Era uma vez uma garota chamada Bree, que tinha sido apelidada de “Goat” por seu nome lembrar o som de um bode. Amanhã ela completaria 16 anos, caso o destino lhe fosse mais favorável. Eu te desaconselharia a ler isto, porém não devo intervir ao destino. Se te apetece, vá em frente.

Goat tinha um corpo de dar inveja às outras garotas, pois mesmo tendo apenas 15 anos já tinha se desenvolvido completamente, tendo assim um corpo de mulher e um rosto jovem. Seu rosto era a coisa mais radiante da vila, com os belos olhos verdes sendo emoldurados por uma cabeleira ruiva que, quando exposta ao sol, parecia ser feita de fogo. Goat perdera a mãe aos 13 anos, tendo desde então de alimentar sua irmã mais nova, Izabelle, de apenas oito anos. Mas comida nunca lhes faltara. É bem verdade que Goat, quando não conseguia reunir dinheiro suficiente para aquecer sua casa e alimentar sua irmã, ia procurar moedas douradas de noite na casa dos anciões solitários da vila. Mas isso já não era necessário desde o último inverno. Goat descobrira na floresta sua fonte de dinheiro. Conseguira por duras penas comprar um arco e desde então vendia caça aos vilarejos. Vários rapazes queriam sua mão, mas Goat jamais consideraria a opção. Goat estava irremediavelmente apaixonada pelo mal.

Essa paixão tomara forma logo no primeiro inverno após da morte de sua mãe. O dia estava pra raiar quando Goat saíra da casa de um dos anciões da vila, carregando suas poucas moedas. Seus dedos congelavam ao vento cortante do inverno. Ela perdera a noção do tempo, rumando a esmo pela floresta. Tinha usado seu corpo para conseguir moedas pela primeira vez. Psicologicamente, estava devastada. Com os olhos já pesados, avistou uma enorme cama negra em meio à floresta.

De tão cansada que estava, não ponderou como uma pessoa em sã consciência, e se deitou no manto felpudo e negro. Quando acordara, já pela tarde, se deparou com enormes olhos negros, a observa -lá. Ela havia se deitado em cima de uma fera negra, enorme. Esta por sua vez, depois de encarar a garota nos olhos, saiu a pesados trotes pela floresta, deixando-a aterrorizada e perplexa.

Desde então, se encontrava com o enorme lobo, e eles tinham uma relação de amor não convencional. O lobo era irracional, mas se tornava completamente lúcido quando juntos. Ela por sua vez, nutria um desejo irracional pelo próprio mal, e encontrara no lobo sua válvula de escape.

De volta ao presente, é véspera do aniversário de Goat. Depois de dar bom dia à sua jovem irmã, ela se dirigiu à floresta, para se encontrar com o lobo. Não tardou a avistar a enorme fera negra, que simplesmente a observara se aproximar. Ao primeiro toque, o lobo se abaixou, demonstrando suas largas costas. Deixaria que ela experimentasse um prazer único e raro. Cavalgar as sombras.

A garota subiu nas costas do lobo, encaixando-se entre os poderosos músculos, sentindo-os se resetar. Com o impulso dado à frente pela fera, o mundo em volta se tornou um borrão. O dia se ia, após várias horas de corrida ritmada da besta. A noite logo veio, e à meia noite a fera parou. Goat pulou para o chão, sentindo suas pernas recuperarem a sensibilidade. Agora tinha dezesseis anos, e esperava um presente da fera. Com uma lambida de despedida, a fera partiu rumo a um vilarejo que tinha a luminosidade das tochas à vista da orla da floresta, de onde  ela ficou a esperar.

Era difícil enxergar, mas a perda de luz do vilarejo era perceptível, mesmo daquela distância. Começara com apenas uma tocha se apagando aqui e ali, mas logo os gritos vieram, até apenas o silêncio e a escuridão predominarem sobre o vilarejo.

A agora mulher esperava ansiosamente pelo retorno da fera. E o lobo não tardou a voltar, e trouxe consigo uma senhora do vilarejo, entre os apertados maxilares. Soltou o corpo inerte aos pés de Goat, enquanto esta preparava uma fogueira para o preparo do romântico jantar. Fritara as partes mais gordas da senhora para o lobo, e um cozido para si mesma do que restara. Comera até se sentir completamente farta, para então adormecer aconchegada no espesso pelo da fera.

Se houvesse alguém vivo no vilarejo, este poderia ouvir os terríveis gritos de desespero de Goat, enquanto esta tinha seu belo corpo talhado pelos dentes da fera.

Um mês depois Izabelle, a irmã da então desaparecida Goat, recebia um chamado a porta de sua casa. Era o oficial do império, vindo para notificá-la que o corpo de sua irmã havia sido finalmente encontrado próximo do vilarejo que fora massacrado por alguma besta sobrenatural.

Izabelle já não via mais para onde ia, chorando até as lágrimas secarem e apenas o soluço descompassado restar. Estava cansada, e já perdida na floresta.

Até que avistou uma enorme cama negra.

FIM