Não importa o que eu faça, a sensação de que tudo está errado não me deixa.

Ronald e eu ficamos abraçados por um longo tempo. Não falamos mais nada a respeito de Taty. Quando eu chorei, ele me abraçou mais forte e disse que as coisas iam ficar bem. Eu fui parando de chorar, mas a pontada no peito continuou ali, presente.

O celular de Ronald vibrou. Era uma mensagem do seu pai dizendo que estava no estacionamento. Viera buscá-lo, pois realmente tinham outro compromisso.

– Eu tenho que ir. – Ele disse. Ambos estávamos meio sem jeito, mas felizes apesar de tudo.

Ele me abraçou e me roubou outro beijo.

– Obrigada por hoje, Ronald.

– Obrigado por tudo, Mel. – E se foi.

Sentei novamente no banco e respirei fundo. Não imaginei que me sentiria tão mal pela Taty. Eles não têm nada, pensei. Não tem porque ficar assim.

Não me convenci.

Foi um momento incrível, mas me sentir daquela maneira depois... Valia a pena?

No meio desses pensamentos, avistei Théo saindo do salão.

– Théo! – Chamei. Ele me olhou e seguiu andando. – Théo! – Repeti, e corri até ele. Meus pés estavam doendo.

– Taty já foi.

– Théo, escuta...

– Eu não disse nada a ela. – Ele me interrompeu com frieza. Ele não estava olhando para mim. Nem virado na minha direção ele estava. – Não se preocupe.

– Já chega. – Falei, seca. – Nós precisamos conversar.

– Sim, eu também achava, Melody. Até alguns minutos atrás eu achava isso. E foi por isso que vim atrás de você. Mas você estava ocupada.

Pega desprevenida, me mantive em silêncio.

– Eu vi você e esse cara na Fonte Lilás. Vejo vocês no intervalo. Vejo vocês três, incluindo Taty. Não sabia direito o que se passava... Nem sei ainda. Olha Melody, eu sei que eu estou agindo estranho. Só não sei como você não percebeu o motivo ainda. E sabe o que é engraçado? Eu ia te explicar o motivo. Mas sempre que tentei, aquele panaca me atrapalhou de alguma forma. E agora ele estava aqui.

– Ele estava aqui. – Repeti. – E você lá dentro, com Taty. Era pra ser você aqui! Mas sabe lá Deus o porquê, você decidiu convidá-la. Você ia comigo, Théo Silver!

Por um instante ele emudeceu. Eu nunca havia mencionado seu sobrenome. Ele não gostava.

– Eu não a convidei, era esse o ponto. Aquilo não foi um convite. Achei que aquele cara tinha aceitado o convite dela, por isso falei que ela já tinha par. Mas deu tudo errado. Sempre dá tudo errado, Melody. Você acha que Taty e eu estávamos falando sobre quem lá dentro? Ela me perguntou o que eu sentia por você e eu nem precisei dar uma palavra. Falamos do quanto você está linda hoje e sempre. Quando te vi no salão perdi todo o oxigênio. Você está tão linda que dá até raiva.

– ... Taty está muito mais bonita do que eu. – Disse.

– Ela está forçada. Você só prendeu o cabelo e colocou um vestido. Pronto, oitava maravilha. E mesmo sem essa roupa chique, mesmo no dia-a-dia ou até no uniforme da escola, para mim você é a garota mais bonita, simplesmente por ter uma beleza natural.

Aquela conversa estava sem pé nem cabeça. Théo estava irritado, falando tudo por impulso. Onde ele queria chegar?

– E sabe o que Taty me disse, Melody? Que você era uma amiga sensacional. Ela me contou da paixão dela por Ronald e disse que você a estava ajudando desde que soube de tudo. Uau, Melody! Que bela ajuda!

– Théo, essa é só uma parte da história.

– E já é o suficiente para eu mudar minha imagem a seu respeito. Esse tempo todo eu fiquei que nem um idiota sentindo as coisas mais idiotas pelos motivos mais idiotas. Senti ciúme por causa daquele idiota. Senti alegria só por conseguir guardar seu lugar na sala de aula. Eu me sentia feliz só por não precisarmos conversar pra valer, a gente já se entendia só de olhar um para o outro. Até que isso foi passando, você não percebeu o que eu sentia, e acabamos precisando conversar pra valer. E olha só isso... Eu vi que sentir alegria por estar perto de você também era idiotice. Durante esse tempo todo eu não queria ser só amigo seu, mas agora que vi como você é amiga da Taty, nem sei se quero continuar sendo amigo mais. Nem mesmo só amigo.

– Théo, espera...

– Não tenho mais o que esperar, esperei esse tempo todo pra te contar que... Ah, verdade. Quer que eu diga com todas as letras? Eu sou louco por você, Melody Park. Caidinho que nem besta. Mas a gente não escolhe de quem a gente gosta, não é? Bom, chega. – Ele suspirou. – Me desculpe por ter agido que nem um palerma nesses últimos tempos... Foi para pedir desculpas que eu vim até aqui. Enfim, não tenho mais o que esperar. Já me machuquei muito esperando. Até mais.

Eu não consegui dizer uma palavra. Eu queria gritar, chorar e tentar resolver isso de alguma forma, mas as palavras não saíam. Théo sempre fora tão sorridente, tão alegre e divertido... Tinha mudado tanto por minha causa? Estava tão infeliz por minha causa? Tanta coisa estava estragada, a última que eu queria que estragasse seria o coração de Théo; seria minha relação com ele. Mas agora ele tem uma imagem totalmente diferente de mim, e eu não o culpo. Eu queria poder explicar a ele, mas explicar o que? Eu estou errada.

Ele já estava longe quando consegui me mover. Corri. Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Não me senti no direito de correr depois de tudo isso, mas eu não podia ficar parada. Larguei os sapatos e corri. O alcancei e toquei a manga de seu terno.

– Théo...

Ele parou. Não se virou, ficou apenas parado. Eu não sabia o que dizer. Eu queria abraçá-lo e chorar mais. Se ele tivesse me chamado pra conversar antes de Ronald aparecer...

– Taty já foi embora. Ela não viu nada, e não vai ouvir de mim. – Soltei sua manga quando ele saiu andando. Mas senti algo errado.

Sua voz estava trêmula.

Ouvi aplausos vindos do salão. Algo estava acontecendo lá dentro, mas eu não queria mais voltar. Eu não queria ir para lugar algum, porém não queria ficar ali também.

Tudo estava de ponta-cabeça. Não estava ajudando minha amiga como disse que faria. Na verdade vacilei feio com ela. Pra piorar, Théo passou a me achar uma babaca. Não fiquei surpresa em saber que ele gostava mesmo de mim, acho que no fundo eu já sabia. E ainda assim consegui machucá-lo...

Eu não sei como fui parar nessa situação, muito menos um jeito de sair dela.