Uma Criança Com Seu Olhar escrita por Miss Desaster


Capítulo 9
Capítulo IX


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! Explicações no final do capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/340870/chapter/9

O Dr. Nathaniel entrou no quarto de Elena com cara de médico tenho-algo-importante-à-dizer e isso a deixava mais apreensiva com a notícia. O fato de Damon não ter ido embora a incomodava um pouco.

— Como está se sentindo hoje, Elena?

Elena sorriu:

— Doente e presa nesse quarto.

O médico apenas acenou com a cabeça e pegou todas as ressonâncias que haviam feito antes mesmo de ser internada e acendeu a luz do quadro branco onde estavam penduradas.

Ele fez explicações médicas e confusas que não poderiam ser consideradas do mesmo idioma.

— Nós demoramos com o diagnóstico porque os remédios que seu neurologista passou atrasavam o crescimento nessa área. – O Dr. Buzzolic apontou para um pequeno ponto em seu cérebro que deveria ter a circunferência de uma moeda de dez centavos. – O que normalmente seria bom, mas os medicamentos não curaram, apenas retardaram o crescimento dessa massa no lado direito. Nós precisaremos de uma mini cirurgia para retirar.

Quando o médico terminou o diagnóstico, Elena sentiu tudo exceto alívio. Era viver uma experiência extracorpórea deixando seus olhos vidrados e a respiração curta.

Ela estava tão entorpecida que não percebeu Damon se aproximar tanto de sua cama. Apenas sentiu outra mão que estava quente em contato com a sua – agora parecendo gelo puro -, que Elena acordou do transe. E também sentia como se fosse a mão amiga estendida para que não afogasse na própria loucura.

Elena sentia o medo soprar o hálito gelado em sua nuca. O pavor de pronunciar as palavras e tornar tudo real e mais doloroso.

— Eu...tenho câncer ou algum tumor? – Sua garganta estava tão seca que parecia uma lixa.

O médico demorou apenas alguns segundos para responder, mas que para ela pareceram uma eternidade.

— Não. Geralmente câncer ou tumores começam assim, mas no seu caso foi apenas uma anomalia celular. Vim aqui pra conversarmos à respeito da autorização para cirurgia.

Em parte Elena se sentiu aliviada, mas não mudava o fato de que ainda tinha algo em seu cérebro e pressionava seus nervos.

— Por que eu não faria a cirurgia? Quero me livrar disso e voltar pra minha vida e minha casa.

— Elena, toda cirurgia tem seus riscos e é isso que vim discutir com você. – Ele fez uma pausa olhando algo na prancheta que estava nas mãos. – Nós somos um dos melhores hospitais em neurocirurgia do país e você estará em boas mãos.

Então ele começou a enumerar os riscos que a cirurgia poderia trazer, mas que 95% das cirurgias feitas pelo hospital foram bem-sucedidas.

A morena deveria ficar assustada – na verdade só Deus sabia o quanto ela estava desesperada -, mas não poderia deixar que isso conduzisse suas decisões.

Damon apertou sua mão de leve e esboçou um sorriso como se dissesse: Seja qual for sua decisão, eu te apoio. Estou aqui com você!

Por um breve segundo ela se perguntou como conseguiu interpretá-lo assim tão bem.

— Tudo bem. – Foram duas palavras que colocaram a vida de Elena nas mãos de Deus e dos médicos. Também era apenas o que conseguiu pronunciar sem deixar que sua voz entregasse no seu estado atual.

O médico falou que ela ficaria uma semana se desintoxicando dos remédios e sua dor seria aplacada em casos extremos pela morfina. Remédios comuns para dor não faziam menor efeito.

Ótimo! Uma semana de dores.

—-

Damon ainda estava no quarto quando o médico saiu. E ainda segurava a mão da morena. Ela parecia um pouco alheia com o mundo exterior.

— Não se preocupe tanto! Vai dar tudo certo. – Ele conseguia ler todos os medos nos olhos de Elena.

Elena nunca se permitiria chorar na frente de qualquer pessoa. Pra ela, demonstrar fraqueza estava totalmente fora de questão.

Apenas com os olhos Elena mostrou-se vulnerável pela primeira vez desde que chegara.

— Eu.... Se isso der errado? E o David? Agora tem você na vida dele. – Os olhos castanhos de Elena se encheram de lágrimas, mas ela ainda conseguiu conter. – Não posso morrer e deixar meu filho.

Damon puxou a cadeira e se sentou ao lado da cama da morena.

— Elena, me escuta muito bem. Estive vendo as recomendações do seu médico e do hospital. Ele estava dizendo a verdade sobre neurocirurgia daqui. Eu e você... – Damon receou por alguns segundos. – Nós temos um filho juntos. Foque nesse pensamento e lembre-se de que temos muito pra resolver com o David.

— Ainda tenho muita coisa pra pensar, mas prometo que vou ver o que me pediu. – Elena suspirou e fechou os olhos por um instante para impedir as lágrimas de molharem seu rosto.

O cantor ponderou outra vez pra falar. Estava evidente que Elena precisava de apoio e não sabia o que e como dizer coisas para confortá-la. Sem contar que dizer certas coisas era invocar memórias antigas.

E ele não tinha menor interesse nisso.

— Você é a mulher mais forte que já conheci. – Esboçou um sorriso. – A mais teimosa e decidida também. Isso é o suficiente para fazer a cirurgia dar certo.

