Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 14
#12 - Soul e a Manhã Seguinte


Notas iniciais do capítulo

Yoo meus amores!
^.~
Primeiro, quero agradecer a:
#Guelbs
#Anne Frank
#Breaker
#Bruna Evans
#Açucena
#Mari
#Monkey D Amanda
#Mari the Wolf
#LalaNyahUchiha
#Vlad Ember

Thanks por comentar ^w^
Jurava que vocês iam querer me matar no capítulo passado, mas a maioria gostou (acho que é feminismo xD Mexeu com uma, mexeu com todas)

EEEEEEE O SOUL EXPLICA TUDO HOJE o/
Hahaha, aproveitem ;)
E tem um aviso lá embaixo o/



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~POV Soul~

As luzes estavam apagadas, e a casa silenciosa, mas eu ainda estava acordado.

Eram quase quatro da manhã, e a Maka ainda não havia chegado.

Aumentei o volume do rock que eu ouvia nos fones de ouvido, deixando a batida pesada aliviar minha raiva. Hoje nada havia saído como planejado. A começar por Liz.

Eu tinha um rolo com Liz desde a primeira missão em conjunto que fizemos, na metade do ano passado, quando eu ainda era parceiro do Black*Star e fui com ela, Patty e Kid matar um serial killer na Tailândia. Conseguimos, mas não graças a mim e ao Black. Simplesmente não conseguíamos lutar juntos, e acabamos atrapalhando mais que ajudando. Era claro que nossas almas não eram compatíveis, mas não havia ninguém na Shibusen que pudesse ser o parceiro do Black, então continuávamos juntos. E eu me sentia o maior inútil da face da Terra.

Foi então que Liz começou a trocar ideia comigo. Ela era incrível. Me dava a maior força, ficava ao meu lado quando eu tava chateado, falava que não ia ser assim pra sempre, que uma hora apareceria alguém compatível e eu mostraria meu potencial. E ela era tão linda, tão doce, mas ao mesmo tempo tão descolada e sexy. Mal podia acreditar que uma garota como aquela pudesse se interessar por mim.

Acabamos ficando, e cara, foi inesquecível. Ela era incrível, e eu também sabia o que fazer. Acabamos ficando de novo, e de novo, e de novo, e eu nunca me cansava dela. Liz tinha aquele jeito de te envolver, de te fazer acreditar que era o único que importava no mundo. Eu odiava admitir, mas estava apaixonado. Não tinha como não se apaixonar por uma garota daquelas.

Estava prestes a pedi-la em namoro quando o Shinigami-sama falou que haviam duas novas alunas na escola, e que uma delas era perfeita para ser a parceira do Black, enquanto a outra teria muito potencial comigo. Eu mal podia acreditar que os meus problemas iriam se resolver assim, todos de uma vez. Eu teria uma parceira com a qual poderia lutar, Black também, e teria a garota mais linda e cool da Shibusen como namorada. Tudo estava perfeito.

Decidi adiar o pedido de namoro por um tempo, pra não ficar sobrecarregado com ter que conhecer a garota nova e dar a atenção que Liz merecia. Dois dias depois disso, conheci minha nova parceira, Maka Albarn.

Dá pra acreditar nisso?

Eu mal a reconheci. Na quinta série ela era uma menina magrinha, baixinha e sem peito, que usava aquelas duas marias chiquinhas que a faziam parecer ter só uns fiapinhos de cabelo. Seus braços e pernas eram compridos e finos, mas com mãos e pés muito grandes, o que a deixava ainda mais estranha. Eu implicava muito com ela, mas a respeitava no fundo, por ser tão determinada e estudiosa. Acabamos virando amigos, mas na sexta série ela se mudou, saiu da escola e nunca mais tive notícias suas.

Agora ela estava bem diferente. Não era mais toda desproporcional, e ainda era magra, mas atlética, com as pernas e braços torneados e - viva! - a garota tinha peito agora. O cabelo estava maior, e nada de maria chiquinha. Mesmo com o corpo mais adulto, Maka ainda tinha cara de menininha, com aqueles grandes olhos verdes que pareciam assustados quando entrou na sala do Shinigami-sama e o nariz arrebitado. A tábua havia mudado muito.

