as vezes ela só não parece ser real.”

G observou Giotto passar as mãos nervosamente pelo cabelo, se perguntando se ele havia ouvido o que disse. Por vezes o Vongola era distraído e sem foco, mas aquele era o cúmulo.

O ruivo só esperava que o amigo percebesse a tempo.

X

“E como se lê isso?”

Como Giotto não havia voltado ainda, Tsunayoshi se deve ao luxo de se distrair com Ricardo. O pequeno era curioso e extremamente interessado sobre o mundo, e a castanha não realmente estava incomodada em poder falar sobre seu país natal com alguém que realmente mostrava interesse. No momento eles estavam sentados numa das mesas que às vezes era usada para leitura, mas na maioria do tempo ficava vazia. Haviam algumas folhas sobre o tampo de madeira, assim como um vidrinho de tinta e uma pena.

Ricardo havia pedido para que Tsuna mostrasse para ele sobre a escrita japonesa, e agora, tentava decifrar o que havia sido escrito no papel.

“Se lê Rikarudō”, Tsuna sorriu, lendo devagar e apontando para cada kanji de acordo com sua pronúncia. “É como ficaria seu nome em japonês.”

O moreno pareceu se encantar com isso e pegou sua pena, tentando reproduzir o nome. Mesmo que já estivesse escuro, a biblioteca era suficientemente iluminada para que não fosse problema nenhum que ambos estivessem ali. A porta fez um barulho de arrasto ao ser aberta, mas, pensando ser outro funcionário conferindo para ver se o pequeno Ricardo estava bem, a garota sequer deu importância, até que a voz chegou aos seus ouvidos.

“Boa noite.” Giotto disse um tanto sem graça. Tsuna virou para ele, meio assustada com a chegada repentina, meio aliviada pelo loiro estar bem. “Tsuna, Ricardo.”

A garota se levantou, indo cumprimentar o pupilo, mas a criança foi mais rápida. Ricardo pulou e se prendeu na cintura do primo, muitíssimo feliz por vê-lo finalmente. O mais velho acariciou os cabelo negros antes de levantar o menor no ar e o ajeitar propriamente no colo.

“Giotto, a Tsuna ‘tava me falando sobre o Japão! Ela até escreveu meu nome em japonês, olha, olha!” Ricardo se curvou pra trás tão rápido que quase caiu do colo do primo, e por segurança andou com ele até a mesa, onde o moreno apontava animadamente para a folha com seu nome escrito.

“Ah, é? Ela nunca fez isso comigo.” Ele confidenciou, na esperança que a castanha não estivesse prestando atenção suficiente.

Ela havia.

“Você nunca me perguntou.” A japonesa se aproximou, começando a recolher os livros e reorganizar a mesa. “Na maior parte das vezes você vai embora quando eu termino de ajudar com as tarefas.”

Aquilo atingiu o italiano porque ele sabia que estava sendo um idiota sem motivos, e mesmo que quisesse concertar, ele só não sabia como. A presença de Tsuna o sufocava de um jeito que poderia ser bom, se não fosse errado. Não apenas por ela ser mais velha, sua tutora ou Giotto ter certeza que seus pais já haviam escolhido uma noiva para si, mas sim que por vezes a existência da garota ali parecia errada. G o acharia louco se ele tivesse dito aquilo, mas as vezes ele sentia que a japonesa era de outra época, por mais que não fizesse o menor sentido.

“Giotto?” Tsuna chamou, e pela sua expressão ela parecia estar insistindo nisso há certo tempo. “Está tudo bem?”

“Ah... Claro! Por que não estaria?”

“Porque você está parado olhando para o nada fazem cinco minutos.”

O louro então olhou em volta. Ricardo havia sumido e a mesa estava milimetricamente organizada. Só haviam os dois no cômodo, um de frente para o outro.

“Eu só estava pensando em umas coisas, desculpa.” Ele coçou a nuca, como fazia quando estava constrangido, e o rosto voltou a queimar vermelho. “Eu queria me desculpar. Eu sei que venho agindo como um idiota, e você não merecia. Eu prometo melhorar.”

