– Você está bem? – Logan perguntou enquanto nos aproximávamos de um píer que havia no lago. Não respondi. – Bom, vamos começar. O que você já sabe sobre seus poderes de água?

– Só usei esse poder duas vezes... Quatro se contar com a invocação das armas – disse. – A primeira foi um acidente, quando eu tinha doze anos. A segunda foi ontem...

– Como foi? – Perguntou, se sentando no píer e colocando seus pés na água. Fiz o mesmo.

– Da primeira vez, eu estava com muita raiva, e estava chovendo. Digamos que eu acabei provocando um grande alagamento. Na segunda, eu fiz essa roupa com um tornado de água  – apontei para a roupa que estava usando.

Ele assentiu pensativo. Depois se levantou e me puxou junto.

– Tem que aprender a controlar a água. E saber de algumas coisas básicas – falou. – Você é dez vezes mais poderosa do que eu, por isso não me surpreendo por você já ter conseguido causar um alagamento, criar uma roupa e invocar armas a partir da água. Saiba que também pode controlar a água em suas três formas, líquida, sólida e gasosa. Certo? – Assenti. – Vamos começar? Tente levitar a água. Vou mostrar como se faz.

 Ele ficou em posição, colocando as duas mãos para frente como se estivesse segurando uma esfera d'água invisível. Ele se concentrou na água e levantou o braço lentamente. A parte da água que ele se concentrou levitou em um formato de cobra. Com mais alguns movimentos, ele fez aquilo se transformar em um sorriso :).

A água caiu no lago quando ele abaixou os braços. Logan olhou para mim, indicando que era minha vez. Fiquei na mesma posição que ele e me concentrei em um ponto do lago. Levantei meus braços um pouco trêmula e a água subiu como uma cobra, igual ao dele. Sorri um pouco surpresa. Sei lá, eu esperava errar na primeira tentativa.

Alguma coisa estranha aconteceu naquele momento. Meu sorriso desapareceu e eu abaixei meus braços, fazendo aquela coisa cair na água. Logan olhava para mim com preocupação. Me ajoelhei na beira do píer e olhei para o meu reflexo, só que não era o meu reflexo. Era o reflexo da mulher encapuzada que se denominava minha mãe. O toquei e a água subiu pelo meu braço, como da última vez que eu toquei na água dessa forma. Só que dessa vez não aconteceu para mudar minhas vestimentas.

A água que percorreu meu corpo eram lembranças. Lembranças de coisas que aconteceram com várias outras pessoas, e comigo também. O dia que minha verdadeira mãe me deixou com Christine passou rapidamente pelos meus olhos, o dia em que me esbarrei com Peter, o dia do alagamento... Toda a minha vida.

Por um momento, achei que podia fazer qualquer coisa. Anos e anos de experiência em controle da água entraram na minha mente. Me sentia extremamente poderosa. Técnicas de batalha de todas as maneiras eu sabia. Sabia de tudo o que precisava saber para me sentir poderosa, e sabia de muito mais coisas do que Logan poderia me ensinar em poucas semanas.

Estava terminando de absorver todo o conhecimento daquela água que percorria meu corpo quando ouvi um coro de vozes conhecidas gritarem meu nome. Me levantei e girei rapidamente para a direção de onde vinha as vozes, mas ao fazer isso, me desequilibrei e caí no lago.

A roupa que eu estava usando foi rapidamente mudada por um biquíni da mesma cor que o vestido e em meu cabelo uma trança foi formada.

Eu não conseguia respirar, como sabia que conseguiria em outros locais com água. Além disso, uma corrente estava me puxando para mais fundo. Pude sentir mais alguém pular na água. Fechei meus olhos, na tentativa de tentar criar uma bolha de ar.

Alguém tocou na minha mão e eu abri meus olhos. Era Peter. Abracei-o imediatamente e ele retribuiu. Uma camada de ar formou-se entre nós. Eu havia conseguido fazer a bolha.

– Valerie... Você está bem? – Perguntou acariciando meu rosto. Apenas assenti e coloquei minha cabeça em seu ombro, o abraçando mais. – Você está... Diferente.

– Eu sei – falei, me desencostando dele e o encarando. – Você estava certo, me desculpa por não te escutar. Mas se eu não tivesse te desobedecido e falado com Andrew, não estaria na floresta, não teria encontrado Logan e não poderia ter...Evoluído.

– Evoluído? – Repetiu. – Como assim? 

– Eu... Quando eu toquei no reflexo da minha mãe, minutos atrás, eu... Simplesmente aprendi tudo oque precisava. É estranho, não é? Me sinto como se pudesse fazer qualquer coisa.

– Imagino que possa – afirmou sorrindo. – Isso é maravilhoso. Você adiantou milhares de coisas que precisaria aprender. Isso é muito bom mesmo, Valerie. Agora vamos subir antes que Lunna e Hannah pulem também.

