Uma Criança Com Seu Olhar escrita por Miss Desaster


Capítulo 15
Capítulo XV


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Elena achava um pouco estranho e confortável estar de volta em casa, com seu filho e respirando ar puro. A morena sentia que acabara de sair de um coma profundo e cheio de pesadelos – se isso fosse possível.

April estava no quarto guardando alguns brinquedos de David e Elena encontrou uma camisa desconhecida misturada com suas roupas limpas. Era do Pink Floyd e masculina, nada que ela vestisse atualmente. Lembrava muito quando estava com seus 18 anos e vestia camisetas de bandas, all star surrado – que ainda não conseguia aposentar -, e algumas jaquetas.

– April! – Elena gritou do outro cômodo.

A garota apareceu alguns segundos depois.

– Quais foram uma das poucas exigências que fiz quando você começou a ficar com o David? – Elena perguntou estendendo a camisa na direção de April que parecia tranqüila demais para alguém que estava prestes a ser chamada atenção.

– O que? Nunca trazer nenhum namorado para a sua casa? – Elena concordou com a cabeça. – Eu não trouxe ninguém aqui. Essa camisa é do Damon.

– Damon?

April deu de ombros com naturalidade e não como se o cara não fosse seu ídolo número um:

– Ele deve ter esquecido de colocar na mala na semana passada quando foi embora.

– Como assim foi embora?

– O Damon dormiu aqui no último mês. Ele raramente ficava no flat que alugou. David sempre pedia que ele ficasse pra jantar e depois contar uma história.

Elena ficou surpresa demais para uma resposta concreta.

– Surpreendente, né? – April murmurou antes de sair do quarto. – Estou indo para o trabalho.

A morena ouviu o destrancar da porta e depois uma batida leve.

Suspirou para não pensar muito sobre o que exatamente aquilo significava. Ela sabia que Damon havia passado boa parte do tempo que esteve internada em San Diego, mas não pensou em momento algum que ele dormiria ali.

Ele a visitou a maioria dos dias que esteve no hospital.

Elena pegou o celular e ligou para o plano de saúde para cuidar das dívidas pendentes que ficaram. Ela tinha total consciência de que o pagamento normal do plano de saúde não cobriria todas as despesas. Soprando a franja que caía sobre seus olhos e esperou longos minutos do tele atendimento com pedido de informações pessoais.

– Srta. Elena Gilbert, no nosso sistema não consta nenhuma pendência à respeito da sua cirurgia. O valor que estava em débito foi pago há uma semana. – A voz da atendente ecoou pelo telefone com todo barulho de outras ligações ao fundo incomodando os ouvidos de Elena.

– Teria como você me informar quem faz o pagamento?

– Nós não disponibilizamos esse tipo de informação, mas a administração do hospital pode lhe dizer. Algo mais em que possa ajudar?

–-

David entrou no quarto e subiu no colo de Elena.

– Mãe, a April já foi embora.

A morena acenou com a cabeça, conseguindo pouco de sua concentração habitual.

– David... Você gosta do Damon?

– Aham.

– Por que?

– Ele é legal.

Elena pegou o celular, vasculhou a agenda e acionou a chamada para Damon.

David sorriu com algo que ouviu no celular.

– Eu dei o desenho pra ela.

Ela conseguiu ouvir de longe Damon perguntando:

– Ela gostou?

David pulou do colo de Elena sem a menor cerimônia e sentou na sala.

– A Jasmin me deu um beijo. – O garoto falou ao celular olhando para os pés que balançavam no sofá.

A mãe resolveu não entrar na sala e perguntar do que se tratava. Parecia ser um assunto de Damon e David. Era engraçado dar “privacidade” para um filho que tinha apenas quatro anos e com um pai recém-descoberto, mas parecia funcionar.

Alguns minutos depois David entregou o celular para Elena e voltou para sala com suas atividades.

– Vou chegar à cidade daqui umas três horas. Será que poderíamos conversar?

– Podemos.

– Leve uma roupa fresca, mas de noite deve esfriar. Que horas posso passar no apartamento? – Damon questionou ao telefone.

– Eu não quero deixar o David sozinho.

Fez-se um silêncio por alguns segundos:

– Peguei o resultado do exame.

– E então? – Elena sentia a garganta fechar e quase comprimir as cordas vocais.

– Podemos conversar?

A morena não tinha medo do resultado, mas fazer o exame oficialmente dava a resposta definitiva para Damon entrar de vez na vida de David e consequentemente na sua. Ela queria muito dizer que estava totalmente preparada para enfrentar a vida de mãe com agora um pai presente.

– Já te ligo.

Bonnie acabara de entrar pelo apartamento e pegar David no colo.

– Damon acabou de pegar o resultado do exame e está vindo pra cá. – Elena comentou indo em direção da sala e jogando todo peso do corpo no sofá.

