Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 50
Interlúdio :: Van Qüine


Notas iniciais do capítulo

Para nosso 50º Capítulo, um pouco maior que o convencional. No entanto, recomendo uma releitura do capítulo #37 para em caso de eventuais dúvidas.



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Os dias têm seguido longos e cinzentos, acompanhada de uma excruciante dor onde esse corpo jamais foi capaz de experimentar antes. Nem a mais poderosa lança ou sagrada espada foi capaz de abrir feridas tão profundas para criar esse vazio onde não há nada capaz de preenchê-lo.

 Sob estas estrelas fizemos inúmeras promessas, tantos planos foram criados para quando retornássemos. Jamais houve desconfianças, sempre fomos aliados um do outro, confidentes dos crimes... mas quando e onde seguimos caminhos tão diferentes?

 Não sou capaz de acreditar no que dizem.

Sou incapaz de crer que isso seja verdade.

Acredito que você jamais faria o que dizem que fez.

A dor que sinto nesse instante, é a sua dor!

Sempre compartilhamos tudo, sempre fomos um, por isso sei que não seria capaz da tamanha atrocidade mesmo que a tenha visto destruída, o horror expresso em seus olhos, a sombra do desespero que se abateu em seu semblante sempre tão radiante.

 Não, eu me nego acreditar.

Eu sei que não fez isso e quero provar a todos.

Eu quero trazê-lo de volta!

 Mas essa dor...

Essa dor está me consumindo a cada dia, a cada instante.

Por muitas vezes falta-me ar, não mais sinto o doce gosto do vinho, nem mesmo busco pelos prazeres.

Os dias são longos, as noites frias e torturantes.

Vejo sombras esgueirando-se ansiando que seja qualquer um, mas são apenas as minhas lembranças dolorosas.

 Nesse momento, ouço a chuva cair, tão intenso quanto minhas lágrimas, tão fria quanto a minha alma.

O vento sopra de tal modo como se pudesse ouvir seus gritos ecoando distante, e isso me desespera.

Eu o chamo, clamo por ti, mas apenas me volta o silêncio.

Em meu breve sono, eu o ouço chamar por mim, implorar pelo meu perdão, ser sufocado por uma culpa.

 

E essa chuva...

Oh, minha e somente minha estrela...

 

Uma pequena gota caiu sobre aquele pergaminho e surpreendendo Qüine. Quando tocou seu rosto, percebeu que chorava sem que nem ao menos percebesse. "Por que isso...?", perguntava-se limpando o fio de lágrima. Não era a primeira vez que aquilo acontecia.

O que tinha em mãos era um testamento separado em seis pergaminhos do qual Qüine demorou organizar a ordem de leitura. Estavam enrolados dentro de um estojo amadeirado, guardado cuidadosamente numa caixa metalizada em bronze bem ornamentada com ramo de flores em toda sua estrutura (leia o capítulo #37). Somente ao ler o primeiro foi o suficiente para compreender o que era aquilo: uma despedida.

O primeiro texto havia uma grande mistura de sentimentos, ora nostálgicos ora tristes, e Qüine assimilava tudo aquilo respondendo a cada momento dos parágrafos ali narrados. Da euforia à angústia, da ânsia ao desespero.

Naquela primeira noite, mal dormiu imaginando as mãos trêmulas, as lágrimas caindo sobre o pergaminho enquanto escrevia — pois percebeu as manchas em algumas letras — e da dor de quem transcreveu aquilo. O próprio Qüine se viu chorando de maneira incondicional durante e após a leitura.

Na manhã seguinte buscara um bom esconderijo para guardar aquela pequena relíquia. Pensou em levar para Kiki, mas voltou ainda da porta do quarto de seu aposento em Gêmeos ao pensar na possibilidade de nunca mais ver aqueles documentos tão raros. "Conhecendo Kiki, ele vai confiscar isso de mim dizendo ser confidencial", pensou na ocasião.

Por mais angustiante foi ler o primeiro daqueles seis pergaminhos, ainda desejava saber mais sobre aquilo, mas passando a adiar sempre como se algo o impedisse. "Do que estou com medo? É apenas o testamento de alguém que viveu há muito... muito tempo...!", pensou Qüine sempre que pensava em pegar a caixa e ler mais sobre, mas sempre desistindo por alguma razão desconhecida.

Certa manhã, no entanto, após pernoitar junto de Antares, foi rendido por Psychē, a Amazona de Ouro de Peixes, que foi levar rosas vermelhas para a 'mascotinha'. Ela já estava a fazer turno com Qüine naquela última semana pela ausência de Kiki que precisou viajar urgentemente para Jamir.

— Quem deu esse apelido de 'mascotinha' pra ela, hein...? — indagou Qüine alongando o corpo ao ser despertado pela Pisciana.

