Talvez você já saiba

Ou lhe contaram

Que na floresta à noite

Só saí os que matam...

O intruso não respondeu e muito menos foi embora, apenas continuou a fitá-la com um sorrisinho já conhecido por ela no rosto.

-Menininhas como você não deveriam ficar uma hora dessas na floresta, muito mais ferida do jeito que está. – ele entortou levemente o nariz como se estivesse incomodado com o cheiro de algo.

-E você com isso? – respondeu arrogantemente tirando a bala das costas e depois a jogando para longe.

O homem achava graça da imprudência de Caroline, parecia que para ela tanto faz se estava correndo perigo ou não.

-Achei que soubesse dos assassinatos que andam ocorrendo pelos arredores – ele sentou-se sem esperar por convites.

-Fui informada sobre isso... – mordeu a língua ao ver a facilidade com que tinha de mentir.

Ele pareceu perceber.

-Ou será que você mesma se informou? – ergueu uma sobrancelha e puxou um dos cantos do lábio, num meio sorriso.

-Talvez eu tenha escutado as conversas dos empregados. – se levantou e tirou a terra do vestido que usava – Agora se me der licença...

Caroline saiu da caverna e inspirou o ar úmido da noite e sentiu o cheiro de seu sangue não muito longe dali, foi então que entendeu o que o homem dissera. Aquele cheiro provavelmente chamaria atenção de alguma criatura ou predador.

Decidiu então se afastar dali, correu tão rápido quanto correra no dia anterior, sua melhor saída de emergência para tudo, ou quase tudo.

 Mas agora já não parecia tão libertador, as árvores pareciam estar se fechando sobre ela, a brisa gelada já não era mais agradável e a sensação de estar sendo seguida a apavorou por um motivo que ela não sabia explicar.

Porque estava sentindo aquilo? Ela não era de temer a escuridão da noite.

Ela soltou um grito, seguido de um rosnado quando sentiu braços a envolvendo por trás e começou a arranhá-los numa tentativa frustrada de se soltar.

-Não precisa ser agressiva desse jeito. – ouviu a voz do homem próxima ao seu ouvido.

-Me solta!

Obedecendo a ordem ele a largou fazendo-a cair apoiada sobre as mãos, o cabelo desarrumado e os olhos azuis, que brilhavam, davam um ar selvagem a ela, própria de sua natureza.

O homem que agora apenas a encarava, esperando sua reação que poderia ser um tanto imprevisível, tinha um mesmo ar selvagem, mas que assim como a perfeição da Sra. Chloe era totalmente natural, até mesmo os olhos amarelados característicos de lobo lhe caiam perfeitamente.

-Porque está atrás de mim? – disse a jovem prestando atenção nos mínimos movimentos dele.

Ele se aproximou e estendeu a mão para ajudá-la a levantar, mas ela recusou.

-Diga. – insistiu.

-Ma chérie, eu não preciso te dar explicações, mas talvez as consiga com outra pessoa.

E voltou a deixá-la sozinha naquela floresta.

Caroline ficou ali matutando o que o homem acabara de dizer e que lhe parecia cada vez mais estranho.

"Que outra pessoa me daria explicações?!"

Ao longe, muito longe, ouviu-se um uivo.