Nós entramos ás pressas no hospital do dois, ele não estava muito cheio e tinha tanto pessoas do dois quanto do treze, afinal, agora eram todos rebeldes. Apesar de pouco movimentado, por se tratar de uma batalha quase inexistente, pessoas de branco sendo elas médicos ou enfermeiras corriam de um lado para o outro, tentando administrar e dar atenção para todos os pacientes da melhor forma possível.

-Posso ajudar? –uma mulher de cabelos ruivos e olhos mel pergunta.

-Estamos procurando Simila Mellark e Delly Cartwright.  –Peeta quem responde.

-Ah sim. –ela confere em sua prancheta. –a ala 12. –aponta com a caneta azul para a direita sem levantar os olhos da prancheta.

-Obrigada. –sou eu quem digo. A mulher levanta os olhos e sorri, logo volta a seu trabalho e nós vamos na direção apontada por ela.

Entramos na chamada ala 12, e a primeira pessoa que topamos é Simila, que anda com os trajes de batalha estilo camuflado padrão, ele andava de um lado para o outro no corredor. Ele tem a camisa ensanguentada e uma parte de seu cabelo loiro também está tingido pela cor vermelha.

-Simila! –Peeta quem grita, os olhos apavorados do garoto viram-se para o irmão mais novo e sorri. –Graças a Deus.

Ele vai até até o irmão e eles se abraçam, Simila solta um gemido de dor.

-Desculpe, voce está bem? –Peeta pergunta, examinando o irmão, procurando algum ferimento.

-Estou –só então parece notar a camisa branca cheia de sangue por cima da jaqueta de farda. –não se preocupe, não é meu sangue. –ele apenas encosta no lado esquerdo do copo e ergue levemente a blusa para que possamos ver um hematoma roxo enorme, que pegava quase toda a parte esquerda do abdômen. Pelo que conheço de hematomas, eu diria que foi um bom chute. Provavelmente o motivo pela dor durante o abraço.  –na verdade isso foi tudo que consegui na batalha.

-E Delly? –Peeta pergunta, Simila demora para responder.

-Ela levou um tiro no ombro esquerdo. –ele fala com um suspiro.

-E esse sangue... –eu mal chego a terminar de formular a pergunta antes que ele a responda.

-Parte é dela, eu a tirei do campo no momento em que voce começou a falar, Katniss. –ele diz. –belo discurso, a propósito. –ele diz sério, em um tom agradecido. –a outra parte o sangue era do cara que atirou em Delly. Ele atirou nela e eu nele. A diferença é que ele errou parcialmente o tiro, eu não.

Ele morde o lábio inferior, provavelmente sentindo o peso da culpa da primeira morte causada por ele. Pelo que Peeta me disse, quando foram me resgar na Capital, todos eles atiraram apenas em pernas, braços e as vezes em ombros, sempre evitando matar quem fosse. Mas Simila não teve opção dessa vez.

-Ela está bem?

-Melhor agora. –ele diz, ainda sério. Acho que nunca vi Simila permanecer serio por tanto tempo. –já retiraram a bala do ombro dela e deram um analgésico. –ele aponta com a cabeça para dentro de um quarto, nós o seguimos.

O quarto era realmente bem pequeno, mas melhor que que os do treze. Nele, encontramos Delly deitada em uma cama, com um dos ombros enfaixado. Ela não usa mais a jaqueta de guerra e parece parcialmente limpa, com apenas um pouco de sangue seco na regata branca usada por todos por baixo da jaqueta, como se tivesse sido limpa com pano úmido a maior parte de sangue de seu corpo.

-Peeta, Katniss. –ela fala, exibindo um sorriso aliviado, nós fazemos o mesmo.

-Delly, como voce está? –Peeta pergunta.

-Nunca estive melhor. –ela ironiza, há dor em seu rosto mas ela parece feliz demais por estar viva para ligar muito para a dor. Ao contrário de Simila, que parece preocupado e sério, sem exibir mais nenhum sorriso. –aliás, lindo discurso Kat, salvou minha vida, literalmente.

-Imagina Delly, fico feliz de estarem bem.

Ela tenta se sentar, Simila vai até ela oferecendo sua mão, ela a pega pelo braço bom, o direito, e se senta melhor.

-Obrigada. –ela diz para Simila, que acena com a cabeça.

