Uma Criança Com Seu Olhar escrita por Miss Desaster


Capítulo 28
Capítulo XXVIII


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Stefan respirou fundo outra vez e esticou a garrafa de água na direção de Damon.

– Damon, você disse que queria uma introdução lenta e que alcançasse os lugares mais distantes da plateia. Preparei uma simulação com todas as cores e efeitos pra finalizar nos próximos dias. Vamos ver? – Perguntou Zach, seu diretor e produtor criativo de toda turnê.

– Claro. A Vicki me enviou a confirmação de entrada para os testes de hoje. – Pôs o celular no bolso e caminhou ao lado de Zach e Stefan.

Chegando no Rose Bowl parecia surreal tocar em um lugar como aquele. Eles haviam visitado o local diversas vezes, mas ver o projeto quase finalizado dava aquele aperto no estômago de que estaria prestes a acontecer o início de seus maiores shows na carreira.

Deu uma volta pelo local analisando as estruturas, o palco principal fazia ligação com duas passarelas que pretendia andar, cantar e tocar para seus fãs até que seus pés doessem. Quem diria que o garoto canadense que cantava em bares sujos de San Diego agora estava se preparando para um show para quase cem mil pessoas. Às vezes tinha medo de abrir os olhos um dia e descobrir que esteve em um coma esquisito que realizava seus desejos mais profundos.

Nessa parte da tarde sua caixa de e-mail costumava estar lotada, mas conseguiu ler e responder todos pela manhã. Na verdade não tinha dormido muito bem.

Seu alerta de novo e-mail o avisou alguém fora de seus contatos. Era incomum estranhos ou fãs descobrirem, apenas uma vez e teve de trocar sua conta. Uma vida não teria tempo suficiente para responder todos e isso o incomodava. Será que era ingrato com seus fãs?

Ei, Damon.

Esses dias estava no twitter e os fãs falaram com quem gostariam de ouvir colaborações. Por incrível que pareça eles acham que eu e você daria certo de alguma forma. Você é um cara incrível, talentoso e talvez possamos fazer isso acontecer?

Stefan me falou que não estava interessado em fazer algo pra você por terem terminado o álbum agora. Talvez você possa me ajudar?

Estou em Los Angeles esse final de semana. Quem sabe podemos tomar um drinque e conversar.

Justin Timberlake.

Damon encarava o celular e provavelmente seus olhos saltariam das órbitas a qualquer minuto. Não queria parecer uma garotinha histérica, mas definitivamente estava dormindo.

Leu e releu mais algumas vezes até acreditar que aquilo estava acontecendo. Justin Timberlake queria encontrar com ele para conversarem sobre uma possível colaboração. Eles tinham estilos diferentes, mas não poderia deixar de ser fã do cara.

Mesmo que a colaboração não vingasse ou que ninguém ouvisse, já seria uma honra trabalhar com ele.

Sempre teve problema em conhecer algumas pessoas que passou a vida admirando e em uma festa ou outra esbarravam, conversavam e tinha que usar todo seu bom senso para seus olhos não brilharem de excitação. Conhecer o Elton John em uma festa beneficente dois anos atrás foi um sério problema. Teria feito um álbum de fotos com ele sem o menor problema. Eles ainda trocavam mensagens e conseguiram almoçar algumas vezes.

– Como você não me avisa que o Justin Timberlake me procurou e está pensando em uma colaboração? – Perguntou assim que Stefan entrou aonde seria seu camarim para o show.

O agente apenas revirou os olhos. Ele nunca mudaria.

– Não é o seu tipo de música.

– Justin é o tipo de música de qualquer um. Eu vou me encontrar com ele amanhã ou domingo. – Agora tinha um pouco mais de poder nas decisões de sua carreira e não um fantoche nas mãos de sua gestão.

– O que isso acrescentaria quando está lançando um álbum?

– É uma honra e talvez podemos fazer algum projeto beneficente disso. Por enquanto é só uma conversa.

– Pelo menos com isso você se animou. Vamos aproveitar e iniciar os testes.

– Por que não se importou com isso? – Stefan era sempre animado com suas conquistas e se interessava que pisasse uma vez ou outra fora da sua zona de conforto.

– Quis que fosse surpresa. Ver sua cara de idiota quando do nada ele entrasse em contato. – Ele piscou e deu um soquinho no ombro de Damon.

