Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 33
#29 - Planos e Luta


Notas iniciais do capítulo

OLÁ MEUS AMOREEEES S2

Viu, não demorei muito dessa vez u-u Mas demorei mais do que pretendia... Então aceitem esse capítulo "mais maior" como pedido de desculpas ;3

Obrigada a:
#RedPegasu
#Akira (&) Akemi (&) Tsunami (xD)
#Açucena
#Primrose e Meredith
#Sassu
#Vlad Ember
#Kagura May
#Fernopolo
#Yui Chan
#Notaru
#Lime Chan
#Kashir
#Miyabi Hinata
#Guelbs
Obrigada por serem tão pacientes *-* A tia ama vocês tá? xD

Tá, e gente, feliz natal e feliz ano novo! Muitooo atrasado, mas tá valendo, né? ;D Tudo de bom pra vocês nesse ano S2

Sem música porque ninguém ouve e eu tõ sem ideia .-.
Até lá embaixo o/



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Eu não sabia bem o que falar depois daquele momento de sinceridade inesperada, então preferi ficar em silêncio. Soul também não disse nada, só sorriu para mim de uma forma quase orgulhosa e ergueu a cabeça para ficar olhando para o buraco no teto. Continuei ao seu lado, perto o suficiente para que nossos ombros se tocassem, e o único som era o de alguns carros á distância. Por incrível que pareça, aquele prédio abandonado era um lugar bem calmo. E isso não foi nada bom.

Por alguns momentos eu me perguntei se devia mesmo ter dito aquelas coisas todas ao Soul, mas logo me surpreendi me distraindo com o entulho, os contornos dos prédios lá fora e alguns mosquitos que voavam por ali. O barulho deles me parecia quase reconfortante. Não consegui lembrar mais sobre o que eu estava pensando, e só percebi que estava quase dormindo quando alguém deu um tiro em algum lugar lá fora e eu praticamente grudei no teto.

Esperamos quase uma hora ali até que Soul, depois de muita insistência minha, resolveu aceitar que podíamos voltar para o hotel sem perigo. Saímos do prédio e percorremos algumas ruas meio que um se apoiando no outro, já que ele também estava morrendo de sono, embora parecesse um pouco mais alerta que eu. Quando achamos um telefone público que estava inteiro para chamar um táxi, já amanhecia. Por sorte, ele não demorou muito, apesar de cobrar uma taxa extra por causa da localização.

Soul cochilou dentro do carro, e juro que se a viagem tivesse demorado mais do que aqueles vinte minutos, eu também teria. Chegamos no hotel e subimos para o nosso andar com a animação de dois zumbis. Não tomei banho nem comi nada, apenas resmunguei um boa noite e me estiquei toda, me espreguiçando. Soul acenou com a cabeça, bocejando, e cada um se trancou no seu quarto. Arranquei as roupas, deixando-as jogadas pelo chão, e me enrolei toda no edredon do hotel.

Meu último pensamento antes de finalmente dormir foi sobre o alívio de finalmente estar deitada.

***

Provavelmente eu acordei por causa da fome, mas na hora, eu estava grogue demais para perceber isso. Ou qualquer coisa, na verdade. Eu só me dei conta que estava acordada porque de repente não estava mais mergulhando num navio naufragado habitado por polvos fantasmas, e sim deitada na cama. Por alguns segundos só fiquei lá, respirando pesadamente de olhos fechados, na esperança que o sonho voltasse. Não voltou. Na verdade, ficar ali parada me fez despertar mais.

Ergui um pouco a cabeça e tateei o criado-mudo até achar o despertador que deixavam em todos os quartos. Depois de alguns segundos forçando meu cérebro a decifrar o relógio analógico, percebi que faltava pouco para as quatro da tarde. Algo me dizia que eu devia me sentir culpada, mas eu só queria ficar na cama mais um pouco e parar aquela sensação incômoda na minha barriga.

Foi aí que percebi que estava com fome.

