POV Beck

Meu despertador me acordou duas horas mais cedo hoje. Como não tinha nada pra fazer, resolvi ir pra escola, duas horas adiantado mesmo. Chegando lá, guardei alguns livros no armário, e como parecia que estava sozinho, resolvi me sentar próximo à máquina de refrigerante e fazer o dever de casa. Foi quando eu ouvi. Alguém estava chorando baixinho, e o choro parecia vir do armário do zelador. Me levantei e fui ver se a pessoa estava precisando de ajuda. Quando eu abri a porta, me deparei com uma das cenas que mais me chocaram até hoje. Jade West, a garota má e assustadora de Hollywood Arts e com quem eu venho flertando apesar de ser constantemente ameaçado, está sentada no chão, tesoura na mão, pedaços de plástico espalhados ao seu redor, olhos vermelhos de tanto chorar. Tentei iniciar uma conversa, mas é claro que ela apontou a tesoura pra mim e me mandou sair.

– Por que você age assim com todos, Jade? É por isso que você tá chorando sozinha, porque todo mundo tem medo de você! - falei isso mas logo me arrependi - Olha, me desculpa, eu não quis dizer isso-

– E QUEM É VOCÊ PRA FALAR ASSIM DE MIM, SEU IDIOTA? VOCÊ MAL SABE O MEU NOME E ACHA QUE ME CONHECE O SUFICIENTE PRA SAIR DIZENDO ESSAS PORCARIAS? Pois bem. - desta vez, ela soava manipuladora - Você já se sentiu como se estivesse desmoronando, já se sentiu deslocado, como se você não se encaixasse e ninguém te entendesse? É claro que não, você é Beck Oliver, o "gato e bonzinho de Hollywood Arts", ninguém te exclui, pelo contrário, né? Todos te querem por perto. Já pensou em fugir, Beck? Já se trancou no seu quarto e gritou bem alto, com o rádio no volume máximo pra não te ouvirem? Duvido que queira ser outra pessoa, duvido que se sinta excluído, que se sinta preso nesse mundo ridículo com todas essas pessoas idiotas à sua volta, com esses sorrisos falsos e essas mentiras estúpidas. Você nunca sentiu como se estivesse sangrando por dentro, não é? Você nunca teve que tentar chamar a atenção a todo custo dos seus pais que só brigam e que te odeiam, ou eu tô enganada? Tudo o que você quis sempre esteve lá.

Ao final do discurso da Jade eu também sentia vontade de chorar, nunca pensei que tudo fosse tão difícil pra ela. Mas além de compaixão, eu senti algo mais. Senti vontade de abraçar a Jade, de protegê-la e poder dizer pra ela que tudo iria ficar bem. Estendi a ela minha mão, mas tudo bem se ela não aceitasse. Quando ela a pegou, eu senti um pequeno choque ao sua pele fria encostar na minha. Quando eu ia ajudá-la a ficar de pé, Jade me surpreendeu me puxando pra sentar no chão, ao seu lado. Abri meus braços e esperei por sua aprovação, ela apenas encostou a testa em meu peito e continuou a chorar. Passei meus braços em torno de sua cintura e comecei a desenhar círculos em suas costas com a ponta do meu indicador, aquilo pareceu tão certo. Tudo parecia se encaixar perfeitamente. Acho que a Jade achou que eu não estava completamente quebrado com suas palavras anteriores, então resolveu continuar:

– Eu me sinto machucada, perdida, sinto que estou à beira de entrar em colapse e ninguém vai estar lá pra me salvar... Você não sabe como é, nada parece certo Beck.

– Jade, me desculpa, eu realmente não queria ter dito aquilo. Acho que eu só tava tentando chamar sua atenção. Tudo vai ficar bem, eu vou estar do seu lado se você precisar, você só precisa me dar uma chance. Eu realmente gosto de você, Jade West.

Ela me olhou com aqueles lindos olhos azuis esverdeados, que pareciam estar cheios de gratidão. Lancei um sorriso de lado e dei-lhe um beijo na testa. Continuamos nos olhando olhos nos olhos, e, me surpreendendo de novo, Jade acabou com a distância que existia entre nossos lábios.

– Bem-vindo à minha vida Beck.