Remembering escrita por delenaholic


Capítulo 3
Memories




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*Elena*

O baile estava bem animado. Nada muito fora do comum, mas definitivamente mais do que eu esperava. À medida que as horas iam passando, o salão ficava cada mais cheio de adolescentes bêbados que misturavam suas vodkas trazidas de casa numa garrafinha de água com o ponche que era servido. As gritarias dos homens e das mulheres que dançavam loucamente até o chão iam cada vez ficando mais normais.

As músicas não variavam muito do tradicional eletrônico, mas eu tinha certeza que o dj só estava esperando alguns bêbados já entrarem no "estágio do choro" para colocar as canções melosas e lentas que se dançavam com seu par ou chorava-se no colo da amiga.

Minha cabeça girava, mas eu sabia que essa sensação não duraria muito, pois meu veneno destruiria o álcool em minhas veias em poucos minutos. Mas como recém-vampira que eu era, num salão cheio de artérias pulsantes e o calor humano excessivo, era melhor não arriscar e continuar bebendo para controlar minha sempre ardente garganta. Matt voltou com meu décimo segundo ponche da noite, e assim que me entregou, aproximou a boca à minha orelha para falar algo.

– Tem certeza que quer continuar bebendo? Não acho que seja uma boa ideia... - me afastei, interrompendo-o e sacudindo a cabeça num sinal negativo.

– Não se preocupe, Matt, estou bem. Acredite, vai ser melhor se eu me manter sempre alcoolizada. - falei alto o suficiente para ele ouvir apesar da música alta.

Apesar da festa estar muito animada e eu estar continuamente dançando e rindo, parecia que algo estava faltando. Algo estava fora do lugar ou não se encaixava, como se estar me divertindo ali com Matt não fosse o suficiente. Eu continuava ingerindo álcool na esperança de que essa sensação passasse, apesar de eu estar dando outros motivos para isso. Não que eu não precisasse me controlar no meio da multidão, mas a ardência estava meio desligada pelo momento - não era como se alguém estivesse sangrando ali no meio ou coisa parecida.

Durante muito tempo tentei evitar, mas meus pensamentos me levavam à exatamente ao que - ou quem - eu não queria pensar. Eu sabia qual era o motivo dessa falta que eu estava sentindo, mas quanto mais eu conseguisse negar, melhor seria para mim.

Dancei animadamente com Matt por mais três músicas, até localizar Caroline no outro canto do salão com Bonnie.

– Matt, já volto.

– Ok. - ele murmurou. - Já volto também, vou ali falar com Tyler.

Atravessei a multidão, desviando-me das pessoas bêbadas que dançavam louca e desajeitadamente, sem nenhuma noção de tempo e espaço. Essa era uma das sensações humanas que eu mais sentia falta: poder perder a noção. Os meus sentidos vampíricos de predador nunca me deixavam desalerta ou desligada, o que era uma coisa que poderia ser estressante às vezes. Nem o álcool tinha mais esse efeito em mim.

Para falar a verdade, eu só conseguia pensar em uma coisa que inutilizava meus sentidos e fazia meu mundo girar.

Já sem conseguir evitar, meus pensamentos me levaram diretamente à Damon. O que seria que ele estaria fazendo? Ele estaria bravo ou chateado comigo? Olhei para meu corsage - laranja! - que Matt havia me dado e revirei os olhos, pensando em como essa festa estaria melhor se ele estivesse aqui.

– Caroline! - chamei-a, e ela e Bonnie se viraram para mim. Eu parecia ter interrompido alguma coisa.

– Elena! Hey, e aí, está se divertindo? Essa festa está um máximo, não é?

– Com certeza. - falei, sem intonação. - Bonnie, onde está o Jeremy?

– Não sei, ele saiu com uns amigos dele para "fumar uns ali" e já volta. - ela disse, revirando os olhos. Eu sabia como ela odiava quando meu irmão fumava. - Por quê?

– Nada, eu só não havia o visto desde que cheguei.

A música foi trocada e parece que houve uma reação instantânea de todos na pista, que pularam e levantaram seus copos no ar. Caroline pegou a minha mão e a de Bonnie e começou a nos arrastar para o meio das pessoas.

– Ai meu Deus, eu adoro essa música!

Dançamos por longos minutos e eu não vi mais Matt. Para falar a verdade, fiquei um pouco aliviada por passar um tempo longe dele. Estava começando a me sentir presa com ele, e eu sabia que assim que as músicas lentas começassem, eu seria arrastada para dançar com ele - e não seria nele em quem eu estaria pensando. Além disso, eu não confiava em o que minhas emoções intensificadas poderiam fazer comigo.

Um casal dançava perto de nós, o menino parecendo extremamente bêbado e a menina dançando sem animação, revirando os olhos, provavelmente entediada com as atitudes e os gritos exagerados dele. Ela segurava um copo com ponche, e assim que ela virou-o na boca, acabei por pensar que não seria só isso contido lá. Assim que ela ia abaixar o braço, um outro menino claramente apressado, esbarrou nela, fazendo-a derrubar todo o líquido no chão.

