Em Minhas Memórias escrita por Mary e Mimym


Capítulo 34
Determinação


Notas iniciais do capítulo

É... Quando tudo parece mudar, as surpresas não deixam de acontecer.
Eu estou focando bem no que acontece com os dois - Ronan e Elesis - quase que ao mesmo tempo, logo, a narrativa passará de um para o outro constantemente.



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Ronan ON

Tentei me levantar da cama, mas não conseguia, não tinha forças.

–Isso só pode ser uma brincadeira comigo, né? – Perguntei, na tentativa de obter uma resposta positiva.

–Infelizmente…

–Não termine, por favor.

O médico se aproximou mais de mim.

–Essa notícia não era para ser dada dessa forma. Tínhamos que te preparar. Tanto que a sua amiga, Arme, veio com você, para estar ao seu lado quando te contássemos o que está acontecendo com você.

–Péssima escolha em trazê-la. – Retruquei.

–Bem, você não pode perder as esperanças, Ronan.

Diante de tudo isso, eu só conseguia pensar em uma coisa: a dança.

–Mesmo nesse estado do traumatismo eu… - Hesitei, mas precisava perguntar – Eu posso dançar?

O médico riu da minha pergunta.

–As pessoas, quando recebem essa notícia, geralmente choram e ficam dizendo barbaridades em como odeiam a vida que têm, e você me pergunta se pode dançar?

–Se você quer que eu tenha esperança para alguma coisa nessa vida, considere a minha pergunta e me dê a resposta que anseio.

Meu tom era sério, acho que fiz o médico entender que não estava de conversinha fiada.

–Antes de te responder, quero que saiba que iremos continuar buscando uma solução para que seu traumatismo não passe para uma lesão mais grave do que está.

–E isso é possível? – Perguntei com certa ironia.

–É, Ronan… Você pode chegar ao coma. Mas o impacto no seu cérebro não chegou ser fatal. Na verdade, chegou sim, mas teve uma melhora considerável, digo que não chegou ao fatal que te fizesse perder a vida, como acontece em muitos casos, o seu veio mudando parcialmente, do coma para uma vida estável.

–Mas teve uma reviravolta, né? Porque estou dando a meia volta e retornando para o meu estágio inicial.

–Não exatamente, ainda é cedo para dizer que você tem possibilidades de ficar em coma.

–O senhor é um médico muito cativante, nem coloca medo em seus pacientes.

–Sua mãe me pediu para ser o mais sincero possível, pois você não tolera mentiras. Sendo assim, fui obrigado a te contar sua situação. Vamos ver se você desiste de vez em tentar se recuperar ou aceita a minha sugestão em continuar determinado a não perder suas memórias.

Pensei logo na Elesis, em tudo o que vivemos. Imaginar que eu estava no caminho de esquecer tudo, era aterrorizante.

Ronan OFF

Elesis ON

Era difícil absorver toda aquela informação. Então era isso o tempo todo…

–Só me esclarece uma coisa: A viagem que o Ronan fez foi…? – Indaguei, sem completar a frase.

–Sim. Ele ficou internado. Pensávamos que ele ficaria de observação no hospital por 24 horas apenas, mas ele ficou um mês, eu acho. Fora os tratamentos e a fisioterapia. Mas a memória dele apagou esses momentos, como também pode apagar todos…

A cada palavra do pai do Ronan, eu ficava mais abismada com tudo. Eu nunca perdi o Ronan por orgulho, o destino fora responsável por nossos desencontros e nos encontramos agora por uma razão: Ele não pode perder suas memórias. Ele não pode me esquecer.

–O senhor está indo para o hospital? – Perguntei, pois ele segurava a chave do carro na mão.

O pai de Ronan assentiu.

–Posso ir com o senhor? Por favor, eu preciso muito vê-lo, não me impeça de ir.

–Precisa pedir à sua mãe, Elesis.

–O senhor não irá nem me dar um sermão, ou negar meu pedido?

–Eu sei que, se você for, o Ronan pode começar a melhorar, sei lá. Eu farei de tudo para não perder meu filho.