Ainda demorei um pouco para levantar, tentando me convencer que era realmente necessário, até finalmente ficar de pé e me enfiar nas roupas que larguei pelo chão mais cedo. Saí do quarto meio cambaleando, bocejando um pouco e quase fiquei cega com a luz do sol entrando pela janela de vidro da saleta que separava meu quarto do quarto de Soul. Pisquei um pouco, me jogando no sofá, e reparei que a porta dele estava fechada. Devia estar dormindo. Pensei em acordá-lo, mas desisti – me pareceu uma crueldade fazer alguém sair da cama num dia frio daqueles. Ao invés disso, usei a lista de números ao lado do telefone para ligar para o serviço de quarto. Pedi tudo que me passou pela cabeça e depois dobrei a quantidade, pensando em Soul. E também, ia ser o Shinigami-sama que pagaria a hospedagem, então eu não precisava me preocupar com a conta.

Pensar no Shinigami-sama me lembrou do motivo da viagem, e do fracasso na noite anterior, e foi nisso que eu estava pensando quando fui para o banheiro escovar os dentes e – finalmente – tomar banho. Fiquei algum tempo me martirizando por ter sido tão estúpida e covarde, mas não consegui seguir essa linha de raciocínio por muito tempo. Logo me lembrei do que aconteceu depois, e aí sim eu fiquei mais vermelha ainda. Fechei os olhos e balancei a cabeça com força, morrendo de vergonha ao lembrar da minha conversa com o Soul.

Eu não me arrependia de ter feito as pazes com Soul, nem de ter sido sincera. Mas era constrangedor ter dito a ele como eu me sentia sobre o Kid, e meio revoltante saber que aquele tempo todo, Soul sabia que eu gostava dele. Estava dividida entre ficar aliviada, feliz ou me sentir idiota. Na dúvida, preferia ficar aliviada. Provavelmente, agora conseguiríamos lutar juntos. Pelo menos, confiava mais nele agora, e talvez ele confiasse mais em mim, também. De qualquer jeito, teria de dar certo agora. Não podíamos demorar mais para concluir essa missão, e se alguém morresse hoje, depois de eu tê-lo deixado vivo por estar com medo, nunca me perdoaria.

Saí do banheiro pingando e enrolada na toalha, e por sorte Soul ainda parecia estar dormindo. Me tranquei no meu quarto novamente bem na hora que a campainha tocou, então só gritei um “espera” e vesti minhas roupas reserva antes de ir correndo atender a porta, ainda com o cabelo encharcado. Era uma das camareiras com as comidas que eu pedi num carrinho, e depois que a ajudei a colocar tudo na mesinha, comecei a comer imediatamente.

Só percebi como realmente estava com fome quando comecei a comer. Num piscar de olhos, devorei dois pães franceses com presunto e queijo, um pedaço enorme de bolo de morango, duas peras e pelo menos três pêssegos, sem contar com os copos de suco de laranja. Ainda havia muita comida para o Soul, mas mesmo assim...

Acabei de comer e deixei a parte do meu parceiro dentro de um frigobar no canto da saletinha. Talvez os pães não ficassem tão gostosos gelados, mas era melhor do que deixá-los ali.

Tive que trocar de blusa de frio, já que meu cabelo havia deixado a que eu usava muito molhada, e depois de penteá-lo voltei para assistir televisão na saleta até Soul acordar e eu explicar meu plano meio sem base para encontrar Jack the Ghost sem rodar metade da cidade.

Mas, assim, que liguei a TV – estava passando uma maratona de alguma série antiga que não reconheci – a última coisa que fiz foi prestar atenção.

Eu havia conseguido me distrair enquanto estava ocupada e/ou sonolenta, mas os atores passando por situações “engraçadas” na tela não prendiam a minha atenção, e logo comecei a pensar no que significava tudo o que eu e Soul conversamos ontem. Porque eu realmente não tinha parado para pensar nisso. E agora, bem... Ao que parecia, Soul sabia que eu gostava dele. Sabia também que me apaixonei pelo Kid. E eu sabia que o Soul definitivamente gostava da Liz, embora os dois não estivessem juntos. Apesar de aparentemente também estar interessado em mim. Aquilo estava confuso demais.