— Merikh, quem mais? — respondeu ela arrumando as rosas vermelhas e perfumadas ao lado da cama da garota. — Antes era eu, quando ainda era sua aprendiz, mas Antares 'roubou' o meu posto... — e fez uma careta manhosa e rindo, piscando e mordendo a língua de lado. — Agora, seremos Antares e eu, enquanto você vai se exercitar um pouco. Lembre-se do que Kiki disse.

— Eu sei... — riu ele enquanto guardava o diário na bolsa. — Se ela reagir, acordar... sei lá. Você me chama?

— Chamo sim. Não se preocupe. — disse Psychē, tranquilizando o rapaz que deixou o quarto, mas não sem antes olhar mais uma vez a jovem adormecida e brincar com seu cabelo.

Havia sido um dia exaustivo, mas promissor. Voltara a Áries por mais duas vezes naquele dia, encontrando até mesmo o misterioso Cavaleiro de Virgem junto de Antares. "Ele tem um dom de cura que tem ajudado na sua recuperação", disse Kiki nos primeiros dias de enfermo da jovem.

Raramente Qüine o via. A sua aura emanava uma serenidade incomum, o que ajudou acalmar o Gêmeosano no dia que encontrou a 'mascotinha' gravemente ferida. Verdadeiramente sentia-se grato por ele muito ter ajudado nas feridas dela. Entretanto nunca mais o vira desde aquele dia, senão àquela tarde.

Voltou ao anfiteatro pelo resto daquele dia, voltando já próximo do escurecer quando foi para se banhar e aguardar o jantar, para depois assumir o turno daquela noite em Áries para junto de Antares. Apenas descansaria um pouco, alongando o corpo e os braços fortes no alto da cabeça.

Mantinha-se sem camisa de modo a deixar o corpo 'respirar' após um dia quente, vestindo somente uma calça simples, abaixo da barriga chapada marcada pela musculatura.

Por fim, espreguiçou-se, girando o pescoço grosso, enrijecido e meio doloroso, imaginando que uma massagem iria bem naquele momento. Foi quando olhou para a parede e vendo a pedra que guardava aquele tesouro mais para fora.

Tinha intencionado tomá-lo há algumas noites, mas desistido porque havia sido chamado por Kiki avisando de sua partida, deixando as recomendações para seus treinos — ele o avaliaria quando retornasse. Porém, naquele instante, sentiu-se impelido a tomar aquele documento, devorando o segundo pergaminho de testamento.

 

De todos os meus irmãos, você foi o que eu mais amei. Éramos inseparáveis nos jogos, nas travessuras infantis e nos castigos. Nas guerras, nas derrotas e nas conquistas.

 Aos seis anos de idade, fui levado ao Mundo Celeste. Meu irmão me acompanhou por pura insistência, e lá soubemos o nosso destino: treinaríamos para lutar em nome dos deuses. Como crianças de nosso povo, ficamos eufóricos por isso, até o momento em que fomos apresentados ao homem que nos treinaria.

 

Ele era chamado de "o Caçador" por todos, Comandante das forças de Apollo, sendo ele a nos impor um árduo treinamento, castigando-nos sem medo algum por quem eu era. Ele nunca demonstrava suas emoções, não falava mais que o necessário e quase nunca nos elogiava. Era mais lacônico que um soldado espartano.

 Ao fim de nosso treinamento, retornamos para o Mundo dos Homens, mas o sabor da liberdade fora algo tão tentador que mal nos demoramos em casa (...) Navegamos e lutamos. Nos sentíamos vivos, até o dia em que decidimos voltar e tentar nos reestabelecer de vez. Contudo, Poseidon nos atacava em nossos portos. Meu irmão e eu fomos defender nossa terra. (...) Este era nosso dever...

 Talvez eu devesse ter mantido o meu plano original (...) Mas tudo o que fiz, foi me juntar aos guerreiros, os Cavaleiros de Athena, juntamente com o meu amado irmão.

Qüine tentou continuar lendo, mas havia um imenso borrão no parágrafo seguinte. Conseguia identificar algumas palavras soltas, juntar algum contexto. Resumidamente, compreendeu que os dois irmãos haviam reencontrado com seu antigo mentor, mas que ele havia se mostrado um demônio sádico na guerra. Um duro golpe aos dois jovens que seguiam seus ideais nos longos dias Celestiais.

Nem mesmo viu o tempo passar enquanto lia aquele segundo pergaminho, sendo este menos perturbador que o primeiro, ainda que pudesse resumir às lembranças dolorosas de algo que se transformou. Aquilo fez o rapaz ficar pensativo, voltando seus olhos para o diário que pertenceu à sua mãe.

