Momento Infernal escrita por Elizzabeth Haaps


Capítulo 11
Capítulo 04 (parte 1) — Inicia-se a caça.


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos ao início do QUARTO capítulo de MI. Antes de continuar com os trabalhos, venho dizer que Momento Infernal está de volta no Nyah - desculpem pelo hiatus -, espero que possamos nos conectar novamente.
Mais detalhes sobre a organização secreta do governo Caçadores de Assassinos serão revelados, e a caçada de fato se iniciará.
Prepara-se Oliver Linth, a CA está chegando!



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Depois de vários argumentos de Carlos, para que Leonardo lhe falasse mais sobre a organização na qual ele pertencia, e mais respostas curtas e vagas do leão, finalmente fora entendido que aquilo era coisa federal; de estância maior, alerta geral e não seria um delegado qualquer que tomaria frente nesse caso. A notícia já tinha se espalhado pelos arredores da capital do estado da Bahia e não demoraria muito até que todo o país soubesse de tal acontecimento.


Antes de qualquer seguimento, devo lhes esclarecer alguns fatos sobre o caso do açougueiro: Desde o ano que passou (2012) a organização, Caçadores de Assassinos, fora contatada pelo presidente do país, Rodolfo Santos Carvalho, para estar sondando sobre os vários assassinatos que estavam ocorrendo no nordeste brasileiro. Todos esses indícios – de que um assassino em serie estaria amedrontando a população – começara em Viana, uma pequena cidade no Maranhão, a partir de um blog na internet onde um jovem postava notícias sobre.

O que tinha chamado a atenção àquilo, fora o jeito que os corpos encontravam-se (preservados no formol) e o padrão que os mesmos pareciam ter (mas disso vocês já sabem); esse assunto logo estava nos ouvidos dos assessores da pessoa com maior poder no país, o presidente, que logo busca pela melhor força policial que estava em suas mãos: os Caçadores de Assassinos.


Os documentos passados para essa organização eram cuidadosamente direcionados apenas para o gabinete do presidente, e somente outra pessoa obtinha acesso a eles: o líder da CA Augustos Carneiro. Assim que essa noticia fora sussurrada em seu ouvido o mesmo sorriu; bons hábitos, desejos, vontades, nunca mudam, esperam ansiosas, pacientes, e com o líder não era diferente; há anos ele não trabalhava em missões desse tipo; tinha recebido uma aposentadoria forçada, obrigada. Ainda um adolescente, já tinha essa vontade de combater, lutar pelo país, fazer a diferença – seguiria (seguiu) o caminho de seu pai, claro.


Presidente e líder conversavam quase aos sussurros. Aquela possibilidade de ter um assassino em serie, atacando em pleno século 21, era ora inesperada, ora aguardada – sendo esta ultima opção uma desculpa para agir livremente. A idéia de organizar outra missão o fazia muito satisfeito. Alguns integrantes da equipe águia, os draikaners, – soldados da organização CA – confirmaram as mortes até então fantasiosas por um blog na internet. Era então a vez de agir.

Porém a situação foi se complicando, pois mais casos parecidos com os de Maranhão vieram à tona. Acre, Amazonas, Pará (com um espaço de tempo entre cada descoberta, óbvio); todos os draikaners – conservavam suas identidades e a organização tinha um em cada estado, contando também com a capital do país – começavam entrar em contato com a sede, falando sobre esses estranhos casos. Seria um grupo de assassinos agindo novamente? – especulava líder e presidente.


Depois de muita investigação, – Rodolfo deveria mostrar para os outros patrocinadores (usaremos essa palavra) do governo algo concreto para ser permitido usar do poder da CA – os indícios mostraram onde o assassino estaria, onde as mortes tinham sido recentes: Salvador, Bahia. Com o dossiê pronto era hora de juntar a equipe Alfa: tigre, urso, águia, leão e entrar em ação novamente.


— Você sabe que total descrição e agilidade é indiscutível, não sabe Augustos?

— Com todo o respeito, não tente ensinar a missa para o padre Presidente. Sei onde devo estar e o que fazer. — O líder da CA disse levantando-se.

— Você acha mesmo que pode ser um grupo agindo por conta própria novamente? Digo, dessa vez não há um motivo para isso. Não compreendo.

