Bocas Vermelho Macio escrita por ohthisishardcore


Capítulo 2
O primeiro de únicos dias


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo *-* É pequeno, mas eu sequer um dia chegara ao segundo capítulo em qualquer outra coisa, então está valendo. Prometo tentar melhorar sempre mais!
De qualquer maneira, espero que gostem!



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            Mabel acordou mais sonolenta do que o comum. Quando viu o relógio suspeitou estar de cabeça para baixo: o mesmo apontara para as onze e vinte e três da manhã. O que era de fato tardio e inoportuno.

O que lhe arrancou do torpor foi fitar suas xícaras de porcelana preferidas ao chão, em milhares de fragmentos. Todas elas que, no dia antecedente, tinham sido organizadas impecavelmente para vivenciar um portentoso chá da tarde com suas bonecas preferidas. Desceu de sua cama ainda com a roupa de dormir e correu para o quarto dos pais. Mas não tinha ninguém em casa, como era de se esperar. Seus pais estavam sempre ausentes - em viagens ou trabalhando o dia inteiro. De vista embebida voltou-se para o quarto e vestiu-se adequadamente. Como uma dama. Seu guarda-roupa era gordo de vestidos graciosos. Todos com rendas, bordados e todos os apetrechos femininos que custavam uma fortuna. Alguns de cores claras com detalhes em dourado, enquanto outros de cores escuras transluzindo mistério e elegância. Após escolher aquele que transluzia da cor do céu em pleno verão, decidiu que as botas seriam marrons. Deixou os cacos melindrosos onde estavam e pediu educada e elegantemente para que uma das servas limpasse a bagunça – mesmo que lastimasse com fundura sua recém perda. Então seguiu a pé em rumo ao centro da cidade acompanhada de outras duas serventes.

Ela tinha olhares cravados para todos os conjuntos de chás da loja, mas nenhum lhe agradava como o seu. Quem seria o responsável por tamanha irresponsabilidade? Perguntava-se a todo o momento. Suas antigas xícaras eram belíssimas mesmo! Detalhadas com flores rosas claras e pontinhas verdes para as folhas, e as bordas em dourado, representando ouro. O muito ouro que Mabel possuía. Todos ali na cidade já conheciam o seu dinheiro. Por isso ocasionalmente lhe tratavam como uma verdadeira rainha da Inglaterra.

Revirou todas as outras lojas mais próximas, mas nada lhe causou admiração suficiente para ser seu novo e carinhoso conjunto de chá. Sem festas de chá da tarde com minhas bonecas? O destino deve querer ver-me despedaçada. Sussurrou para si em vozes casmurra.

Repentinamente um vulto lhe causou suspense: Era um homem. Mabel acompanhou seus passos e decorou seu perfume. Ele aparentava ter vinte anos. Talvez mais, talvez menos. Ora seus cabelos eram lúcidos, ora vomitavam caligem... Eram verdadeiramente cobre. Seus olhos tinham vida própria, respiravam e expunham trevas. Por um minuto atreveu-se a olhar para Mabel com ar de conhecer intimamente. Mas para a (surpreendente) infelicidade da garota ele revirou os olhos como quem condena. Resultou que foi embora sem deixar rastro de que um dia existira.“Quem ti és?” A questão ecoou doentiamente em seus pensamentos.

-

Enquanto voltava para casa, imergia em lembranças do vulto que enxergara da loja. Nunca o vira na cidade. Sua atmosfera era de longe negrume. Seus passos esbandalhavam vigorosamente a luz. Parecia pertencer ao mártir, mas ao fulgor também. Demasiado curioso.

Ao perceber que já havia chegado em casa se abismou em como a noite havia-se aninhado ao leito do céu. O crepúsculo tingia o limite do horizonte em cores melancólicas. Rubro de sangue, azul escaldante e bem ao fundo: tênues fios de prata bruxuleante. Desejou apreciar a beleza do céu por horas. Pensou um milhão de pensamentos: testemunhou a si voando por sobre nuvens, com as linhas de algodão da mesma enroscando-se em seu rosto de um jeito doce. Fazendo cócegas em suas bochechas rosadas e por fim voltando a ser formato de nuvem acolchoada. E novamente, pela segunda vez no mesmo dia, algo lhe arrancou brutalmente do torpor. Agora era um vulto já conhecido.


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