Era horrível saber que provavelmente toda aquela confusão acabaria se eu simplesmente pudesse me decidir, mas eu não conseguia. Não sabia como simplesmente chegar em Kid ou Soul e dizer “Olha, não estou afim de você, então vamos ser só amigos, ok?”, seria uma completa mentira. Eu não conseguia mais ver Kid como só um amigo, e não conseguia abrir mão do que eu sentia por Soul. Estava ferindo todo mundo – e a mim mesma – com isso, e não saber como ia acabar me deixava louca.

Havia pensado que, quando as coisas se normalizassem mais com o Soul, tudo iria se encaixar. Provavelmente com Soul como meu amigo, e eu ficando com Kid. Até mesmo agora, essa parecia uma forma ótima de as coisas terminarem, se ignorássemos dois pequenos detalhes. Quando estava com o Soul, eu não sei, mas era fácil demais me deixar levar. E eu havia brigado com Kid. Só de lembrar as coisas que ele me falou, eu ficava com raiva e magoada, tudo ao mesmo tempo. Mas ainda assim, queria falar com ele. Não podia simplesmente ignorá-lo, até porque ele com certeza viria atrás de mim – a prova disso foi o Kid ter ligado para a casa da Tsubaki atrás de mim.

Me passou pela cabeça pegar meu celular e ligar para o Kid, mas rapidamente afastei a idéia. Já era ruim o suficiente estar pensando em garotos quando devia me concentrar na missão. O celular continuou onde estava, desligado no fundo de um dos bolsos da minha mochila, e eu tentei me concentrar em alguma tática para derrotar Jack, até Soul acordar.

A porta não fez muito barulho quando Soul saiu do quarto, mas eu vi o movimento com o canto do olho, então me virei a tempo de vê-lo quase bater a cabeça no batente. Soul parou a centímetros dele, encarando-o como se não devesse estar ali, e esfregou a nuca com a mão. Eu ri de leve, e ele pareceu notar minha presença só quando me ouviu. Sua voz saiu áspera e rouca quando disse:

– Bom dia, Maka.

Ignorando como sua voz soou sexy – como se não bastasse ele estar usando só uma bermuda, apesar do frio – ergui as sobrancelhas e respondi:

– Boa tarde, Soul.

Ele franziu a testa, confuso.

– Que horas são?

Conferi rapidamente no relógio no rack antes de informar:

– Dez para as cinco.

– Da tarde?

Lancei-lhe um olhar irônico, então ele resmungou algo sobre ser uma pergunta óbvia e se afastou do quarto, fechando a porta atrás de si. Pensei que fosse para o banheiro, mas ao invés disso Soul deu a volta no sofá e se sentou ao meu lado, quase em cima de mim, passando os braços ao redor da minha cintura e pousando a cabeça no meu ombro. Enrijeci na hora. Se ele percebeu, não demonstrou, só respirou pesadamente e fechou os olhos.

Olhei para baixo, ele parecia estar dormindo. Mas pessoas não adormecem em dois segundos, e caso o façam, não ficam acariciando a sua cintura. Pigarreei de leve, mas ainda assim minha voz soou estranha.

– Soul? O que você está fazendo?

– Estou com sono. – Respondeu, simplesmente, se aconchegando mais a mim.

– Eu não sou um travesseiro.

– Estou te atrapalhando?

Dava para ouvir o sorriso na voz dele, e quase bati no Soul. Atrapalhando? Não, claro que não. Mas ter um garoto sem camisa abraçando você assim do nada era, no mínimo, constrangedor, e ele sabia muito bem disso.

– Não exatamente, Soul, Mas...

– Ótimo. – Me interrompeu, sem nem disfarçar o sorriso dessa vez.