— Compreender não é o que fará resolver Presidente. Temos que caçar, encontrar e matar. Não foi para isso que fomos criados? — Rodolfo riu.

— Tinha me esquecido o quanto você leva isso a serio. Vale tanto assim?

— Valendo ou não é o que sei fazer. Tanto que estou aqui.

— Só peço que tome cuidado. Não quero nada alarmante na mídia. Se isso de alguma forma se espalhar, me diga, como conseguirei minha reeleição? E isso está longe de acontecer, ok?

— Entendido Sr. Presidente. Se me der licença, tenho uma caça para liderar.



Assim, fora tramada a iniciação da missão. O que estava em jogo não era uma simples eleição ou nada disso, estávamos falando de vidas, várias delas pelo visto. E se havia uma coisa que deixava Augustos furioso, era um caso em aberto; afinal, ele fora ensinado a concluir o que disseram, cumprir ordens, ser um soldado.


Todos da equipe já estavam no hotel. Esperavam Leonardo para compartilhar as informações obtidas até ali; bolar o próximo passo, iniciar a caçada. Enquanto a equipe não estava completa, os que estavam ali trocavam os dados colhidos. Lucas Leal tinha ido atrás de Otávio Lopes, – homem que tirara a vida de Camila Soares e que ainda estava preso – não tinha conseguido muita coisa.

Espertamente a conversa fora monitorada por dois guardas, a pedido do assassino, e o urso nada pode fazer, afinal, os direitos penais não permitiam tal. Porém, após algumas educadas ameaças (confesso que algumas concluídas de fato, pois, agora aquele homem tinha quatro dedos quebrados), Otávio logo soltou algo sobre um professor, um mestre; disse ele que nada sabia, pois nunca o vira pessoalmente, apenas seguia – junto com outros – as ordens deixadas por esse tal.



Henrique Cabral por sua vez, tinha ido conversar amigavelmente com Olavo de Lima,– o homem que matou as três meninas e fora denunciado pelo próprio comparsa –; até então era o sujeito mais cotado a ser o possível assassino em serie, pois de acordo com os registros, retirara as mãos e pés das vítimas para dificultar a identificação, e ele era o que mais se encaixava no perfil mostrado à CA. Olavo estava em um bar perto da sua morada atual, (Ricardo tinha dado o endereço a Henrique) bebendo qualquer coisa forte quando chega o tigre.


— Olavo de Lima?


O tigre disse se aproximando calmamente do suspeito em questão; o alvo estava com roupas despojadas, encostado no balcão do bar, distraído; ele apenas olhou para Henrique com desdém e voltou a beber sua cachaça. O dono do bar que estava limpando o balcão, parou para olhar aquele que tinha acabado de chegar; sorriu meio desconcertado e ofereceu uma bebida; o mesmo aceitou e sentou-se junto de Olavo. O braço direito do líder Alfa bebeu dois copos daquela bebida e voltou a falar com a pessoa ao seu lado.


— Olavo? — Ele apenas olhou para Henrique, como se aquilo fosse um “sim” ou “que?”.

— Presumindo pelo horário, você não tem muito tempo até voltar para o presídio, certo?

— Quem é você? — Finalmente Olavo se manifestou.

— Marcos. Marcos Vieira.

— Não conheço.

— Eu sei. O importante é que eu lhe conheço e queria fazer algumas perguntas... O que você sabe sobre esses assassinatos que vem acontecendo por aqui?


Olavo não respondeu, apenas voltou a beber pacientemente sua cachaça, ignorando completamente Henrique. Sem paciência alguma o tigre rapidamente pega sua arma que estava atrás do coes da calça; com a mão esquerda, pressiona a cabeça do meliante contra o balcão com força e aponta a arma para sua têmpora. O dono do bar dá um pulo para trás com susto do rápido movimento, arregala os olhos e abre a boca; alguns homens que estavam ali também se assustaram e ficaram olhando para ver o que aconteceria. Um adolescente que estava sentado numa mesa perto de Olavo pegara o celular e apontara o mesmo para Henrique.

Agilmente o tigre atira no celular do menino – na parte superior onde a tela ficava –, a bala passa raspando no rosto do garoto deixando um caminho; o mesmo joga o celular no chão, grita assustado e coloca sua mão no ferimento; o homem atrás do balcão sai correndo para ajudar o seu filho; algumas pessoas abaixaram depois de ouvir e ver o tiro, com medo.


