Dizendo coisas irritantes para esconder minha face corada...

     ...fingindo estar perturbada só para você se preocupar...

     ...não respondendo imediatamente só para ouvir você chamar meu nome...

     ...já percebeu?

     Nós iremos agora transmitir a previsão do tempo. A previsão indica que a chuva continuará até a próxima semana.

     -Ótimo! – gritei, radiante.

     Desci as escadas e peguei meu guarda-chuva vermelho, que estava encostado ao lado da porta. A previsão das 8h 10min disse que irá chover... Você consegue sentir a umidade logo que abre a porta...

     Eu amo isso.

     -Ei! Não ande no meio da rua, Kagome-chan! Você está atrapalhando meu caminho!

     -Você é o único que está atrapalhando meu caminho, InuYasha.

     -Você está me dando nos nervos!

     Sempre que chove, InuYasha não pode ir a escola de bicicleta, então usa o mesmo caminho que eu. Eu amo... Quando isso acontece.

     [...]

     Entramos na classe e...

     -Ei! Vocês dois! Vocês se dão bem mesmo! Vindo para a escola juntos...

     -ELA/ELE ME SEGUIU!

     Procurei minhas amigas e fui até elas, InuYasha fez o mesmo, mas com seus amigOs, é claro.

     -Kagome, você é tão sortuda! Choveu de novo.

     -Você não precisa esperar chover. Por que não pega um desvio todo dia? Assim pode ver o InuYasha.

     -FIQUEM QUIETAS! ALGUÉM ESCUTARÁ VOCÊS!

     -Ok, ok. Estávamos só brincando...

     Eu ainda tenho três anos... Ainda tenho chances...

     Nós fomos para a mesma escola então nós ficamos seis anos juntos... O ginasial está acabando... Mas ninguém está triste... Porque estaremos juntos ano que vem.

     -HEY, HEY, HEY! INUYASHA! – gritou um menino – É VERDADE QUE VOCÊ DEIXARÁ O PAÍS?

     -Uh... Hm... – silêncio – Ei! Vocês não precisam ficar tão surpresos! Eu sou um bom estudante! Acho que ficarei na América por três anos, e então, voltarei.

     -Verdade? – gritou uma menina do fundo da classe – Não se esqueça de nos mandar lembranças!

     Ele está falando sério? Não posso acreditar...

     -KAGOME! ELE ESTÁ INDO EMBORA! – gritou Sango, com a voz alta demais, com a preocupação muito à mostra...

     Ela gritou mais alguma coisa, mas eu não escutei... Eu pensei que depois da graduação, nós poderíamos continuar nos vendo...

     Isso foi o que eu sempre pensei...

     [...]

     Eu estava indo embora. A chuva continuava a cair, como previsto. E as árvores que cercavam aquela rua estavam encharcadas, molhadas demais.

     -Ei! Você não veio na reunião de classe hoje!

     -Alguém estava popular demais, hoje.

     -Realmente criou-se um alvoroço, mas não fique com ciúme!

     -HMPH!

     InuYasha me ultrapassou, estava caminhando rápido demais, tudo estava “demais” hoje.

     -Mas, se você for... Não poderá me ver. Não vai sentir saudades?

     -Claro que não! – disse ele sorrindo.

     Ele podia estar brincando, mas eu fiquei abalada demais com suas palavras para prestar atenção... “Claro que não!”

     Agora, as flores estão fechadas... Mas quando o primeiro botão de flor aparecer nas árvores que alinham esta úmida estrada, você não estará mais aqui...

     [...]

     Estava em casa, sentada na pequena bancada que havia sob minha janela. Tinha a cabeça encostada na mesma, e observava a chuva. Ela diminuíra, mas não ia parar.

     Se eu fosse a namorada dele, eu pediria para ele não ir, e ele me responderia “Então me espere”. Mas eu não posso me confessar agora, ou será que posso? Ah...

     EU PRECISO DESISTIR DELE.

     [...]

     -Essa chuva! Até mesmo no domingo? – resmungou minha mãe.

     Desci as escadas e então ela me viu.

     -Kagome, vai sair?

     -Sim.

     Andei alguns quarteirões, na verdade, 5. Cheguei à livraria e fui direto para seção que queria.

     Olhei por um tempo e depois vi dois livros que me interessaram: Inglês e Inglês Americano.

     Encarei-os por algum tempo, até que ouvi:

     -Heu, esses livros não foram feitos para serem lidos por idiotas como você! – era InuYasha. Ele estava a centímetros de mim. Do meu lado direito.

     Então gritei:

     -AIEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!

     [...]

     Estávamos na lanchonete ao lado da livraria, sentados um em frente do outro. InuYasha estava lindo, como sempre.

     -Você não deveria gritar “Ahhhhhh!” em vez de “Aieeeeeee”?

     -Mas é assim que eu grito. Além disso, foi culpa sua eu ter me assustado.

     -A chuva não para, né? – mudou de assunto de repente – Quando eu vim, estava sol, por isso eu vim de bicicleta.

     Uma idéia se formou em minha mente. E eu sorri.

     [...]

     Fizemos uma troca. InuYasha me levava para casa de bicicleta e eu segurava o guarda-chuva para ele. Estava sentada bem perto dele. Sua respiração era lenta e seu calor aconchegante. De repente, ele falou:

     -Quando chover novamente, você terá essa estrada só para você. – e depois ficou em silêncio.