– Me desculpe, moça!

– Não tem nada. - ela virou-se para ele, limpando um pouco que havia caído em suas mãos.

– Ei, quem você acha que é?! - o namorado dela gritou para o cara, que parecia agora constrangido.

– Eu já pedi desculpas. - a menina parecia claramente tentar afastá-lo dali, mas ele só parecia chegar ainda mais perto do outro.

– Ei, não tem problema amor. Vamos sair daqui, ok? - eu ouvi ela cochichar para ele.

– Tem problema sim! Cara, volta aqui! - ele se livrou dela num instante e já virou dando um soco na boca do garoto.

A reação instantânea de todos foi se afastar, mas eu e Caroline nos entreolhamos, pensando se deveríamos parar a briga ou deixar acontecer, pois todos perceberiam nossa força se afastássemos os dois meninos. Alguns outros tentaram separá-los, mas o namorado parecia extremamente irritado, e continuava esmurrando o rosto do outro sem parar.

Algo, como se um botão tivesse sido ligado despertou em mim. Senti minhas veias dos olhos transparecendo e o cheiro inebriante e ferroso no ar. Caroline imediatamente segurou meu braço e começou a me tirar dali. Não me opus, sabendo que era necessário, mas cada nervo do meu corpo me avisava que eu estava indo para a direção oposta da que eu deveria. Cravei minhas próprias unhas na palma da minha mão e me deixei ser levada pela loira.

Somente paramos quando estávamos bem longe, em um dos corredores da escola e minha sede estava bem mais controlada.

– Tudo bem? - Caroline se virou para mim, colocando suas mãos em meus ombros.

Quando tive certeza que minha voz não sairia estrangulada, respondi:

– Sim. - finalmente soltei o ar que prendia. - Sim, estou melhor. Obrigada.

– Precisa de alguma coisa? Eu posso ver se tem alguma bolsa de sangue no meu carro...

– Não, tudo bem. Já estou bem melhor, não precisa.

– Vamos esperar um pouco aqui, então. Não precisamos voltar agora.

Me senti sufocada com a presença dela imediatamente. Não sei o que deu em mim na hora, mas simplesmente precisava ficar sozinha. Meu cérebro estava a mil e eu só precisava de silêncio - e isso não era uma coisa que Caroline poderia me proporcionar.

– Não, pode ir. Por favor. Só quero ficar sozinha um tempo, Car.

– Tem certeza?

– Sim. - respondi, quase imediatamente, provavelmente levantando suspeitas da parte dela.

Caroline me olhou inquisitivamente, mas saiu. Ao ver ela desaparecer do corredor, respirei fundo, arrumando meu coque que havia caído um pouco. Deixei meus pés me levarem pela escola, até que parei em frente à saída que dava para os fundos, no estacionamento.

Minha mente parecia girar, todos meus pensamentos girando o redor um do outro, fazendo uma enorme confusão na minha linha de reflexão. Todos girando ao redor de Damon e em seu olhar triste ao sair do meu quarto.

O fato era que apesar de todos esses anos continuamente machucando-o, ele continuava comigo, continuava do meu lado. Pensando assim, eu me sentia pior que Katherine. Ela escolheu os dois, mas nunca deixou nenhum deles se machucar. Não que eu faria isso, mas com Damon todas as vezes voltando para mim com um sorriso no rosto escondendo toda raiva que ele provavelmente sentia, eu só me sentia pior.

Andei sem rumo entre os carros, e quando percebi, me vi no meio de uma das ruas, que agora estavam praticamente vazias, exceto por um grupo de três garotos e duas garotas mais afastados, apoiados num carro ao longe, bebendo. Eu estava quase considerando me aproximar e pedir um pouco do whisky barato que eles bebiam, mas depois achei que era abusar da sorte, pensando que eu quase tinha acabado de atacar um homem.

Me apoei na traseira de uma caminhonete e cruzei os braços, apenas ficando lá para tomar um ar. Senti algo se aproximar, e rapidamente todos meus sentidos entraram em alerta. Me virei para trás, procurando algum sinal de alguém próximo, mas não havia nada. Assim que voltei meu olhar para a rua novamente, vi Damon do outro lado, me encarado com um olhar surpreso.

– Damon? O que está fazendo aqui?

– Katherine. - ele sussurrou, tomando um passo à frente. Katherine? O que ele estava falando?

– Elena, Damon. - falei, com um tom de obviedade e uma pontada de irritação. Ele não parecia me ouvir.

– Ah, é que você parece... Perdão. - ele pausou, se aproximando mais ainda.

– Damon, você está bêbado? - falei, cruzando os braços e me sentindo bem mais estressada do que eu já estava. Ele continuou como se eu não tivesse falado nada.

– Você só me lembra muito de alguém.

– Katherine? Claro, eu sou igual à ela! O que está acontecendo?

– Eu sou Damon.

– É, eu sei. Você tem que ir para casa, o que você bebeu? - de repente, o desespero tomou conta de mim. - Damon, você foi mordido por algum lobisomem?