— Vou ligar para a polícia! — Exclamou o pai que auxiliava o filho.

— O que você acha que eu sou?

— Um louco com certeza!

— Presumo que você não quer acabar como esse moleque ai. Meus negócios não são com você, é com ele. — Henrique disse voltando a pressionar a arma contra a têmpora de Olavo.

— Não sei de nada. Não sei de nada cara. — O alvo em questão disse com a voz trêmula, rápido.

— Me pergunto quanto tempo você demorou para serrar os pulsos, os tornozelos... Digo, você já tinha treinado, certo? Onde você enterrou-os?

— Do que você está falando? Eu já estou pagando pelo que fiz, estou livre desse julgamento.

— É verdade. Estou perdendo tempo com isso... O que eu quero mesmo saber é sobre esses outros assassinatos; foram todos seus ou tem alguém com você?

— Não entendo... Do que você está falando cara?

— Não se faça de desentendido. — Henrique disse entre dentes pressionando ainda mais a arma na têmpora de Olavo. O mesmo apertou o balcão com medo e fechou os olhos com força.

— Você está por conta própria ou há mais alguém?

— Não sei... Do que você está falando cara?

Sem hesitar Henrique rapidamente colocou a arma no coes da calça novamente, pegou a algema que estava em seu bolso e prendeu os pulsos do assassino – suas mãos ficaram para trás. O tigre conduziu Olavo para fora do estabelecimento e o jogou no chão; a queda fez com que seu rosto e braço machucassem e terra entrasse na sua boca. Com um pouco de sangue e uma leve ardência na face, o assassino cambaleou tentando se levantar enquanto Henrique apenas o observava com uma possibilidade de sorriso na face.


— Quem é o mestre?

— Já disse. Não sei do que você está falando. — O tigre então revira os olhos e atira na perna direita de Olavo, que uiva, tanto de dor, quanto de susto.


O dono do bar que estava ajudando seu filho, assim como outros que consumiam bebidas, pararam para olhar o que tinha ocorrido. E lá estava o presidiário no chão, com a perna e face sangrando, batimentos acelerados, um olhar de raiva, respiração profunda; estava calculando o que fazer em seguida... Sem deixar mais algum espaço de tempo para que seu inimigo, por assim dizer, pudesse agir de qualquer forma, Olavo – mesmo com a dor invadido-o – atacou Henrique com um abraço de urso, fazendo com que ambos caíssem no chão. A arma que o tigre tinha em mãos fora jogada para longe com a queda, e como o assassino tinha caído por cima dele; começara então quase que de imediato socar a face do homem que além de estar com as costas para o chão, ainda processava aquele ataque inesperado.


O tempo que Henrique ficou no chão não foi mais que dez segundos, pois logo conseguira pegar uma pistola que estava em seu bolso. Com a outra mão livre segura um dos braços de Olavo, atira no mesmo, empurra aquele peso para o lado com agilidade e se coloca de pé Tudo muito rápido, ágil.

Ofegante, irritado e sua face com um ou outro hematoma, Henrique prova o seu próprio sangue – o qual estava escorrendo do seu nariz – e chuta na boca do estomago do assassino. Levanta o mesmo com muita raiva, o coloca contra a parede e começa uma sessão grátis de espancamento: vários socos, cotoveladas, chutes... Olavo mal se aguentava em pé, quando mais uma vez, o tigre atira em sua perna – aquele tinha sido o segundo aviso; se ele não fosse esperto, ganharia um lindo terno de madeira logo logo.


— Quem é o mestre? — Olavo não falou nada, mas não porque estava ignorando novamente Henrique, mas sim porque sua boca estava cheia de sangue e seu cérebro estava ainda processando toda a surra que ele tinha acabado de levar; ele estava quase inconsciente. Temendo por sua vida, fez uma força – a qual pensara que ele não tinha mais – e conseguiu formar uma frase curta, singela.

— Rio Grande do Sul.

— É onde ele está? Seja mais específico.

— On...de... sim... sim… Alvorada... — Disse inspirando uma boa quantidade de ar e levantando a mão – sinal este que pedia para Henrique aguardar; pedia encarecidamente. E depois de alguns minutos o oxigênio já tinha voltado a fluir normalmente para o cérebro dele e Olavo finalmente pode falar alguma coisa útil.