     “Quando chover novamente, você terá essa estrada só para você...”, foi o que ele disse. E era verdade... Mesmo que chova, InuYasha não estará mais ao meu lado ano que vem, nem depois, nem depois. Eu ficarei sozinha. Caminharei pela estrada sozinha. Porque InuYasha não estará mais ao meu lado.

     Fitei as costas de InuYasha, que lentamente ficaram embaraçadas. Eu estava chorando.

     Nessa rua, protegida pelo som da chuva, eu não deixarei você me ouvir chorando.

     [...] Um dia qualquer de escola...

     -No colegial, eu com certeza arrumarei um namorado! – gritou Rin.

     -E você Kagome?

     -Eu prefiro dar uma de cupido.

     -...

     Elas continuaram a conversar animadamente. Desviei o olhar para o grupo que estava mais para trás. InuYasha estava lá.

     Se eu tivesse mais três anos...

     ...eu provavelmente...

     ...teria uma chance.

     [...]

     Eu sou tão inútil. Pensava sozinha, enquanto ia embora para casa, segurando o guarda-chuva. Deus provavelmente me odeia... Já que você me odeia tanto, Deus, faça com que a chuva pare. Porque assim, InuYasha não me acompanhará quando estivermos vindo para escola.

     O guarda-chuva estava tão pesado. E seu peso aumentava à medida que eu caminhava. Ele ficou tão pesado, que eu o abaixei. A água fria que antes não podia tocar minha pele por causa do guarda-chuva, tocou minha pele, e rapidamente, encharcou minha blusa.

     Meu cabelo também pesou com o peso extra da água...

     O que eu estou fazendo? Eu...

     -O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – gritou uma voz conhecida – IDIOTA!

     Virei para trás e vi InuYasha. Ele segurava um guarda-chuva, e se aproximava de mim, para colocá-lo sobre nós dois. Jogou uma toalha para mim e depois disse:

     -Seque-se com isso. – eu o fitei, então ele gritou novamente – ANDA LOGO! VAI ACABAR PEGANDO UM RESFRIADO!

     Eu fiquei com vontade de chorar. Então todos os meus sentimentos vieram à tona. De uma única vez.

     -PARE! EU NÃO PRECISO DE VOCÊ! PODE IR PARA A AMÉRICA! EU NÃO LIGO!

     Então sai correndo. Enquanto corria, percebi, que para duas pessoas que não tem uma promessa, de nenhum tipo...

     ...três anos é muito tempo.

     [...]

     -37.8°. Você está com febre.

     -Hm...

     Fechei os olhos, estava tão cansada... Só queria dormir e nunca mais acordar... Só isso...

     PIPIPIPIPIPI~ PIPIPIPIPIPI~

     Porcaria de celular!

     -Alô!

     -Kagome, InuYasha está indo embora. Ele ia partir só no fim do mês, mas ele antecipou a partida!

     Vesti-me o mais rápido que pude e saí de casa correndo. Só ouvi os gritos de minha mãe. Mas eu não posso deixar isso terminar assim.

     Corri por toda escola enquanto procurava InuYasha. Encontrei-o quando ia descer a escada do segundo andar. Ele me fitou.

     -Hu? O que foi? – sua voz era calma – Não devia estar em casa?

     -Sim, mas... – eu estava choramingando.

     -Então o que está fazendo? Sua febre baixou?

     -Não, ainda não. Eu continuo doente.

     -Então você deveria estar em casa.

     -AH! EU SOUBE QUE VOCÊ ESTAVA INDO EMBORA MAIS CEDO! ENTÃO VIM VER SUA CARA DE IDIOTA PELA ÚLTIMA VEZ!

     -O quê? – sibilou ele, com um começo de raiva na voz, ou talvez irritação.

     -...

     -HMPH! FAÇA O QUE QUISER! ESTOU INDO PARA AMÉRICA AMANHÃ DE QUALQUER JEITO!

     -MEUS DIAS SERÃO CALMOS SEM VOCÊ!

     -OS MEUS SERÃO O PARAÍSO!

     -EU NÃO DEIXAREI VOCÊ IR!

     -O quê? – perguntou ele confuso.

     -Eu não deixarei você ir – disse – Por isso, não vá.

     E comecei a chorar. InuYasha ficou em silêncio.

     -De agora em diante, se chover, vamos ir pra escola juntos... Porque eu gosto de você.

     Escondi meu rosto entre as mãos. Ouvi os passos de InuYasha, que subia a escada.

     -Espere por mim. – pediu ele – São apenas três anos. Espere por mim, não importe o que aconteça.

     -Isso, não é tão fácil. – disse eu, após ele secar minhas lágrimas com os dedos quentes.

     Então se aproximou de mim, e encostou seus lábios nos meus. Meu primeiro beijo. Tão doce.

     -AAAAAAAAAAAAAAH! Já chega! – gritou.

     Olhei para o rosto de InuYasha, ele estava corado. Olhava para direita. Olhei também. Minhas amigas, amigos dele, professores e alguns curiosos nos olhavam. E seus amigos repetiam o que InuYasha dissera.

     -Espere por mim, não importe o que aconteça.

     -CHEGA! VOU MATAR TODOS!

     As árvores formavam uma linha na úmida estrada, como uma ladeira. Nós vamos andar em baixo dela de novo, InuYasha...

     ...em algum ótimo dia de SOL.