Aquela pergunta me pegou de surpresa. O que eu iria responder? Que sim? Aí a Elesis nem iria deixar eu dizer o resto, que seria “Sim, mas só como amiga.”. Ela não entenderia.

A ruiva cruzou os braços e esperou pela minha resposta. Como demorei um pouco, ela bufou descontente e impaciente.

–Se não quiser falar, tudo bem. Não me importo com isso. Eu só… É que…

Elesis começou a se enrolar com as palavras e eu entendi onde ela queria chegar.

–Está querendo saber só porque me viu ontem abraçado com a Arme?

–Não! – Elesis desfez os braços e cerrou as mãos – Você faz o que bem entender com aquela coisa.

–É. Eu sou amigo dela, logo posso abraçá-la quando quiser.

–Que bom para vocês dois!

Era difícil brigar com a Elesis, ela sempre manipulava quem era o errado da história e, olha que legal, sempre era eu.

–Bom mesmo. – Retruquei.

–É!

Elesis virou o rosto e eu comecei a rir.

–Não precisa ficar com ciúmes, eu tenho carinho para você também.

Sim. Foi um tapa forte e doloroso. Acho que o pior de todos que já levei. Foi um tapa só que ficará marcado por um bom tempo em meu braço, pois ficou bem vermelho por causa da mão pesada da ruiva.

–Eu estava brincando, Elesis. – Massageei o local do tapa.

A ruiva trocou a mochila de um ombro para o outro e começou a andar, me deixando para trás. Optei por não falar da briga que tivemos, assim não deixaria Elesis com um ar de superioridade por saber que eu havia brigado com Arme. Ainda mais saber que eu voltei a falar com ela. Elesis, com certeza, me chamaria de idiota inúmeras vezes. Sinceramente, estou começando a me sentir um completo idiota mesmo…

Antes de entrarmos na escola e eu vê-la indo ficar com o Lass, pois o mesmo já havia chegado, avisei só para não deixar um clima pesado entre nós:

–Irei jogar futsal com Ryan e Lass. – Disse, ao me aproximar mais dela.

–Tomara que leve uma bolada na cara. – Elesis foi bem ríspida e eu tive que rir. Só esperava que a raiva, pela minha brincadeira com uma pitada de verdade ao dizer que eu tinha carinho para ela, passasse logo.

Elesis foi se encontrar com Lass e eu não sabia se ia para perto de Lire, ou se ficava vagando pelo pátio. As palavras de Lire mexeram comigo e eu acabei pensando em Arme. Aquilo era perturbador. Eu teria feito certo em me acertar com ela depois do ocorrido? Sei lá… Se eu fosse mais duro com ela, seria um pouco imaturo em não encarar meus problemas de frente e tomar decisões agradáveis e/ou desagradáveis.

–Ronan! – Olhei para trás e Ryan me chamava, tirando-me de meus pensamentos.

Fiquei receoso em ir, afinal, Lass e Elesis estavam juntos. Pensei um pouco antes de tomar qualquer decisão e Ryan me chamou mais uma vez, fazendo um gesto de mão para que eu fosse de encontro com eles.

–Fala aí! – Ryan fez uma batida de mãos comigo e eu fiquei meio sem jeito de estar naquele meio.

–Já sabe a música da dança da festa de Elesis? – Perguntou Lass, fazendo com que eu ficasse extremamente espantado com aquilo.

–Não. – Tentei responder sem gaguejar.

–Estávamos falando sobre isso. – Lass entrelaçou suas mãos nas de Elesis e ambos me olharam.

–Legal… Ér… E qual será? – Quis saber.

–Bem... - Ela pigarreou antes de continuar - Minha mãe está em dúvida entre duas músicas: I have nothing e Because you loved me. – Respondeu Elesis, com um olhar diferente, mais tímido.

–Por mim... Qualquer uma está bom.

Não aprofundei mais sobre o assunto, apenas concordei. Assim que Ryan percebeu que não falaríamos mais sobre aquele assunto, o mesmo mudou.

–Então, trouxe o uniforme?

–Sim. Não vejo a hora de começar a jogar, faz tempo que estou parado.

Mais uma vez outro assunto havia morrido e ficar em silêncio com eles era constrangedor. Fiquei percorrendo com os olhos o pátio até que alguém falasse algo.

–Ronan, - Elesis me chamou e eu fixei meu olhar no seu – cadê as suas amigas?

–Eu estou… - Não sabia o que falar, Elesis me deixou num beco sem saída – Ér… Sabe? Hoje é dia de Educação Física, então…

–Então…?