–É muito grave mesmo, não é?

–Mais do que você imagina, Elesis. Mais até do que os médicos contam.

Aquilo me feriu. Eu não pensava em mais nada a não ser em como o Ronan estava.

Elesis OFF

Ronan ON

O médico caminhou até a porta.

–Não irá me dizer se posso dançar ou não.

Ele virou o rosto, o deixou acima do ombro e me deu a resposta:

–Não.

Fechei o punho e soquei a cama.

–Isso é injusto! Vocês não podem me impedir de estar ao lado de quem eu amo.

O médico me olhou sem entender o que eu havia dito.

–Como assim?

–Elesis. Elesis Sieghart. – Só consegui dizer seu nome, ainda estava anestesiado pela resposta dele. O seu “não” só me deu a certeza que eu a perderia para sempre para o Lass. Que esse jogo em que me encontrava já tinha um placar final e eu sairia derrotado.

–A menina das suas lembranças?

–Sim… Lembranças que eu perderei, não é?

Estava sendo forte o bastante para não chorar. Mas era difícil.

–Vocês estão se falando?

Estranhei os questionamentos do médico.

–Por que quer tanto saber?

–Porque essa Elesis pode te ajudar e muito no seu processo de recuperação parcial. Ela pode impedir que você perca totalmente sua memória.

–Mas… E a deficiência mental?

–Com o tempo, você poderá superar isso, mas eu preciso que nos ajude Ronan, por mais difícil que seja. E, com a Elesis ao seu lado…

–Esqueça. – Interrompi – Elesis não sabe que tenho essa doença.

–Mas ela precisa saber!

–Não! A vida é minha e já tem muita gente para sentir pena de mim.

–Ninguém sente pena de você, Ronan. – O médico tentou argumentar, mas a minha ideia já estava formada.

–A Elesis não saberá o que eu tenho. Ela precisa se preocupar com a festa dela, com o futuro dela, não comigo.

–Mas, se ela é a sua amiga, irá te ajudar. Afinal, vocês se amam.

–Errado. – Cerrei a mão forte, machucando minha palma – Eu a amo; ela, não.

–Você já perguntou à ela sobre isso?

–Ela está namorando, o que você quer que eu interprete de seus sentimentos?

Nunca imaginei estar me abrindo emocionalmente para meu médico, coisa que não fiz nem para a Arme.

–Isso não quer dizer nada, a menos que você saiba, por ela, o que ela sente.

Fiquei em silêncio e o médico prosseguiu:

–Eu quero chegar num ponto que você não entende: Elesis pode te ajudar. Ela precisa saber o que está acontecendo com você, antes que seja tarde e, Ronan, você não tem muito tempo sã.

Fechei os olhos e deixei que metade de mim me consumisse de esperança pela Elesis poder me ajudar e a outra metade me consumir de puro ódio por saber que estava perdendo minha razão e minhas memórias.

Ronan OFF

Elesis ON

O pai de Ronan fechou a porta de casa e me acompanhou até a minha. Gritei pela minha mãe e ela pediu para eu esperar.

Não demorou muito e ela abriu a porta.

–Esqueceu a chave? – Foi a primeira coisa que minha mãe pensou.

–Não, mãe, eu…

O pai de Ronan me interrompeu:

–Não, eu vim aqui lhe pedir que deixe Elesis ir comigo ao Hospital onde Ronan está.

Minha mãe parecia compreender o que já acontecia com o Ronan.

Que droga! Eu sou sempre a última a saber mesmo!?

–Tudo bem, mas eu irei junto. Deixa só eu desligar o fogão e pegar a chave de casa, já volto.

–Ok.

Eu e o pai de Ronan ficamos esperando e, logo depois, minha mãe estava saindo de casa. Nos dirigimos para o carro e adentramos, eu fui no banco detrás e minha mãe na frente, junto com o Sr. Erudon.

Por sorte, não pegamos engarrafamento e o pai de Ronan dirigiu bem rápido até chagarmos ao Hospital. Eu nem conhecia o local. Ele pediu que esperássemos um pouco na frente do Hospital enquanto ele estacionava o carro.

