Dizem que, depois que as águas escuras de um relacionamento clareiam e o mistério chega ao fim, a magia acaba.

Era curioso - em sua inocência de apaixonada, Juvia pensara que conhecia Gray em tudo o que ele fazia, em tudo o que ele era, e que o mesmo faria tudo o que ela sempre imaginou em seus delírios.

Ele, pelo contrário, era diferente disso. Gray era um homem de gestos simples - não era incrivelmente romântico, nem levava rosas para ela todas as manhãs. Sua casa era uma bagunça, e ele babava enquanto dormia.

Aquilo, estranhamente, a deixava ainda mais fascinada.

Porque além dos defeitos, ela vira a notar coisas que antes passaram despercebidas. Como o sorriso lindo que ele dava a ela todo o dia ao acordar, ou a respiração fria em sua nuca quando ele a abraçava por trás, braços quentes e confortáveis a envolvendo preguiçosamente.

Seu jeito não muito honesto de agir quanto ao que sentia, também, mesmo depois de quase um ano juntos; ele era mais ação que falas, sempre escolhendo os toques às declarações, e não era sempre que a maga ouvia aquelas três palavrinhas especiais.

(Ela se esquecera de contá-lo, porém, que não estava dormindo ainda quando ele as murmurou baixinho em seu ouvido antes de adormecer).

Talvez estivesse distraída demais, antes, para não perceber essas coisas. Mas enquanto Juvia andava com ele num dia chuvoso, e Gray insistia em segurar o guarda-chuva mesmo que não fosse realmente necessário, ela ainda sim se sentia segura, calma, amada.

Os defeitos eram, portanto, insignificantes quando comparados a tudo que descobrira. Seu rosto quase luminoso de admiração do começo dera lugar a um sorriso sereno, de quem já olhou por entre as águas claras e não viu nada de que não poderia gostar.

Seu coração continuava batendo forte perto dele, ainda tinha uma vontade imensa de sorrir ao saber que estavam juntos e, mesmo que não acontecera nada da maneira em que ela pensava que seria, aquele sentimento não parava - ficava ainda mais forte.

E Juvia descobriu enfim que seu amor não chegara ao limite no momento em que ambos ficaram juntos; ele crescia cada vez mais, dia após dia, por esses pequenos detalhes. Pelas brigas, pelas reconciliações, pelos momentos silenciosos quando estavam sozinhos, por tudo.

Gray podia não ser um príncipe encantado, mas nem era ela uma princesa; e mesmo que seu final não fosse um digno de contos de fada, o que eles tinham ainda era perfeito em seu jeito imperfeito de ser.

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