POV Lívia:

Quando Susana caiu no chão, um pavor tomou conta de mim. Ela não poderia perder uma batalha, não agora... Corri para tira-la do caminho do monstro e esperei que alguém lutasse contra aquela coisa, no momento eu não tinha que pensar muito, apenas arrastar Susana para longe da coisa.

O ferimento estava na lateral de seu corpo, e com alguns medicamentos e dias de repouso ela voltaria a ficar bem, mas não tínhamos alguns dias. Eu precisava de ambrosia e néctar, qualquer um dos dois serviria no momento.

- Lívia... – Susana falou, sua voz estava mostrando a dor que sentia. – Vá ajudar os outros, eu estou bem...

- Cale a boca, garota. – respondi. – Não vou te deixar aqui.

Ela tentou falar de novo, mas apenas tapei sua boca. Ela não cala a boca nem quando precisa, garota teimosa! Levantei a camiseta, de modo que pude ver melhor o ferimento e me arrependi de fazer isso. Oras, quem eu estou tentando enganar? Eu tenho nojo de sangue. Não estava profundo ou realmente grave, mas tinha muito sangue.

Susana estava chorando de dor, isso só me assustou ainda mais. Para uma filha de Ares, ela é bem chorona. Tentei pensar em algo para ajudar, mas eu não queria piorar tudo.

- Will... – chamei. Ele provavelmente ajudaria mais que eu no momento. – Will, venha aqui!

Ele estava atirando flechas na coisa, mas rapidamente parou e foi até o lugar. Não tínhamos tempo para conversar, peguei o arco de suas mãos e fui para a batalha. Eu realmente não achei legal o fato de ter que lutar, mas eles precisavam de ajuda.

Olhei ao redor e vi que estávamos em certa desvantagem: Travis parecia um morador de rua, largado em um canto da calçada com os olhos semiabertos. Connor estava desmaiado, junto a parede de um beco. Summer e Nico tentavam abater o inimigo, mas não é fácil quando ele é bem mais alto que todos nós e tem partes de metal.

O monstro não tinha muitas partes expostas, então uma flecha na boca resolveria, mas minha mira não é das melhores. Bom, mirei e atirei. Errei muito feio e por pouco não acertei Nico.

“Senhora Ártemis... Ajude-me...”, repeti isso várias vezes enquanto lançava as flechas. Atirei de novo, e de novo, e inúmeras vezes, e nenhuma acertou a coisa. Até que só restaram duas flechas na aljava. Um último pedido para a deusa, com a promessa que minha mãe odiaria. E a penúltima flecha entrou na boca da coisa.

Quase dei pulinhos de alegria quando a coisa se foi em pó, deixando pesados pedaços de metal no asfalto. “Obrigada, Lady Ártemis.”, agradeci de todo o meu coração, e sentei-me no chão.

- Bom trabalho, mais bela de todos. – Nico disse, e foi em direção a Connor.

Summer foi ajudar Travis. Will cuidava de Susana. A rua estava vazia, bom, ninguém ficaria perto de um bando de adolescentes loucos, então me deitei no meio da rua e olhei para o céu, aliviada que a coisa tenha ido embora.

Então pensei em meu ultimo sonho, quando desmaiei. Minha mãe ainda estava amarrada e aquela Adelaide apareceu e apontou para uma lua, e esta tinha um rosto e tudo o que disse foi: “Venha, jovem de beleza espetacular. Venha e deixe-o para lá.”. Adelaide balançava a cabeça negativamente, e de repente, tudo sumiu. Fim do sonho. Eu ainda não entendia, e fiz a promessa sem saber se ela realmente seria assim.

Olhei para Will mais uma vez e meu coração apertou. Ele estava beijando Summer, acho que de alívio por ambos estarem vivos. Eu, filha da deusa do amor, sofrendo por aquela droga de amor? A promessa... Ela tem que livrar meu coração, eu não posso ficar presa a Will para sempre. Ele ama a Summer e gostar dele é como trair a confiança dela.

Abaixei a cabeça quando as lágrimas quiseram vir, tentei pensar em outras coisas. E então me lembrei de Susana. Olhei para ela e - para meu alívio – estava viva.

Decidimos ir para outro beco (ARHG!), e montar um “mini-acampamento” lá. Tivemos que expulsar um mendigo de lá, ele pareceu magoado conosco, mas enfim... Deitamos Susana em um canto, vez ou outra ela soltava um gemido, Will estava concentrado em cuidar dela. Travis e Connor se isolaram em um canto e conversavam entre sussurros. Focalizei Nico e Summer em um canto. Ele falava algo e ambos estavam corados. Ele entregou algo para Summer e foi embora.

Oh, o que será que eles estavam conversando? Summer ficou olhando para o que Nico havia lhe entregado durante algum tempo, e então seu olhar voltou para Will. Ah, entendi. Acho que Nico finalmente contou que estava apaixonado pela garota, mas obviamente o coração dela é de Will. Sabe... Isso dói. Essa coisa de gostar de alguém que namora.

Caminhei até o Nico, que estava sentado em um cantinho do beco, com os olhos fechados.

- Contou para ela? – perguntei, sentando-me ao lado do garoto, que agora me olhava.

- Como sabe? – sua voz transbordava desconfiança.

- Oras, vejo como olha para a garota de Hermes. – sussurrei.