Não tardou muito e ele estava de volta, entramos apressados no Hospital e o pai de Ronan caminhou até o bolcão da recepcionista. Ele falou algo que eu não entendi e a menina que o atendeu esticou o braço em direção ao elevador.

Seguimos o Sr. Erudon, ele conversava algo rápido com a minha mãe. Não entendia a pressa, mas sabia que era necessário correr, já que Ronan não estava bem e, assim, eu o veria logo e mataria minha ansiedade.

Estamos a duas semanas do meu aniversário. Os ensaios começarão amanhã. Mas, sabe, nada disso importa. Eu encontrarei o Ronan. Eu descobri tudo. Estou montando o quebra-cabeça da nossa história, para construir novamente o jogo de nossa vida.

Elesis OFF

Ronan ON

O médico era insistente, mas eu não queria que a Elesis soubesse do meu estado. Vê-la sofrer seria a pior coisa do mundo, porque eu já presenciei seu sofrimento.

–Aceite a minha sugestão. Se você tiver o acompanhamento dela em suas avaliações aqui no hospital, poderá ter chances altíssimas de não perder nem 10% de suas memórias.

–Já disse que não.

O médico ficou sério, de uma forma que eu nunca havia visto.

–Então tá. Não diga que seus pais e nós, médicos, não tentamos fazer de tudo. – Ele abaixou a cabeça – O que me deixa triste é saber que você esquecerá de ser grato à todos que te apoiaram.

Ele se retirou do quarto e me deixou mal. Eu estava sendo orgulhoso demais. Eu estava prestes a perder o prazer de ter recordações boas e, até mesmo, as ruins.

Teimoso. Era isso que eu estava sendo. Admito.

Ronan OFF

Elesis ON

Entramos no elevador e ele seguiu direto para o andar que o pai de Ronan havia apertado. Assim que saímos, pude ver a mãe do azulado sentada e, ao seu lado, a insuportável da Arme.

A mãe de Ronan se levantou assim que nos viu. Ela colocou a mão sobre a boca e parecia surpresa. Arme também se levantou e pareceu ver algum tipo de assombração, pois ficou pálida.

–O que a Elesis faz aqui? – Perguntou a mãe de Ronan.

–Tia, vocês não deveriam ter escondido isso de mim durante esses anos todos! – Enfatizei cada palavra que disse.

–Eu precisa contar sobre o que está acontecendo. – Explicou o pai do azulado – Ronan é cabeça dura e não irá querer mais saber de nada, Elesis é uma esperança que não podemos deixar de lado.

Ele abraçou sua mulher e eu senti a aflição do casal sobre seu único filho.

–Eu farei o que for preciso para ajudá-lo, tia, pode ter certeza.

–Antes de você ajudá-lo, terá que convencer o Ronan que você não está aqui por pena.

Olhei imediatamente para Arme, como ela tem coragem de falar comigo?

–Eu não estou aqui por pena! – Exclamei e encarei aquela baixinha.

–Diga isso ao Ronan, eu o conheço melhor do que ninguém e sei como o meu amigo irá reagir ao te ver.

Arme estava sendo tão possessiva que me deu ânsia, mas não era de vômito, era de querer dar um soco no meio da cara dela.

–Caso não se lembre, eu sou melhor amiga dele e o conheço há mais tempo que você, ele não irá impedir que eu o ajude.

–Se acha isso… Vá em frente. – Arme estava confiante em suas palavras. Mesmo não querendo, confesso que tive receio de ela ter razão.

–Eu preciso vê-lo. Independente do que aconteça, eu a… - Sim, eu iria dizer que amo o Ronan, mas me contive, amar é um verbo muito forte para ser usado num momento como esse, se fosse para ser usado, teria que ser para a própria pessoa amada – Eu quero vê-lo o mais rápido possível.

–Fico feliz em saber que está aqui.

Uma voz, a qual eu não conhecia, surgiu atrás de mim. Virei-me e era um rapaz que identifiquei ser o médico, pois usava jaleco.