Respirei fundo, pensando no porque de eu ter de lidar com um garoto bêbado de sono, e o afastei de mim, empurrando seus ombros. A pele dele estava gelada.

– Está fazendo uns dez graus lá fora, Porque você não está de roupa de frio?

– Estava enrolado no edredon até agora.

Corei um pouco ao perceber que ele havia dormido com essas roupas, e o empurrei mais.

– Ok, então vai tomar um banho e colocar algo quente. Eu já pedi o café da manhã, quando acabar você vem comer e eu te explico o plano pra encontrar Jack The Ghost.

– Você não me deixa descansar nem um pouco! – Soul reclamou e sorriu de lado para mim, mas levantou, indo lentamente em direção ao banheiro.

E eu fiquei na sala, pensando em como ele não facilitava as coisas nem um pouco.

***

O meu “plano” era irritantemente simples, mas na verdade foi o único no qual consegui pensar. Os criminosos que tinham a sentença de morte decretada pelo Shinigami-sama não costumavam se esconder – na verdade, a maioria era idiota ou orgulhosa o suficiente para agir normalmente e depois puxar briga. Eu nunca soube de uma dupla que fugiu de uma luta, mas tinha certeza que isso faria com que o criminoso se sentisse mais confiante ainda. Eu estava apostando que, com nossa fuga, Jack se sentisse confiante o suficiente para nos procurar para lutar, achando que poderia nos matar. Então sugeri ao Soul que fossemos para o mesmo lugar em que o encontramos ontem e simplesmente esperássemos que ele aparecesse.

Óbvio que Soul não gostou da idéia. Disse que era perigoso ficar parado num bairro daqueles e que não tínhamos nenhuma garantia de que Jack realmente fosse aparecer. Mas precisávamos concluir aquela missão rápido, e ele não tinha nenhuma idéia melhor, então as sete da noite saímos do hotel para mais uma tentativa.

Estava tão frio quanto na noite anterior, e dessa vez não ficamos ao ar livre. Entramos em um prédio ali perto, tão sujo quanto o que nos escondemos na noite anterior, e ficamos esperando por algum tempo. Foi meio irritante ver Soul fazendo aquela cara de “você está errada” para mim a cada minuto, até que avistamos Jack, e eu dei o meu melhor sorriso de “estou certa”.

Jack andou pela rua um pouco, parecendo checar se estava vazia, então se escondeu num beco entre dois prédios, a alguns metros de distância. Me virei para Soul, ansiosa.

– Pronto?

– Sempre.

Mas ele não parecia tão pronto assim. Estava mais para preocupado. Ele ficou parado no mesmo lugar, olhando lá para fora, e por fim se virou para mim e disse:

– Maka, me promete que se não conseguirmos lutar, você vai fugir? Eu distraio ele. Podemos tentar de novo outro dia, não tem problema.

Não prometi nada, apenas sorri, do modo mais confiante que pude:

– Nós vamos conseguir, Soul. Não se preocupe.

E antes que ele pudesse insistir, agarrei sua mão e o puxei para fora do prédio. Assim que saí de nosso esconderijo, Soul se transformou em foice, e eu juro que me assustei um pouco ao sentir sua mão se transformar em metal liso. Provavelmente o Jack não conseguia enxergar o lugar onde estávamos, porque continuou escondido no seu beco. Tive alguns minutos para me acostumar a estar segurando uma foice de novo.

Foi quase estranho. A sensação de segurá-la, o modo como se movia, era familiar, mas ao mesmo tempo parecia diferente. Estava um pouco mais pesada do que eu me lembrava, e o metal contra minha mão parecia meio quente, apesar do vento frio. Devia ser por causa das luvas, disse a mim mesma, enquanto testava alguns golpes silenciosamente. Eu não estava nada enferrujada.