“Adolescentes costumam ser idiotas, Giotto.” Ela meneou a cabeça em negação, sorrindo. “Eu não te culpo.”

“Mesmo assim, você não merecia. Eu não sei o que deu em mim esses últimos dias.”

“Ei, ei, está tudo bem, Giotto. De verdade.”

O louro levantou o rosto, finalmente. A mão de Tsuna estava estendida para si, e ela sorria calma. A outra mão segurava a corrente de ferro que sempre estava em seu pescoço.

“Amigos?”

Giotto sentiu-se mais leve.

“Amigos.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu vou parar de prometer capítulos rápido, eu nunca consigo mesmo.
Sobre a demora: minha vida está um caos. Eu entrei em uma fodida crise depressiva onde durante meses nem minha irmã sabia se eu estava vivo ou não. Basicamente eu fiquei tanto tempo dentre de um quarto que eu adoeci muito. Reprovei de ano por causa de falta, voltei a ter problemas com vitamina D e meu grau ficou fodidamente ruim.
Depois eu passei uns meses me recuperando. Quando saiu PokemonGO eu saí de casa (porque eu amo pokemon) e, aos poucos, recuperei a vitamina D (a deficiência vem da falta de Sol), voltei ao tratamento psicológico e meu grau regrediu (meu olho tava falhando por causa de má alimentação).
Até que alguns dias atrás eu abri o computador e a guia estava no Nyah!. Eu não mexia nesse computador há muito tempo, e foi realmente uma coisa que aqueceu o meu coração. Eu li minhas fanfics antigas e lembrei o porquê eu escrevia. E aqui estou.
Eu não vou prometer capítulo em breve porque vemos já que minhas recaídas vem de repente, mas eu prometo me esforçar e vir até vocês com capítulos bons c:
.
Agora sobre o capítulo:
Primeiro, a caneta só foi inventada no século XIX, então antes disso eles usavam penas. Até tentaram fazer uma pena de aço, mas era muito pesada e inconveniente. Então, é, penas.
Segundo: eu não consigo ver o Ricardo como um cuzão desde sempre, por isso ele é uma criança fofa pra mim (dsclp ele é mozão). Acho que em algum momento aconteceu algo que o faz se virar contra a Família (como aconteceu com o Daemon), e vai ser nisso que a gente vai trabalhar pra montar o lado "cuzão" dele.
Terceiro: É dito, mais de uma vez, que Giotto era muito sensitivo. Em parte pela força de sua chama, e em parte por sê-lo, então eu acho que depois de um tempo perto de Tsunayoshi ele sentiria que tem algo de errado com a existência dela (pelo menos naquele tempo).
O shipp vai nascendo aos poucos, como vocês podem ver. Eu não gosto de interações jogadas e sem sentido. Tsunayoshi sabe que em algum grau ela é ligada com Giotto por sangue e se apaixonar por ele pode mudar toda a linha do tempo, e Giotto sente que de algum modo tem algo de errado com Tsuna, então eles não vão se declarar depois de um mês convivendo.
Agora, segundo Doctor Who linha do tempo não é algo que se divide, mas sim uma mistura de acontecimentos fixos, que devem acontecer, e outros que podem ser alterados e não farão diferença. Tipo, não importa quem Giotto namore durante a vida, se na idade do casamento ele se casar com a pessoa certa e isso mais para frente (9 gerações, mais especificamente) vai fazer com que nasça o décimo Vongola.
Não é nisso que Tsuna acredita, mas é o que eu acredito, portanto vai ser essa teoria que será tratada aqui. A crença da Tsuna (e da Akira Amano, penso eu) é a Teoria de Einstein sobre viagem no tempo, que vai ser explicada mais para frente.
Bom, é isso. Espero que tenham gostado, e torço para nos vermos em breve.
Bye bye, cherry pies~



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Passato e Futuro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.