Cheguei em casa cansada de tanto revisar. No outro dia fui a escola normalmente e acho que me saí bem nos testes dessa primeira temporada.

Até que chegou a aula de educação física.

– Bom dia, alunos! - O professor entrou na sala de aula com um sorriso que ia de orelha a orelha. O que realmente me assustou, já que aquele sorriso que parecia dizer "Ai meu Deus, ganhei na loteria!" também aparentava dizer "Bom dia, alunos! Prontos para se ferrarem?"

O professor de E.F. era gente boa. Seu nome era Alexander, mas todos o chamavam de Tio Alex. Ele era tranquilo e extrovertido, o que fazia suas aulas serem sempre divertidas. Ele explicava bem também.

Todos os alunos pareciam estar tranquilos. Como o Tio Alex explicava bem, todos conseguiram entender a matéria.

– Vocês sabem que hoje é dia de avaliação, não? - O sorriso assustador dele continuava em seu rosto. Seus olhos pretos e arregalados nos encaravam de uma maneira medonha e engraçada ao mesmo tempo. Ele ficava mexendo no apito que costumava usar sempre que a sala passava um pouco dos limites. Como ele não era muito alto, as pessoas se distraiam com facilidade, então ele usava o instrumento. - Então vamos, arrumem seus materiais e desçam para a quadra, pois é hora de pôr em prática tudo o que aprenderam!

Vi todos empalidecendo. Nós sabíamos a matéria teórica, afinal, aprender sobre esportes não é nada de novo para a maioria da sala. Mas pôr em prática era algo que nós não havíamos nos preparado.

– O que aconteceu? Para onde foi a segurança de vocês? - Alex passou a mão em seu cabelo esbranquiçado enquanto falava. - Vamos, eu acredito em vocês, sei que vão se sair bem. Agora arrumem-se logo, estamos perdendo tempo.

Os alunos foram saindo aos poucos. Me dirigi ao banheiro, para tirar a camiseta que estava por cima de outra. Não costumo fazer isso em público.

Quando saí do banheiro avistei Taty no bebedouro e fui ao encontro dela:

– Oi, Taty. Preparada para a prova de E.F.?

Achei melhor não tocar no assunto do dia anterior. Era melhor agir normalmente, por enquanto.

– Nem me fale, Mel. Muita sacanagem da parte do tio fazer isso. - Ela estava realmente frustrada.

– Acalme-se, desse jeito você vai ir mal. Vamos, todos já estão lá.

Seguimos para a quadra. A rede de vôlei já estava a postos. Íamos começar a dividir os times, quando ouvimos o apito do Alex soar.

– Esqueci de falar... Tem mais uma surpresa para vocês. - Aquele sorriso no rosto dele deixava bem claro que não era coisa boa. - A professora de biologia faltou e os alunos de uma das outras salas estavam sem aula... Até eu decidir que eles competiriam com vocês! Vamos, entrem!

Quando eu olhei os alunos entrando na quadra quase tive um troço: Era a sala do Ronald. Ah, isso só pode ser carma ruim, não é possível!

– Eles também vão ganhar nota, por isso vão dar o melhor de si. Divirtam-se, e não se esqueçam das regras! Boa sorte, podem dividir os times, cada sala com os seus.

Alex continuou com aquele sorriso o tempo todo, e aquilo já estava me irritando. Eu estava realmente com vontade de lascar um tapa na cara dele. Mesmo que eu fosse parar na diretoria ou algo do tipo, pelo menos a cara dele iria mudar de algum modo.

Depois dos times serem divididos, começamos a jogar. E adivinhe só: Eu e Taty em um time, Ronald no outro.

Por falar nela, ela estava ali, do meu lado, quase tendo uma convulsão de tanto tremer.

– Olha, Taty - Tentei acalmá-la. - Lembre-se que você precisa se concentrar, isso é uma avaliação. Foco, garota. Foco.

Ela não respondeu. Começamos a jogar.

Ronald jogava muito bem. Ele estava com uma camiseta polo branca com colarinho vermelho, bermuda bege e tênis branco também. Vez ou outra ele errava o toque, mas ainda assim era muito bom.

No meio do jogo, a rede caiu. Assim, do nada. E como não tínhamos tempo para colocar de novo, continuamos sem ela mesmo.

O jogo foi seguindo. Eu estava na frente do meu time, e Ronald na frente do time dele. Traduzindo: Estávamos cara a cara, frente a frente. Ele olhou para mim e sorriu. Fiz um "oi" com a cabeça (não que eu saiba como fazer isso), e voltei a me focar no jogo.