–Fico mais feliz ainda – Ele se aproximou mais de mim – por saber que está disposta a ultrapassar todas as barreiras que Ronan irá colocar quando souber que vai ajudá-lo.

–Ele irá relutar. Ainda mais que não sabe que Elesis está aqui. – Disse Arme, com sua voz irritante. Tive que revirar os olhos.

–Então ele não sabe… - O médico ficou pensativo – Isso dificultará muito. O comportamento de Ronan está fora do seu padrão, está acontecendo tão rápido que nem percebe o quão agressivo e sem esperança ele ficou.

-Não importa como ele esteja reagindo agora, eu irei fazer de tudo para ajudá-lo, não tenha dúvidas. - Disse, determinada.

–Mas meu filho ainda pode se recuperar, não é? – A mãe de Ronan estava com o rosto inchado, os olhos vermelhos, a pele úmida, sabe-se lá desde quando ela está chorando pelo filho. Choro esse que se tornará o meu, caso Ronan não aceite minha ajuda.

–Ele precisa ficar aqui em observação e fazendo todo o tratamento possível para não perder a memória desde já. Com a ajuda de… - Ele enrugou o nariz e fez uma expressão de querer lembrar algo – Elesis, não é?

Assenti positivamente.

–Então, como você é a menina da infância dele, das lembranças que o ajudou a acordar, não tem outra alternativa melhor para ajudá-lo.

Vi que Arme se corroía de raiva, mesmo mostrando um semblante calmo e aprovador de tudo o que o médico dizia.

–Eu posso vê-lo ainda hoje? – Fiz a pergunta que ecoava em minha mente.

–Se quiser vê-lo agora, pode ir.

Um sorriso confortante surgiu em meus lábios. Olhei para a mãe de Ronan e ela sorrira também, assim como o pai dele. Minha mãe balançava a cabeça e estava feliz por eu tomar uma iniciativa de ajudar o Ronan, aliás, ele passou um bom tempo batendo em minha porta para me tirar do meu cativeiro pessoal. Preciso tirá-lo dessa descrença em não querer mais lutar para não perder suas lembranças.

–Eu não sei aonde é o quarto dele.

–Arme, você pode levar a Elesis? – Perguntou a mãe de Ronan, inocente dos acontecimentos que já aconteceram entre mim e essa baixinha.

Arme não disse nem que sim nem que não, apenas caminhou pelo corredor. Vi que ela havia fechado a mão e respirado fundo. A mãe de Ronan me abraçou forte, saindo dos braços do marido e se confortando nos meus.

Sinceramente, não soube o que fizer, então deixei que ela me apertasse o quanto quisesse.

–Não deixe o Ronan desistir, Elesis, por favor, não deixe. – Sussurrou a mãe dele e, então, desfez o abraço.

–Se ele insistir nisso, terei que tomar algumas medidas. – Sorri para ela e lhe dei um beijo no rosto.

Corri até Arme e o médico me desejou boa sorte, realmente eu iria precisar.

A baixinha virou o corredor e parou em frente a uma porta cujo o número era 304. Um aperto no coração me fez dar um passo para trás. Respirei pesadamente.

–Antes de entrar, quero que saiba de uma coisa. – Arme me tirou da minha concentração.

–Se for começar sua ladainha, dizendo que Ronan irá me expulsar do quarto dele e blá, blá, blá, pode esquecendo.

–Não é sobre isso. – Ela parecia bem séria e tinha um olhar convencido demais para aquela conversa, eu realmente não sabia até onde ela queria chegar com aquela conversa.

–Então você quer descontar em mim a sua raiva por não ser você a heroína na história? – Cruzei os braços.

–Você sempre foi a heroína na vida do Ronan, Elesis, sempre esteve nos primeiros pensamentos dele, foi a primeira amiga, isso eu não posso negar, você só não foi a primeira em uma coisa.

–Em quê? – O que a Arme estava querendo dizer? – Em que eu não fui a primeira?


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Notas finais do capítulo

Erros?