Me aproximei rapidamente, procurando sinais de algum sangramento ou machucado na pele dele. Não havia nada.

– Moça, está tudo bem aí?! - ouvi um garoto daquele grupo gritar. Olhei para ele de um jeito confuso. Eu parecia completamente normal, mas então entendi o que ele perguntava, pelo fato de parecer que eu estava sendo abordada por um bêbado.

– Está tudo bem, eu me viro aqui! - gritei de volta. - Vamos, vou te levar pra casa, você não parece muito bem. - me virei para Damon, chegando mais perto dele.

– Olha quem fala, você está aqui fora sozinha.

– O que isso tem a ver? Eu só precisava de um ar depois de algumas coisas que aconteceram lá entro.

– Sobre o quê, posso perguntar?

– Houve uma briga lá dentro, muito sangue, muita sede, você entendeu, a gente pode falar sobre isso depois. - peguei seu braço para puxá-lo, mas ele não se mexeu. Ele não parecer nem cambalear.

– Você não quer?

– O que? - perguntei, impaciente. - O sangue? Claro que eu queria, mas eu iria machucá-lo na frente de todos. Damon, vamos embora, por favor.

– Isso não é verdade. Você quer o que todo mundo quer.

– Você não está falando coisa com coisa. Olha... - fui interrompida, percebendo que dois garotos estavam do meu lado.

– Ei, menina, você precisa de alguma coisa? Você não parece muito bem.

– Não, eu estou bem, só preciso levar ele pra casa. - apontei para Damon, e eles me olharam como se eu estivesse maluca. - Acho que ele bebeu demais. - cochichei para eles, rindo baixinho para tentar distraí-los.

– De quem você está falando? - um deles perguntou, como se parecesse preocupado.

– Como assim? Ele, ora essa. - assim que me virei para apontar para Damon, percebi que não tinha ninguém ali. Onde ele havia ido?

Olhei em volta, procurando por algum sinal dele, já preocupada pois ele não estava no melhor estado para sair por aí sozinho.

– Olha, muito obrigada pela preocupação de vocês dois, mas eu tenho que ir.

Saí disparada, entrando novamente na escola e procurando em cada sala e corredor por Damon, com medo de achá-lo se alimentando de alguém ou, pior de tudo, no meio do baile. Rapidamente peguei meu celular e mandei uma mensagem para Caroline.

"Car, se ver Damon por aí, tire ele daqui imediatamente. Ele não está no melhor estado possível. "

Alguns segundos depois, ela respondeu.

"Damon bêbado?! Não pode ser boa coisa. Vou procurá-lo e se eu achar te aviso."

Procurei nos banheiros, salas de professores e até na sala do diretor. Depois pensei que ele provavelmente estaria na antiga sala de Alaric, procurando as velhas bebidas que ele costumava esconder lá. Mas nada. E então, meu celular vibrou de novo.

"Acabei de falar com Stefan. Damon está em casa."

Soltei um suspiro aliviado, finalmente conseguindo respirar.

"Ainda bem. Obrigada, Car."

Ainda não muito preparada para voltar para a festa, fui ao banheiro, retoquei minha maquiagem e fiquei um tempo me encarando no espelho.

Apesar de tudo não ter passado de um mal entendido, não consegui entender a sequência de fatos de ocorreram no estacionamento. Recordando agora, eu parecia mesmo como eu fosse a bêbada. Enquanto eu falava com Damon, minha visão não estava clara. Muito pelo contrário, estava turva, como se fosse uma memória humana. Algo sobre aquela conversa parecia extremamente familiar, como um dèjá vu.

Damon não parecia mesmo ter consciência do que falava, mas ele parecia bem sóbrio. Ele me tratou como se não me conhecesse, e algumas coisas naquele cenário me lembravam outra rua de Mystic Falls, em outra noite.

Porém, eu falaria com ele pela manhã. Eu poderia lidar com tudo isso pela manhã, mas nesse segundo, eu precisava voltar ao baile e não abandonar Matt no meio de toda aquela gente chapada. Mas, não importa o quanto eu me esforçasse, eu não conseguia me imaginar dançando com ele as próximas músicas que viriam. Seria demais para mim.

Danças me lembravam de Damon.

Meu Deus, por que eu não conseguia parar de pensar nele? Meus pensamentos não pareciam conseguir tomar outro foco. Tudo na minha mente girava ao redor da imagem dele. No segundo em que o vi no estacionamento, meu sentimento de ausência e falta de algo rapidamente desapareceram. Parecia que tudo finalmente estava completo naquele lugar. Vê-lo essa noite tinha me dado um pouco mais de força para continuar até o final da festa. Apesar da pequena tristeza que eu tentava ignorar por ele ter ido embora - e da vontade de segui-lo - me apoiei na pia, encarando meu rosto no espelho. Sem conseguir mais, peguei minha carteira e comecei a andar de volta ao salão. Acho que eu estava ficando obcecada por Damon Salvatore.


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Notas finais do capítulo

o que acharam?? deixem suas opinões!
o próximo capítulo já está no caminho haha :D
Xo, Gi.