Me mudei para o apartamento dela - o que Liz não gostou muito, mas não havia nada que nenhum de nós pudesse fazer - e acabamos virando amigos de novo. Maka ainda era nerd, irritadiça e determinada, ainda dava Maka Chops nos desavisados e ainda me chamava de babão, mas algo nela havia mudado. Eu não sabia bem o que, mas gostei. Logo apresentei ela para os meus amigos, e Liz adorou a Maka. As duas viraram amigas, e tudo estava indo bem. Eu poderia assumir o namoro com a Liz sem medo agora, e virar o Death Scythe mais cool da Shibusen, com a ajuda da minha parceira.

Mas comecei a gostar demais da Maka.

Tudo começou com o jeito que ela parecia poder ler minha mente ás vezes. Ok, com Liz também era assim. E a Maka sempre ficava linda estudando, parecendo tão determinada. Quando lutávamos, ela sempre fazia de tudo para evitar me ferir, mesmo que ela acabasse ferida. Mas eu só soube com certeza quando Maka começou a ficar amiga demais do Kid, que por mais que ela insistisse que não, estava apaixonado. Eu sentia um ciúme assustador quando os dois estavam juntos, porque ele sempre parecia saber o que dizer para deixar ela com aquele brilho nos olhos.

Eu não havia deixado de sentir o que eu sentia pela Liz. Eu ainda a achava espetacular. Mas agora, também sentia aquilo pela Maka. Estava ferrado.

Achei melhor não tomar nenhuma decisão enquanto não tivesse certeza, e tentava ser o mais formal quando as duas estavam juntas. Mas sozinho com cada uma, eu fazia de tudo pra tentar identificar por quem o que eu sentia era mais forte. Eu era romântico com as duas, jogava charme pras duas, e elas eram tão diferentes, mas ainda assim perfeitas. Liz era confiante, sexy, mas tão carinhosa, que eu não podia pensar em nada mais perto dela. Maka não admitia de jeito nenhum, mas em cada gesto dela pra mim eu podia ver que me queria por perto. Não sabia mais o que fazer.

Quando chegou o baile, e Maka me disse que nunca havia ido em um, decidi convidá-la. Liz ficou super chateada, mas acabou entendendo no fim - dá pra acreditar numa garota que aceita que o ficante leve outra pro baile? Liz continuou normal com a Maka, embora ficasse um pouco fria comigo. Já a Maka, algo havia mudado nela: me lançava alguns olhares ás vezes, sorria, desviava o olhar, corava.

Então hoje chegou. As duas estavam maravilhosas, e quando cada uma se pendurou em um dos meus braços, soube que estava ferrado essa noite. Demorei pra convidar a Maka pra dançar, temendo um pouco a reação da Liz, mas ela não se importou. Na pista de dança, quando a Maka começou a me olhar daquele jeito, e a rebolar e sorrir de lado pra mim, esqueci da Liz, esqueci de tudo. Eu a teria agarrado ali mesmo, mas ela conseguiu me parar, só com um olhar. Naquele momento, decidi que mesmo com a Liz, eu não podia perder minha chance com a Maka.

E, adivinha que cool, Liz percebeu. Quando Maka e Tsubaki foram no banheiro, ela me convidou pra dançar, mas ao invés disso me levou para a varanda pra conversar. Disse que sabia que algo estava rolando entre mim e Maka, e que também sabia que não podia me impedir, mas que também não ia simplesmente aceitar. Que se fosse preciso, lutaria por mim, porque eu era o cara mais cool dessa escola, e ela não sabia mais viver sem mim.