Eram também recordações de sua convivência com seu pai e seu tio, além de outros Cavaleiros de Ouro que antecederam aquela geração do qual estava para ser parte. No entanto, em algum momento, sabia que haveria mudanças que levaram à tragédias como narrava aquele documento em suas mãos.

"QÜINE?"

O jovem acordou do devaneio ao ouvir gritarem seu nome, deixando o pergaminho de lado e levantando-se. Por um instante, temeu ser algo com Antares, já que pediu que o chamassem caso houvesse alguma novidade. Estava tão entorpecido ainda pelo que leu que nem mesmo reconheceu a voz, senão quando surgiu próximo à escada.

— Kiki! — sorriu ao ver o irmão ainda com as vestes típicas de Jamir, no centro do templo no pavimento térreo. Qüine estava ainda nos primeiros degraus, no alto. — Quando chegou? Não tem muito tempo que passei em Áries, mas não o vi por lá.

— Cheguei há algum tempo, mas estava com Athena e o Grande Mestre. — sorriu ele. — Por acaso não jantou ainda, não é mesmo? Não quer fazer companhia para esse seu irmão emprestado? — brincou ele olhando para cima.

— Claro...! — respondeu Qüine com um sorriso, mas logo sumindo ao se dar conta de algo. — Ah... Eu vou apenas... vestir algo. Estou... — e mostra o torso nu, coberto parcialmente pelos cabelos escuros pousados sobre um dos ombros largos e trabalhado pelos anos de treinamento. — Não me demoro!

Qüine subiu rápido, avançando em direção ao quarto. A sua ação foi fechar a porta e manter-se ali, ainda por alguns segundos, enquanto olhava para a cama. Os pergaminhos estavam ali, espalhados. A última coisa que queria, naquele momento, era de que Kiki encontrasse aquilo e questionasse de o porquê não ter entregue aquilo, ou pior: onde encontrou.

O rapaz enrolou cada um deles e guardando de volta ao estojo e à caixa metalizada, sempre olhando em direção da porta esperando que Kiki não subisse e encontrasse aquilo. Guardou de volta à parede e pressionando a pedra de modo a escondê-la, invisível a olhares curiosos. Buscou uma blusa limpa e cobriu o corpo musculoso trabalhado naqueles anos.

Descia rápido as escadas, não encontrando Kiki próximo dali, somente quando chegou aos pés que o viu junto à Armadura de Ouro de Gêmeos.

— Confesso que estou ansioso para vê-lo usando essa Armadura, Qüine. — confidenciou Kiki o fitando, vendo o rapaz a pouco mais de 3m de onde ele estava.

— Eu sei. — ele respondeu simplesmente, alternando do ariano para a indumentária. — Eu também, mas...

— Sabe o que fizeram para o jantar? Moussaka! — comentou Kiki cortando abruptamente a fala de Qüine, surpreendendo-o. — Acompanhado com aquele tomate recheado que adora. — e viu o rapaz sorrir, baixando a cabeça. — Enquanto comemos... — o lemuriano se aproximou, puxando-o pelo ombro, saindo de Gêmeos. — Quero saber o que aconteceu em minha ausência.

O jovem apenas sorriu, assentindo para o irmão e acompanhando-o. Kiki ansiava pela decisão do 'irmão', mas entendia o porquê de sua hesitação, e temia por isso.

"Qüine, espero que os acontecimentos não o façam abdicar de seu destino e seu legado, mas quem sou eu para censurá-lo caso assim o faça?", pensou o lemuriano com aperto no peito.

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Apenas os dois usufruíam do jantar. Psychē apenas 'roubou' um Gemista, um tomate recheado com arroz e cozidos com molho e azeite do prato do Gêmeosano que não necessariamente reclamou, mas rindo da ousadia da Pisciana que seguia para o patrulhamento da noite. Verdadeiramente estava 'desligado', sendo notado por Kiki devido seu silêncio e pouco comer algo que ele tanto gostava.

— E então... — começou Kiki, após engolir uma garfada e repousar o talher no prato, conseguindo a atenção de Qüine. — Psychē me contou que tem treinado todos os dias no anfiteatro, em grupo até.

— Ahn, sim. — respondeu Qüine, abocanhado uma porção, pedindo um instante para engolir a comida. — Fizeram uma espécie de gincana para testar a interação em grupo, como atuariam com estratégias e tudo mais. Claro, sem a presença do Lagartixa que continua detido.

— Lagarto. — corrigiu Kiki fitando-o, vendo Qüine assentir em concordância.

— Sim, a essa Lagartixa mesmo. — comentou o rapaz de cabelos escuros.

"Desisto...!!", pensou Kiki, deitando a cabeça no braço apoiado na mesa para fitar o irmão ainda irritado com o que o Prata teria sido responsável à Antares.