— Obrigada.

— Quer que eu traga o David pra você vê-lo?

Nessa hora como uma boa mãe, os olhos de Elena se iluminaram.

—-

Damon buscou David em casa e passou no apartamento de Bonnie. O menino estava feliz e tagarela contando cada detalhe do dia anterior que passara no zoológico. As crianças da escola ficaram encantadas com seu passeio e por Damon tê-lo levado para alimentarem as girafas.

O cantor preferiu ficar na sala de espera e dar tempo para as amigas e o filho passarem um tempo juntos. Ele não fazia parte daquela fotografia, então procurava manter certa distância.

Stefan ligou pedindo para que checasse seu e-mail e retornasse a ligação para conversarem.

Era um e-mail com vários sites com fotos de paparazzis que Damon escolheu apenas três. De preferência os menos sensacionalistas.

Lá estavam fotografias dele mesmo com seu filho no zoológico enquanto passeavam, pararam em uma barraquinha de cachorro quente e até quando se esticaram sob o sol gostoso de Los Angeles naquela época do ano.

Droga.

Claro que Damon sempre atraía todo tipo de atenção quando passava por determinados locais em LA. Isso raramente incomodava nos dias atuais, já que até suas saídas para correr, fazer compras ou uma passada no café eram registradas.

Essas fotos eram diferentes. Ele se via diferente durante o passeio, parecia relaxado e feliz de verdade. Não eram momentos de falsos sorrisos capturados por fotógrafos interessados em dinheiro. Era Damon sendo um Damon natural e em parte desconhecido.

Fechou toda aquela baboseira e abriu a galeria de fotos de seu celular. Olhou a primeira foto que tirou com David. Nada de fotos artificiais. Ele mesmo fotografou a si mesmo e o filho na tarde do dia anterior.

Outra preocupação deixou sua testa enrugada.

Proteger David era prioridade em sua vida. Sua privacidade nunca foi algo que realmente fizesse questão antes, afinal a maioria do que viam era verdade. Ou quase.

Os anos levaram embora seu aborrecimento de tanta perseguição em sua vida.

Expor o garoto estava longe de seus interesses e se fosse flagrado a partir de agora muitas vezes com David, surgiriam perguntas que não sabia como responder e na falta de respostas começariam as especulações – até mesmo investigações -, do que se tratava.

Bonnie teve que sacudir o ombro do moreno até que se tocasse dela estar falando algo que deveria ouvir.

— Elena está querendo falar com você.

Ao contrário do que pensou que encontraria, Elena estava penteada e arrumada. Para os padrões de alguém no hospital, é claro. David estava sentado na cama ao lado da mãe e lhe deu um sorriso quando se sentou na poltrona do quarto.

A morena não lhe dirigiu o olhar, e começou a falar com o filho:

— Filho... – Ela respirou fundo e continuou. – Lembra quando eu disse que seu pai foi um namorado da mamãe e estava muito longe.

Damon sentiu o sangue pulsando alto em seus ouvidos.

Primeiro: Elena havia decidido contar de sua real existência.

Segundo: Ela e o filho aparentavam ter conversado antes sobre o assunto mesmo que o garoto fosse tão novo.

— Trabalhando, né? Um dia você disse que vai me levar pra ele me conhecer.

O moreno não piscava diante de todas as reações do filho.

— Então, meu amor. – Ela parecia relutante ou com medo da reação do menino que parecia atento ao rosto da mãe. – O seu pai veio te conhecer. David, o Damon é seu pai.

Ok. Agora o sangue pulsava duas vezes mais alto em seus ouvidos.

Tudo pareceu muito mais lento e não era de se esperar que David tivesse uma reação imediata.

Alguns minutos depois:

— Você é meu pai? – David perguntou em tom infantil e choroso ao mesmo tempo.

— Sou sim.

O menino se virou para mãe que encarou Damon por alguns segundos. O moreno sabia que ela estaria tentando ler suas reações, mas nem ele conseguia sentir o rosto de fora pra dentro.

— Mãe. – O menino deitou ao lado da mãe e escondeu o rosto no pescoço de Elena. – Ele, o Damon gosta de mim?

Ela segurou o rosto do filho e lhe deu um beijo na testa.

— Amor, você tem que perguntar pra ele.

David demorou algum tempo até olhar pra onde Damon se sentia colado na poltrona.

Sua boca pareceu seca e seu sangue parou de aparentar um mar em fúria. Agora estava tão silencioso que só seus pensamentos gritavam em sua cabeça. Ele gostaria de ter um discurso bonito que fizesse o menino não olhar para ele como alguma espécie de alienígena. Eu amo você, claro. Sua presença durante esse tempo mudou minha vida e no que acredito. Você é uma luz pra mim!

Além de parecer um pouco piegas demais, ele pensou que o filho fosse muito novo para entender a dimensão de tais palavras.

— Claro que eu gosto de você, David. Gosto muito. – Foi apenas o que conseguiu dizer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Wohoo! Finalmente consegui postar. Gente eu sinto muito não ter postado no dia das mães como prometido. Estou sem internet e por fim conseguir vir em uma lan house (ugh!) só pra isso. Sintam-se emocionados haha. Chega! Enfim, me desculpem de coração. Prometo postar logo. Beijos e estava com saudades.