Quando Liz me beijou, eu retribuí. Assim como Maka, ela também me fazia esquecer de tudo, e eu nem hesitei em dar tudo de mim ali, naquela varanda. A culpa só me abateu quando cheguei na mesa, e vi que Maka não estava lá. A cada minuto que passava e ela não aparecia, eu me sentia pior, tinha certeza que de algum modo a culpa era minha. Cheguei a sair do baile mais cedo, pra ver se ela já não havia ido pra casa, mas no meio do caminho recebi uma mensagem da Tsubaki avisando que Maka havia ido dar uma volta com o Kid. Nunca havia sido tão humilhado.

Fui para casa, e dei uns chutes no carro dela, só de raiva. Peguei toda a pipoca que tinha no apartamento e mandei pra dentro, junto com dois litros de Coca-Cola, enquanto assistia todas as lutas de MMA e filmes de terror bem sangrentos. Enquanto a esperava, senti tudo, medo, culpa, raiva, irritação, humilhação, ciúme. Eu preparei um discurso enorme pra quando ela chegasse, mas descartei-o, não conseguia explicar tudo que eu sentia. Com o passar das horas, eu me sentia cada vez mais enciumado, irritado e preocupado.

Então, finalmente, o carro preto do Kid estacionou em frente ao prédio - e, claro, o cara tinha que ter uma Toyota. Por alguns minutos ele ficou apenas lá, parado, então Maka saiu do carro, quase caindo do degrau alto, e se virou para falar algo com Kid antes de correr até a portaria. Ele deu uma buzinada e saiu depois disso.

Pouco depois ouvi o som da porta da sala abrindo, mas não saí do quarto. Se eu fosse vê-la agora, diria coisas que me arrependeria depois. Fiquei colado á porta do meu quarto, ouvindo enquanto ela abria a geladeira, depois ia até seu quarto, as passadas tão silenciosas que só podia ser de propósito. Quando entrou em seu quarto, Blair começou a brigar com ela, mas parou logo em seguida e perguntou se algo havia acontecido. Maka respondeu que explicaria quando acordasse.

Alguns sons de gavetas abrindo e fechando depois, tudo voltou ao mais completo silêncio, e finalmente deitei de costas na minha cama, olhando o teto.

***

POV Maka

Quando acordei no outro dia já eram duas da tarde, o quarto estava escuro e abafado, eu suava e Blair dormia tranquilamente, na sua forma de gata, enrolada ao lado do meu travesseiro. Não levantei logo, apenas fiquei lá obsorvendo tudo o que tinha acontecido na noite passada. Soul e Liz ficaram juntos no baile. Aquilo ainda doía, e muito.

Não sei bem explicar como você se sente quando todas as suas expectativas são quebradas e você vê o cara que, tipo, foi o seu primeiro amor e conseguiu te fazer se apaixonar de novo com outra. Quando devia estar com você. Na festa que ele te convidou. Eu não sabia se estava decepcionada ou com raiva. Queria xingá-lo, bater nele, sei lá, fazê-lo sentir o mesmo que eu senti. Queria fazê-lo pagar. Mas sabia que não teria coragem, e tinha tanto medo de acabar me derretendo aos seus pés. Eu tinha que ser firme, sabia disso. Tinha que deixá-lo saber que odiei sua atitude, só que no fundo eu também me sentia um pouco culpada. Eu havia ficado com o Kid quando devia estar com ele. E dane-se, eu não estava arrependida.

Virei na cama e dei um risinho, lembrando de como havia sido. Eu já tinha pensado em Kid daquele modo algumas vezes, mas nunca havia considerado seriamente a possibilidade, muito menos pensado que poderia ser tão bom. Ele havia me feito sentir tão bem, tão linda, tão... uau. Me fez sentir desejada. Era constrangedor admitir, mas era a verdade.

No caminho até em casa, ele não disse uma palavra sobre Soul ou o baile, manteve a conversa girando ao redor de coisas que haviam acontecido conosco, depois que saímos. Ele até brincou que deveria ter me beijado no poste, porque pelo menos eu teria apoio para os ombros também! E quando estacionou na frente do prédio, eu estava super nervosa, sabia que Kid iria acabar me cobrando algo, e eu ainda teria que lidar com o Soul. Mas ele não fez isso. Kid me puxou e beijou a ponta do meu nariz, dizendo que se eu não acordasse até as quatro da tarde ele viria em casa e me acordaria da melhor maneira possível. Rí, e mesmo sabendo que ele não faria isso, disse que acordaria ás cinco. Olhei em seus olhos, testando sua reação, e lhe dei um selinho. Ele me deu mais dois, e passou a ponta do nariz pelo meu pescoço, o que me enviou um arrepio. Quando saí do carro estava rindo e não fazia a menor ideia de porque estava nervosa antes.