— Não sei como é sua feição, nunca o vi diretamente. — Disse após receber ajuda do dono do bar e de algum homem que ali estava. Eles o tinha colocado numa cadeira e lhe dado um bom copo de cachaça. Ninguém ali ousou dizer nada para Henrique, apenas olharam descriminando sua atitude – principalmente o dono do bar que teve parte do rosto do filho marcado.

— Como você o conheceu? Como sabe que é ele quem procuramos?

— Saber, não sei, mas se você está procurando o mestre, creio que seja este mesmo. Ele mora no Rio Grande do Sul, Alvorada e em Castelo, Espírito Santo.

— Porque mestre...?

— Ele nos ensinava uma arte.

— Arte?

— A arte de matar. — Quando Olavo disse isso quase todos que estava ali olharam para ele desconfiados, amedrontados; alguns se afastaram discretamente, outros, foram seduzidos pela curiosidade e insistiram em ficar ali, queriam saber o desenrolar daquela briga.

— A arte de matar? — Repetiu Henrique curioso.

— Pode soar estranho, mas é assim que ele chamava. Dizia que era a coisa mais doce do mundo, matar digo... Não que ele esteja completamente certo... Mas não estava completamente errado também... Muita gente desejou isso, os caras da rua, alguns assassinos de aluguel... Caras assim.

— Mas... — Quis saber o tigre.

— Mas o cara era muito bom. Ele sempre ia de máscara e dizia que queria plantar a semente... Coisa de louco... E repito, o cara era muito bom. Fiquei sabendo... Boatos apenas... O Mário, o líder da minha turma lá no sul, arrumou uma briga com o mestre – acho que queriam ver quem era o alfa do nosso “bando”. — Fez aspas no ar. — Acabaram todos mortos, Mário e o pessoal que ele levou junto; todos dentro de uns tonéis cheios de formol... Foi ele. Ele que fez isso, eu sei! Depois disso fugi pra cá, acabei sendo pego e aqui estamos.



Olavo disse tudo que sabia – ameaçado com uma arma em sua têmpora novamente e uma faca de duas pontas na sua cintura. Henrique viu que aquilo era tudo o que ele sabia e saiu dali rapidamente, pronto para compartilhar informações valiosas com a equipe; pronto para viajar para o sul do país; pronto – com mais garra digo – para pegar esse filho da mãe e explodir seus miolos com um belo tiro usando sua arma especial: uma pistola feita de prata com balas de ouro. Esse assassino em serie merecia algo diferente, afinal.


Quando passaram-se apenas alguns meros minutos que Henrique havia chegado, Leonardo abre a porta do quarto do hotel rapidamente, com um brilho no olhar, com uma velha expressão: a caça tinha iniciado-se oficialmente. Logo, todos compartilharam as informações obtidas naquele primeiro encontro com os suspeitos indicados pela organização e ponderaram as iniciativas. O leão avisou para a equipe que o delegado Carlos Ribeiro, com o qual ele conversará anteriormente, se faria presente para que fosse analisado o que a repórter tinha perguntado ao filho de Augustos. Tudo bem que aquilo era uma vaga pista, talvez nem fosse uma pista de fato, mas o caso é que aquilo tinha sido a única coisa concreta, o que não poderia ser melhor, pois estava fresquinho, acabado de sair do forno.


A noite já tinha se expandido, tomado todo o céu, quando o delegado adentra o restaurante do hotel onde os integrantes da equipe jantavam. Estava bem vestido, com aparência dura, cansada, com raiva, certamente veio da delegacia direto para o local combinado; ele estava com uma espécie de gravador na cor prata, de pequeno tamanho, nas mãos, seu polegar estava em cima de um botão vermelho. Assim que viu Leonardo, Carlos balançou a cabeça negativamente.


— Mandei investigar sobre o que a repórter disse e não são notícias animadoras. — O delegado disse quando sentava-se.

— Não sei se aqui é o lugar apropriado... — Lucas começou a dizer.

— Apropriado? Não me venha com essa de apropriado. Não depois que ele — Olhou para o leão. — veio questionar minhas ações, me diminuir. Já me sinto ruim o bastante por não saber das coisas.