-Alias. –Peeta começa. –eu falei com Haymitch, e vocês vão ficar no mesmo prédio que nós e os outros vitoriosos.

-Bem, pelo menos ficamos todos próximos. –ela olha para Simila que acena com a cabeça.

Com uma mãos ainda junta com a de Delly, ele coça levemente a sobrancelha, onde ter um corte que passa levemente por ela, se estendendo pela testa. Ele afasta a mão rápida com um murmuro de dor surpresa, e se assusta ao ver o vermelho do sangue, como se ainda não tivesse notado o ferimento que já tingia um pedaço dos cabelos do menino.

-Deixa eu ver isso. –eu me aproximo dele, que tem que abaixar um pouco para que eu possa examinar a ferida enquanto eu ainda tinha que ficar nas pontas dos pés. –eu não sou medica, mas eu acho que voce vai precisar de no mínimo três pontos ai.

Simila estranha um pouco, provavelmente fascinado por não ter notado um ferimento que valha três pontos.

-Peeta por que não acompanha ele a enfermaria? –eu proponho, dando uma piscada de leve para Peeta, que me compreendeu, acenando com a cabeça. –eu fico com Delly, que tal?

-Mas... –Simila começa a dizer.

-Estou bem Simila, -Delly o corta. –além do mais, a Katniss me faz companhia.

Ela me manda um sorriso, que eu retribuo. Em seguida faz o mesmo para o namorado.

-Vamos lá Simila. –Peeta incentiva.

-Tudo bem... –ele sai, acompanhado de Peeta mesmo contra vontade.

POV Peeta.

Katniss provavelmente havia notado a mesma fragilidade em Simila que eu mesmo também estava preocupado. Quando ela mandou que eu o acompanhasse a enfermaria, vi que ela estava me dando uma deixa para conversar a sós com meu irmão.

Ele estava na minha frente, havia acabado de receber seus três pontos, assim como Katniss havia dito.

-Como você fez isso? –eu pergunto.

-Eu nem imagino, só notei quando Katniss me avisou. –ele diz, colocando a mão sobre o corte com uma careta.

-Não fique mexendo, idiota, vai estourar os pontos. –eu aviso, tentando colocar algum bom humor na voz, e para meu espanto, Simila não devolve nenhum comentário bem humorado ou sarcástico além de afastar a mão e murmurar um “desculpe”.

-Delly vai ficar bem, não vai? –ele pergunta como uma criança manhosa, encarando as mãos, ainda sujas de sangue seco.

-Claro Simila, você a salvou. Lembra?

-Mas eu matei um homem para isso. –ele fala.

-Sei que você não o teria matado se não precisasse. –eu tendo consola-lo de alguma maneira. –mas precisou Simila, era ele ou Delly. Qualquer um teria feito o mesmo que você, assim como eu já fiz por mim mesmo e por Katniss também.

-Eu sei, eu sei. –ele passa a mão pelo rosto, mas tendo cuidado para não tocar seu ferimento. –mas como voce superou? Digo, as pessoas que teve que matar?

Ele pergunta com um certa curiosidade e suplica na voz. Eu apenas lhe dei um sorriso triste, antes de voltar a falar.

-Não superei, ainda sonho com alguns deles todas as noites. –admito. –a arena e a guerra não são coisas fáceis de serem esquecidas, Simila. A solução é apenas conviver com elas.

Simila não diz mais nada, um silencio nos atinge por um tempo, até uma cabeça castanha, levemente avermelhada e imensamente familiar chama-me a atenção.

-Max? –eu chamo, e ele vira a cabeça em minha direção. –o que faz aqui?

-Estou procurando um médico, ou alguma enfermeira. –ele fala, com a voz dolorida. Enquanto ele se aproxima de nos eu noto a sua mão agarrada junto a parte esquerda do abdômen, logo abaixo das costelas, vermelhas de sangue.

-O que foi isso? –eu vou até ele, segurando o braço direito de Max, impedindo-o de cair, pois a essa altura suas pernas pareciam prestes a ceder. Max faz menção de rejeitar ajuda, afastando minhas mãos, mas logo as aceita quando se corpo começa a tombar para o lados.

-Bala de raspão. –ele fala. –não acho que foi profunda mas eu acho que eu...

-Perdeu muito sangue. –completo. Então viro-me para Simila, que já estava em pé no momento. –chame um médico, rápido!b