Kid esperou até eu estar na portaria pra ir embora. Achei isso bem fofo.

Só me preocupei com Soul quando entrei no elevador. Eu estava morrendo de medo que ele ainda estivesse acordado, me esperando, não saberia como olhar pra depois de ter saído dos braços do Kiddo. Só que as luzes estavam apagadas e tudo estava silencioso. Não sei bem se fiquei aliviada ou mais decepcionada ainda. Por mais egoísta que fosse, eu queria que Soul tivesse me esperado, nem que fosse pra brigarmos como dois doidos e acordar os vizinhos, mas pelo menos saberia que ele se importou. Mas eu saí da festa mais cedo, sem dar satisfações, cheguei de madrugada e nem assim Soul me deu atenção.

Blair, por outro lado, estava puta comigo, e só parou de reclamar quando notou minha expressão. Eu havia prometido explicar hoje, e fui dormir pouco depois, achando que iria ajudar a colocar minha cabeça no lugar onde devia ficar, bem longe do coração.

Surpresa: não ajudou.

Por fim, decidi levantar. Ficar vegetando na cama não ia resolver nada. Além disso, estava com fome.

Não abri as janelas, não queria atrapalhar o sono da Blair. Peguei as roupas que ia usar hoje mais por instinto e tomei coragem cantando a musiquinha mais chiclete que eu consegui lembrar antes de finalmente abrir a porta e sair do quarto.

Primeiro, a luz fez meus olhos arderem. Eu e ela estávamos separadas a algum tempo, e isso devia tê-la irritado. Cocei os olhos um pouco e quando me acostumei com a claridade notei Soul com cara de quem acabou de acordar sentado no sofá, um filme qualquer passando na televisão, mas olhando para mim. Não um olhar bom. Um olhar frio.

– Achei que tinha morrido. - disse, seco.

Isso realmente me chateou. Ergui o queixo e disse, cínica:

– Não dessa vez, docinho.

E me tranquei no banheiro.

Apoiei a testa na porta e suspirei, magoada. Ele havia me olhado tão feio. Foi tão rude. Será que machucaria, sei lá, perguntar se eu estava bem, ou onde fui ontem à noite, ou porque saí cedo e não o esperei? Droga, eu queria que Soul se preocupasse comigo. Mas ao que parecia, eu só consegui fazê-lo se irritar.

Não iria pedir desculpas - ah, não era eu quem tinha que se desculpar, pra início de conversa - mas provavelmente isso significaria lidar com aquela expressão horrível no Soul.

Enrolei o máximo possível pra escovar os dentes e tomar banho, esfreguei tanto o couro cabeludo que fiquei com a cabeça dolorida, inventei de fazer hidratação durante o banho e ouvi toda a minha playlist de Músicas Que Eu Sei Cantar. Quando acabei de vestir minha roupa - uma camiseta de manga curta com capuz cinza e shorts jeans azuis - e pentear o cabelo, foi porque realmente não sabia mais como enrolar. Tinha que encarar o Soul.

Era uma droga se apaixonar pelo seu colega de apartamento.

Primeiro, botei a cabeça pra fora, vendo se Soul estava por perto, mas ele ainda assistia televisão. Fui colocar minha tolha molhada na área de serviço e, quando voltei, a sala estava vazia, e a porta do banheiro, fechada. Sorrí, agradecida. Eu teria um tempinho pra pensar no que fazer. Ou não fazer. Mas antes, tinha que tomar café, porque pensar com fome não funciona.