— Quem aqui se importa com o que você sente mesmo? — Henrique disse colocando um palito na boca.

— Não foi para ser recebido dessa forma que você me chamou aqui, não é leão? Se você quer que isso seja agilizado, mande-os calar. — Leonardo ficou pensando se deveria fazer alguma coisa ali, afinal, não poderia desmerecer os companheiros, mas também sabia da importância que o delegado tinha naquela hora. Uma importância descartável de fato, porém, não ainda.

— Tudo bem. Vamos apenas nos acalmar, ok? Todos aqui têm a sua importância. E Carlos, realmente aqui não é o lugar. Não queremos alarmar as coisas.

— Alarmar? Quem já não sabe dessa história? Com essa imprensa no meu calo todo minuto, sensacionalizando tudo o que é notícia... A recepcionista mesmo ali me perguntou como anda o caso. Todos sabem, todos querem respostas, ações.

— E é para isso que estamos aqui. — Ricardo disse depois de observar bem o delegado. Ele ainda estava com o gravador e o dedo no botão, apertava com cuidado e força ao mesmo tempo. — Mas e esse gravador ai?

— Ah. São depoimentos de terceiros que viram... — Antes que Carlos completasse sua fala ouviu-se na TV uma reportagem da mesma repórter que foi falar com ele antes.


“Denunciada por moradores do bairro São Gonçalo do Retiro, mais uma morte, completando uma dezenas delas, se alastrou pela região. Dessa vez, Marina Silva Queiroz, desaparecida a um pouco mais de uma semana, teve seu corpo encontrado por amigos de familiares, perto da mata densa. Os familiares, desesperados, clamam por alguma ação imediato da força policial, do governo; não aguentam mais ficar aterrorizados em casa apenas esperando o próximo corpo aparecer e isso tudo rezando para que não seja alguém conhecido”.



— Vocês percebem? Estão vendo isso? A situação já se tornou uma bola de neve.

— Nada que não possa ser reparado. Daqui a pouco acontece outra coisa e o foco muda. Sempre foi assim e não será hoje que as coisas mudarão. — Lucas disse dando de ombros.

— Mas até isso acontecer...

— Iremos resolver. — Leonardo interrompeu Carlos. — Vamos. Temos muito que fazer.



O delegado ainda ficou falando sobre como estava complicado para ele, em relação à mídia e tudo mais. Contou que na semana passada, a população montou uma guarda na delegacia e só saiu quando ele se manifestou, e assim que o fez, ainda jogaram tomates e o vaiaram. Era óbvio que a situação não estava nada boa; logo todo o país se aterrorizaria. Eles tinham que lutar contra o tempo, contra o que quer que fosse; tinham habilidade para, eram capazes, sabiam disso. Porém, infelizmente, aquilo não se resolveria em um dia apenas, não um assassino como esse, não uma mente como aquela.


Todos estavam no quarto, atentos, quando Carlos apertou o play. No inicio houve apenas ruídos, o barulho do vento, chiados, porém logo vozes meio falhas puderam ser ouvidas. “Você que encontrou o corpo? – Aquela era a voz do delegado. Bem... – Uma voz meio tímida, receosa, disse. As crianças estavam brincando nas matas quando foram ouvidos gritos por todos nós. Foi tudo muito rápido e estranho ao mesmo tempo. Um silêncio então se tomou no gravador; parecia que ambos estavam ponderando o que falar; o que poderia ser ou não importante, decisivo. Mas como vocês podem ter certeza que se encaixa no perfil do açougueiro? Digo, pode ser apenas uma morte a mais. – Carlos perguntou. Não é comum ver partes de corpos por ai dr., a gente nunca viu isso aqui. E os noticiários estão repletos de coisas sobre isso. A Marina era moça sonhadora. É uma pena. – Completou Isabel, uma amiga de família.



— Até agora não vi nada de relevante. Não vejo o porquê dele estar aqui. — Henrique falou olhando para o delegado depois de ponderar o que fora ouvido por todos.

— Nada de relevante realmente. — Lucas completou.

— Já vi que vocês são apressados mesmo.

— Não gostamos de perder tempo. E é justamente isso que você está fazendo agora.

