Bati a porta do chalé com força, aspirei o ar salgado que impregnava o ambiente, suspirei cansada. Sentei em sua cama, abracei seu travesseiro e desabei. Cinco meses. Hoje fazia exatamente cinco meses que você tinha desaparecido. No começo achei que te encontraria, mas aos poucos essa esperança foi me deixando. Igual você deixou.

Sim, admito as coisas não estão fáceis para ninguém, as vezes me culpo por ser tão egoísta e esquecer de mencionar sua mãe e seu padrasto que não estão muito melhores que eu. Isso me faz lembrar quando o Monte Santa Elena explodiu, mais ou menos há dois anos.Tanta coisa tinha mudado.

Virei meu braço e com o meu polegar segui até o meu pulso, ali tinham cicatrizes. Cicatrizes do que um dia já foi perder você. Cicatrizes de que é muito ruim perder você.

Sem pensar duas vezes caminhei lentamente até o banheiro, nos primeiros meses eu lembro que ligava o chuveiro e deixava a água cair solta e molhar o marmore frio para parecer que você tinha acabado de sair de mais um banho, para parecer que aquele chalé ainda era habitado. Mas depois de um tempo isso não fazia mais sentindo.

Abri cuidadosamente o seu armário embaixo da pia, fucei entre suas coisas e achei um pequeno canivete escondido. Eu mesmo o guardara lá há, mas era somente para emergência. Minhas mãos tremiam e apesar de meus olhos estarem cheios de lágrimas ainda era possível enxergar. Segurei o canivete com força e pressionei contra as marcas brancas do meu pulso. Um soluço de dor saiu da minha boca, mas comparado ao vazio que eu sentia dentro de mim aquilo não era absolutamente nada. Depois de um tempo o sangue começou sujar a ponta da lâmina. Entre um ofego e outro conseguia ouvir a voz da minha mãe dizendo" Annabeth, pare, isso não é racional" mas para que eu deveria escuta-la? Quando que o amor é racional?

Não me envergonhava ser uma filha de Atena que dera as costas para o correto e partiu para o duvidoso, mas para falar a verdade, a essa hora nem saberia dizer o que me envergonha. As vezes entre as minhas crises mais fortes sou obrigada a tomar remédios. Mas eles só façam com que eu esqueça das coisas por algumas horas, o que não é necessário. Só me lembro de vez em quando, um vislumbre de Malcolm me carregando para o meu chalé, me tirando do refeitório a força. Isso não me envergonhava. Nada mais me envergohava, afinal nada tinha sentido.

Depois de um tempo, vejo o sangue invadindo todo o meu pulso e tomando conta dos meus braços, sinto que um pouco de dor foi deixada pelas goticulas do meu sangue. Guardo o canivete depois de lavá-lo e me deito novamente na cama de Percy olhando para a janela.

Os sinais do inverno começavam a se intensificar mais e mais. A neblina já começava a começava a tomar conta dos campos de morangos. Olhei mais em volta, perto dos chalés, as vezes alguem passava e me via na janela, alguns mandavam um olhar penoso, outros olhavam, e seguiam em frente, como se eu fosse apenas uma assombração.

Olhei para o meu reflexo contra as janelas. Fazia um bom tempo que não me olhava no espelho. Meus olhos vermelhos estavm inchados, havia uma boa quantia de sangue no meu rosto, e eu estava pálida. Eu estava destruída. Não somente por fora é claro.

Olhei para sua cama, a cada lugar que minhas mãos tocavam sangue era deixado. Como se eu tivesse deixando minha marca, mas ao contrário do que parece isso não me aterrorizava, eu até me sinto bem, como se fosse Michelangelo pintando a capela sistina. Ri com o meu pensamento. Utilmamente eu achava que estava ficando louca, porque por mais fria e calculista que eu já fui, nunca tive esses pensamentos sádicos. Me sentia uma protagonista em um filme de terror, mas ao invés de gritar e correr, eu ria como se estivesse assistindo ao mais meloso romance.

Andei até uma estante de livros que eu colocara ali no verão passado. De repente eles não pareciam mais interessantes, de repente Ron e Hermione, Peeta e Katniss eram mais uma história bobinha. De repente o amor não existia.

A porta do chalé foi aberta com força me fazendo tomar um susto. Era Clarisse. Ela olhou para mim penosamente e disse com uma doçura desconhecida

. -Existe outro acampamento. Recebemos uma mensagem. Ele está lá. Vivo.- ela disse pausadamente esperando a minha reação

Eu assenti esperando que fosse só mais uma brincadeira de mau gosto mas Quíron que tinha entrado logo depois e estava atrás delas assentiu

. -Só que está sem memória- despejou o centauro

. Não sei o que senti nesse momento. Não saí dando pulos de alegria, mas não posso negar que uma corrente eletrica não atravessou meu corpo. Eu assenti de volta deixando algumas lágrimas escaparem. Eles saíram. Provalvelmente querendo me deixar pensar. Mas pensar não era mais preciso. Eu já sabia o que era necessário. Esperança. Eu iria tentar até a ultima coisa para tê-lo de volta, afinal, eu o amo

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Um ano depois

As velas faziam uma sombra engraçada na parede, mas não conseguia a observá-las por muito tempo, pois a cada beijo depositado no meu pesoço me fazia feixar os olhos fortemente.

Percy segurou meu braço e desceu uma trilha de beijos até meu pulso onde carinhosamente olhou para mim.

–Nunca mais faça isso Eu assenti convicta, ele depositou beijos cálidos em cima nas cicatrizes esbranquiçadas. Aquele gesto tão simples teve um significado tão grande que de repente aquilo não se tornou mais um de nossos beijos comuns. Não seria mais uma noite que iria dormir juntos, somente dormir

. -Percy,- ele olhou para mim com seus olhos verdes brilhantes, que aquela hora estavam escurecidos o suficiente para demonstrar que teríamos que parar por ali.

–Ok, paramos por aqui- ele me deu um beijo na testa, mas antes de sair da cama eu o agarrei e o puxei para perto, eu neguei com a minha cabeça, demorou algum para que ele entendesse.

Um sorriso escapou dos meus lábios, ele sorriu de volta.

–Eu só quero que saiba que eu te amo Annie, muito.

"You're my angel, come and save me tonight"