— O pessoal parece mais à vontade quando ele não está ali. E foi bacana. Eles me chamaram e conversamos bastante, sobre muitas coisas nos intervalos... — contou Qüine e bebeu pouco de água. — Inclusive sobre o que chamam de 'Sombras no Santuário'.

Aquelas últimas palavras deixaram Kiki mais sério, fazendo-o ficar ainda sentado, mas ereto na mesa enquanto o via comer mais algumas garfadas da moussaka.

Aquele período era, nada menos, aquele do qual Saga, seu pai e Cavaleiro de Gêmeos, tomou o Santuário por longos 16 anos. Não era uma época de boas lembranças, mas um tanto autoritária e com uma política radical que dividiu, e muito a ordem dos Cavaleiros. Não era algo do qual ariano sentia-se à vontade de conversar com Qüine.

— E o que eles disseram, Qüine? — indagou Kiki num tom preocupado, fazendo o jovem olhá-lo intrigado por aquela reação.

— O que eles poderiam me contar o que não sei, Kiki? — agora era a vez de Qüine repousar o talher no prato e limpar a boca com uma toalha. — Disseram o que todo mundo diz. Ser uma época de medo, de terror...

— Qüine, já conversamos sobre isso. O que aconteceu já foi explicado... — tentou Kiki explicar aquilo.

— Kiki, mais cedo mais tarde eu vou saber. — comentou um Qüine sério, bem diferente do garoto displicente e provocador que geralmente se via. Até seu semblante era mais madura naquele momento. — As pessoas tinham medo dele, independente se ele era ou não o responsável direto por isso. E eles, esses aspirantes, só sabem aquilo que ouviram, eles mesmo disseram. Claro que vão comentar sobre isso.

— Eles sabem... — indagava Kiki, mas ouvindo um 'Não!' imediato de Qüine.

— Não, eles não sabem que sou filho desse 'homem que mergulhou o Santuário em trevas'. — e Qüine franziu o cenho. — Embora haja pessoas, anciões em Rodório, dizerem que eu lembro demais certo Cavaleiro muito bondoso.

Um breve silêncio, quebrado com bater das mãos de Qüine sobre a mesa, mas não violento. O rapaz parecia buscar palavras, forçando um riso enquanto tentava.

— I-Isso... Isso que é estranho. — disse finalmente, como se algo o desengasgasse. — Como alguém visto como sendo tão bom, poderia ter feito algo assim, Kiki? E-Eu... Eu não entendo...!

— Qüine, ninguém sabe explicar o que exatamente aconteceu. O que se sabe é que seu pai parecia lutar contra uma força maior que o controlava, mas o quê... ou quem... jamais se soube. — Kiki tentou tranquilizá-lo, embora não o visse aborrecido, somente confuso e injuriado com tudo aquilo. — Não deve acreditar em tudo que ouve...

— A minha mãe era apaixonada por meu pai, Kiki. — Dizia Qüine voltando olhar o irmão. — O que ela escreve dele é de uma admiração invejável... e ela era correspondida por ele pela maneira que conta. Ela fala da relação de meu pai com Aiolos, da amizade dos dois... e como isso se transformou a ponto de meu pai acusá-lo injustamente de traição...?

Kiki engolia a seco, parecendo absorver a angústia do garoto à sua frente, com o olhar perdido, piscando para controlar a calma e a emoção que aflorava naquele momento.

— Eu só tinha sete anos quando tudo... explodiu, digamos assim. — comentou Kiki. — Não conheci seu pai antes de tudo isso, somente sei pelo que meu mestre, Mu de Áries, contava. — suspirou. — Mas o que ouvi dele, era exatamente ser alguém de bom coração, exatamente como sua mãe deve falar nas folhas daquele diário e é aquele homem que era seu pai, Qüine. O que aconteceu depois, não foi culpa dele!!

— Mas é sua imagem que todos temiam, mas não creio que minha mãe vá falar sobre essa face maligna dele que todos dizem. — Qüine fez uma careta, cortando uma fatia do tomate recheado.

— Também acredito nisso. — disse Kiki fitando-o. — Ela lhe deixou esse diário exatamente para que você conhecesse a verdadeira face de seu pai, não essa... sombra, como dizem.

Qüine assentiu, seguida de um longo suspiro enquanto batia de leve com o talher no prato ainda com a metade da moussaka. Adorava aquilo, mas não sentia verdadeiramente fome, e aquele assunto pareceu tirar o pouco da fome que sentia.

— Desculpe. — lamentou Qüine olhando para o lemuriano. — Não queria estragar o jantar com uma conversa dessa. Apenas...

— Eu sei. — sorriu Kiki ainda o fitando, esticando o braço sobre a mesa e tocando ao do Gêmeosano. — Imagino que queria conversar sobre isso, e acredito que não se sinta à vontade com qualquer um aqui ainda.

