Passou-se a primavera, verão, inverno… E conforme as estações passavam os dias e os meses também se foram. Até que se passaram dois anos.

Assim como as estações, as pessoas têm a habilidade de mudar. Não acontece com frequência, mas quando acontece, é sempre para o bem. Algumas vezes leva o quebrado a se tornar inteiro de novo. Às vezes é preciso abrir as portas para novas pessoas e deixá-las entrar. Na maioria das vezes, é preciso apenas uma pessoa.

Minha vida mudou muito nos dois últimos anos e eu mudei também. Mudei sem oferecer a menor resistência. Mudei sem me surpreender com as mudanças. Elas simplesmente apareceram, aconteceram me invadiram e se instalaram. Então, eu finalmente me senti em casa dentro de mim mesma.

Nesse tempo que se passou, aprendi uma lição. Devemos virar a página. Dá um ponto final nas coisas que nos fazem mal. À vida é um círculo, não um quadrado. Temos que ter pressa de ser feliz, por que nós não sabemos quanto tempo nos resta. E é isso que estou fazendo. Tudo de ruim ficou para trás e desde o dia que sai do avião e pisei aqui, nesse novo país, eu comecei a minha vida do zero, e ela não poderia ser mais perfeita do que já é.

Tantas coisas aconteceram que ás vezes me pergunto se minha vida é como um filme e está em modo avançar. Mudei-me daquele internato, junto com meus amigos, ganhei uma mãe e um pai e não posso imaginar uma felicidade maior que a que estou sentindo nesse exato momento e agora, já estou com 16 anos.

–Alice!- Sou afastada de meus devaneios por uma bolinha de papel que é arremessada em minha cabeça. Olho para trás e vejo Fernanda e Lucas que estavam sentados na última fileira e riam por eu estar viajando em meus pensamentos. Dou um sorriso para eles e me volto para frente. Tento prestar atenção na aula, mas aquelas equações não entravam em minha cabeça de jeito nenhum. Longos e torturantes minutos se passam até que finalmente o sinal toca, anunciando a hora do intervalo. Levanto-me feliz e vou ao encontro de Fernanda e Lucas

–O que houve com você? Nem prestou atenção na aula- Fernanda diz

–Estava viajando... Mas então vamos para a cantina? Estou morrendo de fome- eles assentiram e fomos andando. Sinto um braço me envolver pela cintura, olho para Richard que tinha um enorme sorriso.

–Hoje vou te levar para um lugar especial

–Ah é? Onde? – pergunto curiosa

–Não posso contar, é surpresa.

–Ah , por favor...- digo fazendo biquinho- Vai me deixar curiosa?

Ele pensa um pouco e logo responde

–Claro

–Você é malvado

–Não sou não... Poxa pequena, não posso dizer- ele diz dando um beijo em minha bochecha.

–Tudo bem... Não vou insistir, mas vamos logo para a cantina que eu estou morrendo de fome- digo dando ênfase no morrendo.

–E quando você não esta com fome hein?- ele pergunta rindo

–Puxa obrigada por me chamar de gorda

–Você não é gorda! – Ele diz tirando o braço da minha cintura e entrelaçando nossas mãos. Fomos andando até a cantina nos encontrando com Lucas e Fê. Comprei o meu lanche e imediatamente devorei-o. Passamos o resto do intervalo conversando como é de costume. O intervalo acabou e fomos obrigados a passar mais três longas horas até que o sinal anunciou o final da tortura. Nossa casa ficava a apenas uma quadra da escola, por isso sempre íamos e voltávamos a pé.

Assim que chegamos, corro escada acima, em direção ao meu quarto. Troco meu costumeiro uniforme por uma calça jeans e uma regata. Prendo meus cabelos –que diferente de antigamente, agora são longos fios lisos- em um coque frouxo e desço as escadas, me encaminhando até a cozinha. Todos estavam sentados na mesa, com exceção do senhor Hangen, que por ser um renomado médico, provavelmente está realizando uma cirurgia de emergência. Me junto a todos e saboreio o delicioso almoço que Ligia preparara, tão bem. Quando todos acabam de comer, cada um vai para o seu lado. A senhora Hagen, foi para o trabalho, diferente do pai de Fernanda, ela não é médica, mas sim, advogada. Fê e Lucas foram para seus respectivos quartos, sobrando somente eu e Richard naquela enorme mesa. Ele me fitava com seus olhos azuis, e mesmo que estivéssemos namorando a bastante tempo, conseguia ficar corada ao ficar sendo observada desse jeito.

–Vamos? – ele pergunta me afastando dos meus pensamentos

–O que? Para onde?

–Se esqueceu da surpresa?

Nego com a cabeça

–Então vamos?- Vou até meu quarto e pego minha jaqueta, depois saímos indo até a garagem, mas antes que eu pudesse entrar no carro ele me repreende

–Primeiro, tem que vendar os olhos...

–O que?

–Ah vamos pequena, faz parte da surpresa.

–Tudo bem- digo e ele dá um sorriso e depois pega um pano e imediatamente venda meus olhos. Richard me guia e após entrarmos no carro, ele dá a partida. Não sabia para onde estávamos indo, mas julgando pela demora, o lugar era longe.

–Chegamos!

–Posso tirar a venda?

–Ainda não.- ele sai do carro e dá a volta vindo ao meu encontro, Ele me ajuda a sair e depois envolve a minha cintura com seu braço, me guiando enquanto eu andava sem rumo.

–Vai demorar muito?

–Não, só um pouquinho.

–Pronto, chegamos- Richard diz em meu ouvido, o que me deixa arrepiada. Ele dá um beijo em meu pescoço e depois lentamente coloca a mão em meus olhos, retirando a venda. Minha visão demora um pouco a voltar ao normal, pela grande quantidade de luz, mas quando volta , pisco algumas vezes, para ver se aquilo realmente era verdade. Não pude deixar de ficar admirada.

–Nossa é lindo

–Gostou?

– Claro- digo dando um sorriso e imediatamente dando um beijo em Richard

O sol quente da tarde deixou o momento ainda mais perfeito. Estávamos em um lugar que eu não conhecia, mais era lindo. Havia um enorme lago e estávamos caminhando pelo cais. Richard entrelaçou nossas mãos e andamos até chegar ao final do cais onde havia vários jets skis.

–Aluguei um- ele diz dando um sorriso me deixando chocada

–O que? Você sabe andar nisso?

–Sei... Vamos?

Meio relutante, aceitei. Richard subiu no Jet ski e me estendeu a mão. Ele me ajudou e eu me sentei atrás dele. Agarrei-o pela cintura, com medo de cair. Ele dá a partida e não posso descrever a sensação. O vento batendo em meus cabelos, e as ondas que se faziam . Me traziam uma sensação de liberdade. Aquele dia estava sendo perfeito e eu não gostaria que acabasse tão cedo... Finalmente estava vivendo a felicidade. Mas uma coisa eu percebi, não importava onde eu estava, desde que estivesse com Richard, tudo estaria perfeito. 

-Richard-Chamo-o e ele me encara -Eu te amo

-Eu sei

-O que? -Pergunto incrédula...-Convencido!-digo dando um tapa em seu ombro.

 -Um convencido que você ama

-Tem razão, eu te amo

-Muito?

-Muito!-Digo dando um enorme sorriso

-Eu também te amo minha pequena-ele diz por fim e sela nossos lábios em um beijo.