Entrei com tudo na cozinha, planejando o que comer, e dei de cara com Soul, de costas para mim, mexendo na geladeira.

Droga, droga, droga!

Pensei em dar meia volta e me esconder embaixo da minha cama, mas ele ergueu a cabeça e me viu, então não tive escolha senão entrar. Fui até o armário, meio sem graça, meio em pânico, e ouvi-o dizer:

– Bom dia, Maka.

Gentil, porém distante, como se mal estivesse ali. Como eram seus "bom dia" todas as manhãs, geralmente seguidos por um bocejo ou olhos sendo coçados. Não sabia como interpretar aquilo, principalmente depois da recepção fria quando saí do quarto. Além disso, sentia uma tensão entre nós, como um elástico sendo esticado.

Em todo caso, decidi agir como ele parecia estar agindo: ignorando nosso cumprimento ácido de antes.

– Bom dia, Soul. - disse, apenas alegre o suficiente para parecer comigo mesma, embora não estivesse me sentindo nem um pouco assim. - O que quer pro café?

Quando fiz a pergunta nossa de toda manhã, cheguei a pensar que ele pudesse ter agido normalmente só pra conseguir comida - eu realmente não o perdoaria, nesse caso - mas Soul deu de ombros.

– Vou comer cereal.

Assenti, meio decepcionada por ele não precisar de mim. Logo depois, comecei a ralhar comigo mesma. Eu não podia ficar esperando que o garoto precisasse de mim até para amarrar os cadarços, né? Mesmo assim seria legal ser necessária. Se bem que arranjar comida aqui em casa não era exatamente um desafio. Ainda assim, aquilo significava algo. Ele devia estar com raiva de mim, por ter saído do baile ontem. Bufei, indignada. Eu é que tinha motivos pra ficar com raiva.

Enquanto fazia mistos pra mim e Blair - que devia estar no banheiro e daqui a pouco apareceria atrás de comida - a toda hora olhava por cima do ombro o que o Soul estava fazendo.

Ele pegou o cereal de açúcar e despejou numa tigela. Ao invés de leite, misturou iogurte de morango. Quando sentou na bancada pra comer, de costas para mim e sem parecer ter notado que eu o observava, pude notar o quanto estava tenso. Seus ombros estavam rígidos, e meio encolhidos. Talvez fosse culpa, pensei, não tão satisfeita quanto achei que ficaria. Então me amaldiçoei por ficar reparando nele, quando devia permanecer fria e distante.

Blair entrou, toda saltitante, logo depois, indo dar um beijo estalado na bochecha de Soul e em seguida vindo se pendurar nos meus ombros, olhando por cima da minha cabeça.

– Bom dia, Maka-chan, bom dia, Soul-kun! O que tem hoje pro café? - perguntou, verdadeiramente animada.

– Cereal. - Soul resmungou.

Ignorei-o e disse:

– Misto com nescau. Qualquer coisa mais elaborada que isso hoje e eu queimo a cozinha.

Blair riu, pegando seu prato e seu copo e indo se sentar na bancada, e a segui. Acabei sentando na frente do Soul, que nem ergueu os olhos do prato. Ok, eu não queria ver aqueles olhos de menstruação mesmo.

Peguei meu misto, com a barriga roncando - eu não comia a mais de 12 horas. Estava prestes a dar uma mordida, pensando que um só não seria suficiente, quando Soul me interrompeu.

– Maka, onde você foi na noite passada?

Ergui a cabeça, surpresa. Soul estava me encarando, e só então notei as olheiras sob seus olhos. Se fosse só isso, menos mal, mas ele parecia calmo demais, quase indiferente, apesar da tensão entre nós ter se intensificado.

– Vou dar privacidade pra vocês, tá? - Blair disse, pegando seu café e sumindo da cozinha.

Ficamos só eu e ele, aguardando uma resposta.

Soul parecia tão controlado. O rosto estava impassível, o cabelo bagunçado, o maxilar cerrado, os ombros mais rígidos ainda. Parecia uma estátua, apesar das mãos, que tamborilavam sem parar no tampo da bancada. Um anjo vingador, pensei, olhando em seus olhos rubros, que não escondiam sua fúria. Tão lindo, mas quer me destruir.

