Angel escrita por Dayane Alves de Oliveira


Capítulo 42
Capítulo 42




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Funcionou, a vó á deixou em paz por um tempo.

Por um tempo.

Pois quando tudo parecia finalmente estar dando certo, tudo desmoronou novamente.

A morte do pai de Raphael foi inesperada e quase instantânea. Estava um dia estranhamente ensolarado. Ele acordou, tomou café da manhã com a família. Fez alguns trabalhos em casa e depois se deitou no sofá para descansar. E não acordou. Raphael o encontrou e gritou o quanto pôde para acordar o pai. Brigou, sacudiu, e nada. Erika e Amélia simplesmente não pararam de chorar, e ele teve que tomar as providencias sozinho.

Angélica caiu de uma escada na loja ao receber a noticia por causa do susto. Ela queria chorar, não conseguiu. Queria correr e abraçar Raphael, não conseguiu. Queria estancar o sangue do corte que fez na mão ao cair e tentar se segurar na escada enferrujada, não conseguiu. Apenas ficou no chão, lamentando por Raphael, e se lembrando do dia amargo que recebeu a noticia que havia perdido o irmão, a melhor amiga, e o namorado.

Sem nem limpar o sangue da mão, ligou para Raphael imediatamente. Queria conforta-lo, cuidar dele. Não sabia o que dizer, mas sabia que ele precisava dela.

Ele não atendeu. Nenhuma vez. Ela deduziu que ele estava muito ocupado, ou queria ficar sozinho.

Foi para casa, onde todos se arrumavam tristes para o velório na casa de Raphael. Angélica também se arrumou.

-Você fica! –Disse a vó firmemente á ela.

-O que??

-Não quero você lá.

-Eu preciso ir lá!

-Você quer é ver aquele moleque.

-Quero falar com ele. –Disse com coragem,

-Não Angélica. Quero você longe dele.

-Mas o pai dele morreu!!! –Gritou sentindo as lagrimas caírem.

-E você não pode fazer nada pra mudar isso.

-Ele precisa de mim!!!

-O que você disse???

Angélica ficou calada, chorando ainda mais e tentando engolir a indiferença da vó, que á trancou no quarto realmente não á deixando ir ao velório.

Angélica passou o resto da noite engolindo o choro e mandando mensagens para Raphael. Que não respondeu nenhuma.

Exausta, depois de um tempo acabou dormindo. No dia seguinte, acordou com todos já se arrumando para o enterro.

Durante o banho, viu que o corte na mão havia inflamado, por causa do curativo provisório que havia feito, pela falta de higiene, e pela força ela havia feito.

Fez um curativo mais ou menos, se arrumou e acompanhou todos ao cemitério a vó teve que concordar com isso pelo menos. Mas estipulou a condição que ela acompanharia tudo de longe.

Angélica concordou, no cemitério, nem sequer deu os pêsames á família de Raphael. Ela o observava atentamente. Ele estava em silêncio e muito quieto. Agradecia os pêsames de todos, mas não tinha lagrimas nos olhos, nem a aparência de alguém que tinha chorado.

Após o enterro, Natália ficou com Amélia e a vó e a tia foram levando Erika para casa, á consolando. Angélica vinha logo atrás, de braços dados com o avô. Enquanto se afastavam do cemitério, as nuvens do céu foram se diluindo  numa leve garoa. Angélica se lembrou que não tinha ido ao enterro de Miguel, nem de ninguém, e imaginando a mãe sozinha parada em frente ao tumulo do irmão, como Raphael provavelmente estaria agora. De repente, parou de andar no mesmo momento que a garoa se transformou em forte chuva.

-Angélica? –Perguntou o avô sem entender, mas ela não respondeu, parecia confusa, como naqueles momentos que estamos fazendo vários cálculos de cabeça.

-Angélica?? –Perguntou agora a vó impaciente.

Angélica ficou olhando para a vó, para Erika, e para a tia sucessivamente. Soltou o braço do avô, e no momento que a vó ia protestar ela saiu correndo, atravessou a rua e voltou para o cemitério.

Todos olhavam curiosos e confusos enquanto ela corria o mais rápido que podia por entre os túmulos. Por causa da chuva, ela escorregou duas vezes, e conseguiu cair uma. Mas levantou e continuou correndo.

Ao chegar perto do tumulo do pai de Raphael, se obrigou a parar para respirar, controlou os passos e foi se aproximando de Raphael, que ainda estava parado do mesmo jeito que antes.

Ela se aproximou e tocou o ombro dele. Raphael se virou mas não disse nada, ficaram se olhando por um longo minuto, até que ela agarrou a jaqueta dele e o abraçou. Desta vez, Raphael experimentou a sensação que ela tanto gostava de abraça-lo até machucar. Ele á abraçou assim por um longo tempo, e apesar de realmente estar machucando, ela deixou, pois ele precisava sentir que alguém o entendia e apoiava, que estava ali para ele e por ele.

Se sentindo confortado, finalmente ele chorou, chorou muito, todas as lagrimas e soluços que tinha. Angélica não disse nada, nem ele queria que ela dissesse, apenas o confortou enquanto ele enterrava a cabeça no cabelo dela, já molhado pela chuva.

Depois de passado algum tempo, Angélica convenceu ele á se sentar num dos bancos que haviam por perto. Se sentaram de mãos dadas em silêncio e ficaram olhando para os túmulos que pareciam tão abandonados. Mais calmo, Raphael disse á ela:

-Obrigado.

Ela sorriu e respondeu:

-Não precisa agradecer. Que tipo de namorada eu seria se deixasse você sozinha numa hora dessas?

-Mas eu te ignorei. –Disse envergonhado.

-Tudo bem. Eu já passei por isso lembra? Durante um tempo eu também só queria me isolar... Na verdade, as vezes ainda quero. Mas eu tenho você agora.

-E eu tenho você?

-Sempre! Nunca vou te deixar! Principalmente agora. –Ela apertou mais a mão dele.

-Iii... é mesmo... Sua vó não brigou por você vir ficar comigo?

-Ainda não... mas eu não me importo mais por que agora é pra valer. Nós vamos enfrentar iss juntos!

-Tem certeza que essa é a hora certa? Tipo... eu vou ter que cuidar da minha família agora.

-Não tem hora certa quando a situação não favorece. Então a gente só tem que enfrentar. A menos... que você não queira mais....

-Claro que eu quero! Mas vai ser mais dificil.

-A gente sabia que ia ser difícil desde o começo. E eu estou aqui pra te ajudar. –Angélica então se aproximou e o beijou lentamente.

Quando se afastaram ele disse:

-Queria que ele estivesse aqui.

-Sinto isso todos os dias....

Ficaram em silêncio mais um tempo, ficaram juntos a tarde toda, e quando já estava escurecendo, voltaram juntos pra casa.


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