– Vai ficar aí brincando comigo? – Soul resmungou, mas sua voz soou quase aliviada. Não sei bem o que ele esperava que acontecesse quando eu o pegasse, talvez que nós explodíssemos, mas obviamente ele estava feliz com a situação do jeito que estava, e eu também.

Estava bem mais confiante, e quase tão aliviada quanto o Soul, embora não demonstrasse. Lutar agora me parecia fácil.

Voltei a me concentrar na missão, decidida a acabar com ela essa noite. Como Jack ainda estava dentro do beco, eu queria tentar pegá-lo de surpresa, mas me passou pela cabeça que poderia ser uma armadilha. Me parecia muito provável. Fiquei em posição de ataque e sussurrei para o Soul:

– O que você acha?

Ele só demorou um segundo para responder:

– Se você estiver certa e Jack espera que aconteça o mesmo de ontem, só por eu já estar transformado temos uma vantagem. Mas eu tentaria ir com calma. Você não pode deixar ele chegar perto o suficiente para conseguir te acertar.

Assenti, e rapidamente planejei o primeiro ataque na minha cabeça. Eu me manteria próxima a parede e quando chegasse perto o suficiente, pularia no beco e o atacaria. Mas eu não conhecia o tamanho do beco e nem onde ele estaria. Provavelmente estava num lugar fácil de vigiar a entrada e a rua, e difícil de ser atacado. Abandonei o plano, seria muito fácil para ele atacar. Eu teria de trazê-lo para fora, seria mais seguro, mas ao mesmo tempo, mais perigoso.

Relaxei a mão que segurava o Soul apenas o suficiente para não dar a entender que estava pronta para uma luta e comecei a descer a rua, olhando ao redor atentamente. Meus passos faziam um barulho ritmado, e aquilo me deixava meio tensa. Mas Jack com certeza havia escutado. Ele logo apareceria.

– Maka? – Soul sussurrou, preocupado. – O que está fazendo?

– Chamando o inimigo. – Sussurrei de volta.

Eu ainda tinha a vantagem. Estava com Soul a postos e sabia a localização de Jack. Não havia muito com o que se preocupar, mas ainda assim aquele frio na barriga de medo se esgueirou. Não o deixei avançar, no entanto. Hoje seria diferente. Eu é quem mandaria em mim mesma.

A medida que ia chegando mais perto do beco, ia ficando mais ansiosa. Tentei manter o andar normal, mas queria sair correndo e começar – e terminar – essa luta logo. Até que cheguei na frente do beco e nada aconteceu.

Hesitei apenas um segundo, então continuei andando, tentando resistir a vontade de olhar para trás. Minha nuca havia arrepiado. O que Jack estava planejando? Eu não o havia visto lá dentro, mas ele com certeza devia ter me visto.

– Soul?

– Ele não foi embora. Fique firme.

Mal Soul acabou de falar, ouvi um barulho de alguém correndo, apenas três passos. Me virei, já segurando a foice em posição de ataque, mas não havia ninguém atrás de mim.

– Maka! Em cima!

Tive tempo apenas de pular para o lado, saindo do caminho, antes que Jack caísse no lugar onde eu estava um segundo atrás, no meio de um golpe com os socos ingleses. Arfei, surpresa, e olhei para o prédio do qual ele parecia ter saltado – eram três andares! Como um humano podia ter pulado daquela altura e ter caído numa posição ajoelhada perfeita, sem parecer ter se machucado nem um pouco?

A menos que ele não fosse mais totalmente humano.

Segurei Soul com firmeza e me adiantei, tentando um corte em seis, mas Jack percebeu minha intenção e pulou para longe antes que eu pudesse acertá-lo. Emendei um golpe em outro, numa sequência rápida, e ele continuava se afastando, quanto mais perto eu chegava. Aquilo não daria certo. Eu iria me cansar mais rápido e me tornar lenta. Parei os golpes por um segundo, e continuei em posição de alerta, esperando que Jack usasse essa brecha para tentar me acertar, entretanto não foi isso que ele fez. Jack nos lançou um sorriso cheio de tanto ódio quanto irritação.