Obriguei-me a esquecer esses pensamentos. Soul é meu parceiro, ele não me odeia, eu não fiz nada de errado. Mas era difícil me convencer. Por mais idiota que pudesse ser, eu não queria decepcioná-lo, e sabia que não ficaria satisfeito ao saber que saí do baile com o Kid. Contar que havíamos ficado estava totalmente fora de questão. Também não queria contar que o vi com a Liz, não queria que soubesse que me afetou àquele ponto. Soul descobriria que eu gosto dele, e eu não suportaria ser deixada de lado em favor de Liz, ainda mais morando na mesma casa que ele.

Só então me dei conta: eu não era a culpada ali. Foi Soul que, na primeira oportunidade, foi agarrar outra. Logo depois de ter quase me beijado na pista de dança! Que argumento ele tinha para aquilo? Para ir se esfregar na minha amiga quando eu estava no banheiro? Eu apenas reagi, e ele teria que lidar com aquilo.

Por fim, disse:

– Eu saí.

Soul ficou em silêncio por alguns instantes, como se esperasse algo mais, e ao perceber que aquilo era tudo que eu diria a tempestade em seus olhos se intensificou.

– Saiu.

– Sim. Saí. - confirmei.

Ele expirou com força, irritado. No entanto, manti a cabeça erguida, repetindo pra mim mesma que não era eu a errada ali.

– Ótimo. Então você sai assim, do nada, me larga sozinho e não dá satisfações depois?

Rí, debochada.

– Desde quando te devo satisfações?

– Desde que virou minha parceira, e desde que começamos a morar juntos! - respondeu, no mesmo tom que eu havia usado. - Tem ideia de como fiquei preocupado?

Soul expirou com força de novo, e começou a comer o cereal com raiva, mais ainda. Será que ele não percebeu como eu me sentia? Será que não fazia a mínima ideia do porquê o deixei ontem? Era tão cego assim?

O pior era aquela tensão. Não me sentia confortável com ele, nem de longe. Me sentia como se algo estivesse me prendendo, me sufocando, me algemando. Talvez nós houvéssemos estragado tudo. Podíamos ter destruído nossa amizade, nossa ressonância, nosso jeito de nos completar, por causa da noite passada. Eu não duvidaria. Já vi parceiros se odiarem por muito menos. E eu e Soul não éramos só parceiros.

Algo se partiu dentro de mim naquele momento. Bebi meu nescau em duas goladas, pedi licença e levantei, indo pro quarto pegar minha bolsa. Blair estava lá, sentada no meio da cama, olhando ansiosamente para a porta. Ela deu um pulo quando entrei.

– Maka, eu...

– Depois, okay, Blair? Preciso dar uma saída rapidinho.

Só parei para perguntar ao Soul onde ele havia guardado minhas chaves e calçar meus velhos all stars pretos. Quando saí pela porta, tentei dizer a mim mesma que estava tudo bem. Tudo ia ficar bem. Coisas piores já deram certo pra mim, eu só tinha que manter a cabeça no lugar.

Mas estávamos falando de Soul, e minha sanidade já havia sido roubada a muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Okay, o aviso:
Caso tenham reparado, essa fic já tem mais de um ano (foi iniciada 10/03/2013), mas eu fiquei sem net e sem pc umas duas semanas depois de começar e só consegui continuar e estabelecer um ritmo mais fixo a pouco tempo. Então, eu já enrolei muito com isso, por isso estou tentando acelerar um pouco as coisas.
Por sugestão da Breaker, estou fazendo capítulos maiores, e também o que tem que acontecer está acontecendo um pouco mais rápido que no começo (repararam?).
Enfim, o aviso é o seguinte: se acharem que estou indo rápido demais, por favor, me avisem. ^u^ Não quero que a história fique corrida e sem sentido...
Só isso mesmo xD

E no próximo capítulo: vocês vão ficar com raiva ;*
Kisuus