Qüine esboçou um sorriso, novamente anuindo àquela conclusão. Ansiava sim pelo retorno do irmão para conversar, 'esvaziar' a mente de tudo aquilo — embora outra parte ainda manteria confidencial quanto aos documentos que lia, ainda que se sentia impelido a conversar sobre alguns pontos curiosos.

— Nada contra Psychē... — dizia Qüine coçando a cabeça, jogando o cabelo para trás, — Temos conversado ao longo dessa semana quando um rendia o outro para ficar com a Antares, mas... — faz uma careta. — Não me sinto tão à vontade de conversar essas coisas com ela. Com Merikh então... — e se arrepia, involuntariamente. — Ele me dá certo medo.

— Tudo bem... — um sorriso discreto renasceu em Kiki. — Não conto a ele se também não contar que também sinto medo dele. — e os dois riram. — Mas, não o culpo. Isso é mais da sua aura que emana isso, ou a mortalha que carrega com ele.

— Mortalha...? — Qüine para o garfo no ar, pouco antes de tentar comer mais uma fatia de sua moussaka. — Que mortalha?

— Espero que não pense que aquilo em suas costas seja uma capa como de minha armadura. — Kiki franziu um cenho e arqueando outro.

— Ahn... Isso é ruim? — Qüine fez uma careta, não sabendo se deveria ter perguntado aquilo.

— Lembrando que a mortalha envolve os cadáveres, já deve imaginar que seja algo bem perturbador. Para ficar ainda pior... — Kiki come um pedaço do tomate recheado. — A sua mortalha é formada por almas que juraram servi-lo. Portanto, recomendo jamais tocá-las!

Apenas o som do talher caindo se ouviu, acompanhada de um engolir a seco de Qüine que pareceu empalidecer com aquilo.

— Ok! — respondeu o rapaz após se recompor, sob o olhar de Kiki que queria rir com aquela reação. — Vamos mudar de assunto e me fala o que foi fazer em Jamir? — questionou, numa tentativa de sair daquela conversa enquanto servia-se de dois copos seguidos de água.

A mudança do assunto ajudou os dois acabarem de digerir o jantar, até despertando maior apetite em Qüine.

Kiki narrava algumas situações corriqueiras, provocando certa saudade das festas e reuniões no vilarejo mais ao pé da montanha onde se concentrava os lemurianos — acabando por lembrar de suas fugas e fazendo os dois rirem, principalmente nos primeiros meses do jovem alemão naquelas terras relutando em sua adaptação.

Por fim, seguiram para o pátio onde continuaram a conversar, ganhando novamente ares preocupantes, desta vez por parte do lemuriano e a real causa de seu chamado urgente.

Havia grande preocupação de todos com Kiki no Santuário e todos praticamente exigindo que não somente retornasse, mas que abdicasse de sua posição de Cavaleiro. Qüine sabia bem o porquê.

— Então por isso ficou a conversar com Grande Mestre Atla? — indagou Qüine apoiado na marquise que dava para o anfiteatro, vazio àquela hora. — Eles querem que seu Príncipe volte para Jamir?

— Eles temem que outra Guerra Santa possa ceifar o 'único descendente da linhagem real'. — Enfatizou Kiki com aquelas últimas palavras. — Mas, eu não os censuro por isso. O meu povo tá se extinguindo, Qüine. — e o rapaz se voltou para Kiki, vendo-o forçar um sorriso. — Após tanto tempo, estamos realmente ameaçados.

— Não estão ameaçados, Kiki. Vocês são um povo forte e eu posso garantir isso. Já superaram tantas adversidades... — o Gêmeosano se colocava de pé. — Por que isso agora?

— Houve um tempo que tínhamos um Conselho de Anciões em Jamir, e o mestre Atla é o único ancião de fato de meu povo que restou. — suspirou Kiki, olhando para o Santuário. — Não existe mais esse Conselho. Fora que muitos acham que alguns poucos ainda carregam os antigos costumes de Lemúria, sem contar que tem se perdido... nosso gene, digamos assim.

— A pureza de seu povo, eu saquei. Não me ofendeu. — Sorriu Qüine olhando para um Kiki levemente corado por aquilo. — Seguindo a genética, sou 25% lemuriano, uma vez que minha mãe era 50% porque meu avô era um genuíno de seu povo. — Qüine riu, fazendo Kiki sorrir. — Eu sempre fui muito bem recebido por todos, Kiki, mas entendo bem que gostariam manter uma parte pura de vocês. Trata-se de identidade, uma questão mais étnica... única.

— Imagine então a pressão que esperam de mim querendo, ao menos um herdeiro. — disse ele sem-jeito, provocando risos no Qüine. — E como poderia providenciar isso sendo um Cavaleiro?