Semicerrei os olhos e encarei Elesis, que se segurava para não rir de mim.

–Hoje não tem carinho, é isso? – Insistiu a ruiva.

Ryan e Lass me olhavam e eu estava ficando nervoso por não ter respostas concretas e imediatas. Passei a mão no rosto para me dar um pouco de tempo, mesmo que mínimo, para idealizar alguma resposta.

–Quero me concentrar para o jogo, sei que será apenas um exercício de uma disciplina, mas… - Parei. Quase disse da minha doença. Espero que eu não seja barrado por conta disso – Bem, foi até bom o Ryan me chamar, assim eu já fico perto de parte do time que jogará futsal.

Elesis ameaçou dizer alguma coisa, mas se conteve. O sinal tocou e Lass se levantou junto com a ruiva, já que estavam sentados no banco. Ele deu um beijo na testa dela e suas mãos se separaram.

–Bom jogo. – Desejou Elesis antes de ir para a sua sala.

Mais uma vez não vi Arme em canto algum. Eu estava me afastando sem perceber. Tanto os meninos como as meninas foram trocar de roupa. O professor de Educação Física nos levou para a quadra e mandou-nos aquecer. As meninas ficaram sentadas na arquibancada, poucas se levantaram para fazer o que o professor pediu. Dentre elas estava Arme, foi então que eu a vi.

Eu estava começando a me exercitar, a mover os músculos, quando o professor me chamou com um gesto de mão. Fui até ele.

–Você é o Ronan Erudon, né?

Assenti positivamente.

–Você pode fazer Educação Física? – Indagou ele.

–Que eu saiba não estou impossibilitado fisicamente para praticar exercícios.

–Só estou perguntando, pois a diretora avisou aos seus professores do problema que tem.

Nisso que o professor terminava de falar, Ryan se aproximou. Temi que ele houvesse escutado.

–Professor, eu já tenho um time montado. – Avisou Ryan.

–Esse garoto está no seu time? – Ele apontou para mim.

Ryan balançou a cabeça afirmando.

–Espero que tome cuidado, hein? – Pediu o professor se dirigindo a mim.

Eu preferi ficar quieto para não demonstrar preocupação. Ryan pareceu curioso em perguntar o motivo de o professor ter dito aquilo, mas se conteve.

–Vamos? – Chamei.

Ryan pegou a bola que estava perto da arquibancada para levar para a quadra, Arme estava voltando para a arquibancada de concreto e se sentou, colocando a mochila em seu colo.

–Pensa rápido! – Ryan jogou a bola na minha direção e eu desviei rápido pelo susto.

Ryan começou a rir e foi buscá-la.

O professor se pôs no centro da quadra e contou quantos haviam nos dois times.

–Está faltando um nesse time aqui. – Disse ele, referindo-se ao time oposto. Realmente o nosso tinha um a mais – Um daí terá que passar para cá.

–Eu pensei que o time deles já estava completo. – Murmurou Ryan, um tanto irritado e com a bola debaixo do braço. Eram cinco para cada lado, quatro na linha e um no gol.

–Então, quem vem pra cá? – O professor ficou esperando alguém se manifestar – Senão resolverem logo, colocarei futsal misto e as meninas irão jogar.

Percebi que o semblante da maioria dos meninos ficou desanimada.

–Eu vou para lá. – Disse Lass, saindo da área da defesa e correndo para o outro lado da quadra.

O professor pediu a bola a Ryan e a colocou no centro, onde estava. Pegou o apito que estava pendurado no pescoço e pediu para que o time que começaria o jogo se aproximasse para a saída de bola rolar.

Ryan e mais um garoto do nosso time foram, o menino colocou o pé em cima da bola e esperou pelo apito inicial, rolando a bola para Ryan, que voltou para mim.

Segui com a bola pela lateral esquerda e vieram dois meninos do time oposto em minha direção, um deles era o Lass.

Passei a bola para Ryan novamente, que estava adiantado e vinha pelo meio da quadra, o mesmo havia gritado avisando que estava livre e armava uma jogada.

Ryan chutou de onde estava e a bola passou por cima do gol. Uh! Quase.

O goleiro repôs a bola na quadra e deu um chute forte, que sobrou para o nosso zagueiro, que recomeçou o jogo com o nosso goleiro.

Gritei que estava livre pela lateral e ele lançou a bola para mim. Dominei a bola, já que vinha pelo alto e a coloquei no chão, ajeitando-a para começar a correr em direção ao gol, mas fui parado por Lass, que chegou com um estilo de carrinho, sendo que leve. Ele se arrastou no chão e me derrubou.

