Eu não sei há quanto tempo estou aqui... Dias? Meses? Anos? Presa sem poder me mover, sem poder fazer nada.

Desde que ela me transformou em uma boneca, eu fico presa aqui. Ela sempre vem me ver... Seus olhos vazios me dão medo... Outrora eu amava aqueles olhos.

Ela vem, passa seus dedos sobre meu cabelo e diz:

–Você será bela para sempre...

Eu jamais imaginei que quando viesse para esta casa eu sentiria tanta tristeza, raiva, dor...

A casa. De primeira vista, era um lugar maravilhoso, perfeito para viver. Uma casa grande, rodeada por um jardim enorme cheio de roseiras e dois balanços abaixo de uma árvore, onde faríamos muitos piqueniques. Ela sempre me tratou como uma irmã... Eu era sua prima, mas éramos tão parecidas, como não percebi o monstro dentro dela? Ela me disse uma vez que se não fosse por eu me apaixonar tantas vezes eu seria uma psicopata perfeita. Ela era a psicopata o tempo todo...

Logo na entrada da casa, eu senti certa agonia, como se não devesse entrar ali. Mas ela era a minha querida prima apenas dois anos mais nova que eu, o que poderia ter de errado ali?

Logo eu percebi que o modo como ela decorou a casa era um pouco estranho. Ela disse que havia alugado a casa já havia muito tempo, e com minha ajuda a comprou. O piso de madeira escura, as paredes brancas, um enorme espelho, um sofá bem espaçoso e uma TV enorme. A sala era assim. Era até confortável. Logo ela mostrou onde seria meu quarto. Ela disse que não sabia como eu iria decorá-lo, mas pintou as paredes de vermelho e branco. Por achar que vermelho combina comigo.

Havia mais três quartos, um era dela e o outro uma sala com um computador e vários videogames. O terceiro estava trancado, ela me disse que era apenas um cômodo vazio. Nossos quartos e o banheiro eram no segundo andar, no primeiro havia a sala, a sala dos videogames e a cozinha.

O pesadelo começou quando comecei a ouvir gritos. E ouvir minha prima conversando com alguém. Mas não era pelo computador ou por celular, era sempre naquele maldito quarto trancado e sempre á noite. Sempre que eu a perguntava ela me respondia a mesma coisa:

–Mas eu já estava dormindo á essa hora... Tem certeza que não estava sonhando?

Eu saía muito, gostava de ir á festas. Um dia, eu acabei ficando um pouco tonta, e logo voltei para casa. Com ajuda de uma conhecida. Eu sempre avisava minha prima, afinal ela mantinha a casa toda fechada, por ser um pouco afastada da cidade poderia ser perigoso. Dentro desta maldita casa é que é perigoso!

Quando eu abri a porta com a cópia da chave que eu tinha. Eu vi uma garota loira. Pequena, e que saiu correndo a me ver e me derrubou ao passar na porta. Por estar tonta, eu caí e fiquei lá.

Logo eu notei que minha querida prima sempre saia com doces e vestida como uma boneca. Ela gostava bastante destas coisas. Mas eu não ligava.

Um dia eu a vi voltar com uma pequena garota. Como eu não percebia essas coisas?

Eu quase não falava mais com ela. Saía para o meu trabalho e em seguida para um curso. Mas um dia eu conversei com ela em seu quarto e percebi uma chave. Presa no pescoço de um urso de pelúcia.

Quando ela iria sair eu fiz o máximo para atrasa-la e assim fazê-la esquecer de trancar seu quarto.

Quando ela saiu, eu peguei a chave e abri a sala que ficava sempre trancada, havia várias bonecas. Umas maiores, outras menores. todas muito reais. E em uma mesa, esculpida em porcelana. Uma boneca exatamente igual á mim.

–O que é isso?

–Você...

Então eu as vi atrás de mim. Minha prima e a garota loira que havia me atropelado.

Logo algo bateu em minha cabeça e não vi mais nada. Quando acordei eu estava amarrada na mesa, onde outrora estava a boneca igual a mim.

Eu as vi injetando coisas em mim. Eu vi meus órgãos seres arrancados, e depois eu fui atirada em um líquido estranho, e agora eu sou assim, uma boneca.

Rosa malvada, que floresceu caprichosamente. Esta era sua música preferida.

Mas eu não conseguia odiá-la... Eu não consigo odiá-la.

Meus olhos verdes são vazios e tudo que vejo com eles não muda nada em relação á mim.

Meus cabelos negros e curtos, a franja cobrindo um dos olhos.

O corpo esguio e a pele branca.

Aquela garota era sua ajudante, ela tinha cabelos loiros e curtos e usava um laço branco em seu cabelo. Ela me trouxe uma rosa um dia.

Rosa malvada, que trouxe o meu fim.

E até hoje, presa dentro deste caixão, eu sei que todas as bonecas daqui também foram como eu.

Outrora estavam passando fome. Eram crianças abandonadas...

Mentiras. Vazio.

A lágrima que escorre por minhas bochechas secará rapidamente.

Agora eu sei que a dor não me afeta mais.

O sorriso puro é a minha única lembrança.

Então eu continuo aqui, presa. Vazia, mas apesar de tudo sendo amada.

Pov.Narrador

Então um caixão foi aberto, e a boneca foi substituída. Esta outra boneca era loira, possuía olhos azuis e usava um laço no cabelo. Então a garota com o vestido de boneca manchado de sangue saiu da sala.

Ela estava vazia.

E ela não era amada.