Antes que ele pudesse falar mais alguma coisa, em um único impulso, eu o beijei. Não sei o porquê, só sei que fiz. Ele colocou suas mãos na minha cintura e me puxou para mais perto. Só paramos quando já estávamos completamente sem ar. Oque é irônico, já que estávamos debaixo d'água.

Envergonhada, somente me virei e emergi. Só naquele momento havia percebido que a corrente parou de me puxar. Respirei fundo ao chegar na superfície, seguida por Peter. Nadamos até o píer e subimos. Percebi que estávamos secos, e que minha antiga roupa havia voltado. 

Lunna e Hannah me abraçaram imediatamente, enquanto Logan olhava confuso para o lago e Peter olhava para ele. Percebi que David e Nich também estavam ali, e mais duas garotas que eu nunca vi também. O que aquelas duas estavam fazendo ali? Quem eram elas?  E por quê a loira me olhava como se me odiasse?

– Ah, eu não te odeio – falou ela. Arregalei os olhos. – E sim, eu li sua mente.

– Ahn...– Disse David, coçando a nuca nervosamente. – Valerie, essa é Evanlyn, ela nos ajudou a te encontrar. E essa é a Catrinna, minha irmã mais nova. 

Assenti. As duas me olhavam com respeito, mas a loira, Evanlyn, a que lia mentes, parecia que realmente não gostava de mim.

– O que houve com o lago, Logan? – Perguntei, mas querendo dizer: Por que não foi você que pulou? – Acho que você também percebeu que há algo estranho com ele. As correntes ficaram me puxando, e eu não conseguia respirar. 

– Não sei explicar – falou, ainda encarando o lago. – Não consegui pular, algo me impedia de se aproximar. Por sorte seu amigo tem o poder de fogo e isso não afeta ele.

– Valerie, você tem muitas coisas para nos explicar – disse Hannah. Olhei para ela e assenti. 

– Afinal, quem é você? E por que você estava com ele, Valerie? – Perguntou David.

– Logan, Logan Black – falou Peter de um modo... Frio? – Primo do Andrew.

Eles ficaram aturdidos, enquanto Logan apenas assentiu. Só eu que percebi que ele não é muito sociável? 

– Por falar nele, o que... – Lunna começou, mas eu a interrompi com um gesto.

– Voltem para a casa da Sra. Black. Eu tenho que continuar a treinar. Minha vida está em jogo com essa profecia, não é? – Falei. Logan e Peter arregalaram os olhos. – Ah, qual é? Sou a vidente, é óbvio que eu iria acabar descobrindo alguma coisa. Agora voltem para lá.

Eles assentiram. Peter e Logan trocaram um olhar rápido. Logo Peter se juntou aos outros e eles começaram a voltar de onde vieram. Olhei para Logan que me deu um sorrisinho desanimado.

– Acho que você não precisa mais de treinamento, né? – Perguntou. Assenti sorrindo. – Isso é ótimo, pois temo que o tempo está passando muito rápido lá fora. De alguma forma, você ganhou anos de experiência no seu poder elementar. Alguém que está nessas águas te deu essa experiência. Mas quem foi não importa. Você ainda precisa treinar com armas e controlar suas visões, usá-las para seu propósito, controlá-las. Vamos treinar com as armas primeiro, depois voltamos para a casa da minha mãe. 

Assenti. Ele criou uma espada d'água que se solidificou. Fiz o mesmo. Conhecia técnicas de batalha, mas... Eu meio que não sabia praticá-las. 

Logan avançou e eu me esquivei. Ele tentou me dar um golpe por cima da cabeça, mas eu me abaixei e ataquei. Pena que foi um ataque em vão. Ele rapidamente se defendeu e me fez cair, colocando a espada no meu pescoço.

– Você é péssima nisso, né? – Assenti. – Quer tentar outra arma?

– Por favor – ele me ajudou a levantar e eu limpei minhas roupas. Transformei minha espada em um arco, e em minhas costas apareceu uma aljava cheia de flechas. Logan arqueou as sobrancelhas. – Não julgue, sempre amei arco-e-flecha.

– Só espero que seja boa, porque, sinceramente, você é péssima em... – Antes que ele terminasse de falar, peguei uma flecha e ajustei no arco. Mirei uma árvore seca que estava bem longe e atirei. 

Acertei exatamente no ponto onde queria. Logan ficou boquiaberto.

– Sabe, é injusto. Você ganhou experiência em vez de conquistá-las, assim não vale – dei língua para ele. 

Passamos o resto do dia treinando, e Logan era extremamente divertido, um irmão que eu sempre quis ter. Afinal, ele era uma mistura de Peter e Andrew, mas não era como eles. Era diferente.