— Vamos nos acalmar tigre. Temos mais coisas para ouvir ainda, certo? — Leonardo quis pacificar as coisas, afinal, ainda não tinha conseguido nada de concreto para contribuir com as respostas afiadas dos seus colegas, mas também não podia simplesmente ignorar o fato de que aquilo estava realmente sendo uma perca de tempo.

— Vou passar algumas partes, já que vocês não apreciam uma boa entrada.


O delegado inspirou profundamente e apertou o dedo no botão que adiantava a gravação. Não demorou muito até chegar o ponto importante. Os meninos estavam gravando as brincadeiras deles, quando dois homens invocados passaram. Eram mal encarados, sabe? Por isso eles se esconderam. – Continuou Isabel. E eles viram alguma coisa? A voz grossa de Carlos fora ouvida. Ver, não viram, mas ouviram alguma coisa em relação a um mestre. – Isabel pigarreou. Moleque! Vem aqui logo!


— Essa é a hora que a criança chega. Bem, não que seja algo que vá resolver o caso, mas...

— Mas vamos direto à gravação. — Leonardo disse impaciente.


Não sei seu moço, mas o que eu ouvi foi sobre um mestre. Pelo que deu a entender, ele é um tipo de professor que ensina alguma coisa pra os homens. – A criança disse depois da mãe insistir. O que exatamente você ouviu? Eles te viram?


— Entendo... — Henrique disse interrompendo a gravação, o que fez Carlos apertar o botão depara extintamente. — Essa informação deve ser válida realmente.

— Vamos terminar de ouvir primeiro.


Eles estavam com umas facas com sangue nas mãos, riam e gesticulavam um no outro o que parecia facadas, não sei direito... Mas eles disseram assim: “Aquela vadia teve o que mereceu. O mestre vai ficar orgulhoso, com certeza. Fizemos como ele nos ensinou e fizemos direito” – Depois que a criança disse isso, ela olhou para o lado, como se estivesse checando se algum daqueles homens não estava lhe vigiando. Após ver que não havia ninguém, falou novamente. Acho que eles mataram ela. Mataram a Marina. O menino agora olha para a mãe confuso, com água nos olhos. E você não ouviu mais nada? Um local? Um nome? – Carlos tentava extrair mais coisas do garoto. Na verdade teve mais dois nomes. Um eu lembro bem, porque me fez recordar os contos de fadas. Castelo, o nome que ele disse. E o outro é alguma coisa com Al. Alvo... Não lembro tão bem assim.


— Agora as coisas finalmente estão andando. — Ricardo disso e sorriu.

— Castelo significa alguma coisa pra vocês? Alguma coisa concreta? Digo, vocês sabem exatamente o que significa?

— Creio que teremos que lhe dispensar agora delegado Carlos. Agradecemos o que fez pelo país, mas agora deixe os profissionais trabalharem. — Henrique disse levantando-se e abrindo a porta do quarto. O homem que estava com o gravador nas mãos olha para Leonardo, como se esperasse uma argumentação dele, qualquer coisa o que impedisse de sair. Qualquer coisa que o fizesse ficar. Porém, Leonardo apenas olhou serio e balançou levemente a cabeça positivamente, indicando que o trabalho havia sido feito e que ele deveria se retirar agora.

— Simples assim?

— Simples assim. Mas antes, uma cópia dessa gravação para nós, por favor. — Henrique disse chamando a atenção do delegado.

— Uma cópia? Acha que sou tão estúpido assim?

— Você quer a verdade? — O delegado deu de ombros e colocou o gravador no bolso do terno, parou um pouco para olhar para eles, como se desse uma chance para a equipe Alfa mudar de ideia, incluí-lo ali, mas como não fizera ele se retirou.



Com a ida do delgado Carlos todos puderam comentar mais profundamente sobre as novas informações obtidas e fazer uma mesclagem com o que eles tinham até agora. A pista que Olavo tinha fornecido para o tigre já era de ser investigada e agora com a sustentação do testemunho daquela criança – pode até ser uma criança, mas era coincidência demais para ser ignorado, certo?

Os integrantes da CA fizeram um resumo de tudo até ali e dividiram as obrigações. Leonardo e Henrique iriam buscar outras informações em Alvorada, enquanto Lucas e Ricardo se deslocariam para Castelo. Leão e tigre iriam pousar no estado onde a neve visitava uma vez ou outra; onde as imensas plantações de uvas predominavam; onde o velho tchê e o bom chimarrão estavam presentes em todos os lugares: Rio Grande do Sul.