– Está com medo? – A amiga apertava a bochecha de David e o menino se debatia nos braços da madrinha.

– Ele quer sair pra conversarmos. Tenho medo da conversa e não do resultado.

– Você deveria aceitar e fazer de hoje um começo. Existem muitas coisas que precisam conversar e seria bom começar com o pé direito. Não é assim que dizem? – Bonnie se sentou ao lado da melhor amiga e encostou a cabeça no ombro de Elena.

– Acho que alguém precisa dormir um pouco, certo?

– Quando eu e você temos encontros, não preciso dormir.

– Não tenho um encontro. – Resmungou Elena.

A amiga acenou com a mão como se não importasse ou não tivesse prestado atenção em Elena e levantou para fazer um “Esquadrão da Moda”.

– Ele te deu alguma dica de onde vão conversar ou vou ter que fazer todo serviço?

Elena não estava se preparando para um encontro, mas deixou que Bonnie acreditasse e a fizesse de uma adolescente no primeiro encontro. Ela e Damon não precisavam de encontros, eles viveram uma história e agora tinham David. A fase de encontros ficara em um passado muito distante. Talvez fosse Bonnie empolgada com seu encontro com o médico do hospital.

– Eu fico doente e você arruma um encontro com o meu médico? Bela amiga que arrumei. – Elena comentou depois das duas terem dormido por duas horas e agora uma maquiagem leve já estava no rosto da morena.

– Ele tinha aquele olhar gelado que odeio, mas um dia nos esbarramos no café e conversamos um pouco. Quem pode culpar a garota por se deixar levar com um cappuccino e um médico bonito.

–-

Damon chegou quatro horas depois e brincou com David até que Bonnie estivesse arrumada também.

Elena percebeu que essa era a primeira vez que via os dois realmente juntos – fora do hospital -, e gostou do que viu. Ele parecia realmente interessado em cada palavra, brincava com os bonecos de David e ria quando o filho se irritava com os carrinhos que perdiam para o de Damon no autorama.

– Tchau mãe. – David veio lhe dar um beijo na bochecha e a surpreendeu depois: - Damon?

– Oi, campeão.

– Você volta logo?

Damon lançou um olhar procurando a aprovação de Elena, que apenas sorriu em concordância:

– Mais tarde eu venho de novo.

–-

Damon se sentia um pouco ansioso com o passeio e se perguntava a cada quilômetro se era uma boa ideia levar Elena para o que havia planejado. Ambos não conversaram muito sobre qualquer assunto interessante ou relevante durante o trajeto.

Chegando à marina, Elena parecia surpresa.

– Nós vamos sair de barco?

– Queria fazer algo diferente e é mais fácil de manter a privacidade. Você se incomoda?

Ela apenas balançou a cabeça e seguiu brigando com os cabelos soltos e o vento que não ajudava em nada.

Damon a segurou pela cintura na hora de descer até o barco. Seus dedos esquentaram e Elena parecia prender a respiração pelos segundos que durou o contato.

– Olha aonde o garoto do bar chegou. – Elena comentou quando se afastavam da costa.

Ele apenas revirou os olhos.

A morena contou algumas histórias engraçadas de quando David era mais novo.

– E agora ele tem até uma namorada.

– A Jasmin?

Damon concordou com a cabeça e o iate parava lentamente.

– Adivinho quem o incentivou a ter uma namorada.

– Eu não tenho culpa que meu filho já está atraindo as meninas. – O cantor segurou o braço de Elena e a guiou até sentarem a ponto de conseguirem molhar os pés nas águas geladas do oceano. – Foi a Jasmin que pediu pra namorar com ele.

– Essas crianças de hoje. – Elena comentou acenando negativamente com a cabeça, mas no fundo estava uma mãe orgulhosa. – Está nervoso?

Eles não precisavam completar as palavras. Era como se elas se completassem.

Damon esfregou as mãos umas nas outras e suspirou:

– Não muito. Eu acredito, é só...

– É difícil tornar tudo real. – Ela sabia estar dando o maior e mais largo passo dessa relação que prometia ser conturbada.

Ele tirou o envelope do bolso da jaqueta escura que vestia e entregou nas mãos de Elena.

O envelope agora não pesava dez quilos, mas eram notáveis as mãos da morena tremendo e por fim abriu.

99,9% de compatibilidade com o material coletado.

Damon abraçou Elena e ele pareceu hesitar por alguns instantes, mas depois se entregou ao abraço perdido por cinco anos, o cheiro de ambos sufocando e roubando o próprio oxigênio.

O coração de Elena batia tão rápido e descompassado que era possível senti-lo através da roupa.

O cantor lamentava ter que afastá-la, mas compensava ver seus olhos.

– Obrigado por essa chance.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, desculpem pela demora. É aquele bloqueio e tudo mais. Me deixem saber. Beijos e vejo vocês logo.