–-

A última caixa saía do apartamento e na noite anterior havia mandado as últimas malas de roupas. Agora só restava uma mochila nas costas e o apartamento que morou pelos últimos sete anos e todas lembranças importante estava nessas paredes.

Lembrou da primeira noite que dormiu no apartamento de forma definitiva, lembrou de colocar as malas no quarto e ficar sentada na salada ouvindo o som das ruas e seu escasso movimento durante a madrugada. Perder seus pais tão cedo era algo que jamais se recuperaria, só estava mais fácil de lidar.

A chave foi jogada dentro da bolsa e não olhou para trás até estar na segurança do carro.

O condomínio nunca pareceu tão assustador quanto agora. Mansões em cada lado da rua, carros que custavam quatro vezes o valor do seu e parecia não ser o seu mundo. O lado positivo é que ninguém poderia incomodá-la ali.

Bonnie e David esperavam no início do caminho de pedras que dava para entrada casa.

– Pronta para um novo começo? – As amigas deram as mãos e Bonnie sorriu de volta.

– Claro. Nós vamos ter um quarto pra você também, só me dê tempo de decorar. – Com a outra mão pegou a de David e entraram no caminho de pedras.

– Tia Bonnie, você pode dormir no meu quarto. – Disse David.

– Sente falta de dormir com a tia é?

Bonnie ficou parada ao fim do caminho de pedras, iniciando o jardim que ela aparentemente tinha medo de pisar e ser sugada pela terra.

– Agora entendo seu medo da casa. – Murmurou tirando os saltos vermelhos que usava e passou os pés na grama.

– Não gostou?

– Ao contrário, parece um palácio. Aonde compro esse bilhete premiado? – A amiga beijou a bochecha de Elena.

– Esse prêmio tem várias armadilhas, acredite.

As amigas passaram o restante do dia desempacotando o que viera nas caixas, tentando não tropeçar na caixa dos novos móveis que chegara no dia anterior e não deixar David quebrar o outro braço. Era uma tarefa e tanto. No fim do dia Bonnie e Elena sentaram no chão da varanda e beberam um vinho comprado especialmente para a ocasião.

– Pensei que ele nunca iria pegar no sono. – Elena encostou a cabeça no mármore em que apoiava suas costas.

– O David estava agitado hoje. – A morena terminou o gole de sua taça e encheu os dois pela quarta vez. – Talvez você estar surtando seja o motivo.

– O que quer dizer?

– Ficar apavorada com tudo acontecendo muito rápido e quase se misturar no meio da tempestade. Não falar dele não o torna menos real e muito menos seus problemas.

– Às vezes esqueço que é uma bêbada filósofa.

– Estou bêbada há uns quarenta minutos e sou sua amiga de uma vida inteira. Reconheço seu desespero e não falar do Damon para o David piora os três lados.

– Diz a garota que passou a metade da vida bêbada. – Riu.

– Boa observação. Só não seja covarde e estrague tudo. Todo mundo sabe o que você sente por ele.

Elena terminou seu vinho em silêncio e se manteve assim por mais uns dez minutos.

– Ainda no hospital o Damon me avisou que não queria me arrastar para essa vida e nem me dei conta que talvez fosse o certo a se fazer. Será que era isso o que eu deveria ter ouvido?

– E o que teria de diferente? O David ainda continuaria sendo filho do Damon, sempre estariam ligados e expostos na imagem dele. Ou você descobriu uma máquina no tempo e voltaria para alterar o pai do seu filho? Quem sabe não ter o Davs?

– Nunca. Meu filho foi o melhor que já aconteceu na minha vida.

– Precisa lidar com esse fato primeiro. Não existe caminho de volta para essa atenção e nós trabalhamos com isso, sabemos que a melhor forma de lidar é não dar a mínima. Eles vão se cansar.

– Faz só alguns dias e já sinto falta dele por perto e toda hora me pergunto que diabos fazer quando essa turnê mundial começar. – Elena murmurou e caiu no sono cinco minutos depois.

Bonnie balançou a cabeça e lembrou como a Elena era uma bêbada fraca e sonolenta.

–-

A dor de cabeça deixou uma lembrança que não deveria beber tanto, mas era horrível se sentir no meio de uma confusão que tinha causado. Rolou no colchão e Bonnie estava com as pernas jogadas para o lado de fora e a outra metade do corpo. Provavelmente ela que a arrastou da varanda até o colchão no chão de seu quarto.