Embora tudo estivesse esquematizado, passou-se ainda uma semana para que tivesse o sinal verde de organização e voassem para o destino pretendido. Enquanto a maquiagem nos registros era feita pela CA, os integrantes da equipe procuraram nesse tempo livre, memorizar cada palavras, tanto do dossiê, quanto das papeladas conseguidas na delegacia. Oscilavam seu tempo em fazer isso, e ter contato direto com familiares ou conhecidos das vítimas; procuravam sempre ser diretos e um tanto quanto misteriosos, sempre ficando tempo suficiente para conseguir confiança, mas sem deixar que memorizassem suas faces. Procuraram deixar os familiares mergulhados em suas próprias dores, enquanto eles extraiam tudo que podia.


Assim o tempo foi passando. Leonardo, Lucas e Ricardo procuram, sutilmente é claro, atualizar suas mulheres da situação em que se encontravam, sem dar nenhum detalhe. Henrique por sua vez, apenas limpava e lustrava suas armas, treinava e focava-se. O tempo já tinha passado e todos iriam agir.


Com as papeladas conseguidas na delegacia de Salvador nas mãos, as pistas da gravação e as informações dadas gentilmente pelos meliantes, eles contataram a CA, e dois aviões os esperavam para que assim pudessem seguir em frente. Após fechar a conta no hotel, nossos guerreiros (Leonardo e Henrique) estavam excitados dentro do avião. O tigre se deliciava de um bom ensopado de frango com uma boa água gelada – o melhor atirador da equipe insistia em manter uma boa alimentação, porém, todos sabiam que depois, quando ninguém estava vendo, ele abusava das guloseimas. E o leão tentava mesclar todos os pontos chaves dos vídeos – obtidos pelas câmeras dadas por Ricardo. A viagem não foi tão longa quanto eles esperavam, pois, ambos mergulharam nas informações, debatiam idéias, criavam hipóteses... E davam um passo de cada vez... E a cada movimento, mais perto o premio estava; mais perto eles estavam de completar a missão.



Depois do avião já ter pousado, – uma bela noite fria e silenciosa, com uma lua cheia e estrelas extremamente brilhantes – os caçadores iam num carro híbrido para uma franquia, por assim dizer, da organização – uma garagem aparentemente abandonada. Aparentemente. Pois, dentro daquele espaço tinha tudo o que eles precisarão para pegar aquele assassino: armas e munição, computadores com sistemas avançados de busca, pequenos dispositivos usados para rastrear, algumas bombas de pequeno e médio alcance; tudo separado pessoalmente pelo líder. É preciso dizer também que, assim como há um ou dois draikaners, há também uma franquia da CA em cada estado, quase prontas para serem usadas.


A madrugada se estendia quando Leonardo e Henrique chegaram ao local desejado; tudo estava escuro, quieto, abandonado. Havia muito tempo desde que uma base era usada; desde que ela era necessitada. Assim que abriram a porta de ferro daquele lugar, o barulho da porta – amplificado pelo eco – fez com que ambos cerrassem levemente os olhos e franzissem o cenho. Acendido o interruptor, que ficava bem à entrada do lugar, puderam visualizar todo o equipamento que seria usado e isso fez ambos sorrirem, porém o que se queria agora era um bom e merecido cochilo. De pernas pro ar e com um bom copo de água nas mãos – tinha pegado no refrigerador que estava abastecido –, Henrique apreciava seu charuto cubano como se tivesse degustando o melhor doce do mundo.


— Pensei que tinha parado com essa porcaria.

— Não me condene. Sou um homem de vícios como qualquer um: Mulheres, charutos e armas. Um típico brasileiro... Ou não... — Disse pensando melhor. — Não posso deixar minhas luxúrias de lado. — Dizia Henrique entre uma tragada e outra.


Embora estivesse ansioso por acabar com a missão, estar no calor da batalha, ele sempre dava um jeito de satisfazer seus vícios; sempre tinha um tempo para fumar, para atirar e, bem, namorar. O leão rolou os olhos ignorando o amigo, recostou-se em uma poltrona cuja a cor era marfim, – ambas (a do leão e a do tigre) ficavam no lado esquerdo da garagem, perto das estantes com as armas; esta por sua vez ficava ao lado dos gabinetes com as bombas – e discou um numero em especial. O da sua mulher: Manuela Dawson. Depois de chamar algumas vezes, uma voz ansiosa, nervosa e preocupada no outro lado da linha disse.