- Do mesmo modo que você olha para o Senhor Raio de Sol. – ele sussurrou de volta. Soltou uma pequena risada ao ver minha cara de espanto. – Acha que não percebo isso? Também tenho coração e olhos, mais bela de todos. – ele soltou um riso seco e desviou o olhar para a parede à frente.

- E o que ela disse? – perguntei.

- Ela não disse nada. – a voz dele parecia mascarar algum tipo de magoa. É claro, ela ficou em silencio e ele notou que a Summer é do Will, e vice e versa.

- Eles foram feitos um para o outro... – eu disse. Oras, doía em mim também, mas é a verdade. – Não tem como mudar isso.

E foi o fim de nossa “conversa”, um silêncio se seguiu. Olhei ao redor. Travis e Susana estavam cochilando de mãos dadas. Eu realmente achei aquilo bonitinho. Connor conversava com Summer e Will. Não tinha lugar para mim em nenhum dos dois lugares, então continue sentada ali, até pegar no sono.

Acordei e estranhei o fato de não ter tido nenhum sono profético e assustador. Estava com o rosto colado no chão e um de meus pés estava a centímetros do rosto de Nico. Quando fui afastar meu pé acabei chutando o rosto dele acidentalmente.

- Maldição! – ele exclamava, enquanto passava a mão no rosto.

- Desculpe. – sussurrei envergonhada.

Chutar o rosto de alguém é deverás falta de educação! Não posso ser mal-educada, é contra todas as regras e bons costumes que aprendi com meu pai (Um ótimo homem que dava aulas de etiqueta). Afastei-me de Nico e fui procurar algo para comer nas mochilas. Todos, com exceção de Nico, ainda dormiam, então eu poderia comer tranquilamente sem ter de encarar nenhum deles. Achei um ótimo pacote de salgadinhos na mochila de Connor e resolvi pegar.

- Que feio, roubando um filho de Hermes. – a voz de Connor me fez pular sobressaltada. Mas que coisa, como ele pôde acordar tão rápido?! – Pode ficar. – ele disse e soltou uma risada. Acho que minha cara estava muito culpada, como eu me sentia.

Roubar? Oh, andar com crianças de Hermes realmente me fez mudar. Mas ele disse que eu poderia pegar, então o fiz.

- Sabe, você não é tão chata quanto as suas irmãs. – ele disse com um sorriso.

- Ninguém consegue ser tão chata quanto elas. – falei, enquanto mastigava os salgadinhos.

Ele sorriu e começamos a fazer piadas sobre elas. Connor é um garoto engraçado, e tem um belo sorriso. Se Travis também for assim, agora entendo o porquê de Susana gosta dele. Sim, todos duvidam, mas a garota realmente gosta de Travis. Ela me disse que no começo era apenas “Pra irritar a Summer, mas depois começou a ver uma boa pessoa nele e vice-versa.”, Susana pode parecer uma má pessoa, mas tem um bom coração, pelo menos comigo sempre foi gentil.

- Ei, vocês, - Will chamou, enquanto arrumava as coisas. – Precisamos continuar a caminhada, ou vamos esperar monstros aparecerem e nos devorarem? – ele apressou. Falava de modo grosseiro, e Summer o cutucou com o pé. Ele deu de ombros e continuou a arrumar suas coisas.

O que será que aconteceu com ele? Ele ficava tão lindinho bravo. Oh... Que diabos eu estou pensando? Antes que eu pudesse voltar a pensar nisso fui arrumar minhas coisas.

Depois dos pertences arrumados, aquela mesma discussão do que fazer. Susana ainda estava muito fraca, mais tínhamos que continuar, então Travis se responsabilizou por ajuda-la. Connor bufava pro lado de Susana as vezes, mas o fato de ela ter salvo a vida dele deu a ela algum crédito com Connor.

Summer e Will andavam a frente, com um mapa da cidade, tentando chegar ao centro. Nico andava atrás de todos nós com cara de poucos amigos. Eu resolvi conversar com Connor novamente.

Andamos muito e achei totalmente desnecessário. Comecei a sentir meus pés dormentes e minha visão começou a ficar embaçada. Tropeções cada vez mais frequentes e uma queda.

“Olá Lívia, sábia escolha. Sua mãe não aprovará, mas ela não está em condições de discordar... Agora pode se livrar daquele garoto...”, a lua sorria para mim, mas falou a ultima palavra como se fosse um insulto. Olhei ao redor e vi imagens distorcidas de todos que estavam na missão, mas o que me chamou a atenção foi a imagem de Nico. Ele dava socos contra a parede de seu chalé. Reconheci as roupas dele, da manhã em que partimos do Acampamento. “Mas por que eu fiz isso, merda?”, ele gritava. Quando ele saiu pra fora do chalé, avistou Summer ao longe e começou a sussurrar para si mesmo: “Desculpe, desculpe...”, várias e várias vezes.

- Lívia! – Connor me tirou do sonho. A primeira coisa que pensei foi que preciso falar seriamente com Will. 

Quando consegui focalizar algo vi Susana, que estava parada a minha frente aparentemente preocupada comigo. Virei um pouco a cabeça e pude ver Nico, atrás de todos e olhando para mim de modo inexpressivo. Levantei-me rapidamente.

- O que você fez, Di Angelo?! – avancei para ele.

Aquele... Imbecil! Sim, imbecil foi a melhor palavra feia que consegui para descrevê-lo.