Eu não me machuquei, só senti um pequeno impacto com a queda, mas me levantei rapidamente para bater a falta que o professor havia apitado.

Passei a bola para um menino que corria pela lateral direita e ele seguiu ligeiramente até a pequena área do goleiro, chutando a bola, que foi agarrada.

Recuei um pouco junto com Ryan para ajudar na zaga, pois a bola estava com o time oposto, para ser mais exato, estava com Lass, que corria muito e, quando vi, ele já estava bem próximo da nossa área do goleiro, conseguindo driblar um de nossos jogadores.

Ryan puxou a camisa dele e o fez cair, dando uma falta perto do ângulo de escanteio.

–Não valeu, cara. – Disse Lass.

Ryan apenas riu.

Um menino do time de Lass cobrou a falta e o nosso goleiro agarrou sem dificuldade. Recomeçamos o jogo. Ryan correu mais a frente e eu o acompanhei. A bola era minha, mas fui empurrado por Lass que voltava para repor a zaga.

Equilibrei-me para não cair no chão. Estava suando e ofegante, o cansaço já era um incômodo para mim. Consequências de ter ficado sem jogar por tanto tempo.

–Para de ficar em cima do Ronan. – Disse Ryan, vendo que era a segundo falta em cima de mim feita pelo Lass, que apenas abanou a mão no ar dispensando os avisos do amigo.

Eu ignorei aquilo, mas se houvesse uma terceira, eu já levaria para o lado pessoal.

Um menino do meu time cobrou a falta e passou para Ryan, que chutou de longe, mas pegou mal na bola e ela foi isolada para longe.

O goleiro do time oposto lançou a bola com a mão mesmo, que acabou vindo em minha direção, eu iria dominá-la, mas Lass me empurrou para fora da linha limite quadra de futsal, caindo na lateral. A bola foi direto para a arquibancada e Arme pegou, rolando de volta para a quadra com a mão.

Levantei-me e parei de frente com Lass.

–Já é a terceira vez, caso não percebeu, há outros jogadores em quadra, tem como parar de fazer falta em mim? – Perguntei encanrando-o.

–Hunf.

Minha vista embaçou e uma tontura me fez cambalear um pouco. Mas forcei meu corpo a permanecer de pé, aquele garoto tinha alguma razão para estar reagindo daquele jeito comigo, eu nem falo direito com o Lass para ele me odiar ou sentir algo repulsivo a mim.

–Tem alguma coisa te atrapalhando? - Questionei logo para tirar as dúvidas de minha mente. O jogo estava parado, por causa da falta, hora perfeita para ele falar o que quiser ou se silenciar diante a minha presença.

–Um tal de um caderno caído na calçada. Carta. Isso te lembra algo?

Lass me empurrou para frente, dando espaço para ele passar. Ryan se aproximou de mim com a bola na mão e colocou no chão, para eu cobrar a falta.

–Aconteceu alguma coisa? – Indagou Ryan, percebendo que eu havia ficado totalmente sem reação depois de falar com o Lass.

Também! Depois de saber que eu não havia perdido o meu caderno e quem havia achado fora justamente o namorado da minha melhor amiga, não tinha como simplesmente voltar para o jogo como se nada houvesse acontecido!

–Ronan! – Ryan me chamou e eu parei de gritar com minha própria consciência.

Coloquei a mão na cabeça, a tontura voltara.

–Tá tudo bem… - Respondi.

–Você não parece nada bem.

Coloquei o pé sobre a bola e olhei para um dos meninos do meu time que estava perto da área do goleiro.

–Vamos jogar ou ficar batendo papo? – Perguntei sério para Ryan, que se afastou e voltou para a quadra, desaprovando minha atitude de não querer lhe contar o que havia acontecido.

Chutei a bola em direção ao menino que eu havia avistado em boa posição e ele dominou a bola no peito, deixando-a cair um pouco e, antes de atingir o chão, chutou em direção ao gol.

O goleiro salvou, pulando para o lado esquerdo e espalmando a bola. Lateral.

Corri até a pequena área. Lass estava marcando Ryan, que tentava pegar a bola que fora posta de novo em quadra depois da batida de lateral. Ryan conseguiu sair da marcação de Lass e me viu livre.

–Faz Ronan! – Ele lançou a bola para mim e eu vi tudo embaçado.

–Ronan! – Arme gritou meu nome, mas eu não via mais nada. Nem de pé eu me encontrava mais. Só vi a escuridão e senti uma dor nas costas. Depois disso… Nada.