Sobreviva!

Não posso gritar

Pois os anjos estão surdos

Não posso chorar

Pois os anjos estão cegos

Não posso sentir

Pois os anjos estão frios

“Seja forte!”___ aconselha a voz

                   [que mora em meu âmago

“Não grite!”, “Não chore!”, “Não sinta!”

Sussurra a voz ao pé d’ouvido

Não posso gritar

Pois assim serei fraca

Não posso chorar

Pois assim serei inútil

Não posso sentir

Pois assim serei tola

Não há mais luz

A ilusão cobriu meus olhos com seu escuro véu

Não há mais estrelas...

Como? Eu apenas sei

Não preciso olhar para o céu

Ainda há um coração que bate aqui dentro?

Ainda posso ter uma noite tranqüila

Após tantos tormentos?

Não posso gritar

Pois os anjos estão dormindo

Não posso chorar

Pois os anjos estão sorrindo

Não posso sentir

Pois os anjos estão fingindo

Que caminho devo seguir?

Ouvirei atentamente e seguirei os conselhos

Desta voz que ressoa em meu peito

Ou permanecerei hirta e inanimada

Apenas observando com estranha dor

A fria figura de lívida porcelana

Refletida num espelho quebrado?

Não posso gritar

Não posso chorar

Não posso sentir

Posso apenas sobreviver

Sem ter para onde fugir