Louco. Era assim que ela via Izaya, como um louco controlador. Ela sabia que nunca seria tão interessante quanto as peças de jogos variados que no momento queimavam junto com o tabuleiro de xadrez.

E enquanto ele ria e jogava cartas de um baralho qualquer em meio ao fogo, ela fingia estar desinteressada, fingia não escutar cada palavra que aquela voz zombeteira dizia.

Ela queria ser uma das peças dele; queria que ele a controlasse, que a iludisse com palavras belas, mas falsas. Porque, talvez assim, ela fosse importante para ele novamente. Talvez pudesse ajudá-lo em mais alguma coisa – além de ter-lhe entregue a cabeça de Selty –, em vez de apenas ouvir os planos que aquela mente insana lhe contava entre risadas eufóricas e que ela interrompia com perguntas em tom desinteressado.

— Izaya. — Ela chamou, após esperá-lo apagar as chamas. O informante olhou-a e ela prosseguiu: — Eu sou útil para você?

Ele olhou-a por um instante, parando subitamente de rir. Sua expressão mudara para algo próximo da confusão.

— Qual o motivo dessa pergunta? — Perguntou.

— Curiosidade. — Ela balançou os ombros.

Izaya aproximou-se dela com cautela, abandonando as cinzas que deixara sobre a mesa; a mulher se levantou. Ele segurou-lhe o pulso, puxando-a para perto.

— Seu irmão pode acreditar em todas as mentiras que você conta, mas eu consigo ver através delas, Namie. O que há de errado?

Ela desvencilhou-se dele, afastando-se. Virou-se de costas para o homem, olhando as grandes janelas do escritório, de onde era possível ver a cidade. As pessoas andavam pelas ruas, preocupadas com seus próprios problemas e, acima delas, o céu noturno anunciava – através das gordas nuvens que se moviam lentamente sobre o fundo azul-escuro – que iria chover. Namie respirou fundo algumas vezes, antes de falar:

— Suas peças parecem ser mais interessantes que eu.

Izaya riu, aproximando-se da mulher até ficar de frente para ela.

— Então você sente ciúmes das minhas peças? — Ele disse entre risadas. — Namie, não seja infantil. Minhas peças não estarão do meu lado para sempre. Você, sim.

Ela sentiu o rosto esquentar, provavelmente havia corado. E ela tinha quase certeza disso.

— Agora, já que você não está se sentindo útil, porque não limpa a mesa? — O homem sorriu, afastando-se até sua cadeira atrás da mesa de vidro. — Afinal, é pra isso que eu te pago. — Balançou os ombros, girando em sua cadeira.

Namie abaixou o rosto, ainda confusa.

— Ah, sim. — Foi o que conseguiu dizer, antes de afastar-se das janelas e fazer o que lhe fora dito.

Do lado de fora, a chuva caía.

Ele era realmente louco.

One look could kill

My pain, your thrill