Levantei da cama de casal, e aí que eu tinha percebido. Que roupa é essa?

Eu usava apenas uma camiseta branca meio transparente, que deixava aparecer toda minha lingerie. E um colar estranho, que nunca tinha visto. Mano, o que está acontecendo?

O mais rápido que pude, dei duas passadas em direção a porta. E não estava trancada. Eu a abri, espiando lá fora. Nenhum movimento.

Seja lá onde quer que eu estou, estou sozinha. Ok.

Coloquei a ponta de um pé como princesa no chão de leve, e depois o outro. Tentava ser o mais silenciosa possível, mas não estava dando. O chão fazia um barulho estalado a cada passo que eu dava. Não dava para disfarçar. Então, explodi. Pisei normalmente no chão, explorando a casa.

Aparentemente, parecia um apartamento, mas maior. O sofá era grande, e a televisão, mais ainda. Parecia a de um milionário mal cuidado. Em cima da mesinha de centro, um pote de pipoca pequeno, um tipo de cinto e papel de chocolate. Quando cheguei mais perto, vi também que o sofá estava limpo, apesar da mesinha. Fazendo uma análise de perfil: milionário limpo porém descuidado.

–Explorando o local?

Meu coração parou de bater, e nem parei para reconhecer a voz. Me virei automaticamente para trás com uma almofada na mão, pronta para o ataque. Mas a figura que vi me deixou um pouco menos estressada. Harry estava bebendo uma lata de chá gelado, usando uma calça jeans e sem camiseta. Suspirei, e taquei aquela almofada em sua cara.

–Ai! Tá louca?!

–VOCÊ! vOCÊ ME RAPTOU! VOCÊ ME SEQUESTOU?!

–Calma, Sammy... Relaxa!

Depois de abrir a boca instintivamente, taquei outra almofada e ele deu outro grito, mas essa conseguiu desviar de suas narinas enormes.

–IDIOTA! IDIOTA DESGRAÇADO! COMO CONSEGUIU ENTRAR NA MINHA CASA?!

Ele fez uma careta estranha, depois começou a rir.

–Você não se lembra de nada que aconteceu ontem? Nada?

–E eu deveria? - falei, logo depois de jogar a última almofada, dessa vez mais forte que as outras, que quase pegou em sua barriga nua. Mas aí que caiu a ficha.

–Eu... Eu não acredito que.. A gente...?!

–Não! não pense nisso nem por um segundo! - Harry disse, se aproximando de mim. Ele era mais alto, e eu fiquei na linha de seu tórax totalmente definido. - Eu nunca faria sem seu consentimento, amor.

Sua mão foi se aproximando de meu rosto, mas eu a tirei rapidamente. Cruzei os braços, levantando as duas sobrancelhas.

–Tá. Quer a explicação inteira? - ele disse, sorrindo. Mas senti um pouco de angústia em sua voz.

–Tente. Tente explicar, ou ligo para a polícia.

–Ok. Mas do que se lembra? Estava em sua casa, e...

–E... - revirei minha mente. - Não! Estava no trabalho, e fui para a casa da Carls. Aí, ela me mostrou um vestido ridículo...

Foi quando eu lembrei que estava praricamente sem roupa nenhuma na frente de Harry. Cobri meu corpo rápido. Merda.

Ele riu da minha cara, enquanto eu pegava a almofada para cobrir meus peitos.

–Relaxa. Não queria falar nada, mas você dormiu na minha cama, com a minha camiseta. Eu te vesti.

–Cala a boca.

Harry deu outra gargalhada, tirando a almofada da minha frente e me pedindo para continuar. Eu abaixei a cabeça, morrendo de vergonha, mas continuei.

–Ela me mostrou um corpo... Quer dizer, um vestido! Ela me mostrou um vestido ridículo amarelo mostarda, e nós pegamos um táxi... Só isso que me lembro. Vai, desembucha. O que aconteceu?

Harry coçou os cabelos por baixo da touca verde desbotada, mordendo os lábios.

–Já vou logo avisando: você não vai gostar nada.

–Fala logo, Styles!

–Tá, tá. Rápido e indolor: te encontrei na festa dançando sem vestido numa mesa e te trouxe para minha casa. Você estava bêbada, e quase fez um 'strip tease' na frente de todo mundo da cidade. O que não seria nada mal mas eu não poderia deixá-la fazer isso se não fosse só para mim. E não se preocupe, todos estavam bêbados e inguém vai se lembrar de nada. Fim.

Abri a boca, incrédula.

–Eu não acredito que fiz isso. É mentira.

–Pergunte ao seu amiguinho Freddie Benson. Ele veio todo metidinho querendo te levar pra casa, mas estava com aquela outra garota feia e nojenta. Madison? Alguma coisa assim.

–Ele estava na festa com a Madisen? - disse, desapontada.

–Sim. Mas, continuando. Te trouxe para casa, te coloquei para dormir, você disse que eu era lindo e gostoso e começou a roncar feito um porco engasgado.

Dei risada, e ele riu junto comigo. Não posso negar: Harry era um fofo e perfeito. Aquele corpo, aquelas piadas sem graça, aqueles olhos. Aquele sorriso. Pareciam ser feitos para mim.

–Mas você... - pigarreei, com vergonha.

–Prometi que não ia sair de lá até você finalmente capotar. E cumpri minha promessa.

–Fui eu que te pedi isso?

Harry assentiu, fazendo que sim com a cabeça. Eu sorri. Sempre pedia isso para a minha mãe quando pequena. Eu dizia: "não saia da minha cama enquanto eu não dormir". Ela quase nunca ficava, mas valia a tentativa. Mas a dor enorme na minha cabeça voltara, me fazendo gemer de mal-estar.

–Ressaca?

–Uma das piores. Me leva pra casa?

–Claro, Sammy. Aliás...

Meu celular, que estava num balcão perto da cozinha, começou a vibrar loucamente. Fui até lá, e vi aquele nome que sempre me irritava. Freddie. Ele estava me ligando.

Mas uma sombra me pegou de surpresa quando chegou no celular antes que eu.

–Alô? - deu uma pausa, mostrando uma linguinha pra mim. - Ah, Benson. Mas que surpresa agradável. - até um surdo perceberia a irronia na voz de Harry. - Sam? Ah, sim. Ainda não acordou. Mas não se preocupe, talvez eu avise que você ligou. - agora, sorriu torto. - Ué, não ficou claro ontem? Eu disse que a levaria para casa, e foi o que eu fiz. Dormi com ela.

Ele desligou o iPhone, colocando-o de volta no balcão e sorrindo para mim. Eu não aguentei: gargalhei e lhe dei um enorme soco no braço.

–Não deveria ter feito isso, idiota.

–Não disse nenhuma mentira, ou disse? - Harry me olhou, malicioso. - Que ele entenda como quiser. Admita: eu sou demais.

–Vai me levar pra casa e me pagar um sorvete?

–Claro.

–Você é demais.

–Eu sei.

Levantei a sobrancelha direita de novo, e Harry deu uma apertadinha de leve em minha bochecha, voltando para a cozinha. Mano, que bunda gostosa.

–Pare de sonhar com o meu corpo nu e vá se trocar, loira. Se quiser ajuda pra desabotoar o sutiã, é só gritar.

–Cala a boca.