– Vocês são escravos do Shinigami. – Disse, com asco. – Aceitam cegamente tudo o que ele fala como verdade absoluta. Sujam as mãos para agradar quem se diz deus e lambem o chão que aquele louco pisa. Quem é ele para julgar o que é certo ou errado?

Se eu não estivesse no meio de uma luta, reviraria os olhos. Todos os criminosos falavam aquilo.

– E você acha que sair matando qualquer um por diversão é certo?

– Eu não mato qualquer um. – Sua voz soou quase ofendida. – Eu mato esse lixo que suja as ruas da cidade. Assim como vocês.

Aí, sim, ele nos atacou.

Esperei até o último segundo e então, ao invés de defender, eu desviei do golpe, indo para a esquerda e puxando a foice no mesmo movimento. De algum modo Jack conseguiu notar o que eu estava fazendo e pulou para trás, mas não foi rápido o suficiente. A lâmina de Soul fez um talho na lateral do abdômen, e quase imediatamente sua blusa clara começou a ficar suja de sangue, a mancha crescendo cada vez mais.

Isso pareceu deixar Jack possesso, e ele veio com tudo para cima de nós, dando um soco atrás do outro, sem parar. As lâminas acopladas nos seus socos ingleses passavam bem perto de mim, mas eu não o bloqueava, só desviava. Jack não estava tomando conta da sua guarda como deveria, estava pensando demais em me acertar e deixando brechas. Eu nem mesmo precisei esperar muito.

Quando percebi uma boa abertura, troquei Soul de mão, da direita para a esquerda. Não era tão boa com esse lado, mas não precisava de muita precisão, só queria confundir Jack um pouco, e funcionou. Ele hesitou por um momento, e eu rapidamente girei Soul a minha frente e puxei, até que sua lâmina tocasse as costas de Jack, o impedindo de fugir. Ele arregalou os olhos, surpreso, e eu vi medo em seus olhos. Ele sabia o que aquilo significava.

– Jack the Ghost, em nome do Shinigami-sama, sua alma é minha!

Dei um passo para trás, puxando a lâmina em minha direção com força, e ela parou a centímetros da minha pele. Jack tentou falar algo, mas eu já havia cortado seu corpo no meio. Em questão de segundos ele desapareceu e só sua alma avermelhada ficou lá, flutuando onde antes ele estava. Um ovo de Kishin.

O mundo pareceu parar por um instante. Fiquei observando enquanto Soul voltava a sua forma humana, ia até ela quase respeitosamente e a pegava pela cauda, erguendo o queixo e a engolindo como eu não o via fazer a muito tempo. Então ele se virou para mim, com um sorriso orgulhoso, e a ficha finalmente caiu.

– Soul, nós conseguimos.

Ele assentiu.

– Conseguimos.

Comecei a rir. De alívio, de orgulho, de felicidade. Nós havíamos mesmo conseguido! Não foi a luta mais difícil que tivemos, nem de longe, mas foi a que fiquei mais feliz em ganhar. Corri até Soul e o abracei com força, apertando-o enquanto não parava de repetir a mesma palavra. Conseguimos, conseguimos, CONSEGUIMOS! Ele riu também, me dando os parabéns, e então me abraçou pela cintura com força, me erguendo do chão e nos girando no mesmo lugar. Pensei em pedir para ele parar antes que ficássemos tontos, mas estava feliz demais para ser chata agora. Apenas o segurei mais forte, escondendo o rosto no seu ombro e tentando parar de sorrir, mas parecia impossível.

Quando ele parou, não me colocou no chão, só ergueu um pouco a cabeça e me olhou de um jeito que eu nunca saberia descrever.

– Você é minha parceira de novo.

Concordei, quase com vontade de chorar, e pousei a mão na sua bochecha.

– E você é meu parceiro de novo.

