Angélica estava dormindo tranquilamente quando seu irmão Miguel á chamou:

-Acorda bela-adormecida!

-Me deixa em paz! - Disse cobrindo o rosto com o cobertor.

Estava morrendo de dor de cabeça, pois na noite anterior tinha bebido muito, quando saiu com as amigas para comemorar seu aniversário que era hj.

Estava fazendo 16 anos nesse dia, mas longe de ser um dia comemorado por ela, continuou deitada.

-Venham tomar café!- Gritou a mãe, que estava na cozinha.

-Vc ouviu, vamos- Miguel puxou o cobertor de cima dela.

Ela foi se levantar, mas não conseguiu, sentiu uma forte dor nas costas.

-Ai !!!

-Cuidado! Vc ainda não ta bem.

-Como assim?

-Vc não lembra?

-Lembro de que?

-Vc entrou numa briga ontem.

-O quê?- Ela disse colocando uma mão na cabeça, enquanto Miguel lhe jogava uma aspirina.

-É, tipo, vc já tinha bebido um pouco, daí um cara passou e te cantou, como vc não retribuiu, ele te zoou. Te chamou de baixinha, ai já viu né? Cê partiu pra cima do cara! Mas ele era mó idiota, não tinha medo de bater em mulher; por que acha que ta toda arranhada??

Ela olhou pros braços.

-Ele te empurrou e vc se machucou todinha, no asfalto.

Ela teve flashes rápidos do que tinha acontecido.

-Vc bebeu ontem?- perguntou preocupada.

-Não tanto quanto vc. Sério, vc tava tão mal, que eu tive que te trazer pra casa no colo.

Quando a mãe chamou de novo.

-Sabe que se vc não descer ela vai vir aqui.

-Diz que eu morri.- Disse se jogando na cama e deitando de novo.

-Tá vou falar que vc está em coma alcoolico.

-Enlouqueceu?

-Como se ela não soubesse.- Disse sincero, realmente a mãe sabia, mas não tinha mais paciência de lidar com a rebeldia de Angélica, então simplesmente lidava como podia.- Vamos descer!

-Tááá...

Ela levantou e meio tonta foi andando devagar pra a cozinha, logo atrás de Miguel, que apesar de ser um ano mais novo, era mais alto que ela.

Na cozinha, Miguel animado como sempre, conseguiu disfarçar o nervosismo de Angélica e deu bom dia a todos, beijou a mãe, e a irmãzinha Angelina. (Sim, a mãe tinha obsseção por nomes angelicais) que era filha do segundo casamento da mãe, com um americano chamado Phillip.

-Bom dia querido. –Disse a mãe alegre, mas a alegria desapareceu ao ver Angélica,-Bom dia- disse séria.

Angélica deu um sorriso tímido para a mãe, e beijou a irmãzinha. Se sentou ao lado de Miguel para tomar café.

-Vc’s chegaram muito tarde ontem?- perguntou a mãe, mas sem olhar pra nenhum dos dois.

-Umas 2:30am, né?- Disse Miguel olhando com cara de cumplice para a irmã que concordou. Mas a mãe sabia que haviam chegado mais tarde e continuou:

-Então deu pra dormir o suficiente pra ficarem acordados na aula hj, apesar de estarem atrasados.

-É, eu só vou na segunda aula.

-E vc?-Perguntou olhando para Angélica.

Sem-graça, mas com firmeza ela respondeu:

-Sem-chance de eu ir pra escola hj.

A mãe ignorou e continuou tomando seu café, enquanto Phillip se juntou a eles na mesa do café, e pôs bruscamente um copo com suco ao lado de Angélica.

-Abacaxi com hortelã, é ótimo pra ressaca!- disse um tanto arrogante.

Angélica, engoliu a raiva pela exposição, e apenas agradeceu.

-Papai, o que é ressaca?-Perguntou Angelina, inocente.

-Nada. –Disse Andrea para a filha de 5 anos, tentando evitar o assunto.

Phillip, aberto como sempre respondeu:

-Quer dizer que sua irmã bebeu todas ontem á noite e agora está com uma dor de cabeça terrível.

-Obrigado pela explicação Phillip. -Disse Angélica, sarcástica.

-Disponha, sempre estarei aqui para alertar minha pequena do seu mau exemplo.

Ela deu um sorrisinho falso dando um gole no suco.

Mas isso ficou na cabeça de Angélica, realmente nos últimos meses não vinha sendo uma boa irmã, com sua vida social agitada, ficava cada vez mais fora de casa, e quando estava em casa, não fazia questão nenhuma de ficar com a família. Enquanto observava Miguel passar manteiga numa torrada, viu que não vinha sendo uma boa irmã pra ele, que nos últimos meses á vinha acompanhando nas festas e passeios, realmente não estava sendo justa com ele, envolvendo-o na sua vida confusa e vazia de festas e bebedeiras intermináveis.

A poucos meses de completar 15 anos, já tinha corpo de homem, traços fortes e expressão séria. Era muito parecido com ela, pele branca, e cabelos   pretos, extremamente lisos. Olhos azuis. Chamava muita atenção de suas amigas, mas ela sempre avisava pra não se meterem com ele, apesar de ele sempre ficar com Carol, melhor amiga dela.

Realmente o amava muito. Ignorava o fato de que desde que ele nasceu todos esqueceram dela, não era culpa dele-pensava- afinal, ele era o caçula, e o caçula é sempre o mais mimado. Pricipalmente por causa da pouca diferença de idade entre eles, 1 ano e três meses, ele não tinha culpa de ter que receber a atenção que era para ter sido dela. Os pais. Esses sim ela não perdoava.

De repente, seus pensamentos foram interrompidos por outra pergunta da mãe:

-Vc’s vão sair hj de novo?

-Não.

-Vamos.- Ela e Miguel falaram ao mesmo tempo, ela que não e ele que sim.

-Não.

-Vamos sim!- Repetiu Miguel- Maninha é seu aniversario, temos que comemorar!

-Acho que ela já comemorou demais por ontem .- Disse Phillip quase que lendo o pensamento de Angélica.

-Também acho. Mas se forem sair- disse a mãe se levantando da mesa- me avisem antes, para eu poder tomar uns soníferos bem fortes! se ontem vc’s já fizeram esse estrago todo - Disse apontando para os machucados de Angélica- eu nem quero ver quando chegarem amanhã.

Angélica continuou calada enquanto Phillip e Miguel também se levantavam da mesa, Miguel pediu que Phillip o deixasse na escola á caminho do trabalho, ele concordou, Miguel deu um beijo nas irmãs e saíram.

Andrea também estava terminando de se arrumar e antes de sair, deu algumas instruções para Angélica:

-Quero que ponha uma roupa descente e desça no haal para deixar sua irmã na perua da escola, e quando voltar, aproveite que não vai pra escola e limpe a cozinha.

-Tudo bem- Disse Angélica ainda na mesa de café, sozinha, pois Angelina já tinha ido arrumar os matériais da escola.

-Tchau bebê- Disse Andrea se despedindo de Angelina, que veio correndo abraçar a mãe.

Já abrindo a porta para sair, ela se lembrando de alguma coisa voltou e disse:

-Feliz aniversario.