— Isso deveria ser um problema?! — e recebeu um leve soco no ombro, com os dois rindo. — Isso me levanta uma dúvida... Se a psicocinese é uma herança genética masculina, entendo que minha mãe tenha herdado de seu pai, mas... e eu? — apontou para si. — Como posso ter herdado isso de minha mãe?

— É bem raro isso acontecer, tal como um lemuriano não herdar a habilidade. No entanto... — Kiki era didático em suas palavras, mantendo o olhar sob Qüine. — As suas habilidades psíquicas absorvem pouco de seu Cosmo para tornar possível seu teleporte, por exemplo. Não vai exigir tanto com telecinese, ler mentes, ou psicocinese, mover objetos, mas debilitá-lo com teleporte enfraquecendo-o. Recomendo evitar usar duas habilidades simultaneamente.

— Vou me lembrar disso. — respondeu Qüine jurando ao irmão.

Voltou-se para em direção do anfiteatro, mas mais focado no céu limpo e iluminado pelas estrelas. Era algo do qual ele, e mesmo Kiki, apreciavam até mesmo em Jamir. Inclusive, o lemuriano comentava do ‘show de cometas’ únicos visto do castelo, de como as estrelas pareciam mais brilhantes favorecido, certamente, por estarem no alto de uma montanha.

Um lugar, apontado pelo ariano, onde certamente teria melhor visão das estrelas seria Star Hill, do qual Qüine lembrou dos estudos da mãe e como ela descrevia no diário.

Pensando sobre isso, remeteu a algo particular nos relatos de algumas páginas, fazendo-o olhar para o céu e respirar fundo. Novamente estava tentado a comentar sobre algo com Kiki, mas cuidadoso sobre como abordar aquilo sem entregar posse dos documentos há tanto tempo guardado por ele. O lemuriano percebeu, novamente, o ‘desligamento’ do rapaz, chamando-o de volta, fazendo Qüine rir.

— Ficou quieto de repente, Qüine... — comentou Kiki de braços cruzados.

Ah, não é nada. Lembrando de algo que minha mãe contou em seu diário sobre... — e olhou para o céu. — Gêmeos, quando ela viu as duas estrelas e uma sombrear, sumir... algo assim. — Kiki ouvia curioso, instigando-o a continuar. — O meu pai e seu irmão disputariam pela Armadura de Ouro de Gêmeos... e ela acabou interferindo.

— Não sabia disso. — comentou Kiki surpreso. — Por que ela fez isso?

— Ela diz no diário que viu uma sombra na segunda estrela... — Qüine olha para o céu, vendo a estrela de Gêmeos. — Ela fez isso temendo que algo acontecesse ao meu tio Kanon... — e deu de ombros. — Claro que ele não gostou nada disso e ficou muito chateado, aborrecido com ela.

— Seu tio Kanon chegou a passar algum tempo sumido do Santuário por conta disso, não foi? Acho que lembro do mestre Mu comentando a respeito. — comentou o ariano.

— Sim, e minha mãe se sentia culpada por isso. — lembrou ele sobre o comentário da mãe no diário.

A culpa de Selene era por acabar favorecendo Saga, ainda que não tivesse sido aquela sua real intenção. Desde então, Kanon nutriu desprezo pela Amazona, levando até mesmo ela e Saga discutirem quanto a sua intromissão.

No mês que passou exilada em Jamir, relatou seus temores sobre Saga também desprezá-la. Posteriormente, contou que, no dia de sua chegada, não somente reataram a relação como aconteceu o primeiro beijo de ambos.

— Mas, Kiki, por que os dois tiveram que disputar pela Armadura de Ouro? —arriscou Qüine, aproveitando a deixa daquela conversa para questionar aquilo de modo a soar uma curiosidade qualquer. —Por que não os dois?

— Qüine, essa é uma pergunta um tanto complicada de se responder, mas vamos lá. Deixa-me tentar. — falou o lemuriano, levando as mãos ao rosto. — Lembra do mito de Gêmeos? Um irmão abdica da vida para que o outro possa voltar dos mortos, alternando, assim, até o fim? Creio que seja por isso. — falou, passando as mãos pelos cabelos ruivos. — Como a lenda, os dois estão destinados a seguir como Cavaleiros, mas, por só haver uma armadura, eles precisam ‘alternar’ entre si.

— Sim, eu conheço o mito de Gêmeos, e por isso me pergunto se... — umedecia os lábios, escolhendo com cuidado as palavras. — Em algum momento poderia ter existido dois Cavaleiros. — e fitou o lemuriano, esperando sua reação.

— Não que eu tenha conhecimento. — respondeu Kiki, olhando para o ‘irmão’. — Acho que... se houvesse algum ‘Segundo Cavaleiro de Gêmeos’, teria algo entre os registros de nosso povo.

— Mas se a constelação fala de dois irmãos... — teorizava, ficando ereto e — gesticulando. — Logicamente deveriam existir dois, não?