O time dele estava para sacar novamente. Uma garota ruiva estava com a bola, se posicionando. Não prestei muita atenção nela, e ela também estava distante demais para isso. Além do fato do Ronald estar tampando boa parte da minha visão, já que ele tinha se aproximado demais de mim.

A garota sacou a bola de um jeito tão torto que pareceu até que ela nunca havia jogado vôlei na vida. Eu nem tinha visto para onde a bola tinha ido, mas sabia que não tinha ido para o alto. Até que ouvi alguém gritar "Ronald, cuidado!", e depois disso só vi Ronald caindo em cima de mim.

Ronald caiu bem em cima de mim. A bola havia acertado em cheio suas costas. Ele caiu com tudo, chegamos até a derrapar um pouco no chão. Se eu não tivesse virado o rosto, ele teria me beijado no momento em que caímos. Até agora eu não consegui entender porque eu virei o rosto.

Ele tentou evitar ferimentos graves colocando as mãos na frente do corpo durante a queda. Uma de suas mãos bateu no chão e a outra... Em mim, na minha cintura.

E eu? Eu bati com toda a força a cabeça no chão, o que me deu uma tontura enorme. Fiquei uns dois minutos deitada, sem senso de direção. Aliás, sem qualquer senso.

Ronald se levantou assim que conseguiu. Ele parecia ter se machucado também.

– Melody, você está bem? - Ele se agachou e colocou a mão na minha cabeça. Depois se virou para o time. - Minha nossa, Annie, como você é desastrada!

– Sinto muito, Ronald! - Não consegui olhar para ela, mas o tom da voz dela soou como se ela estivesse perdida diante dessa situação.

– Melody, diga alguma coisa! Quantos dedos tem aqui? - Ele colocou dois dedos na minha frente, quase que dentro dos meus olhos.

– Dois, Ronald. Dois. Eu estou bem. - Consegui responder.

– Me desculpe mesmo, gata. - Ele me deu um beijo na testa e se levantou. Tio Alex chegou no mesmo instante.

– Vocês estão bem? Caramba, foi uma queda feia! Consegue se levantar, senhorita Park? - Alex estava preocupado. Não queria deixá-lo assim, então fiz esforço para aparentar estar melhor do que eu realmente estava. Mas confesso que fiquei feliz por ter me livrado daquele sorriso dele.

– Acho que consigo... - Com a ajuda dele, me levantei.

– Théo vai te levar para a enfermaria. Eu preciso continuar as avaliações, por isso tenho que ficar aqui. Ah, não se preocupe com a sua nota, cuidaremos disso depois. - Depois disso ele caminhou até Ronald, para verificar se ele estava bem.

– Oi, Mel. Está tudo bem? - Fiquei feliz ao ver o Théo, mesmo que naquela situação. - Ah, claro que não está. Vamos, se apoie em mim, precisamos ir até a enfermaria.

– Não precisa, Théo. Obrigada, eu estou bem. Vamos?

– Vamos. - Théo sorriu.

Dei uma última olhada na quadra. Os outros já tinham voltado a jogar, mas a maioria ainda me olhava. Principalmente Taty. Disfarcei e segui para a enfermaria.

Quando chegamos na enfermaria encontramos a senhorita Lise Manson sentada no sofá tomando café e conversando com uma outra mulher. Assim que ela me viu levantou rapidamente e veio falar comigo.

– Melody! O que aconteceu? - Se a voz dela não fosse tão doce, eu teria estranhado sua reação. Mesmo assustada ela consegue ser uma das pessoas mais meigas que já vi na Mr. Ly Academy.

– Eu... Caí na aula de educação física e acabei batendo a cabeça no chão... - Fiquei sem graça. Odeio quando a atenção das pessoas centra em mim. Tenho a impressão de que sou uma coitada, ou até de que quero chamar atenção mesmo. E isso não é legal.

– Ah, meu Deus... Vem, vou cuidar de você.

Eu entrei e Lise começou a me dar um remédio para a tontura. Théo ficou aguardando, conversando com a outra mulher que, provavelmente, devia ser a recepcionista da biblioteca. Não prestei atenção na conversa dos dois. Nem na Lise. Só consegui pensar na queda. Ronald em cima de mim. Por mais que tenha sido doloroso - e como foi - tanto pra mim quanto pra ele, meio que valeu a pena. Mesmo desconfiando das atitudes dele e não sabendo o que ele pensa/quer, ainda gosto dele e não posso negar que faria tudo de novo sem problema nenhum.