David apareceu vinte minutos depois, quando já tinha criado disposição o bastante para levantar e ao menos escovar os dentes. Acabou voltando pra cama e esticou os braços para o filho deitar com ela.

– Dormiu bem, meu amor?

– Aham! – Respondeu o filho tentando coçar o braço por dentro do gesso.

– Hoje vamos ao médico e talvez vai poder tirar o gesso. – Acariciou os cabelos avermelhados do filho e lhe depositou um beijo na testa.

– Legal. – Deu um gritinho.

Bonnie se revirou no colchão e colocou uma das pernas no colchão.

Vamos tomar café para não acordar sua tia. – Sussurrou. – Quer uma carona? – Se agachou e esperou o filho subir em suas costas.

Ao chegar na cozinha lembrou que não havia feito compras para o almoço, só trouxe cereal, leite, alguns biscoitos, sucos e o vinho que bebera noite passada. Não teria panquecas ou café quente. Sentou na cadeira ao lado de David e encheu uma vasilha com cereal o bastante para os dois.

– Filho, tá gostando da casa nova?

– É bonita. – Respondeu David abrindo a boca para pegar outra colherada de cereal. – Mas cadê meu pai?

Por um momento jurou que o cereal ficou com gosto esquisito.

– Trabalhando em Los Angeles.

– Por que você tá triste com o papai?

– Não estou amor, só que ele tá muito ocupado agora. Daqui a pouco ele volta, ok? Quer falar no celular? – Seria ideia ruim sugerir isso tão cedo, mas não poderia deixar suas paranoias afetarem o relacionamento de David com Damon.

Ao colocar o celular na mão do filho ainda conseguia escutar o toque de chamada e finalmente a voz de Damon. Parecia sonolenta.

– Elena? – Murmurou e deveria ficar de péssimo humor por ser acordado.

– Oi pai. Tudo bem?

– Davs? Aconteceu alguma coisa?

– A mamãe deixou falar no celular dela. Quando você volta?

– Não sei. E você está fazendo o que? Já se mudaram para a casa nova? – Ele parecia interessado em conversar com o filho mesmo sendo nove da manhã.

– Já. A tia Bonnie dormiu aqui também.

– E gostou da cama de carro que comprei?

– Vou contar na escola que tenho uma cama de carro. É legal, mas minha mãe não me deixou brincar antes de dormir. – David fechou a cara para ela e desabafou com o pai.

Damon riu:

– Quando eu chegar nós podemos brincar nela, pode ser?

– Aê! – O menino bateu palmas em sincera felicidade.

– Estou com saudades de você, campeão.

– Também ‘tô. Tchau!

Elena pegou o celular de volta e percebeu que Damon ainda estava na linha.

– Oi. – Disse depois de respirar fundo.

– Oi. Como estão as coisas na casa? – O tom era menos afetivo do que ele usara com David, deu para notar.

– Bem. Os móveis ainda não chegaram, só as camas, uma mesa e as cadeiras. E você? Como está a fase final da produção?

– Terminei ontem às quatro da manhã. Agora a equipe técnica vai montar e fazer os acertos.

– E tem outras coisas que precisa resolver? – Sua voz interior murmurava que em qualquer outro dia ele já estaria voltando para San Diego.

– Não realmente.

Os dois permaneceram calados por alguns segundos, parecia tudo fora do lugar.

– E volta ainda hoje? – Queria dar uma bela mordida na língua, mas uma hora outra precisariam conversar.

– O David está precisando de algo?

Não idiota. Sou eu quem precisa.

– Vou levá-lo pra ver se poderão tirar o gesso. – David já estava se aventurando pelo jardim da frente com a vasilha de cereal ainda em mãos.

– Me avise assim que souber. Tenho que ir. Tchau.

Elena encarava o celular como se estivesse prestes a pular em seu rosto e dar uma mordida. Se bem que estava mesmo merecendo uma boa mordida. O que diabos estava pensando? Não queria ter esse tipo de relacionamento com Damon. Estava feliz com os dois homens da sua vida.

Será que era alérgica a felicidade?


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Notas finais do capítulo

Vocês deveriam ler Naufrágio. Minha outra história de dois capítulos que finalizei semana passada.
Uma pergunta: Vocês acham que a história está longa demais? Não vêem a hora de eu terminar? Só pra registro mesmo.
Às vezes fico surpresa com o número de acompanhamentos, visualizações e reviews. Obrigada gente, vocês me permitem continuar. Amo isso. Beijos e até o próximo.