— Não sei. Por que a pergunta? — quis saber o ariano, erguendo uma sobrancelha.

“Droga, Qüine!”, censurou-se, buscando pensar rápido sobre aquilo.

— Curiosidade. — Mentiu ele, buscando disfarçar. — Por conta de uma conversa minha com Shun que tive há alguns dias.

Quando chegou ao Santuário, foi recebido por Shun, este que foi, um dia, o Cavaleiro de Bronze de Andrômeda, considerado um dos Lendários guerreiros de Athena. Agora, buscava auxiliar o Grande Mestre e administrar a ilha de Andrômeda, onde anteriormente foi seu local de treinamento e esteve sob os cuidados do Cavaleiro de Prata, Albion de Cepheu.

— Ele me contou sobre a batalha das Doze Casas e sobre a luta em Gêmeos, das duas Casas que surgiram diante deles... — e respirou fundo, dando novamente de ombros. — Por isso a pergunta. Talvez haja uma segunda Casa de...

— Ah, a Ilusão de Gêmeos. — suspirou Kiki, voltando a olhar para o horizonte.

— Ilusão de Gêmeos...? — questionou ele se voltando para o irmão.

— Sim. É um mecanismo de defesa dos Cavaleiros de Gêmeos, onde eles ‘criam’ um labirinto dimensional. — explicou o lemuriano vagamente, abrindo as mãos, como se quisesse dar uma impressão de limite. — É uma distorção sutil na realidade, que pode fazer com que as coisas pareçam ser outras.

Qüine ouvia aquilo e lembrando, a cada momento da narrativa, do que viu acontecer em Gêmeos. A luz que adentrava no terceiro templo pela abóboda revelando uma escadaria oculta, parecendo convidá-lo naquele instante.

— Um pequeno corredor, pode se tornar gigantesco com uma pequena alteração na percepção do invasor, podendo fazer com que ele corra em círculos e termine saindo por onde entrou. Essa é uma das formas de uso. A outra é um pouco mais complexa. — disse, voltando os olhos para as mãos, em concha, apoiadas no beiral.

As escadas se dividiam, mas a passagem para o segundo espaço em Gêmeos estava impedida pela quebra da escada, sendo preciso usar seu teleporte para ganhar o outro lado. De fato, era um corredor tal como o outro, mas escuro e igualmente adornado, mas há muito abandonado.

— Pode-se também fazer algo bem parecido com a Outra Dimensão. De um modo geral, seria criar uma armadilha dimensional, que pode aprisionar uma pequena área em um espaço que não pertence a lugar nenhum.

"O que vi não foi uma ilusão", pensava Qüine ao abrir o que deveria ser um aposento tal como aquele usava para dormir, mas com uma aura perturbadora. Foi onde encontrou a pequena urna com o testamento. Desde então, jamais 'encontrou' novamente aquele caminho. Não fosse o objeto guardado em seu quarto, poderia, sim, acreditar em ser tal ilusão.

— Ele simplesmente estaria vagando pelo caminho que levaria a outras realidades. — Continuou Kiki, fazendo um gesto expansivo. — Shun e outros Bronze foram submetidos a essa ilusão, como se tivessem adentrado em duas Casas de Gêmeos, mas sempre existiu apenas uma.

Qüine ouviu aquilo com atenção. Leu a mãe comentar algo sobre, ainda que muito superficialmente. Não era algo do qual ela poderia explicar seu funcionamento. O máximo a ser dito foi que o poder da Explosão Galáctica era um ataque de área expansiva, mas não dizia sobre a técnica em si e que seu poder de destruição oferecia grandes riscos. Nada dizia sobre Ilusão de Gêmeos.

Além do mais, aquela explicação o fez entender melhor o que Shun tentou explicar o que aconteceu na ocasião. Enquanto ele e Hyoga de Cisne tomaram um caminho onde confrontaram seu pai, Seiya e Shiryu seguiram por outro onde encontraram somente a dita ‘ilusão’ do Cavaleiro de Gêmeos, mas sem sua presença física ou mesmo Cósmica.

“Não muito diferente do que senti, mas vi na outra parte oculta de Gêmeos. Por quê...?! Por que Gêmeos me submeteria numa ilusão?”, questionava-se, mas logo sufocando os pensamentos temendo que Kiki analisasse qualquer coisa. No entanto, aquilo o deixara bastante incomodado e confuso.

— Bom, Qüine, eu irei me retirar agora. — falou o ariano, se espreguiçando e bocejando cansado. — Irei descansar da minha viagem... Podemos continuar essa conversa mais tarde?

— Ah, desculpe, Kiki. — reagiu Qüine mediante aquilo. Estava tão ansioso, ao mesmo tempo intrigado com tantas informações naqueles últimos dias que nem mesmo se deu conta do quão tarde já estava. — Não queria ficar te alugando, sinto muito.