— Leonardo? Oh, Leonardo estive tão preocupada. Você está bem?

— Não há o que se preocupar. Estou ótimo e o nosso bebê?

— Está tudo bem. O maluco do seu pai esteve muito aflito pela manhã, andando de um lado para o outro, balbuciando coisas. Estava nervoso.

— Deve ser mais uma das crises dele. Avise-o que está tudo ocorrendo bem na viagem. E a Clarisse?

— Ela é sua mãe Leonardo... Por que você ainda insiste com isso de chamá-la pelo nome? Você nunca me disse nada sobre esse desentendimento de vocês... Devo dizer que já está bastante duradouro... — Manuela balançou a cabeça. — Fizemos um bolo hoje, de laranja, seu favorito. Achei que chegaria hoje...

— Novos caminhos surgiram. Não se preocupe, estarei em casa o mais rápido possível. Eu amo você.

— Amo você, muito. Chegue bem em casa, ok? Estamos esperando por você, eu e o bebê. — Manuela procurou frizar bem, bem mesmo a ultima palavra. Embora não se sentisse confortável usando seu filho assim, era a única coisa que ela tinha completa certeza, pela qual Leonardo voltaria de fato, ela não queria perder o marido, e se para isso tivesse de ser egoísta ou qualquer outra coisa, seria, faria.



— Oh, não se preocupe; oh, como está o nosso bebê; oh, amo você; oh... — Leonardo interrompe aquilo jogando seu telefone em Henrique, que imitava – sem sucesso – a voz do amigo, tentando caçoar do mesmo. Com agilidade ele pega o celular e sorri olhando para o leão; seu charuto entre os dedos da mão direita, suas pernas largadas no chão.

— Você faz isso porque não entende.

— Entender? É justamente ao contrário. Entendo muito bem e por isso que não coloco outras vidas em perigo. Principalmente a de um bebê Leonardo. Uma criança...

— Faço isso porque fiz um juramento, mas não quero e nem vou acabar como você: sozinho, amargo, vazio.

— Tenho sentimentos, sabia? E você os feriu. — Com isso Leonardo riu.

— Sentimentos? Nem preciso lembrar de quem foi a ideia de ensinar uma lição àquele soldado, não é? Lembra-se do labirinto?

— O labirinto... Espetacular. — Henrique disse sorrindo. Deu mais uma tragada em seu charuto e balançou a cabeça positivamente. — Só de lembrar como ele corria... — Riu longamente. — Ótima lembrança essa; bons tempos aqueles...

— Não posso negar que foi divertido, mas não sou tão assim agora. Aquilo foi coisa de gente impulsiva, perversa.

— Impulsiva? Diga-me, quem foi que enforcou e quase queimou alguém semana passada? E tudo isso por... — O tigre deu espaço para o amigo responder, mas como Leonardo não respondeu Henrique continuou. — Bem, se isso não é ser impulsivo estive errado toda a minha vida...

— Detalhes. Apenas detalhes.

— Ah... Os bons e velhos detalhes...



Depois disso, uma boa conversa sobre o passado veio átona. Lembraram-se da vez em que Ricardo saiu da sessão psicológica jurando que era um macaco não evoluído; quando Lucas quebrou o recorde de Leonardo na piscina – vale ressaltar que fora quase o triplo do tempo que o urso segurou o fôlego a mais que o amigo –; o dia em que Henrique recebera sua arma de prata; a tentativa de assassinato do até então presidente Rodolfo Carvalho (que concorre à presidência pela segunda vez, como já fora mencionado antes)... Tantas foram as coisas que ambos tinham passado juntos... Mas o segredo que apenas eles dois sabiam mesmo, era o treino no labirinto. Aquilo sim tinha sido uma coisa digna de um draikaner de verdade, e exatamente como Leonardo descrevera: perverso e impulsivo.



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Notas finais do capítulo

Bem, espero que vocês apreciem esse início do capítulo 04 e degustem com prazer cada personagem. Qualquer coisa comentem.
XOXO



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