Soul mordeu o lábio inferior de leve, e seu olhar desceu dos meus olhos para a minha boca, e voltou. Franziu a testa de leve, com um sorriso sem graça. Estava pedindo permissão.

Eu hesitei. Lembrei que Soul ainda falava como se gostasse da Liz, mas ele estava aqui comigo agora, e não com ela. Se eu o deixasse me beijar agora, podíamos voltar a ter todos aqueles problemas de novo, só que eu não acreditava realmente nisso, nós estávamos bem de verdade, nós lutamos juntos, e eu estava mais otimista do que havia estado em semanas. E eu pensei no Kid. Eu me sentiria meio mal em beijar outra pessoa. Mas Kid brigou comigo, e foi ele quem me largou, isso porque o Soul me beijou a força. Não havia sido minha culpa. Então, não custava nada dar a ele um motivo pra realmente ter ciúmes.

Corei um pouco e acabei olhando para o chão, mas pousei minha outra mão na nuca de Soul e assenti quase imperceptivelmente. Não vi sua reação, mas o senti respirar fundo e seus braços me envolverem com um pouco mais de força.

– Maka...

Sua voz soou baixa e rouca. Ergui um pouco o olhar. Soul me encarava fixamente, respirando devagar, e seu peito subia e descia contra o meu. Meu estômago se contorceu, e eu acabei mordendo o lábio inferior também, mas não desviei o olhar novamente. Continuei olhando nos olhos de Soul quando ele acabou com a curta distância entre nós, e aquele vermelho foi a última coisa que vi antes de fechar os olhos.

Sua boca tocou a minha lentamente a princípio, só ficou pousada ali, testando minha reação. Acariciei sua nuca e abri um pouco os lábios, encaixando-os nos de Soul. Foi o suficiente para o seu teste acabar. Soul mordeu de leve e puxou meu lábio inferior, e assim que abri um pouco a boca, ele me beijou, de verdade.

Seu beijo era rápido e intenso, mas não demais. Ele me beijava como se estivesse esperado muito tempo por aquilo, e foi fácil entrar no seu ritmo – de certa forma, eu me sentia um pouco como ele. Em algum momento ele me colocou no chão e eu teria perdido o equilíbrio se ele não me mantivesse tão perto dele, me enlaçando pela cintura e embolando seus dedos pelo meu cabelo. O imitei, depois desci minhas mãos pelas suas costas, arranhando por cima de sua jaqueta. Não sabia se ele ia sentir, mas sentiu, porque me apertou mais e passou a mão por dentro da minha blusa, acariciando minhas costas. Quase gemi contra sua boca, e foi então que senti algo contra meu umbigo.

Soul diminuiu a velocidade do beijo e me deu um selinho, se afastando um pouco. No entanto, continuou com os braços ao meu redor e a testa colada a minha enquanto respirava fundo. Aproveitei para tentar acalmar minha respiração e meu coração também, mas demorou um pouquinho. Consegui um pouco antes dele, e quando Soul finalmente ergueu o rosto para me olhar, eu não sabia bem o que dizer. Não fazia a mínima idéia.

– Maka... Eu...

– Hum? – Murmurei, mordendo o lábio inferior, quase com medo do que ele pudesse falar.

Mas Soul não disse nada, apenas me puxou e me abraçou de novo, só abraçou. Abracei-o também, passando a mão de leve por suas costas. Quando ele se afastou, sorriu de lado, parecendo sem jeito.

– Acho que é melhor voltarmos para o hotel. Provavelmente pegamos um vôo para Death City amanhã cedo, e você tem que reportar a missão ao Shinigami.

Sua voz não tinha um traço de malícia, e assenti, concordando. Pegamos o caminho de volta para o hotel, e eu tentei me concentrar em não encontrar nenhum drogado ou traficante no caminho, e em não pensar sobre o beijo, e nem se aquele seria o nosso último.


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Notas finais do capítulo

É, não sei o que falar então vou ficar aqui quietinha e procurar algum doce pra comer...
Até maaais o/