— Não se preocupe com isso! — riu Kiki, passando uma mão na cabeça de seu ‘irmão’ mais novo. — Eu queria um pouco da sua companhia. Se fosse mais cedo, certamente iria conversar ainda mais com você.

— Temos um longo dia amanhã para isso. — sorriu o Gêmeosano. — Agora, vai descansar e eu vou ficar com Antares... — dizia Qüine já intencionando ir para Áries, mas interpelado por Kiki.

— Não, não essa noite. — disse ele, segurando sutilmente o rapaz. — Psychē vai fazer patrulhamento, mas virá para olhar Antares nos intervalos. Klahan deixou recomendações e ela ficará mais... à vontade, se é que me entende. — disse o ariano sorrindo de canto para o irmão, vendo-o entender e rir. — Descanse por hoje. — e abraçou o Gêmeosano, despedindo-se, enfim.

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De volta em Gêmeos, Qüine parou no segundo degrau, olhando para cima, encontrando um único caminho que levaria aos seus aposentos como se jamais tivesse visto um segundo como naquela manhã. Contudo, desde então, todas as manhãs buscou algum indício sem qualquer sucesso. Após Kiki falar da Ilusão de Gêmeos, pensava do porquê daquilo.

"Se sou a quem chamam Herdeiro de Gêmeos, por que ele me faria isso? Não entendo...!", questionava-se, bufando com a mão na cintura. Virou a cabeça, vendo o brilho da Armadura de Ouro ao centro do templo e caminhando até ela, ficando frente a ela e vendo seu reflexo sobre a mesma.

Abaixou-se, dobrando um joelho e apoiando-se no chão, mantendo a outra, também dobrada, mas levantada, apoiando o braço sobre ela curvando o corpo para frente. A joia no peito da armadura parecia viva, pulsar como um coração vivo.

"Eu queria tantas respostas...", pensava o rapaz, esticando o braço até a joia, como instigado por ela, vendo-a vibrar cada vez mais. Os seus olhos estavam fixados, reluzindo com ela, mas o rapaz piscou, recuando a mão e baixando a cabeça. "Não... Não posso violar as memórias da armadura...", lamentou-se o garoto, voltando olhar a indumentária de Gêmeos diante dele, com uma das faces do elmo voltada para ele.

— Eu tenho medo, pai. — comentou Qüine sentindo forte aperto no peito. — Temo não ser capaz de me igualar a você. Temo também de que eu possa carregar a mácula que todos dizem recair sobre Gêmeos... — ele riu, mais movido pelo nervosismo. Umedece os lábios, fechando os olhos por um breve momento. — Eu sinto que há algo aqui... — e reabriu, fitando novamente a armadura. — E isso não é uma ilusão. Será que estou sendo testado por você ou por meu tio Kanon...? — e pausou em suas palavras.

Qüine se colocou de pé, alternando seus olhos da armadura para o alto da escada, onde as duas imagens daqueles que formam a Constelação de Gêmeos adornavam a parede ao fundo.

— Ou será que o segundo Cavaleiro não me acha digno de representá-lo?

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Psychē, vestida com sua indumentária sagrada de Peixes, observava a jovem Antares deitada na cama, descoberta de suas vestes comuns e coberta por um fino lençol que desenhava seu corpo esguio. A sua pele estava isenta das feridas, mostrando somente sua pele bronzeada com algumas poucas manchas que estavam a desaparecer.

— Acorde, mascotinha... — murmurou a Pisciana limpando a sua face dos cabelos ondulados, deixando uma pequena rosa vermelha presa a ele. — Há alguém que muito espera por você, vê-la desperta. — e sorriu, levantando-se e suspirando em não perceber qualquer reação.

A madrugada ainda estava alta, era o momento de voltar ao patrulhamento. Prometeu voltar mais tarde, lançando um último olhar à jovem e fechar a porta.

Um leve ressonar acompanhado de um leve movimento, quase imperceptível, mas que fez a rosa presa em seus cabelos cair ao chão e soltar algumas poucas pétalas. Sobre a cama, Antares abriu seus olhos vermelhos e fendidos, brilhando como sol ao entardecer.

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Qüine já estava em seu quarto, trocando-se para deitar quando sentiu algo que o fez arregalar os olhos, deixando seu Cosmo emanar, ainda que sutilmente.

"Antares?!", ele gritou mentalmente, fazendo seus olhos reluzir num intenso dourado.


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Notas finais do capítulo

Na próxima tríade de capítulos:
Selene inicia os treinamentos com seu jovem aprendiz e conhece seus segredos. Saga é cada vez mais perseguido pelas sombras em Gêmeos. Kanon ressurge para a Amazona de Prata.



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